Leonel Brizola: mudanças entre as edições

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'''Leonel de Moura Brizola''' (nascido Leonel Itagiba de Moura Brizola; Carazinho, 22 de janeiro de 1922 — Rio de Janeiro, 21 de junho de 2004) foi um engenheiro civil e político brasileiro. Considerado um líder da esquerda e um político nacionalista, foi governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, sendo o único político eleito pelo povo para governar dois estados diferentes em toda a história do Brasil.
|nome                  = Leonel Brizola
Autoria: Informações do verbete reproduzidas pela Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco a partir de dados da internet.
|imagem                = Brizola.jpg
== Família ==
|imagem-tamanho        =
[[File:200px-Leonel Brizola.jpg|thumb|right|upright|Leonel de Moura Brizola]]<p style="text-align: justify;">Em 1º de março de 1950, Brizola casou-se com Neusa Goulart, irmã do deputado estadual e futuro presidente da República João Goulart (Brizola e Goulart eram ambos deputados estaduais). O casamento foi realizado na Fazenda de Iguariaçá, em São Borja, tendo o ex-presidente da República Getúlio Vargas como um dos padrinhos. O casal havia se conhecido nas reuniões da Ala Moça do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Tiveram três filhos juntos: Neusinha, José Vicente e João Otávio. Após a morte de Neusa em 1993, manteve uma relação com Marília Guilhermina Martins Pinheiro.</p>
|título                = [[Lista de governadores do Rio de Janeiro|53º e 55º Governador do Rio de Janeiro]]
== História ==
|mandato              = 15 de março de 1991<br/>até 2 de abril de 1994
|vice_título          = Vice-governador
|vice                  = [[Nilo Batista]]
|antecessor            = [[Moreira Franco]]
|sucessor              = Nilo Batista
|mandato2              = 15 de março de 1983<br/>até 15 de março de 1987
|vice_título2          = Vice-governador
|vice2                = [[Darcy Ribeiro]]
|antes2                = [[Chagas Freitas]]
|depois2              = Moreira Franco
|título3              = [[Lista de governadores do Rio Grande do Sul|23º]] [[Governador do Rio Grande do Sul]]
|mandato3              = 25 de março de 1959<br/>até 25 de março de 1963
|antes3                = [[Ildo Meneghetti]]
|depois3              = Ildo Meneghetti
|título4              = [[Lista de prefeitos de Porto Alegre|26º Prefeito de Porto Alegre]]
|mandato4              = 1º de janeiro de 1956<br/>até 29 de dezembro de 1958
|vice_título4          = Vice-prefeito
|vice4                = Tristão Sucupira Vianna
|antes4                = [[Martim Aranha]]
|depois4              = Tristão Sucupira Vianna
|título5              = Deputado Federal pela [[Guanabara]]
|mandato5              = 2 de fevereiro de 1963<br/>até 9 de abril de 1964
|título6              = Deputado Federal pelo [[Rio Grande do Sul]]
|mandato6              = 2 de fevereiro de 1955<br/>até 1º de janeiro de 1956
|título7              = Deputado Estadual do Rio Grande do Sul
|mandato7              = 10 de março de 1947<br/>até 31 de janeiro de 1955
|nome_comp            = Leonel de Moura Brizola
|nascimento_data      = {{dni|22|1|1922|si}}
|nascimento_local      = [[Carazinho]], [[Rio Grande do Sul]], [[Brasil]]
|morte_data            = {{nowrap|{{morte|lang=br|21|6|2004|22|1|1922}}}}
|morte_local          = [[Rio de Janeiro]], [[Rio de Janeiro (estado)|Rio de Janeiro]], Brasil
|nacionalidade        = {{BRAn|o}}
|alma_mater            = [[Universidade Federal do Rio Grande do Sul]]
|cônjuge-tipo          = Esposa
|cônjuge              = Neusa Goulart Brizola {{Pequeno|(1950–1993)}}<br>Marília Guilhermina Martins Pinheiro {{Pequeno|(1993–2004)}}
|partido              = [[Partido Trabalhista Brasileiro|PTB]] {{Pequeno|(1945–1980)}}<br>[[Partido Democrático Trabalhista|PDT]] {{Pequeno|(1980–2004)}}
|profissão            = [[Engenharia civil|Engenheiro civil]] e [[político]]
|assinatura            = ASSINATURA BRIZOLA.png
}}
'''Leonel de Moura Brizola''' (nascido '''Leonel Itagiba de Moura Brizola'''; [[Carazinho]], 22 de janeiro de 1922 — [[Rio de Janeiro]], 21 de junho de 2004) foi um [[Engenharia civil|engenheiro civil]] e [[político]] brasileiro. Considerado um líder da [[Esquerda (política)|esquerda]] e um político [[Nacionalismo|nacionalista]], foi governador do [[Rio de Janeiro (estado)|Rio de Janeiro]] e do [[Rio Grande do Sul]], sendo o único político eleito pelo povo para governar dois estados diferentes em toda a [[história do Brasil]].


Brizola nasceu no [[Mesorregião do Noroeste Rio-Grandense|Noroeste]] gaúcho. Viveu seus primeiros anos no interior do estado, mudando-se para [[Porto Alegre]] em 1936. Lá, deu prosseguimento aos seus estudos e trabalhou como engraxate, graxeiro, ascensorista e servidor público. Ingressou no curso de engenharia civil na [[Universidade Federal do Rio Grande do Sul]] em 1945, graduando-se em 1949. Enquanto ainda estudava na UFRGS, ingressou na política, ficando responsável por organizar a ala jovem do [[Partido Trabalhista Brasileiro]]. Em um evento político, conheceu Neusa Goulart, irmã do também político [[João Goulart]], com a qual se casou em 1950 e teve três filhos.
Brizola ocupou diferentes cargos políticos no Brasil, tendo sido uma das personalidades centrais na historia recente do país. Foi deputado, governador e tentou eleições para o senado e presidência. Faleceu, em 2004, vítima de um infarto agudo do miocárdio.


