Yoga Marginal
Yoga Marginal transcende barreiras ao levar práticas de yoga à periferia, promovendo saúde mental, autonomia e reflexão política. Idealizado por Tainá Antonio, o projeto adapta a filosofia do yoga, destacando a importância da respiração, inteligência emocional e foco nas crianças. A iniciativa, em expansão, busca criar uma comunidade inclusiva e consciente, democratizando o acesso aos benefícios do yoga adaptado à realidade periférica.
Autoria: Informações do verbete reproduzidas pela Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco a partir de outras fontes.
Sobre o projeto[editar | editar código-fonte]
Yoga Marginal é um propósito de ultrapassar as margens invisíveis mas poderosas que impedem a periferia de acessar instrumentos e saberes que são por direito delas. O projeto vem cumprir a função social dessas práticas e fazer refletir sobre saúde e autonomia desse povo pobre e majoritariamente preto, assim como também procura inserir essa população marginalizada dentro das questões ambientais e políticas locais. Acima e antes de tudo isso, o projeto acredita no poder do yoga e da meditação para resgatar a espiritualidade que reside sonolenta dentro desses corpos exaustos. Mas descobrir que está dormindo já é estar meio acordado.
Vídeo sobre o projeto[editar | editar código-fonte]
Entrevista com a idealizadora do projeto[editar | editar código-fonte]
Brasil de Fato: Antes de falar do "Yoga Marginal", você pode explicar um pouco o que é o yoga?
Tainá Antonio: O yoga, independente de ser marginal ou não, é uma filosofia muito antiga, tem como base a filosofia indiana e, de fato, também é. Mas as raízes e origens do yoga vêm da África. É mais uma das coisas que a gente não sabe mas que veio da África. O yoga, sobretudo, significa união, do corpo, da mente. Pra quem acredita em Deus, a nossa união com Deus ou qualquer outra divindade. Então é sempre o estado de união e comunidade, estar junto consigo mesmo e com os outros.
E por que "Yoga Marginal"?
Esse nome foi basicamente pra caracterizar a diferença desse yoga para o outro, que é o yoga que a gente conhece do mercado. As pessoas convivem muito bem com o yoga em espaços elitizados porque já é natural faz muito tempo. Quando a gente digita yoga no Google vemos as mesmas fotos, pessoas brancas, praticando com uma roupa específica, em um espaço extremamente limpo e silencioso, de natureza intocada, tapetes caríssimos.
Então um yoga é esse e ele não me atinge, não é pra mim. E muitas pessoas de onde eu venho, da Baixada Fluminense, poderiam ter a mesma ideia. Então o "Yoga Marginal" foi pra caracterizar que existe um yoga que está à margem para essas pessoas que estão à margem.
A ideia do "Yoga Marginal" é ultrapassar essas margens que podem ser visíveis ou não. Pode ser visível por uma parede ou inviável a partir do momento que na sala não existe ninguém igual a gente. A ideia é caracterizar para as pessoas se sentirem mais atingidas por esse lugar que é delas também.
É a mesma técnica, filosofia, proposta, que possibilita que isso chegue a pessoas que a princípio não teriam acesso?
Sim, é exatamente igual, qualquer outro professor da Baixada Fluminense tem a mesma formação que eu tenho. A ideia é só trazer um pouquinho mais pra nossa realidade. Então a gente não vai ter um estúdio silencioso, vai fazer yoga na nossa laje, no terraço, com o tapete que tiver em casa, não depender de estrutura e fazer como der. E está funcionando.
Vai depender da entrega das pessoas que se dispõem, não é? Fala um pouquinho de por onde você já andou e como foi a experiência.
Essa ideia surgiu muito da minha trajetória. Conheci o yoga muito nova por um privilégio que reconheço por ser negra e da Baixada Fluminense. Sempre percebi que aquilo era uma filosofia maravilhosa, não que um é milagre, não vai achar que vai mudar tudo, mas quando a gente não espera as coisas acontecem.
A ideia do trem lotado é porque eu sempre tive que pegar trem em Caxias [na Baixada Fluminense] pra estudar na Urca. E pegar um trem muito lotado se concentrando pra não cair porque não dava pra segurar em nada. E aí, como que as pessoas não acham que isso é meditação? A gente está em pura meditação, não pode cair de jeito nenhum.
