Turismo em favela
Autoria: Itamar Silva.
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Água morro abaixo e fogo morro acima e invasão de turistas em favelas pacificadas é difícil de conter. Algo preciso ser feito para que a positividade do momento não transforme esses lugares em comunidades “só pra inglês ver”.
As favelas pacificadas tornaram-se alvo de uma volúpia consumidora poucas vezes vista no Rio de Janeiro. A partir do momento em que se instalaram as Unidades de Polícia Pacificadora – UPP em algumas favelas, é como se tivesse sido descoberto um novo sarcófago de Tutankamon, o faraó egípcio. Uma legião de turistas, pesquisadores, empresários, comerciantes “descobriram” as favelas.
O Santa Marta, primeira a ter uma UPP, ao longo dos seus quase 90 anos sempre recebeu, na maioria das vezes de forma discreta, visitantes estrangeiros. E em alguns casos ilustres: Rainha Elizabeth, Senador Kennedy, Gilberto Gil…..Até mesmo Michael Jackson quando gravou seu clip ali não permitiu a presença da mídia. A partir de 2008, iniciou-se a era das celebridades e a exposição da favela para o mundo.
Mas as favelas sempre exerceram um fascínio especial sobre turistas estrangeiros. Foram eles os mais ousados, ao buscar entender a realidade de seus moradores. Enquanto os turistas nacionais, e ouso dizer os moradores desta cidade (em sua maioria), se mantinham afastados exercendo seu preconceito. No entanto, a exposição diária desses territórios “agora pacificados” nos jornais, e sua incorporação na trama de novelas, foi a chave para atrair os turistas.
Algumas perguntas, porém, precisam ser feitas e outras respondidas no momento em que o poder público pensa em investir neste filão: O que é uma favela preparada para receber turistas? Que 'maquiagem' precisa ser feita para que o turista se sinta bem? Que produtos os turistas querem encontrar ali? O comércio local deve adaptar-se aos turistas ou servir aos moradores?
O que fica para o conjunto dos moradores das milhões de visitas (segundo a mídia) que mensalmente sobem e descem o Santa Marta? Quem faz o controle do número de turistas que a visitam? Quanto rende esta atividade e quem contabiliza? O que é espaço público e o que é espaço privado no Santa Marta? Se o Morro não é uma propriedade particular, não tem um dono, todo e cada morador tem o direito de opinar sobre o que está se passando com o seu lugar de moradia.
Essas e outras questões deveriam ser discutidas pelos moradores e pelos gestores públicos que pensam em incrementar o turismo em favelas pacificadas.
Se os moradores não se organizarem e assumirem os protagonismos das ações de turismo e de entretenimento no Santa Marta, vamos assistir os nativos (os de dentro) servindo de testa de ferro para empreendimentos e iniciativas dos de fora, às custas de uma identidade local que aos poucos vai perdendo suas características.
Talvez, tomar os princípios do turismo comunitário: integridade das identidades locais, o protagonismo e autonomia dos moradores, ajudem-nos a encontrar estratégias para receber os de fora sem sucumbir às regras violentas de um turismo mercadológico.