Facções criminosas no Rio Grande do Sul

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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O estado do Rio Grande do Sul apresenta um alto número de grupos criminosos ativos no país. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), pelo menos 15 desses grupos competem pelo controle em diversas cidades gaúchas. O 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgou dados que mostram como esse conflito contribui para o aumento da violência e do número de mortes. O presente verbete pretende apresentar alguns dos grupos armados que ocupam esse estado brasileiro.

Autoria: Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

O estado que concentra o maior número de facções do país

Em 2022 o Estado registrou 2.154 mortes violentas intencionais no Rio Grande do Sul, representando um aumento de 3,8% em relação a 2021, quando foram registradas 2.073 mortes.  Porto Alegre, a capital do estado, viu um aumento significativo de 24,8% no número de mortes violentas intencionais, sendo o terceiro maior aumento percentual no país, de acordo com o Anuário. O crescimento das mortes violentas intencionais está diretamente ligado ao agravamento dos conflitos entre as organizações criminosas que buscam o domínio no estado. Segundo Betina Barros, pesquisadora do FBSP e doutoranda em Sociologia na Universidade de São Paulo, a situação atingiu seu pico em 2017, quando as facções entraram em confronto, e a partir de 2019 começou a se estabilizar.

As duas principais facções no estado são o "Bala na Cara" e os "Manos". Essas facções têm a capacidade de influenciar o mercado de drogas em grande escala, enquanto as demais têm uma atuação mais regional. Também existem grupos menores, como os "Abertos", "Tauras", "V7", entre outros, cada um com suas peculiaridades. O "Bala na Cara" se destacou por sua origem nas ruas de Porto Alegre, enquanto os "Manos" possuem armamento pesado e realizam roubos a instituições financeiras em cidades do interior do estado.

A rivalidade entre os "Bala na Cara" e os "Manos" levou à criação dos "Antibala" por grupos menores liderados pelo "V7." Esses últimos representam uma coalizão com uma postura contrária aos "Bala na Cara."

Parte dessas organizações criminosas teve origem na Cadeia Pública de Porto Alegre, conhecida como Presídio Central, construída na década de 1950. As primeiras manifestações de organização no crime surgiram no final dos anos 1980, com a formação da facção "Falange Gaúcha", inspirada no "Comando Vermelho" do Rio de Janeiro. A partir da "Falange Gaúcha", surgiram os "Manos" e os "Brasas" no interior do presídio, resultando em conflitos na unidade.

Em 1995, a segurança do presídio passou a ser de responsabilidade da Brigada Militar do estado, que tentou envolver presos na segurança da instituição, sem sucesso. Entre 2006 e 2010, o presídio foi dividido em galerias, estabelecendo um certo controle sobre os conflitos.

A presença da facção "Bala na Cara" começou a se manifestar em 2005, com atos de violência no bairro Bom Jesus, na zona leste de Porto Alegre. A partir dos anos 2000, as facções passaram a sair dos presídios e atuar nas ruas em busca do tráfico de drogas.[1]

Bala na cara

Imagem: Marcelli Cipriani

A principal facção gaúcha é a violenta Bala Na Cara, fundada nos anos 2000, também conhecida no mundo do crime pela sigla BNC ou 2.13.3 [números que correspondem às siglas no alfabeto 2=B; 13=N e 3=C]. O grupo está fixado em Porto Alegre, mas com operações de dimensão internacional. Investigações da Polícia Federal apontam uma ligação do grupo Bala na Cara com o PCC, apesar de não serem o mesmo conglomerado criminoso.[2] José Dalvani Nunes Rodrigues, o Minhoca é apontado como um dos principais líderes da facção.

Manos

Imagem: Marcelli Cipriani

Os Manos são uma organização criminosa que nasceu em presídios na região de Porto Alegre nos anos de 1990. O grupo tem investido pesado em armas e munições de grosso calibre e focado sua atuação, além do tráfico de drogas, em roubos a bancos e casa de valores no interior do estado. Em 2023, a socióloga e pesquisadora Marcelli Cipriani da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) apontou que a capacidade de impactar o mercado das drogas no atacado na região da grande Porto Alegre está restrito a essas duas organizações.[2]

Antibala

Surgiu nos anos 2000 com uma espécie de fusão entre facções rivais e dissidentes para fazer frente a outras organizações, principalmente a facção Bala Na Cara.[2]