Então esse estado de concentração que as pessoas não percebem, mas está ali, me fez ver como o yoga estava no meu dia a dia e não era dentro de um estúdio propriamente dito, era no meu caminho. E também porque a gente já começa o dia estressado. Não dá pra fazer a pranayama, que são as técnicas de respiração, só dentro do estúdio.
A gente consegue adaptar um pouquinho essas técnicas de respiração pra se concentrar e não matar um antes das 9h da manhã. A minha ideia é basicamente que a gente consiga sobreviver.
É uma proposta também de dar continuidade a essa energia ao longo do dia?
O yoga é exatamente isso, a gente fala que o yoga é vivido 24h por dia. O que a gente conhece do yoga é o ásana, que são as posturas, e isso é 1% do yoga. É importante no sentido de que mexer o corpo faz com que a gente o entenda um pouco melhor, mas o yoga pra ser vivenciado 24h por dia é através da respiração. A gente não pode achar que as pessoas que já acordam 5h da manhã pra ir trabalhar vão acordar 4h30 pra meditar. Elas até podem no futuro, mas a princípio isso não vai acontecer e eu não posso exigir isso delas. Precisa sim de uma adaptação no nosso dia a dia pra que o yoga, meditação e essas outras filosofias consigam entrar na rotina de pessoas da periferia seja ela qual for.
Isso também pode ser trabalhado com crianças? A gente percebe que a overdose de estímulos e informações tem deixado as crianças muito mais estressadas do que antes.
Eu acredito que, sobretudo, com as crianças. Se a gente consegue criar um ambiente saudável desde quando é mais jovem, consegue levar isso de uma forma mais profunda. Mas também entendendo que yoga não é milagre, em uma turma com muitas crianças a gente não vai querer o silêncio profundo, mas sim outra coisa que não é a meditação.
A gente vai trabalhar com inteligência emocional, pra eles aprenderem a lidar com o que estão sentindo. Não é não sentir, pelo contrário, o yoga é sentir muito e saber como reagir a esses sentimentos, trabalhando de forma super lúdica.
Todas as posturas de yoga podem ser trabalhadas com movimentos dos animais. A gente consegue trazer a respiração de qualquer ser vivo. Em uma escola, sobretudo pública, a gente não pode contar com infraestrutura, mas podemos contar com corpos muito ativos que são as nossas crianças.
Corpos respiram e é isso que precisa pra ter yoga. Então esse foi o fundamento da minha monografia e em cima disso eu comecei a trabalhar tudo que qualquer professor poderia ter dentro de sala de aula pra tornar viável a prática de yoga dentro de qualquer escola.
E como as pessoas têm acesso ao "Yoga Marginal"?
Isso está sendo um processo ainda. Na Baixada Fluminense é o boca a boca e a gente sabe que na periferia é assim que funciona, então a gente vai falando, conversando com as pessoas, os amigos. Tentamos também usar as redes sociais, só que não é tão fácil, porque acaba atingindo só o público mais jovem.
Mas é basicamente no boca a boca, conversando, se propondo a falar com outros parceiros e projetos. A minha ideia é fazer uma rede de yoga na Baixada, então eu não quero nem sou a única professora. Eu criei uma lista que ainda tá pequena, mas estou muito feliz. E a gente segue construindo redes. Minha ideia é trazer todo mundo pra perto e depois articular com quem tá um pouquinho mais longe.
Quem já está pronto para divulgar e fazer o boca a boca, onde consegue mais informações?
Facebook e, sobretudo, Instagram, chamado "Yoga Marginal". Dá pra ver os outros professores de yoga na Baixada, em favelas, também em outros projetos. Eu foco na Baixada por ser de lá e ter um acesso maior, mas o Yoga Marginal é pra toda periferia. Tenho pessoas buscando da Bahia, Espírito Santo, porque elas veem o nome e se interessam. Então eu faço essa rede no Brasil todo, mas, sobretudo, começando na Baixada.
Edição: Mariana Pitasse
Notas e referências[editar | editar código-fonte]
Informações retiradas das redes sociais oficiais do projeto