Morro São Carlos

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Informações retiradas da Wikipedia[1] e Ampliado pela Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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São Carlos é uma favela considerada uma das mais antigas da cidade e sua ocupação remonta ao início do século XX, após o loteamento da fazenda feito pelos herdeiros da família Santos Rodrigues, das terras próximas ao mangue, atual Praça Onze.

O local foi denominado de Morro de Santos Rodrigues, por causa da antiga capela que havia no local - esta capela estava localizada onde hoje é a atual Capela de Santo Antônio de Pádua. A denominação advém da sua principal rua, a São Carlos, que corta o morro ao meio em quase toda a sua extensão.


História[2]

Povoado durante a modernização do Rio, implementada pelo prefeito Pereira Passos no início do século XX, o Morro de São Carlos foi afetado pela chamada política do bota-abaixo. A ação visava abrir novas ruas, construir novas edificações e derrubar os deteriorados casarios dos tempos coloniais. Muitos cortiços e moradias de baixa renda foram ao chão e seus habitantes, expulsos. Como herança dessa política, São Carlos teve sua ocupação iniciada na mesma época, devido à sua proximidade com o Centro.

Localização Google Maps:  

Posteriormente, pessoas que foram despejadas de suas casas no centro da cidade ocuparam o Morro Santos Rodrigues, somados às levas de migrantes de todas as partes do Brasil. Às comunidades negras, agora, se somavam as tradições populares nordestinas e seus folclores. O local se transformou em um rico caldeirão cultural e num espaço democrático para onde todos convergiam. Não somente povos de origem africana foram morar no Morro de São Carlos. Trabalhadores menos qualificados, empregadas domésticas, vendedores ambulantes, autônomos – que, a exemplo dos antigos negros de ganho, vendiam seus serviços sem qualquer vínculo trabalhista – e outros. Entre esses, as representantes de uma categoria não muito bem-vista pela sociedade, que batalhavam ali pertinho, na zona do meretrício.

Sua ocupação foi incrementada com o deslocamento do povo que vivia no Morro do Castelo, demolido na década de 1920, e pela população desalojada com as extinções de ruas para a construção da atual Avenida Presidente Vargas, na década de 1940.

Antiga foto do Morro de São Carlos (Estácio, década de 1930)
Antiga foto do Morro de São Carlos (Estácio, década de 1930)

O Morro de São Carlos foi, no alvorecer do século XX, um dos redutos da boemia carioca. Ismael Silva fundou a primeira Escola de Samba da cidade, a Deixa Falar. Tancredo da Silva Pinto também viveu no São Carlos durante toda a vida. Outros artistas e personalidades estão ligados à comunidade como por exemplo: Luiz Gonzaga Jr. ou Gonzaguinha, Luiz Melodia, Ângela Maria, Grande Othelo, Madame Satã, Aldir Blanc, André Filho, Dominguinhos do Estácio, e o compositor Herivelto Martins.

Vídeo

Cultura e Lazer[3]

O Morro de São Carlos é reconhecido como o berço do samba moderno e tem papel fundamental na história cultural do Rio de Janeiro. Em 1928, o sambista Ismael Silva, morador do morro, fundou a escola de samba Deixa Falar, considerada a primeira do Brasil. A Deixa Falar não apenas desfilava, mas também funcionava como espaço de articulação política e cultural dos moradores[4] — um modelo que influenciaria a criação das demais escolas de samba, como a Estácio de Sá, que herdou seu legado direto.

A favela é também lar de grandes nomes da música e da arte brasileira. Por lá passaram Luiz Melodia, cantor e compositor de destaque da MPB; Gonzaguinha, cuja infância foi vivida no morro; o ator Grande Otelo e o lendário personagem boêmio Madame Satã, símbolo da resistência negra e LGBTQIAPN+ nos anos 1930.

Além disso, o São Carlos mantém viva a tradição de rodas de samba nos bares, vielas e praças da favela, sendo ponto de encontro de sambistas e amantes da música popular brasileira. Eventos como os ensaios de blocos, festas juninas e manifestações afro-brasileiras seguem fortalecendo a vida cultural do território.

Também há presença de iniciativas culturais voltadas para a juventude, como oficinas de percussão, teatro, dança e hip hop, realizadas por coletivos locais e projetos sociais parceiros da favela. Esses espaços de expressão cultural são formas potentes de resistência, memória e pertencimento. Vídeo TV Cultura: "O bloco 'Deixa Falar' deu origem às escolas de samba em 1928"

Projetos Sociais

O Morro de São Carlos abriga diversas iniciativas que promovem educação, cultura, solidariedade e protagonismo juvenil. Essas ações fortalecem os laços comunitários, ampliam o acesso a direitos e reafirmam a potência da favela como espaço de produção de conhecimento e transformação.

Agência de Redes para Juventude[5]

A Agência de Redes para Juventude atua no Morro de São Carlos desde a década de 2010, com foco em formar jovens líderes e apoiar projetos que transformem o território por meio da cultura, arte e educação. Usando a metodologia “A Prática da Potência”, a Agência oferece mentorias, oficinas e editais de incentivo financeiro para iniciativas idealizadas por jovens de favelas.

Um dos destaques foi o projeto Geração que Move, surgido durante a pandemia de COVID-19, que articulou ações de solidariedade, produção de conteúdo educativo nas redes e distribuição de alimentos a famílias chefiadas por jovens.

Contado: Instagram: @_agencia

Pré-Vestibular Comunitário do Morro de São Carlos (Prevesc[6])

O Prevesc é um cursinho popular que prepara jovens da favela para o ENEM e vestibulares, oferecendo aulas gratuitas com professores voluntários. As aulas acontecem na Rua Ambire Cavalcante, próximo ao Bar da Mama. A proposta do projeto é democratizar o acesso ao ensino superior para juventudes negras e periféricas, por meio de uma educação acolhedora e crítica.

O Prevesc integra a rede de pré-vestibulares comunitários do Rio e participa de encontros e formações junto a outros cursinhos populares da cidade.

São Carlos Ativo[7]

O coletivo São Carlos Ativo é formado por jovens moradores do morro que realizam ações solidárias, culturais e ambientais. Criado durante a pandemia, o grupo organizou campanhas de doação de alimentos, bazares beneficentes, eventos de rua com arte urbana, rodas culturais e ocupações criativas no espaço público.

O coletivo também atua como ponte entre os moradores e instituições que oferecem cursos, apoio jurídico e formação profissional, sempre com foco em fortalecer a autonomia da favela.

Contato: Instagram: @sao.carlosativo

Vídeo: "Voz das Comunidades + SBT RIO: coletivo São Carlos Ativo arrecada doações para favela no Estácio"

Livreteria Popular Juraci Nascimento[8]

Criada por jovens do Morro do Zinco (no Complexo de São Carlos), a Livreteria Popular Juraci Nascimento leva livros a crianças e adolescentes com um triciclo itinerante adaptado como biblioteca. Além da leitura, o projeto promove oficinas, contação de histórias e debates literários nas ruas da favela.

A proposta é estimular o gosto pela leitura e democratizar o acesso à literatura, especialmente entre crianças negras e pobres.

Ver também

Lista de Favelas do Município do Rio de Janeiro

Complexo da Maré

Morro da Providência

Dani Monteiro (PSOL-RJ) - São Carlos - RJ

Referências

https://wikifavelas.com.br/index.php?title=Vicente_Ferreira_Mariano_(1918-1971)

http://www.multirio.rj.gov.br/index.php/leia/reportagens-artigos/reportagens/603-estacio-um-espaco-democratico

Notas e referências