Em 1947, Brizola foi eleito deputado estadual pelo PTB. Tornou-se um político em ascensão no estado: em 1954, foi eleito deputado federal, com uma votação recorde; dois anos depois, elegeu-se prefeito de [[Porto Alegre]]; e, em 1958, governador do Rio Grande do Sul. Como governador, tornou-se proeminente por suas políticas sociais e por promover a [[Campanha da Legalidade]], em defesa da democracia e da posse de Goulart como presidente. Em 1962, transferiu seu domicílio eleitoral para a [[Guanabara]], estado pelo qual elegeu-se deputado federal. Durante o governo de Goulart, este e Brizola mantiveram uma relação tumultuada, mas uniram-se novamente antes do [[Golpe de Estado no Brasil em 1964|golpe militar de 1964]]. Depois que suas propostas de resistência não foram bem-sucedidas, Brizola exilou-se no [[Uruguai]].
=== Início da carreira política ===
<p style="text-align: justify;">Enquanto ainda estava na universidade, Brizola começou a militar no movimento político, filiando-se ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) em 1945. No PTB, foi-lhe incumbido a tarefa de organizar a ala jovem do partido, conhecida como Ala Moça. Na eleição estadual de janeiro de 1947, com a ajuda de seu partido, de colegas da universidade e de integrantes da ala jovem trabalhista, foi eleito deputado estadual com 3.839 votos, a 28ª maior votação daquela eleição. Na época, Brizola morava em uma pensão localizada no centro de Porto Alegre, na qual dividia o quarto com Sereno Chaise, futuro deputado estadual e prefeito de Porto Alegre. Na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, defendeu pautas do movimento estudantil, como o aumento de vagas nas instituições de ensino, e participou da Assembleia Constituinte, iniciada em março de 1947, na qual apoiou uma emenda de Alberto Pasqualini que classificou o direito de propriedade como "inerente à natureza do homem, dependendo seus limites e seu uso de conveniência social."</p> <p style="text-align: justify;">Na eleição estadual de outubro de 1950, Brizola foi reeleito deputado estadual com 16.691 votos, tornando-se na nova legislatura o líder dos trabalhistas na Assembleia Legislativa. No ano seguinte, foi facilmente indicado para ser o candidato do PTB à Prefeitura de Porto Alegre, com Manoel Vargas sendo o candidato a vice-prefeito pelo partido. Seu principal concorrente foi Ildo Meneghetti, vereador e ex-prefeito nomeado da capital, popular, em parte, por ter presidido o Sport Club Internacional. Embora favorito, Brizola foi derrotado por Meneghetti, em uma votação de 41.939 a 40.877 votos; como na época as eleições eram separadas, Vargas conseguiu ser eleito vice-prefeito. Sua derrota foi creditada pela dissidência organizada por José Vecchio, um dos dirigentes do PTB gaúcho.</p> <p style="text-align: justify;">Em 1952, Brizola aceitou o convite do governador Ernesto Dornelles e assumiu a Secretaria de Obras Públicas. Nesta função, desenvolveu o Primeiro Plano de Obras do estado, realizando obras de infra-estrutura, majoritariamente nas áreas de saneamento básico e rodovias. Em 1954, deixou a secretaria para postular uma vaga na Câmara dos Deputados na eleição de outubro daquele ano. Brizola acabou sendo eleito deputado federal com um recorde nacional de 103.003 votos, mais do que o dobro da votação obtida pelo segundo colocado. Como deputado federal, foi um ferrenho opositor de Carlos Lacerda, da União Democrática Nacional. Quando Lacerda fez seu juramento de posse como deputado, Brizola pegou o microfone e retrucou-lhe: "Pela ordem, senhor presidente. Este é um juramento falso! Ele está jurando aqui dentro a democracia e está pregando o golpe lá fora." A declaração provocou uma confusão, com reações contrárias e favoráveis; Lacerda apenas respondeu "O que é isso? O que é isso?." Este episódio rendeu a Brizola, pela primeira vez, espaço nos grandes jornais do país.</p> <p style="text-align: justify;">Brizola fundou e dirigiu, no decorrer do ano de 1955, o jornal em formato de tabloide Clarim, que chegou a atingir uma tiragem de 35 mil exemplares. Brizola usou a publicação para promover sua segunda candidatura à prefeitura de Porto Alegre, indicando e criticando os problemas da cidade. Com o slogan "Nenhuma Criança Sem Escola" e um caráter desenvolvimentista, Brizola acabou sendo eleito, com 65.077 votos (55,14%), contra 37.158 votos (31,49%) recebidos por Euclides Triches. Embora seu partido tenha conquistado a maior bancada na Câmara de Vereadores, não conseguiu uma maioria na casa, ficando com 8 das 21 vagas. Em janeiro de 1956, foi empossado prefeito de Porto Alegre. Entre suas realizações no cargo, destacam-se o aumento do número de vagas disponíveis na rede municipal de ensino, incluindo o ensino em dois turnos, as obras de saneamento básico e a urbanização de grande parte dos trechos próximos ao Rio Guaíba.</p>
=== Governador do Rio Grande do Sul ===
<p style="text-align: justify;">Na convenção do PTB realizada em outubro de 1957, Brizola foi indicado, por larga margem, para ser o candidato do partido ao governo do Rio Grande do Sul na eleição de 1958. A campanha trabalhista apresentou um programa de governo em que defendia priorizar as escolas, habitação, energia elétrica e preços justos aos produtores. Em outubro, derrotou Walter Peracchi Barcelos, coronel da Brigada Militar, com 670.003 votos contra 500.944. Sua vitória foi possível graças ao bom desempenho nas grandes cidades; na capital, conseguiu 65% dos votos, 63% em Pelotas e 75% em Canoas. Na Assembleia Legislativa, o PTB elegeu 24 dos 55 integrantes. A disputa pelo Senado Federal foi vencida por Guido Mondin, do PRP, apoiado por Brizola.</p> <p style="text-align: justify;">Em 31 de janeiro de 1959, Brizola foi empossado governador.&nbsp;Em 1961, Brizola ganhou atenção nacional ao criar a Campanha da Legalidade, em defesa da democracia e do direito, do vice-presidente João Goulart, ser empossado presidente da República. Quando Jânio Quadros renunciou à presidência em agosto de 1961, os militares tentaram impedir que Goulart o sucedesse em virtude de seus supostos laços com os comunistas. Depois de ganhar o apoio do general Machado Lopes, do exército local, Brizola criou a cadeia da legalidade de um grupo de estações de rádio no Rio Grande do Sul, a qual usou para emitir, a partir do Palácio Piratini, uma chamada nacional denunciando as intenções por trás das ações dos militares e incentivando a população a protestar nas ruas. Brizola entregou a Brigada Militar ao comando do exército regional, organizou comitês paramilitares de resistência democrática, chegando a distribuir armas de fogo a civis, e transformou a sede do governo em uma trincheira. Em resposta, os ministros militares ordenaram o bombardeio do Piratini, mas sargentos e suboficiais da Base Aérea de Canoas não cumpriram as ordens dadas pelos seus superiores. Brizola se opôs à mudança para o regime parlamentarista, usada pelos militares como condição para que Goulart assumisse. Após doze dias de uma guerra civil iminente, Goulart aceitou a proposta dos militares e foi empossado presidente.</p> <p style="text-align: justify;">Entre as políticas governamentais empreendidas como governador, Brizola desenvolveu um plano para industrializar rapidamente o estado e um programa para a construção de serviços públicos estatais, nacionalizando algumas empresas norte-americanas. Brizola garantia que a política de investimentos de seu governo teria capital nacional e que interferências estrangeiras na economia gaúcha não seriam aceitas. A Companhia de Energia Elétrica Riograndense, da Bond and Share e dona do monopólio da energia elétrica na Região Metropolitana, foi encampada em maio de 1959. A CEE passou a ser uma sociedade de economia mista, passando a ter um papel significativo na geração e distribuição de energia. Em fevereiro de 1962, depois que as negociações para que a Companhia Telefônica Riograndense, de propriedade da International Telephone and Telegraph, fosse transferida para o poder público acabaram fracassando, Brizola também encampou-la e a tornou parte da Companhia Riograndense de Telecomunicações. As nacionalizações de Brizola tornaram-se manchete na imprensa norte-americana quando o governo de John F. Kennedy estava tentando combater a "infiltração comunista" no Brasil ao chegar a um acordo com Goulart, que incluiu ajuda financeira ao governo federal brasileiro. Neste contexto, as ações de Brizola tornaram-se um embaraço diplomático, levando o presidente norte-americano a criticar o governador em uma coletiva de imprensa e transformando o governo Brizola em um alvo da Emenda Hickenlooper, uma mal sucedida iniciativa para interromper a ajuda a qualquer país que expropriasse propriedades norte-americanas.</p> <p style="text-align: justify;">A alfabetização e o aumento no número de vagas nas instituições de ensino foram outras prioridades do governo Brizola. O governo estabeleceu mais de duzentos acordos com escolas privadas para que, em troca de receberem professores do estado e verbas públicas, disponibilizassem vagas gratuitas. Para a construção de instituições de ensino, o governo realizou um acordo com os municípios e a iniciativa privada. Ao término de seu mandato, haviam sido construídos 6.302 estabelecimentos de ensino, dos quais 5.902 eram escolas primárias, 278 eram escolas técnicas e 122 eram ginásios. As escolas, que ficaram conhecidas como "Brizoletas". Estes investimentos resultaram na abertura de 689 mil matrículas e 42 mil vagas para docentes, com o Rio Grande do Sul passando a ter a mais alta taxa de escolarização do Brasil.</p> <p style="text-align: justify;">Para empreender uma reforma agrária, Brizola estabeleceu o Instituto Gaúcho de Reforma Agrária. Na época, 1,83% dos proprietários eram donos de 47,97% das terras, enquanto 85% ficavam com 24% das terras. O instituto, além de prestar assistência técnica, garantiu verbas para que os produtores comprassem máquinas, animais e sementes. Brizola ajudou a organizar acampamentos do Movimento dos Agricultores Sem Terra, conhecidos como Master. Em Sarandi, cerca de dez mil pessoas participaram de um acampamento para reivindicar a divisão de vinte mil hectares de terras, que não mantinham produção, pertencentes a uma multinacional. Em junho de 1962, decretou a concessão dos títulos de propriedade de terras da região do Banhado do Colégio, beneficiando em torno de seiscentas famílias. Brizola continuou e intensificou a reforma agrária em terras indígenas, argumentando que eles detinham muita terra para poucos índios. Brizola e sua esposa, Neusa, também doaram 1.038 hectares da Fazenda Pangaré, de propriedade do casal, para um grupo de trinta agricultores, dando início a uma cooperativa.</p>
