Mapa do Roteiros Históricos do Morro da Providência

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Revisão de 14h01min de 25 de março de 2025 por Hugo Oliveira (discussão | contribs)

Neste verbete apresento o mapa do Roteiro Histórico do Morro da Providência com uma proposta de organizar alguns patrimônios e marcos memoráveis que foram negligenciados ou apagados da região, principalmente ao que tange a historiografia negra.

Esse verbete faz parte do Painel Morro da Providência - Da Providência a Favela.

Autoria: Hugo oliveira
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Sobre

O Roteiro Histórico do Morro da Providência é um passeio realizado por moradores sobre a história da primeira favela do Brasil, o Morro da Providência, narrando suas transformações, seus patrimônios, resistência e re-existências. Os pontos são identificados pelas características arquitetônicas (desde o Brasil Pré Cabraliano, Colônia até Contemporâneo), fatos sociais, narrativas dos moradores, a extraordinária paisagem do Rio e intervenções artísticas que estampam as ruas, becos e vielas.

Breve histórico

O Morro da Providência , reconhecido como a primeira favela do Brasil, é um território marcado por processos históricos de exclusão, mas também por resistência e reinvenção. Sua trajetória revela como comunidades marginalizadas podem reescrever sua própria história, especialmente quando o poder público e as instituições culturais as negligenciam. A construção do roteiro histórico da Providência, elaborado por seus moradores em resposta à exclusão do circuito oficial da Herança Africana, exemplifica essa luta por visibilidade e reconhecimento.  

Desde sua formação no final do século XIX, a Providência foi ocupada por grupos historicamente marginalizados: ex-escravizados, veteranos da Guerra de Canudos, imigrantes e retirantes nordestinos. Apesar de sua importância na conformação da cidade do Rio de Janeiro, a favela foi sistematicamente associada a estereótipos de violência e pobreza, enquanto suas contribuições culturais – como o samba, a capoeira e os terreiros de candomblé – eram invisibilizadas. Ao longo do século XX, políticas higienistas e remoções forçadas reforçaram essa marginalização, mas não apagaram a capacidade de organização e resistência dos moradores.  

No início dos anos 2000, a prefeitura do Rio de Janeiro, sob a gestão de César Maia, implementou o projeto Museu a céu aberto do Morro da Providência como parte do programa Favela-Bairro, numa tentativa institucional de reconhecer o valor histórico do território. No entanto, essa iniciativa não foi suficiente para reverter séculos de invisibilização. A situação tornou-se ainda mais complexa na segunda década do século XXI, quando as obras do Porto Maravilha iniciaram um amplo processo de requalificação urbana na região portuária. Enquanto a zona portuári da cidade passava por profundas transformações, o Morro da Providência continuava à margem desses investimentos, mantendo-se como um território negligenciado no projeto de "revitalização" da cidade.

O golpe definitivo ao reconhecimento institucional do morro veio em 2017, quando o Cais do Valongo - principal porto de entrada de africanos escravizados no Brasil - foi declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. Apesar da íntima relação histórica entre o Valongo e a Providência, o morro foi excluído da zona de amortecimento do patrimônio e do circuito turístico-cultural oficial da Herança Africana. Essa exclusão não foi casual: revelava como as narrativas hegemônicas sobre patrimônio e memória continuam a privilegiar certos espaços enquanto silenciam outros, especialmente territórios negros e periféricos que desafiam a imagem "oficial" da cidade. A omissão do Morro da Providência nesse processo foi particularmente significativa, pois reforçava o apagamento histórico das comunidades que foram fundamentais na formação da identidade carioca e brasileira.

Diante disso, os moradores decidiram agir por conta própria, criando um roteiro histórico alternativo, com 29 pontos de memória, que reconta a história do formação da cidade do Rio de Janeiro e datas importante para o Brasil a partir de uma perspectiva até então apagada. Esse percurso, que parte da Central do Brasil, do Cais do Valongo ou da Praça Mauá, não apenas resgata o passado, mas também denuncia as omissões do presente. Ao fazer isso, a comunidade não apenas reivindica seu lugar na história, mas também demonstra que a preservação da memória não depende exclusivamente de instituições oficiais – ela pode ser construída por nós, para nós.  

Portanto, o roteiro histórico da Providência é mais do que um conjunto de pontos turísticos; é uma contranarrativa política. Ele desafia a história oficial e reafirma o direito das favelas à auto-representação. Enquanto o Estado falha em integrar esses territórios aos circuitos de memória, a iniciativa dos moradores prova que a verdadeira preservação do patrimônio começa com o reconhecimento das lutas e vivências daqueles que foram, por séculos, excluídos da narrativa nacional. Dessa forma, a Providência não apenas conta sua história, mas também ensina uma lição fundamental: quem não é lembrado pelas instituições, deve lembrar a si mesmo.

Mapa

   

Pontos do Roteiro

Pontos de partinda: Central do Brasil, Praça Mauá e/ou Cais do Valongo

1. Ladeira do Livramento

2. Sociedade dos Amigos do Morro do Livramneto (SAMOL)

3. Intervenções de arte urbana da Galeria Providência

4. Casa do Machado de Assis

5. Igreja Nossa Senhora do Livramento

6. Antena da Embratel

7. Degrau Ancestral

8. Ladeira do Barroso

9. Ilê Áse Iyá Omi Funfun – Terreiro da Mãe Glória

10. Galinheiro do Sr. Paulo

11. Bar do Jeremias

12. Museu da Dodô da Portela

13. Pista Santo Skate

14. Teleférico (Estação Américo Brum)

15. Nova Aurora

16. Bar da Jura

17. Mirante 1

18. Reservatório do Livramento

19. Ladeira do Farias

20. Ruínas do AP

21. Escadaria do Cruzeiro

22. Casa Amarela

23. Largo do Cruzeiro

24. Igreja Nossa Senhora da Penha

25. Reservatório de Águas,

26. Mirante 2,

27. Oratório da Providência,

28. Último Barraco do Morro e

29. Mirante 3.

Ver também