Maria Cecília (entrevista): mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
(editei os paragrafos)
 
(editei o resumo da entrevista)
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Em outubro de 2019, foi realizado a entrevista com a moradora Maria Cecilia. Dona Maria, moradora da Vila Operária á 57 anos, veio de Fonte Nova-Minas Gerais com o marido em busca de emprego e de uma vida melhor. Maria relata durante a entrevista a dura vida que levava trabalhando na lavoura com seus pais, e as dificuldades de morar na roça:  
Em outubro de 2019, foi realizado a entrevista com a moradora Maria Cecilia. Dona Maria, moradora da Vila Operária á 57 anos, veio de Fonte Nova-Minas Gerais com o marido em busca de emprego e de uma vida melhor. Maria relata durante a entrevista a dura vida que levava trabalhando na lavoura com seus pais, e as dificuldades de morar na roça:  


“[...] A minha infância foi muito difícil [...] Trabalhar na Roça minha filha eu não tive infância na roça, a gente trabalhava muito e na roça não tem... É muito difícil, muito difícil mesmo [...]”. (Depoimento de Maria Cecília, 14/10/2019).  
“[...] A minha infância foi muito difícil [...] Trabalhar na Roça minha filha eu não tive infância na roça, a gente trabalhava muito... É muito difícil, muito difícil mesmo [...]”. (depoimento de Maria Cecília, 14/10/2019).


As primeiras lembranças de Dona Maria ao chegar à Vila Operária com seu Marido em 1962 são das dificuldades que enfrentou para conseguir comprar ou alugar uma casa. A depoente demonstra esse quadro em seu relato:  <blockquote>“[...] Eu entrei em quatro casas, cada casa era uma chicotada... As casas eram abandonadas, mas a gente entrava na casa que as pessoas colocavam a gente, naquele tempo era seu Barboza que tomava conta [...] quando a gente entrava no meio da casa, eles viam e tiravam a gente, às vezes a gente não dormia nem uma noite [...] Na ultima casa, porque eu entrei em quatro casas aqui, na ultima quase que matam meu irmão, o cara chegou com o revolve para matar eu e meu irmão [...] Ai dali eu fui para o seu Barboza, ele arrumava outra casa para gente”.  (depoimento de Maria Cecília, 14/10/2019).  </blockquote>Maria Cecília, moradora nascida e criada na Vila Operária narra em seu depoimento suas vivências na favela situada em Duque de Caxias. Dona Maria justifica para o fato de como a casa na qual ela morará na Vila Operária estava abandonada ao chegar no local.  O fato da casa está abandonada justifica-se dessa maneira de não está fazendo nada ilegalmente. Não havia dono declaradamente para eles; portanto, apropriar-se de uma parte daquela terra não significaria cometer qualquer tipo de infração socialmente. Maria Cecilia, remonta na sua fala sobre as tentativas de remoção que fizeram na sua casa, que nos faz refletir sobre:  
As primeiras lembranças de Dona Maria ao chegar à Vila Operária com seu Marido em 1962 são das dificuldades que enfrentou para conseguir comprar ou alugar uma casa. A depoente demonstra esse quadro em seu relato:  <blockquote>“[...] Eu entrei em quatro casas, cada casa era uma chicotada... As casas eram abandonadas, mas a gente entrava na casa que as pessoas colocavam a gente, naquele tempo era seu Barboza que tomava conta [...] quando a gente entrava no meio da casa, eles viam e tiravam a gente, às vezes a gente não dormia nem uma noite [...] Na ultima casa, porque eu entrei em quatro casas aqui, na ultima quase que matam meu irmão, o cara chegou com o revolve para matar eu e meu irmão [...] Ai dali eu fui para o seu Barboza, ele arrumava outra casa para gente”.  (depoimento de Maria Cecília, 14/10/2019).</blockquote>Maria Cecília, justifica para o fato de como a casa na qual ela morará na Vila Operária estava abandonada ao chegar no local.  O fato da casa está abandonada justifica-se dessa maneira de não está fazendo nada ilegalmente. Não havia dono declaradamente para eles; portanto, apropriar-se de uma parte daquela terra não significaria cometer qualquer tipo de infração socialmente.  
 
“[...] Eles tentavam remover todo mundo, chegava e não ficava ninguém não, queria tirar todo mundo daqui, mas não conseguiu [...]”.  
 