=== Deputado federal pela Guanabara ===
<p style="text-align: justify;">Por meio de suas políticas internas e externas, Brizola tornou-se uma figura importante na política brasileira, eventualmente desenvolvendo ambições presidenciais que não poderia cumprir devido às leis da época; a legislação brasileira não permitia que parentes próximos do presidente em exercício concorressem na eleição seguinte. Entre 1961 e 1964, atuou na ala radical da esquerda independente, onde pressionou por uma agenda de reformas sociais e políticas radicais e por uma mudança na legislação eleitoral que permitisse sua candidatura na eleição presidencial de 1965. Brizola foi visto como autoritário e briguento, capaz de lidar com seus inimigos usando a agressão física; por exemplo, agrediu o jornalista de direita David Nasser no aeroporto do Rio de Janeiro. Brizola atuou como um aventureiro no jogo político em torno do governo Goulart, sendo temido e odiado pelos políticos moderados da esquerda e da direita. Este papel foi especialmente visível quando mudou o seu domicílio eleitoral para um centro político nacional. Se optasse por se candidatar ao Legislativo pelo Rio Grande do Sul, teria que renunciar ao governo estadual seis meses antes da eleição. Optou, então, por aceitar o convite feito pelo PTB carioca de se candidatar a deputado federal, ganhando a eleição com uma vitória esmagadora (269.384 votos, ou um quarto do eleitorado do estado de Guanabara, a atual cidade do Rio de Janeiro).</p> <p style="text-align: justify;">Em janeiro de 1963, um plebiscito redefiniu o sistema de governo como presidencialista, um resultado que foi visto por Brizola como um "voto de confiança" dado pelo povo para que Goulart prosseguisse com as reformas de base. Ao mesmo tempo, em um movimento para competir com o presidente pela liderança política, Brizola iniciou um programa semanal na rádio carioca Mayrink Veiga, que costumava usar para transmitir para todo o país, e planejava constituir uma rede de células políticas composta por pequenos grupos de homens armados, os Grupos dos Onze. Os grupos deveriam atuar como organizações de base que "defenderiam e difundiriam" os principais pontos de uma agenda reformista que teria que ser alcançada "na lei ou na marra."&nbsp;Apesar de seu suposto radicalismo, Brizola não era um ideólogo ou doutrinário. Geralmente, representava um extremo nacionalismo de esquerda, apoiando a reforma agrária, a extensão do direito ao voto para analfabetos e suboficiais, e controles rigorosos sobre investimentos estrangeiros que fizeram com que o embaixador Lincoln Gordon não gostasse de Brizola e comparasse suas técnicas de propaganda com as de Joseph Goebbels, um rumor também compartilhado pela maioria da mídia norte-americana.</p> <p style="text-align: justify;">No final de 1963, após o fracasso de um plano de ajuste econômico, o Plano Trienal, elaborado pelo ministro do Planejamento Celso Furtado, Brizola se envolveu em uma busca pelo poder, derrubando o ministro das Finanças, Carvalho Pinto, economicamente conservador, para tentar ele próprio se tornar ministro. Brizola queria promover sua agenda radical, dizendo: "se queremos fazer uma revolução, devemos ter a chave para o cofre." A candidatura de Brizola para o Ministério da Economia fracassou; o cargo foi dado para o economista Ney Neves Galvão, ajudando a radicalizar a vida política contemporânea brasileira. Em outubro de 1963, Brizola e Goulart romperam suas relações políticas e pessoais; Brizola ficou convencido de que Goulart pretendia organizar um golpe apoiado por comandantes militares leais, parar o processo contínuo de radicalização política e que o único meio de antecipar o movimento de Goulart era um movimento popular revolucionário. Enquanto Brizola acreditava que Goulart deveria governar apenas com partidos de esquerda, o presidente insistia em uma estratégia mais conciliadora, na qual comporia uma aliança com o Partido Social Democrático. No início de 1964, ambos se reaproximaram quando Goulart decidiu manter um governo de esquerda apoiado pela Frente de Mobilização Popular, pelo Partido Comunista Brasileiro e pelo Partido Geral dos Trabalhadores. No Comício da Central do Brasil, em 13 de março de 1964, Brizola defendeu o fechamento do Congresso Nacional e sua substituição por uma assembleia nacional constituinte, que deveria ser integrada por "camponeses, operários, muitos sargentos e oficiais nacionalistas."</p>
=== Exílio ===
<p style="text-align: justify;">Em abril de 1964, um golpe de Estado derrubou Goulart. Brizola acolheu-o em Porto Alegre, na esperança de incentivar o exército local a reagir e assim restaurar o governo deposto. Brizola se envolveu em planos para enfrentar os militares, inclusive proferindo um ardente discurso público na Câmara Municipal de Porto Alegre, exortando os suboficiais do exército a "ocupar quartéis e prender os generais", o que lhe valeu o ódio duradouro dos comandantes militares da ditadura. Depois de um mês mal sucedido no estado, Brizola fugiu no início de maio de 1964 para o Uruguai, onde Goulart já estava no exílio depois de demonstrar pouco interesse com as tentativas de resistência armada. Politicamente solitário no início de seu exílio, eventualmente preferiu a política insurrecional ao reformismo. No início de 1965, um grupo de simpatizantes seus tentou e não conseguiu articular uma guerrilha nas montanhas do leste brasileiro ao redor de Caparaó. Outro grupo de guerrilheiros brizolistas se dispersaram após um confronto com o exército no sul. Este evento levantou suspeitas sobre a má administração de Brizola dos fundos que lhe foram oferecidos por Fidel Castro. Com exceção desse episódio, Brizola passou os primeiros dez anos da ditadura militar brasileira isolado no Uruguai, onde geriu a propriedade de sua esposa e manteve-se a par do que acontecia no Brasil. Ele rejeitou as tentativas de ser recrutado para a Frente Ampla, um grupo informal de líderes pré-ditadura da década de 1960 que pretendia pressionar pela redemocratização, incluindo Carlos Lacerda e Juscelino Kubitschek. Durante a tentativa de recrutamento, rompeu os laços restantes com Goulart; eles se reconciliaram em setembro de 1976. A StB, inteligência da Tchecoslováquia, entrou em contato com Brizola para auxiliá-lo numa reação armada contra o regime militar, mas ele considerou que, naquele momento, tal reação não seria possível.</p> <p style="text-align: justify;">Desde o início do seu exílio, Brizola foi observado de perto pela inteligência brasileira, que pressionou regularmente o governo uruguaio. No final da década de 1970, no entanto, o surgimento de uma ditadura militar no Uruguai permitiu ao governo brasileiro trabalhar em conjunto com os militares uruguaios para, como parte da Operação Condor, capturá-lo. Até o final da década de 1970, a inteligência norte-americana ajudou nos esforços das ditaduras latino-americanas a controlar Brizola, que pode ter sobrevivido ao seu exílio graças a mudança da política dos EUA para a América Latina, ocorrida com o governo de Jimmy Carter, que se esforçou para conter abusos aos direitos humanos. Esta mudança levou Brizola a ter uma gratidão eterna com Carter. Entre o final de 1976 e o início de 1977, o fato de que todos os três membros mais proeminentes da Frente Ampla - Kubitscheck, Goulart e Lacerda - morreram sucessivamente e em circunstâncias um tanto misteriosas, fez Brizola se sentir cada vez mais ameaçado no Uruguai. Diante da iminente retirada de seu asilo, procurou a Embaixada dos EUA, onde conversou com o conselheiro John Youle. Mesmo com a oposição do subsecretário de Estado para os Assuntos do Hemisfério Ocidental Terence Todman, Youle concedeu a Brizola um visto de trânsito que permitiu-lhe, já que em meados de 1977 foi deportado do Uruguai por supostas "violações de normas de asilo político", viajar para - e, eventualmente, ser dado um asilo imediato - os EUA. O resgate de Brizola é reconhecido como um dos sucessos da retórica dos Direitos Humanos de Carter. Depois deste episódio, não se oporia mais diretamente às políticas norte-americanas em relação ao Brasil, contentando-se em denunciar vagamente as "perdas internacionais" incorridas pelo Brasil devido a termos de câmbio injustos impostos pelas corporações multinacionais.</p> <p style="text-align: justify;">De acordo com documentos diplomáticos brasileiros desclassificados, em 20 de setembro de 1977, Brizola e sua esposa foram para Buenos Aires, de onde partiram para os EUA. Buenos Aires era um lugar perigoso para os exilados latino-americanos; a família foi acompanhada por agentes norte-americanos da CIA e ficaram durante a noite em um local seguro da CIA, embarcando em um voo sem escalas para Nova Iorque em 22 de setembro. Pouco depois de chegar em Nova Iorque, encontrou-se com o senador Edward Kennedy, que o ajudou a obter a permissão para permanecer nos EUA durante seis meses. De uma suíte no Hotel Roosevelt, Brizola se beneficiou da sua estadia no país organizando uma rede de contatos com exilados brasileiros e acadêmicos norte-americanos interessados em acabar com o governo militar no Brasil. Mais tarde, mudou-se para Portugal, onde, através de Mário Soares, aproximou-se da liderança da Internacional Socialista e se juntou a um plano social-democrata e reformista para a pós-ditadura do Brasil. Durante seu período nos EUA, contatou o ativista afro-brasileiro Abdias do Nascimento e conheceu as políticas de identidade, o que influenciaria sua carreira pós-ditadura. Em um manifesto político lançado em Lisboa—a Carta de Lisboa, que declarou sua intenção de refundar um Partido Trabalhista no Brasil—Brizola aderiu à política racial afirmando que negros e indígenas brasileiros sofreram formas de exploração mais injustas e dolorosas do que as outras pessoas e, assim, precisariam de medidas especiais que resolvessem suas dificuldades. No final da década de 1970, a ditadura militar brasileira estava em declínio; em 1978, os passaportes foram dados silenciosamente a exilados políticos proeminentes, mas Brizola, ao lado de um grupo central de supostos radicais descritos como "inimigos públicos número um", permaneceu na lista negra e recusou o direito de retorno. Em 1979, após uma anistia geral, seu exílio chegou ao fim.</p>
=== Primeiro mandato como governador do Rio de Janeiro ===


