Vila Cruzeiro
Localizada no Complexo da Penha (Zona Norte do Rio), a Vila Cruzeiro tem origem no século XIX como refúgio de escravizados fugidos, ganhando o nome de "Quilombo da Penha". Com forte herança afro-brasileira, a comunidade preserva tradições como samba, capoeira (praticada desde o século XIX) e Folia de Reis.
Autoria: Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
História
A Vila Cruzeiro é uma favela localizada no bairro da Penha, Zona da Leopoldina, no Rio de Janeiro. Sua origem remonta ao século XIX, quando escravizados fugidos encontraram abrigo na região sob a proteção de um padre abolicionista da Igreja da Penha, chamada até hoje de proprietária das terras. Esse contexto histórico deu ao local o apelido de "Quilombo da Penha", marcando o início de uma comunidade de forte presença negra.
Com o tempo, a cultura afro-brasileira se consolidou na região, presente em manifestações como o samba, a capoeira — praticada desde o século XIX — e a Folia de Reis, que foi muito ativa nos anos 1950 entre Vila Cruzeiro e a vizinha Merindiba. A escola de samba mirim Petizes da Penha também é exemplo dessa tradição cultural.
Atualmente, estima-se que a Vila Cruzeiro e o Parque Proletário somem cerca de 70 mil moradores, em sua maioria negros, conforme dados da associação de moradores.[1]
Complexo da Penha
A Vila Cruzeiro está situada no Complexo da Penha, junto com outras favelas, como Morro da Fé, Paz, Sereno, Caixa d’água, Caracol, Chatuba, Grotão, Parque Proletário, Merendiba e Quatro Bicas, Kelsons, Cidade Nova ou Estradinha.
Personalidades locais
Figuras como os mestres Touro e Dentinho foram pioneiros da capoeira local, levando-a até o exterior, apesar da perseguição policial às rodas. Mestre Dentinho era admirado por Madame Satã, figura icônica da boemia carioca, que também frequentava essas rodas.
Outro personagem simbólico é o senhor Ananias, conhecido como Cachimbinho, famoso por acender a maior fogueira do Grotão, que queimava por mais de quatro dias — um exemplo das tradições populares ainda vivas no território.[2]
Um marco importante da comunidade é o Campo do Ordem e Progresso, fundado nos anos 1950 por um morador chamado Sebastião Benedito. O campo se tornou um espaço fundamental de convivência e prática esportiva, tendo revelado o jogador Adriano Leite Ribeiro, o Adriano Imperador.
No mesmo campo funcionou o projeto social Criança Esperança, posteriormente substituído pelo IBISS.[1]
Teatro da Laje
O Teatro da Laje foi fundado em 2003 na Vila Cruzeiro. Fundado por Veríssimo Junior, o grupo teatral tem um trabalho pautado na territorialidade e na contextualização, e é conhecido por levar aos palcos a poética, os mitos e as realidades da Vila Cruzeiro.
A trajetória do grupo conquistou reconhecimento nacional. Em 2006, recebeu o Prêmio Cultura Viva do Ministério da Cultura (MinC); em 2010, o prêmio do Programa Mais Cultura Para os Territórios da Paz, realizado em parceria entre o MinC e o Ministério da Justiça. Entre 2014 e 2016, com apoio do Programa Fazendo à Cultura Carioca, o grupo desenvolveu uma residência artística na Arena Carioca Dicró, espaço cultural da periferia carioca. Em 2016, foi indicado ao prestigiado Prêmio Shell, na categoria Inovação, e no mesmo ano foi homenageado com o Diploma Heloneida Studart de Cultura, concedido pela Comissão de Cultura da Alerj, pela sua relevância artística e social no estado do Rio de Janeiro.[3]
- ↑ 1,0 1,1 VILA CRUZEIRO. In: WIKIPÉDIA: a enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Vila_Cruzeiro. Acesso em: 11 abr. 2025.
- ↑ ZIBORDI, Marcos. Despedida de Adriano: conheça a Vila Cruzeiro, berço do Imperador. Terra, 15 dez. 2024. Disponível em: https://www.terra.com.br/visao-do-corre/deu-jogo/despedida-de-adriano-conheca-a-vila-cruzeiro-berco-do-imperador,692f434a7a11bb69b4bd94dcb66876aaih36sb13.html. Acesso em: 11 abr. 2025.
- ↑ JOSÉ, Fernando. Vila Cruzeiro no mapa cultural da cidade. Voz das Comunidades, 27 ago. 2017. Disponível em: https://homolog.vozdascomunidades.com.br/favelas/complexo-da-penha/vila-cruzeiro-no-mapa-cultural-da-cidade/. Acesso em: 11 abr. 2025.