“[...] Eu fiquei uma noite só na primeira, ai daqui eu entrei nessa rua aqui, eu acho que fiquei uns quatro ou cinco dias, ai dali eu sai e fui para outra casa, aonde queriam salpicar a gente [...]” (depoimento de Maria Cecília, 14/10/2019).
 
Ao perguntar sobre os documentos legais de compra e venda casa, a depoente declara as dificuldades encontradas desde cedo para conquistar sua propriedade. A memória narrada por meio do depoimento oral demonstra esse caso:  
 
“[...] Eu tenho assim [...] meu marido morre e eu tenho que passar para o meu nome né... Mas, eles falam que é bobagem que aqui na Vila Operaria não precisa fazer essas coisas. É difícil minha filha a gente mexer com papelada aqui, é muito difícil [...]” (Depoimento de Maria Cecília, 14/10/2019).  


Segundo a memória da moradora, depois de muitas dificuldades enfrentadas contra autoridades, para manter sua permanência em sua moradia. Maria Cecilia afirma a importância que sua propriedade tem para sua história e de seus filhos:  
Segundo a memória da moradora, depois de muitas dificuldades enfrentadas contra autoridades, para manter sua permanência em sua moradia. Maria Cecilia afirma a importância que sua propriedade tem para sua história e de seus filhos:  

Edição das 12h27min de 21 de junho de 2022

Autora: Juliana de Abreu Neves

Projeto

A entrevista faz parte da pesquisa: “Memória, propriedade e moradia: os usos políticos do passado como luta pelo direito á cidade em uma favela de Duque de Caxias” desenvolvida pela FEBEF - Faculdade de Educação da Baixada Fluminense. O Material de pesquisa do Projeto foi gentilmente cedido ao Dicionário de Favelas Marielle Franco em sua íntegra.

Resumo da entrevista

Em outubro de 2019, foi realizado a entrevista com a moradora Maria Cecilia. Dona Maria, moradora da Vila Operária á 57 anos, veio de Fonte Nova-Minas Gerais com o marido em busca de emprego e de uma vida melhor. Maria relata durante a entrevista a dura vida que levava trabalhando na lavoura com seus pais, e as dificuldades de morar na roça:  

“[...] A minha infância foi muito difícil [...] Trabalhar na Roça minha filha eu não tive infância na roça, a gente trabalhava muito... É muito difícil, muito difícil mesmo [...]”. (depoimento de Maria Cecília, 14/10/2019).

As primeiras lembranças de Dona Maria ao chegar à Vila Operária com seu Marido em 1962 são das dificuldades que enfrentou para conseguir comprar ou alugar uma casa. A depoente demonstra esse quadro em seu relato:  

“[...] Eu entrei em quatro casas, cada casa era uma chicotada... As casas eram abandonadas, mas a gente entrava na casa que as pessoas colocavam a gente, naquele tempo era seu Barboza que tomava conta [...] quando a gente entrava no meio da casa, eles viam e tiravam a gente, às vezes a gente não dormia nem uma noite [...] Na ultima casa, porque eu entrei em quatro casas aqui, na ultima quase que matam meu irmão, o cara chegou com o revolve para matar eu e meu irmão [...] Ai dali eu fui para o seu Barboza, ele arrumava outra casa para gente”.  (depoimento de Maria Cecília, 14/10/2019).

Maria Cecília, justifica para o fato de como a casa na qual ela morará na Vila Operária estava abandonada ao chegar no local. O fato da casa está abandonada justifica-se dessa maneira de não está fazendo nada ilegalmente. Não havia dono declaradamente para eles; portanto, apropriar-se de uma parte daquela terra não significaria cometer qualquer tipo de infração socialmente.

Segundo a memória da moradora, depois de muitas dificuldades enfrentadas contra autoridades, para manter sua permanência em sua moradia. Maria Cecilia afirma a importância que sua propriedade tem para sua história e de seus filhos:  

“[...] Muito importante mesmo, o dia que Deus me chamar eu tenho boas coisas pra largar pros meus filhos, o que eu passei eu não quero que eles passem [...]” (Depoimento de Maria Cecília, 14/10/2019).

Portanto, podemos observar a partir do depoimento de Dona Maria, que o processo de luta á permanência de sua propriedade foi muito árduo. Dona Maria, enfrentou muitos impasses ao chegar a um novo lugar, vindo do interior de Minas Gerais para em um bairro suburbano do município. Podemos observar que a noção de direitos de propriedade seria de extrema importância para a fim de conseguir compreender e levar em conta, a forma de como muda e se desenvolve, mesmo quando não acompanhada pela esfera institucional de uma determinada sociedade.