Voltou ao Brasil em 1979, depois de um exílio de quinze anos no Uruguai, nos [[Estados Unidos]] e em [[Portugal]]. No mesmo ano, fundou e presidiu o [[Partido Democrático Trabalhista]], um partido [[Social-democracia|social-democrata]] e [[Populismo|populista]]. Em 1982, foi eleito governador do [[Rio de Janeiro (estado)|Rio de Janeiro]], iniciando um programa de construção dos [[Centros Integrados de Educação Pública]]. Na [[Eleição presidencial no Brasil em 1989|eleição presidencial de 1989]], por pouco não foi para o segundo turno. Um ano depois, voltou a governar o Rio de Janeiro, sendo eleito no primeiro turno. A partir daí, não logrou êxito em nenhuma das quatro eleições que disputou, de vice-presidente de [[Luis Inácio Lula da Silva]] em 1998 a senador pelo Rio de Janeiro em 2002. Faleceu, em 2004, vítima de um [[infarto agudo do miocárdio]].
Ver também: [[Leonel_Brizola_e_as_favelas_do_Rio|Brizola e as favelas do Rio de Janeiro]]


== Primeiros anos, família e educação ==
Em 1982, Brizola concorreu a governador do Rio de Janeiro na primeira eleição livre e direta para o governo carioca desde 1965; Darcy Ribeiro foi seu candidato a vice-governador. Para compensar a falta de quadros no PDT, comandou o ingresso em sua coligação de pessoas sem vínculos anteriores com a política profissional, como o líder indígena Mário Juruna, o cantor Agnaldo Timóteo e um número considerável de ativistas afro-brasileiros. Brizola estava ciente de que essa última incursão na política racial contradizia suas políticas anteriores, mais convencionalmente radicais; ele apelidou sua ideologia de "socialismo moreno." Centrando sua campanha em questões como educação e segurança pública, apresentou uma candidatura que se propôs a manter o legado de Vargas. Ao desenvolver um núcleo de militantes combativos em torno de si mesmo—a chamada Brizolândia—Brizola liderou uma campanha que provocou confrontações violentas e brigas de rua com um humor paradoxalmente festivo, expresso pelo lema Brizola na cabeça.
[[Imagem:Leonel Brizola em sua juventude.png|thumb|upright|esquerda|Brizola com quatorze ou quinze anos de idade]]


