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Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

HISTÓRICO[editar | editar código-fonte]

Foto por Thaisa Sales

É fundamental que o estudo nas favelas tenha um recorte de gênero, raça e classe social. A memória desses territórios tem o histórico de ser desapropriada por conta das lutas sociais e repressões passadas. A favela do Jacarezinho, uma das maiores do Rio de Janeiro, é situada na Zona Norte da cidade, fazendo divisa com os bairros do Jacaré, Maria da Graça, Manguinhos, Cachambi e Benfica. Segundo dados de 2004 da Prefeitura do Rio, possui 36 mil moradores e um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) da cidade. Foi formada a partir do bairro Jacaré, porém, nos dias atuais, as duas localidades são consideradas bairros distintos, e o nome vem graças ao Rio Jacaré, que faz parte do Canal do Cunha e atravessa ambos os locais. O nome foi mal empregado, pois, na verdade, tem origem na palavra indígena "Yacaré", que significa torto e sinuoso. Além disso, é possível afirmar que existe o Complexo do Jacarezinho, com favelas menores em seus arredores, como as favelas Marlene, Rato Molhado, Pica - Pau, Tancredo e Xuxa. Em 1920, o território que era de posse da família de Getúlio Vargas, foi cedido para os moradores da época. Assim como diversas favelas no Rio de Janeiro, não se tem uma história exata de como foi dada sua habitação. Segundo Jonas Abreu o bairro do Jacaré foi de extrema importância para a industrialização da cidade, por ser próximo ao Centro, e ainda hoje fábricas se encontram no local. Moradores dizem que a história do Jacarezinho começou antes mesmo do território fazer parte da Zona Industrial do Rio de Janeiro. Rumba Gabriel, uma liderança local, afirma que o Jacarezinho é um quilombo urbano, e que negros haviam fugido de fazendas e habitado a favela antes mesmo dos primeiros relatos oficiais de ocupação. Por esses motivos, é considerada uma das favelas mais pretas da cidade, e tem um histórico de luta operária.

VIOLÊNCIA[editar | editar código-fonte]

Assim como muitas favelas, o Jacarezinho nasce de uma ocupação, e é alvo da desassistência do Estado. Desde o século XX a favela é alvo de violência e instabilidade, mas o processo de entrada das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) toma um novo rumo na história da perseguição policial no território. O projeto das UPPS, do ex-governador Sérgio Cabral, entrou em vigor no Jacarezinho no ano de 2014. Com uma imposição violenta, a favela nunca esteve realmente “pacificada”, o tráfico de drogas ainda acontecia e a perseguição policial a qualquer momento amedrontava os moradores. “Eles chegam com um autoritarismo absurdo, xingando as pessoas, independentemente da idade delas ou condição física. Quando eles desconfiam de alguém, mesmo sem qualquer prova, saem arrastando pelas ruas, espancando e apontando armas para os moradores que estão ao redor, como se todos fossem marginais. Um dia desses, um policial violento entrou aqui no beco e ficou apontando para os moradores, como se fosse cometer outra agressão. Gente, pra quê isso?” Morador, Jacarezinho (Ibidem). (Prestes, 2016, pág. 61)

Em 2021, em meio a pandemia do COVID- 19, mesmo com proibição de operações policiais pelo STF, o Jacarezinho foi palco da maior chacina - dita como operação policial - do município, deixando 28 mortos em um único dia.

MOBILIZAÇÃO SOCIAL E PRODUÇÃO CULTURAL[editar | editar código-fonte]

Mesmo com todas as adversidades encontradas, o meio de prevalecer com a cultura e a educação nunca foi problema para os moradores do Jacarezinho. Com muita mobilização social, diversos projetos foram criados para beneficiar a favela. O Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos do Jacarezinho é um exemplo da perpetuação da cultura popular. A escola foi fundada em 1966 e traz as cores verde, branco e rosa, com atividades ainda existentes atualmente. O pré-vestibular social NICA (Núcleo Independente e Comunitário de Aprendizagem) é um espaço de educação popular localizado na favela, com o objetivo de romper com as expectativas de pobreza e incentivar a população negra através da educação, pensando na entrada de jovens e adultos no espaço acadêmico. Em 4 anos de atuação, o NICA conseguiu inserir mais de 15 jovens em Universidades públicas e privadas, além de ter proporcionado colônia de férias para as crianças, distribuído cestas básicas durante a pandemia, etc. Outros projetos interessantes para a favela são o Jacaré Basquete, que promove o ensino do esporte às crianças, além de levar a jogos e passeios culturais, e o LabJaca, um projeto que visa a produção de dados e narrativas sobre favelas, com a perspectiva dos moradores periféricos e favelados.

REFERÊNCIAS[editar | editar código-fonte]

ABREU, Jonas. A invenção da favela industrial: pistas da história, memória e identidade do Jacarezinho. Revista Ambivalências, v. 8, n. 15, p. 262-300, 2020.

Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Novas tendências demográficas na cidade do Rio de Janeiro: resultados preliminares do censo 2000. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro/Secretaria Municipal de Urbanismo/ Instituto Pereira Passos, 2003.

PRESTES, Gabriela Alvarenga. UPP e Rio Mais Social: política pública para favelas cariocas. App.uff.br, 2016.

REIS, W. Jacarezinho: a história da favela mais negra do Rio de Janeiro. Disponível em: <https://vejario.abril.com.br/coluna/william-reis/historia-favela-jacarezinho>. Acesso em: 17 out. 2023.