Projetos que atuam com crianças em favelas cariocas

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Revisão de 19h26min de 7 de julho de 2024 por Kharinegil (discussão | contribs)

A experiência de crianças que residem em favelas e periferias do Rio de Janeiro pode ser bastante atravessada por episódios diários de violências, como operações policiais, conflitos entre grupos armados, criminalização da pobreza, situações de racismo etc. Tais situações afetam diretamente suas infâncias, visto que até a atividade de brincar na rua torna-se um risco pela possibilidade iminente de tiroteios. Diante desse panorama, moradores de diferentes favelas e periferias cariocas construíram projetos a partir da mobilização comunitária, com o propósito de atuar diretamente com esses indivíduos, e assim promover arte, cultura, direitos, diversão e brincadeiras. O presente verbete se propõe a apresentar brevemente alguns desses projetos.

Autoria: Kharine Gil. Informações reproduzidas a partir de redes de comunicação oficiais dos projetos.

Recriando manguinhos

O Projeto "Recriando Manguinhos" foi criado em 2015 por moradores do Complexo de Favelas de Manguinhos com o objetivo de realizar atividades recreativas, lúdicas, culturais e educativas com crianças da região.

Segundo moradores envolvidos no projeto, tornou-se comum ouvir reclamações de crianças de que, no horário em que não estavam na escola, tinham medo de brincar nas ruas e nas praças próximas às suas casas. Assim, o grupo de vizinhos reuniu adultos interessados  em  se revezar para, nas  tardes  de sábado, realizar diferentes tipos  de brincadeiras  com  as  crianças  daquele  território  utilizando  objetos,  jogos,  músicas, atividades de desenho, pintura, escrita, dentre outros.[1]

O projeto atua com crianças de 6 a 14 anos por meio de atividades como músicas, contação de histórias e artes diversas. Além das atividades artísticas, o projeto também realiza atividades externas com as crianças, como passeios e excursões. Alguns dos objetivos do projeto foram explicitados por Simões e Silva (2022, p. 356)[1]:

  • Contribuir  com  a  formação  sobre  direitos,  a  partir  da  realidade  local  de Manguinhos, por meio da arte, cultura e educação;
  • Estimular uma cultura de participação comunitária e solidariedade dos jovens e das crianças;
  • Dialogar com outros espaços educativos como continuidade formativa desses jovens e crianças;
  • Contribuir com o processo criativo, imaginário e atuante dos jovens e das crianças;
  • Estimular políticas públicas para crianças e jovens a partir do diálogo com experiências do território.

Os autores também tiveram acesso a alguns materiais do projeto, como desenhos feitos pelas crianças. Em uma das atividades era necessário desenhar sua brincadeira preferida e, no desenho feito por uma das crianças, brincadeiras como pular corda, pique-pega, pula-pula e mímica foram desenhadas ao mesmo tempo que os pedidos como "eu quero brincar em paz" e "sem tiroteio".

Fonte: Simões e Silva, 2022

A prática de desenhar deve estar inserida cotidianamente na rotina infantil, pois possui uma potencialidade considerável nas formas de expressão de uma criança, sendo uma maneira de demonstrar suas percepções sobre o mundo no qual está inserida, além de favorecer a produção de identidades. Percebe-se que o desenho apresentado expressa como a rotina de violência do território pode afetar consideravelmente a vida de uma criança que tem sua vida cerceada por tais conflitos.

Acesse as redes sociais do projeto aqui

Escola de Artes do Spanta

Favelas do Brincar - EDUCAP

O "Favelas do Brincar" é um espaço que foi inaugurado na sede da ONG comunitária EDUCAP - Espaço democrático de união, convivência, aprendizagem e prevenção, localizada no Complexo do Alemão. Este projeto é uma iniciativa do movimento Unidos pelo Brincar em parceria com o G10 Favelas e consiste em um espaço para que as crianças da região tenham acesso à brincadeiras, jogos e intervenções lúdicas.

"Toda criança tem o direito ao lazer, por isso, o ‘Favelas do Brincar’ tem uma importância neste contexto. O brincar traz desenvolvimento e inclusão para as crianças, principalmente, àquelas que precisam de espaços lúdicos de interação, segurança e qualidade. Isso é de extrema importância nas favelas”, afirma Lúcia Cabral, educadora e fundadora do Educap.

Além do Complexo do Alemão, o projeto também está presente em outras regiões do país, como Paraisópolis e Heliópolis, em São Paulo.

O EDUCAP, espaço onde o projeto está localizado, também é uma organização que atua diretamente com as crianças do conjunto de favelas do Alemão a partir de várias iniciativas. Uma delas, inclusive, é o projeto de extensão "JUVENTUDE(S): intervenções urbanas de arte-cultura no território" do curso de Terapia Ocupacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que possui parceria com o EDUCAP e com o Colégio Estadual Olga Benário, também localizado no Alemão, e realiza intervenções com crianças e adolescentes por meio de oficinas de arte-cultura que promovem a formação em cidadania e direitos humanos.

Contação de histórias no EDUCAP

Acesse as redes sociais do projeto aqui

Instituto Social Espaço Sonhar

O Instituto Social Espaço Sonhar foi fundado em 2014 por Quezia Cavalcante, moradora de Manguinhos, com o objetivo de promover a garantia de direitos de crianças por meio da educação, saúde, cultura, esporte e lazer.

A organização atua diariamente com pelo menos 26 crianças de seis meses a 10 anos que residem na região, além de contar com a participação de mais de 80 crianças nas atividades externas que são promovidas pelo projeto, como passeios à Fiocruz e à Quinta da Boa Vista.[2]

Espaço Sonhar

Acesse as redes sociais do projeto aqui

Memórias e Identidade do Tijolinho

Rocinha em Cena

  1. 1,0 1,1 SIMÕES, G. L.; SILVA, M. F. “Eu quero brincar em paz”: os efeitos dos discursos produzidos sobre a favela no cotidiano das crianças que habitam esses territórios. Revista da Anpoll. Florianópolis, v. 53, n. 2, p. 349-365, maio-ago., 2022  
  2. Coletividade faz bem à Saúde