Leonel de Moura Brizola{{nota de rodapé|Brizola recebeu o nome de '''Leonel Itagiba'''; o nome Leonel era uma homenagem a [[Leonel Rocha]], um líder ''[[Maragato (Brasil)|maragato]]'' local, enquanto Itagiba foi o nome dado a um irmão seu que morreu ao nascer.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=17}}{{sfn|Leite Filho|2008|p=32}} Brizola não gostava de seu segundo nome, e quando tinha quatorze anos de idade sua mãe alterou-o legalmente, permanecendo apenas Leonel.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=18}}{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=19}}}} nasceu em 22 de janeiro de 1922 em Cruzinha, uma localidade de [[Passo Fundo]] (atualmente [[Carazinho]]), no [[Mesorregião do Noroeste Rio-Grandense|Noroeste]] do [[Rio Grande do Sul]]. Era filho de José Oliveira dos Santos Brizola, cujos pais tinham ascendência italiana e mudaram-se de [[São Paulo (estado)|São Paulo]] para o Rio Grande do Sul em cerca de 1920, e de Onívia de Moura, filha dos primeiros povoadores do município gaúcho de [[Nonoai]]. Brizola era o caçula do casal, que também tiveram outros quatro filhos: Irani, Francisca, Paraguassú e Frutuoso.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=17}} Seu pai, José Oliveira, era um pequeno fazendeiro que foi assassinado por soldados leais a [[Borges de Medeiros]] durante a [[Revolução de 1923]].{{sfn|Leite Filho|2008|pp=233-234}} A morte de José fez com que Onívia enfrentasse dificuldades para criar seus filhos, agravadas quando perdeu suas terras em um litígio judicial. A família então foi morar em São Bento, uma região mais próspera de Carazinho, onde Onívia, que trabalhou na lavoura, criando vacas e costurando, conseguiu reconstruir sua vida.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=18}} Onívia casou-se novamente, com o agricultor viúvo José "Janguinho" Gregório Estery, tendo com ele mais dois filhos: Sadi e Jesus.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=19}}<ref name="FGV">{{Citar web |url=http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/leonel-de-moura-brizola |título=Leonel Brizola |publicado=Fundação Getúlio Vargas |autor=Vilma Keller, Sônia Dias, Marcelo Costa e Americo Freire|acessodata=27 de novembro de 2017}}</ref>
Para ter sua vitória na eleição de 1982 reconhecida, Brizola teve que denunciar publicamente o que o Jornal do Brasil descreveu como uma tentativa de contabilização fraudulenta das cédulas de votação pela empresa privada Proconsult—uma empresa de engenharia informática de propriedade de ex-funcionários do serviço de inteligência militar—contratada pelo Tribunal Regional Eleitoral para informatizar a fase final da apuração. Durante o início do processo de contagem dos votos, a Proconsult afirmou repetidamente que Moreira Franco seria eleito—Arcádio Vieira, dono da empresa, estimou que Moreira ganharia com vantagem de cerca de sessenta mil votos—, tendo como base resultados predominantemente de áreas do interior, onde Brizola possuía desvantagem. Estes prognósticos foram imediatamente ecoados pela TV Globo. Ao denunciar esta alegada fraude em coletivas de imprensa, entrevistas e declarações públicas—que incluíram uma discussão ao vivo com Armando Nogueira, diretor da Globo—Brizola evitou que o esquema tivesse qualquer chance de sucesso. Ele acabou sendo eleito com 1,7 milhão de votos, uma diferença de 3,6% em relação a Moreira.


Brizola foi alfabetizado por sua mãe antes de ingressar no [[ensino primário]].{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=18}}<ref name="FGV" /> Estudou, por pouco tempo, como bolsista em uma escola de [[Não-Me-Toque]].{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=19}} Quando tinha dez anos de idade, foi morar sozinho em um sótão de um hotel em Carazinho, onde lavava pratos para ganhar comida e carregava malas até uma estação férrea.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=20}} Ajudado pela família de um pastor metodista, recebeu uma bolsa de estudos que lhe permitiu concluir o primário no Colégio da Igreja Metodista.<ref name="FGV" />{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=20}}{{harvy|b|Ferreira|2011}} Em 1936, aos doze anos de idade, Brizola mudou-se para [[Porto Alegre]], onde trabalhou em diversas funções, como engraxate e ascensorista, e concluiu um curso de técnico rural no Ginásio Agrícola Senador Pinheiro Machado em 1939.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=22}}{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=23}}<ref name="FGV" />
Brizola então continuou e expandiu sua visibilidade política em todo o país durante seu polêmico primeiro mandato como governador do Rio de Janeiro, de 1983 a 1987. Ele propôs a prorrogação, por dois anos, do mandato do presidente João Figueiredo, com quem tentou se aproximar; os mandatos dos governadores também seriam prorrogados e o sucessor de Figueiredo deveria ser eleito pelo voto popular. No início de 1984, engajou-se nas manifestações das Diretas Já, organizando o Comício da Candelária. Entretanto, por ser governador de um estado, não participou de forma tão desenvolta como outros líderes políticos; Doutel de Andrade representou o PDT nas caravanas das Diretas Já, e Brizola participou apenas dos eventos mais importantes. Após a derrota da emenda Dante de Oliveira, defendeu que o presidente eleito na eleição indireta de 1985 comandasse um governo de transição, convocando eleições diretas em, no máximo, dois anos. Apesar de não confiar politicamente em Tancredo Neves, orientou a bancada do PDT a votar em seu favor. Na presidência de José Sarney, foi uma das primeiras vozes críticas ao Plano Cruzado.


[[Imagem:Família Brizola.png|thumb|upright|esquerda|Brizola ao lado da esposa, [[Neusa Goulart Brizola|Neusa Goulart]], e dos filhos [[Neusinha Brizola|Neusinha]], José Vicente e João Otávio]]
Como governador, Brizola desenvolveu suas políticas educacionais em uma escala maior com um ambicioso programa de construção de grandes escolas de ensino médio, os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs), arquitetados por Oscar Niemeyer. As escolas deveriam estar abertas durante todo o dia, proporcionando alimentação e atividades recreativas aos estudantes. Brizola também desenvolveu políticas para a prestação de serviços públicos e entregou propriedades habitacionais para moradores de favelas. Brizola opôs-se a políticas para favelas que tivessem como base o reassentamento forçado por meio de projetos habitacionais e, em vez disso, propôs—pois, nas palavras de seu principal conselheiro Darcy Ribeiro, "as favelas não fazem parte do problema, mas parte da solução"—uma solução "bizarra", mas, no entanto, que "permitiu que os habitantes das favelas se aproximassem de seus lugares de trabalho e vivessem como uma comunidade humana comum." Portanto, assim que os direitos de propriedade foram reconhecidos e a infra-estrutura básica proporcionada, coube aos habitantes das favelas encontrar soluções para os problemas relacionados à construção de casas.


Após receber o diploma de técnico rural, Brizola não foi logo trabalhar nesta área, tornando-se em vez disso graxeiro da Refinaria Brasileira de Óleos e Graxas, em [[Gravataí]], na [[Região Metropolitana de Porto Alegre]]; anos depois, soube que a refinaria era propriedade de [[Ildo Meneghetti]], um de seus maiores opositores políticos.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=23}}<ref name="FGV" /> Foi aprovado em um concurso do [[Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento|Ministério da Agricultura]], indo trabalhar como técnico do ministério em Passo Fundo, ficando assim mais próximo de sua família.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=23}} Brizola permaneceu apenas por meio ano em Passo Fundo, onde, apesar de receber um bom salário, contraiu dívidas com várias pessoas.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=23}} Depois de resolver suas pendências financeiras, retornou para a capital, residindo em uma pensão e trabalhando como jardineiro do Departamento de Parques e Jardins da Prefeitura.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=24}}<ref>{{Citar web |url=http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1599786 |título=Projeto de lei nº, de 2017 |publicado=Câmara dos Deputados do Brasil |autor=Marcelo Matos |data=2017 |acessodata=27 de novembro de 2017}}</ref><ref name="FGV" />
Brizola também adotou uma nova e radical política de ação policial nos subúrbios pobres e favelas da região metropolitana do Rio de Janeiro. Alegando relações e modus operandi ultrapassados baseados em repressão, conflito e desrespeito, ordenou à polícia estadual que se abstivesse de fazer invasões arbitrárias em favelas e reprimisse as atividades dos esquadrões de extermínio, criando um órgão destinado para essa causa que prendeu e processou mais de duzentos policiais. A direita se opôs a essas políticas, argumentando que fariam das favelas um território aberto para o crime organizado representado por grandes gangues como o Comando Vermelho, por meio de uma confluência entre a criminalidade comum e o esquerdismo. Alegou-se que as gangues se originaram através da associação de pequenos criminosos condenados e prisioneiros políticos de esquerda na década de 1970. Outros estudiosos argumentaram que esta "politização" do crime comum tinha sido um trabalho da ditadura militar, que, ao encarcerar os criminosos comuns e os prisioneiros políticos, ofereceu aos primeiros a oportunidade de imitar as estratégias de organização dos grupos clandestinos de resistência.


