Everaldo Barcelos - Edinho - (entrevista)

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Revisão de 22h30min de 30 de agosto de 2024 por Nsmiranda (discussão | contribs)

Sr. Edinho é presidente do Grêmio Recreativo Escola de Samba Mocidade Independente do Boaçu.

Este verbete compõe o quadro do Projeto Identidade que consiste em um trabalho de campo, desenvolvido pela Pesquisadora Norma Miranda, que escolheu a comunidade do Boaçú, localizada na cidade de São Gonçalo situada no estado do Rio de Janeiro, para dar visibilidade e atenção para a diversidade cultural que ali se encontra presente. A terra de Vinícius Júnior (Jogador de Futebol) possui inúmeras sementes valiosas e este verbete busca revelar algumas.

Autoria: Entrevistado: Sr. Edinho - Entrevistadora: Norma Miranda
Entrevista - Foto: Sr. Edinho e Norma Miranda

Apresentação

Dentro da quadra de samba, onde se deu a entrevista em julho de 2024, contemplamos todo o esforço realizado para a realização não só do desfile carnavalesco, mas de todos os processos enfrentados.

A conversa trata da história e trajetória de Edinho, presidente da escola de samba Independente do Boaçu. Ele compartilha como começou sua jornada no mundo do samba, desde a fundação de um bloco para apoiar outra escola até o desenvolvimento da Independente do Boaçu, enfrentando desafios e conquistando vitórias.

Edinho também menciona episódios marcantes, como a participação em carnavais, os desafios pessoais e a importância da cultura da favela em sua vida e na comunidade. Ele destaca como, através do samba, conseguiu promover cultura e integração social, mesmo diante de dificuldades.

Trajetória e história da escola

Edinho:

Bom dia! Sou presidente aqui da Independente do Boaçu, uma escola que tem muita história. A comunidade nos apoia muito. Nós começamos aqui do zero, lá embaixo, com um bloco. Antes, aqui existia a escola chamada Cidade do Boaçu, cujo presidente era meu padrinho, meu tio. Ele levou a escola daqui para Marambaia, e eu fundei um bloco torto para dar suporte a ele lá em Marambaia. Mas chegou uma época em que apareceu um senhor aqui, pintando todos os muros.

Nesse dia, aconteceu algo muito esquisito. Ele estava lá do lado do muro da minha casa, onde eu morava. Hoje moro na Baixada. Minha esposa me ligou dizendo que tinha um senhor escondido no mato, lá perto da nossa casa. Nesse momento, passaram dois camburões, e eu falei com eles. Eles subiram e pegaram o senhor. Por falta de sorte, aconteceu algo muito desagradável. Ele tinha se apaixonado por uma garota nova, que era sua namorada, mas ela infelizmente o deixou. Ele estava em um morro, e uma menina em outro morro. Os policiais desceram e falaram comigo sobre o que estava acontecendo.

Isso passou, e um belo dia, enquanto eu estava na casa da minha sogra, esse senhor apareceu lá, pintando o muro dela. Perguntei a ele se tinha sido ele quem pintou, e ele confirmou. Tivemos uma conversa, e ele me contou que era carnavalesco, e que sua filha também era carnavalesca, da Mangueira. Eu sugeri que ele fosse o carnavalesco da escola do meu tio.

No dia em que marcamos para conversar, ele disse que não queria ser o carnavalesco da escola do meu tio, mas sim da minha escola. Eu falei que minha escola era pequena, mas ele insistiu. Então, chamei meu cunhado e mais dois diretores, e decidimos inscrever a escola para disputar o carnaval de São Gonçalo.

Dificuldades

No primeiro ano, o enredo foi "Zumbi dos Palmares". Acho que foi em 13 de outubro de 1998. Fizemos um carnaval muito bonito, tiramos 10 em quase tudo. Porém, quando chegou na comissão de frente, que era o quesito que eu cuidava na escola do meu tio, foi o que nos fez perder o carnaval. Tivemos tudo certo, mas a pessoa que assumiu a comissão perdeu a filha 10 dias antes do carnaval, e ela ficou abalada. Todos foram para a avenida, mas ela não conseguiu nem mandar fazer as fantasias.

Eu tinha feito uma fantasia para a comissão de frente de Maricá, e era muito bonita. No primeiro ano, usei essa fantasia, mesmo sem ter nada a ver com o enredo, e por isso tirei 10 em tudo, exceto na comissão de frente, onde tirei 5. Fiquei em quarto lugar no carnaval. Foi a primeira pancada que levei, mas a gente aprende com os erros.

Vitórias

A partir daí, fomos evoluindo com vários enredos, a escola foi subindo cada vez mais. Ganhamos quatro carnavais seguidos, segundo a internet. Em 2000 e 2001, tiramos o vice-campeonato com um enredo que eu mesmo elaborei. A escola Sacramento, com todos os recursos, ganhou de nós. A escola toda estava sem dinheiro, mas conseguimos fazer um bom trabalho.

Os melhores enredos e as adversidades

O enredo de Claudinho e Buchecha foi um dos melhores. Depois disso, o carnaval parou em 2002, e fiquei separado da minha esposa. Fui para São Fidélis, onde organizei alguns carnavais, e a prefeita resolveu fazer um bloco. Voltei para cá em 2006, aluguei a quadra para a oficina, e com o pessoal da capoeira, resolvi reativar a escola. No final de um samba-enredo, o camarote da escola desabou, ferindo várias pessoas, inclusive uma criança de 3 meses. Eu quase fui preso, e o pouco que ganhava usei para ajudar as pessoas afetadas.

Tive uma amiga em Niterói que me ajudou muito, e graças a Deus, deu tudo certo. Quando chegou o carnaval, o nosso enredo era "Paz no Universo", e fomos campeões do carnaval. O samba de Nilo Mocidade, feito pelo meu cunhado, é uma das melhores histórias da Independente do Boaçu.

Clique aqui para assistir e conhecer toda a história!

Apresentação

A cultura disponível na favela

Desafios e perdas durante a pandemia

Desencontros para autorização do samba enredo em homenagem ao Vinícius Júnior

Outras frentes de trabalho, em prol da comunidade

Ver também

Paz no universo - Samba enredo da Mocidade Independente do Boaçu (música)

Projeto Mais que Vencedor

Samba enquanto forma de sustento - episódio 13 (programa)