Em 1942, Brizola concluiu o [[ensino fundamental]] como bolsista no [[Colégio Nossa Senhora do Rosário (Porto Alegre)|Colégio Nossa Senhora do Rosário]]. Em seguida, licenciou-se de seu trabalho na prefeitura e alistou-se no 3.º Batalhão de Aviação do Exército (atualmente a [[Base Aérea de Canoas]]). Com o fim de seu serviço militar, voltou a trabalhar como jardineiro, concluindo o curso científico (equivalente ao [[ensino médio]]) no [[Colégio Júlio de Castilhos]] e um curso de piloto privado.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=24}} No Júlio de Castilhos, foi um dos fundadores do [[Grêmio Estudantil]], sendo seu vice-presidente.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=25}} Em 1945, foi aprovado no vestibular da [[Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul|Escola de Engenharia]] da [[Universidade Federal do Rio Grande do Sul]], graduando-se como [[Engenharia civil|engenheiro civil]] em 1949.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=24}}{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=25}}
=== Campanha presidencial de 1989 ===


Em 1º de março de 1950, Brizola casou-se com [[Neusa Goulart Brizola|Neusa Goulart]], irmã do deputado estadual e futuro presidente da República [[João Goulart]] (Brizola e Goulart eram ambos deputados estaduais). O casamento foi realizado na Fazenda de Iguariaçá, em [[São Borja]], tendo o ex-presidente da República [[Getúlio Vargas]] como um dos padrinhos.<ref>{{Citar web |url=https://www.sul21.com.br/jornal/brizola-foi-batizado-itagiba-mas-virou-leonel-por-admiracao-as-revolucoes/ |título=Brizola foi batizado Itagiba, mas virou Leonel por admiração às revoluções |publicado=Sul21 |autor=Rui Felten |data=22 de abril de 2011 |acessodata=27 de novembro de 2017}}</ref> O casal havia se conhecido nas reuniões da Ala Moça do [[Partido Trabalhista Brasileiro]] (PTB).{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=39}} Tiveram três filhos juntos: [[Neusinha Brizola|Neusinha]], José Vicente e João Otávio.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=86}} Após a morte de Neusa em 1993, manteve uma relação com Marília Guilhermina Martins Pinheiro.<ref>{{Citar web |url=https://m.oglobo.globo.com/politica/ex-companheira-de-brizola-recebe-41-mil-de-aposentadorias-pagas-pelos-estados-do-rio-do-2835307 |título=Ex-companheira de Brizola recebe R$ 41 mil de aposentadorias pagas pelos estados do Rio e do Rio Grande do Sul |publicado=O Globo |autor=Silvia Amorim |data=19 de janeiro de 2011 |acessodata=25 de dezembro de 2017}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://www.clicrbs.com.br/eleicoes2008/jsp/default.jspx?uf=1&local=1&action=noticias&id=2241039&section=Not%EDcias |título=Brizola recebe anistia política após 29 anos |publicado=ClickRBS |data=14 de outubro de 2008 |acessodata=27 de dezembro de 2017}}</ref>
Brizola optou por permanecer no governo fluminense até o fim de seu mandato em vez de renunciar para concorrer a algum cargo na eleição de 1986. Desta forma, seu vice, Darcy Ribeiro, não se tornou inelegível e pôde concorrer para sucedê-lo; impulsionado pela popularidade momentânea do Plano Cruzado, Moreira derrotou Darcy por 49-35%. Em meio a em seguida crise econômica e a inflação galopante do Brasil nos anos 1980, muitos observadores conservadores viam Brizola como o principal chefe do radicalismo—um retorno ao populismo dos anos 1960. Brizola, assim como a esquerda em geral na época, procurou certa conciliação com as elites governantes, evitando assumir uma posição muito firme em questões como a reforma agrária e a nacionalização dos bancos privados. Do ponto de vista da política eleitoral de massas, foi durante a eleição presidencial de 1989 que a liderança carismática de Brizola expôs suas limitações ao terminar o primeiro turno na terceira colocação, perdendo a segunda posição, que o qualificaria para disputar o segundo turno, por uma pequena margem para Luis Inácio Lula da Silva, cujo Partido dos Trabalhadores tinha quadros, o ativismo profissional e a penetração nos movimentos sociais organizados que faltava a Brizola. Os resultados mostraram que sua candidatura era baseada principalmente em apoios regionais: Brizola conquistou maiorias maciças no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, mas recebeu apenas 1,4% dos votos em São Paulo. Lula usou seu reduto nas áreas mais industrializadas do Sudeste como um trampolim e reuniu novos eleitores no Nordeste. No final, Lula obteve 11,6 milhões de votos, contra 11,1 de Brizola, uma diferença de 0,6%; Fernando Collor ficou em primeiro, com 20,6 milhões de votos.


== Início da carreira política ==
Brizola foi um fervoroso apoiador da candidatura de Lula para o segundo turno da eleição presidencial de 1989, algo que justificou com uma declaração marcante diante de seus colegas do PDT: "Cá para nós: um político de antigamente, o senador Pinheiro Machado, disse que a política é a arte de engolir sapos. Não seria fascinante fazer esta elite engolir o Lula, esse sapo barbudo? Vamos no menos pior, pelo menos…." Anteriormente, ambos mantiveram discussões objetivando formar uma aliança de esquerda para o primeiro turno, mas não chegaram a um acordo. Em uma reunião do PDT ocorrida após a primeira votação, embora sabendo ser inviável, Brizola sugeriu que ele e Lula desistissem para darem lugar a Mário Covas, pois acreditava que Covas enfrentaria menos resistências e assim teria mais chances de derrotar Collor. O apoio de Brizola foi crucial para que Lula aumentasse sua votação no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, onde o petista passou de 12,2% dos votos no primeiro turno no Rio de Janeiro para 72,9% no segundo turno, enquanto que no Rio Grande do Sul aumentou sua votação de 6,7% para 68,7%. De qualquer forma, Collor venceu a eleição.
[[Imagem:Leonel Brizola, prefeito de Porto Alegre sendo recebido pelo presidente Juscelino Kubistchek.tif|thumb|O prefeito Brizola sendo recebido pelo presidente [[Juscelino Kubitschek]], em 1958]]


Enquanto ainda estava na universidade, Brizola começou a militar no movimento político, filiando-se ao [[Partido Trabalhista Brasileiro]] (PTB) em 1945. No PTB, foi-lhe incumbido a tarefa de organizar a ala jovem do partido, conhecida como Ala Moça.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=27}}<ref>{{Citar web |url=http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,leonel-brizola-morre-aos-82-anos,20040621p36723 |título=Leonel Brizola morre aos 82 anos |publicado=O Estado de S. Paulo|data=21 de junho de 2004 |acessodata=22 de dezembro de 2017}}</ref> Na [[Eleições estaduais no Rio Grande do Sul em 1947|eleição estadual de janeiro de 1947]], com a ajuda de seu partido, de colegas da universidade e de integrantes da ala jovem trabalhista, foi eleito deputado estadual com 3.839 votos, a 28ª maior votação daquela eleição.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=27}}<ref>{{Citar web |url=http://capa.tre-rs.jus.br/upload/38/Resultados_RS_1947.PDF |título=Resultados gerais da eleição de 1947 |publicado=Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul|acessodata=11 de fevereiro de 2019}}</ref> Na época, Brizola morava em uma pensão localizada no [[Centro Histórico de Porto Alegre|centro de Porto Alegre]], na qual dividia o quarto com [[Sereno Chaise]], futuro deputado estadual e prefeito de Porto Alegre.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=28}}<ref>{{Citar web |url=https://www.camarapoa.rs.gov.br/noticias/morre-sereno-chaise-ex-presidente-da-camara |título=Morre Sereno Chaise, ex-presidente da Câmara |publicado=Câmara Municipal de Porto Alegre|data=1 de junho de 2017 |acessodata=22 de dezembro de 2017 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20171222164134/https://www.camarapoa.rs.gov.br/noticias/morre-sereno-chaise-ex-presidente-da-camara# |arquivodata=22 de dezembro de 2017 |urlmorta=yes }}</ref> Na [[Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul]], defendeu pautas do movimento estudantil, como o aumento de vagas nas instituições de ensino, e participou da Assembleia Constituinte, iniciada em março de 1947, na qual apoiou uma emenda de [[Alberto Pasqualini]] que classificou o [[direito de propriedade]] como "inerente à natureza do homem, dependendo seus limites e seu uso de conveniência social."{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=32}}{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=33}}
=== Segundo mandato como governador do Rio de Janeiro e declínio ===


Na [[Eleições estaduais no Rio Grande do Sul em 1950|eleição estadual de outubro de 1950]], Brizola foi reeleito deputado estadual com 16.691 votos, tornando-se na nova legislatura o líder dos trabalhistas na Assembleia Legislativa.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=39}}<ref>{{Citar web |url=http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/5/29/brasil/21.html |título=A trajetória de Brizola |publicado=Folha de S. Paulo|data=29 de maio de 1994 |acessodata=22 de dezembro de 2017}}</ref> No ano seguinte, foi facilmente indicado para ser o candidato do PTB à Prefeitura de Porto Alegre, com [[Manuel Sarmanho Vargas|Manoel Vargas]] sendo o candidato a vice-prefeito pelo partido. Seu principal concorrente foi [[Ildo Meneghetti]], vereador e ex-prefeito nomeado da capital, popular, em parte, por ter presidido o [[Sport Club Internacional]].{{sfn|Cortés|1974|p=223}} Embora favorito, Brizola foi derrotado por Meneghetti, em uma votação de 41.939 a 40.877 votos; como na época as eleições eram separadas, Vargas conseguiu ser eleito vice-prefeito.{{sfn|Cortés|1974|p=223}} Sua derrota foi creditada pela dissidência organizada por [[José Vecchio]], um dos dirigentes do PTB gaúcho.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=39}}
Após a eleição de 1989, Brizola ainda possuía chances de realizar seu sonho de ganhar a Presidência da República se conseguisse superar a falta de penetração nacional de seu partido. Alguns de seus assessores propuseram-lhe uma candidatura ao Senado na eleição de 1990, o que poderia lhe render destaque nacional. Brizola recusou a ideia e candidatou-se a governador, propondo uma coligação com o PT que tivesse Lula como candidato ao Senado. Os partidos travaram discussões sobre o assunto, animando Brizola a acreditar na possibilidade de fusão. O PT acabou apresentando um candidato próprio, e Brizola ganhou um segundo mandato como governador do Rio de Janeiro com 60,88% dos votos, no primeiro turno. Em seu segundo mandato, inaugurou a Universidade Estadual do Norte Fluminense e construiu a Via Expressa Presidente João Goulart, mais conhecida como Linha Vermelha. No entanto, este período redundou em seu fracasso político, marcado por momentos de gestão desorganizada causados por seu ultra-centralismo e desprezo pelos procedimentos burocráticos adequados; Brizola deixou o cargo com apenas 14% de aprovação, segundo o Datafolha. Além disso, embora tenha sido um opositor a ações do governo Collor, estabeleceu relações cordiais com o presidente e foi um crítico severo da CPI que investigava o esquema de Paulo César Farias, classificando o processo de impeachment como um "golpe"; Brizola só pediu a saída de Collor do governo na campanha eleitoral de 1992. Esse fato lhe causou um imenso desgaste junto ao seu eleitorado e aos seus aliados políticos.


Em 1952, Brizola aceitou o convite do governador [[Ernesto Dornelles]] e assumiu a Secretaria de Obras Públicas.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=40}} Nesta função, desenvolveu o Primeiro Plano de Obras do estado, realizando obras de infra-estrutura, majoritariamente nas áreas de saneamento básico e rodovias.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=40}} Em 1954, deixou a secretaria para postular uma vaga na [[Câmara dos Deputados (Brasil)|Câmara dos Deputados]] na [[Eleições estaduais no Rio Grande do Sul em 1954|eleição de outubro daquele ano]].{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=40}} Brizola acabou sendo eleito deputado federal com um recorde nacional de 103.003 votos, mais do que o dobro da votação obtida pelo segundo colocado.<ref>{{Citar web |url=https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/140312/000990928.pdf?sequence=1 |título=A trajetória de Fernando Ferrari no PTB: da formação do Partido do "Trabalhismo Renovador" (1945-1960) |publicado=Universidade Federal do Rio Grande do Sul |autor=Maura Bombardelli |data=2016 |acessodata=22 de dezembro de 2017}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://biblioteca.asav.org.br/vinculos/tede/PauloTauferHistoria.pdf |título=Partido Libertador: formação e atuação política (1945-1960) |publicado=Universidade do Vale do Rio dos Sinos |autor=Paulo Roberto Taufer |data=2008 |acessodata=22 de dezembro de 2017}}</ref>{{sfn|Cortés|1974|p=237}} Como deputado federal, foi um ferrenho opositor de [[Carlos Lacerda]], da [[União Democrática Nacional]].<ref name="FGV" />{{sfn|Leite Filho|2008|pp=211-216}} Quando Lacerda fez seu juramento de posse como deputado, Brizola pegou o microfone e retrucou-lhe: "Pela ordem, senhor presidente. Este é um juramento falso! Ele está jurando aqui dentro a democracia e está pregando o golpe lá fora." A declaração provocou uma confusão, com reações contrárias e favoráveis; Lacerda apenas respondeu "O que é isso? O que é isso?." Este episódio rendeu a Brizola, pela primeira vez, espaço nos grandes jornais do país.<ref>{{Citar web |url=http://www.bradoretumbante.org.br/personagens/leonel-brizola |título=Leonel Brizola: um gaúcho bom de briga |publicado=Brado Retumbante |acessodata=26 de dezembro de 2017 |wayb=20171227235409 |urlmorta=yes |arquivourl=https://web.archive.org/web/20171227235409/http://www.bradoretumbante.org.br/personagens/leonel-brizola |arquivodata=2017-12-27 }}</ref>
Em 2 de abril de 1994, Brizola desincompatibilizou-se do cargo de governador do estado para concorrer à Presidência da República. Desprovido de apoio nacional e abandonado por aliados próximos como Cesar Maia e Anthony Garotinho, que afastaram-se em benefício de suas carreiras pessoais, Brizola voltou representar o PDT na disputa presidencial de 1994, realizada em meio ao sucesso do Plano Real e o consequente favoritismo do candidato governista Fernando Henrique Cardoso. A eleição de 1994 foi outro fracasso para Brizola, que ficou em quinto lugar, com 3,18% dos votos; FHC foi eleito no primeiro turno. Era o fim do Brizolismo como uma força política nacional. Durante o primeiro mandato de Cardoso, continuou sendo um crítico de suas políticas neoliberais de privatização de empresas públicas, afirmando em 1995: "se não houver uma reação civil à privatização, haverá uma militar." Quando o presidente concorreu à reeleição em 1998, foi o candidato a vice de Lula, e ambos perderam para FHC no primeiro turno. Na eleição de 2000, foi derrotado em sua tentativa de se eleger prefeito do Rio de Janeiro, recebendo 9,10% dos votos.


Brizola fundou e dirigiu, no decorrer do ano de 1955, o jornal em formato de tabloide ''Clarim'', que chegou a atingir uma tiragem de 35 mil exemplares.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=40}} Brizola usou a publicação para promover sua segunda candidatura à prefeitura de Porto Alegre, indicando e criticando os problemas da cidade.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=40}} Com o ''slogan'' "Nenhuma Criança Sem Escola" e um caráter desenvolvimentista, Brizola acabou sendo eleito, com 65.077 votos (55,14%), contra 37.158 votos (31,49%) recebidos por [[Euclides Triches]].{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=40}} Embora seu partido tenha conquistado a maior bancada na [[Câmara de Vereadores de Porto Alegre|Câmara de Vereadores]], não conseguiu uma maioria na casa, ficando com 8 das 21 vagas.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=40}}{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=41}} Em janeiro de 1956, foi empossado prefeito de Porto Alegre. Entre suas realizações no cargo, destacam-se o aumento do número de vagas disponíveis na rede municipal de ensino, incluindo o ensino em dois turnos, as obras de saneamento básico e a urbanização de grande parte dos trechos próximos ao [[Rio Guaíba]].{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=41}}{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=44}}{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=45}}
Em seus últimos anos, o relacionamento fragmentado de Brizola com Lula e o PT mudou; ele se recusou a apoiá-los no primeiro turno da eleição presidencial de 2002, apoiando em vez disso Ciro Gomes, enquanto disputou uma vaga para o Senado. Depois que Gomes ficou em terceiro lugar, apoiou Lula, que foi eleito presidente. Brizola foi derrotado em sua tentativa de se eleger senador, sendo o sexto colocado, com 8,2% dos votos, e acabando com sua força regional. Em seus últimos dois anos de vida, foi considerado um veterano populista de esquerda, e um personagem secundário. Apesar de apoiar Lula em alguns períodos durante seu primeiro mandato, em suas últimas aparições públicas, criticou-o por acreditar que o presidente estava empreendendo políticas neoliberais e negligenciando as tradicionais lutas da esquerda e dos trabalhadores. Ainda exercendo o cargo de presidente Nacional do PDT, Brizola afirmou, em junho de 2003, que o partido estava saindo do governo Lula; com sua pressão, o rompimento foi oficializado em dezembro de 2003. Os últimos comentários de Brizola sobre Lula ganharam um caráter pessoal. Em maio de 2004, foi uma das fontes de uma reportagem do jornalista Larry Rohter sobre o suposto alcoolismo de Lula. Brizola disse a um correspondente do New York Times sobre ter aconselhado Lula: "você precisa controlar isso."
 
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== Governador do Rio Grande do Sul ==
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{{AP|[[Governo Brizola no Rio Grande do Sul]]}}
[[Categoria:Rio de Janeiro]]
{{Rquote|right|<small>Entre outras coisas cumpre dizer que o [[trabalhismo]] é nacionalista, o [[comunismo]] é internacional; o comunismo é materialista, o trabalhismo se inspira na doutrina social cristã; o comunismo é a abolição da propriedade, o trabalhismo defende a propriedade dentro de um fim social; o comunismo escraviza o homem ao Estado e prescreve o regime de garantia do trabalho, o trabalhismo é a dignificação do trabalho e não tolera a exploração do homem pelo Estado nem do homem pelo homem [...]</small>|<small>Trecho do manifesto de Brizola em que repudiou o apoio dos comunistas em sua campanha do governo do Rio Grande do Sul em 1958.</small>{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=50}}}}
[[Categoria:Políticos]]
 
Na convenção do PTB realizada em outubro de 1957, Brizola foi indicado, por larga margem, para ser o candidato do partido ao governo do Rio Grande do Sul na [[Eleições estaduais no Rio Grande do Sul em 1958|eleição de 1958]].{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=44}} Além do PTB, a coligação de Brizola foi formada pelo [[Partido de Representação Popular]] e o [[Partido Social Progressista (1946)|Partido Social Progressista]].{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=50}} O [[Partido Comunista Brasileiro]] também endossou sua candidatura, mas Brizola rejeitou tal apoio por medo de perder os votos dos católicos da [[Serra Gaúcha|Serra]], chegando a divulgar um manifesto de repúdio que recebeu elogios de [[Dom Vicente Scherer]].{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=50}} Embora houve acusações de que o PRP mantinha ligações com movimentos extremistas da [[Alemanha nazista]], Brizola firmou a coligação com o partido pois desejava ganhar os votos dos perrepistas em cidades do interior e em colônias alemãs e italianas, locais onde o PRP possuía uma significativa base de apoio.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=51}} A campanha trabalhista apresentou um programa de governo em que defendia priorizar as escolas, habitação, energia elétrica e preços justos aos produtores.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=50}} Em outubro, derrotou [[Walter Peracchi Barcelos]], coronel da [[Brigada Militar]], com 670.003 votos contra 500.944.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=51}} Sua vitória foi possível graças ao bom desempenho nas grandes cidades; na capital, conseguiu 65% dos votos, 63% em [[Pelotas]] e 75% em [[Canoas]].{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=51}} Na Assembleia Legislativa, o PTB elegeu 24 dos 55 integrantes.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=51}} A disputa pelo Senado Federal foi vencida por [[Guido Mondin]], do PRP, apoiado por Brizola.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=51}}
 
[[Imagem:Leonel Brizola tomando posse como governador do Rio Grande do Sul.tif|thumb|upright|180px|esquerda|Brizola tomando posse como governador do Rio Grande do Sul, em 1959]]
 
Em 31 de janeiro de 1959, Brizola foi empossado governador.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=51}} Com a justificativa de levar agilidade à administração, criou seis secretarias: Administração, Trabalho e Habitação, Economia, Transportes, Energia e Comunicações e Saúde.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=52}} Ao longo de seu mandato, apresentou, nas sextas-feiras à noite (motivo que lhe fez ganhar o apelido de "[[Lobisomem]]"), um programa pago na [[Rádio Farroupilha]], em que prestava contas ao eleitorado.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=51}}
 
Em 1961, Brizola ganhou atenção nacional ao criar a [[Campanha da Legalidade]], em defesa da democracia e do direito de seu cunhado, o vice-presidente [[João Goulart]], ser empossado presidente da República. Quando [[Jânio Quadros]] renunciou à presidência em agosto de 1961, os militares tentaram impedir que Goulart o sucedesse em virtude de seus supostos laços com os comunistas.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=69}}{{sfn|Dulles|1978|p=250}} Depois de ganhar o apoio do general [[José Machado Lopes|Machado Lopes]], do exército local, Brizola criou a cadeia da legalidade de um grupo de estações de rádio no Rio Grande do Sul, a qual usou para emitir, a partir do [[Palácio Piratini]], uma chamada nacional denunciando as intenções por trás das ações dos militares e incentivando a população a protestar nas ruas.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=69}}{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=70}} Brizola entregou a Brigada Militar ao comando do exército regional, organizou comitês paramilitares de resistência democrática, chegando a distribuir armas de fogo a civis, e transformou a sede do governo em uma trincheira.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=71}}{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=72}}<ref>{{Citar web |url=http://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/campanha-da-legalidade-assegurou-posse-do-vice-joao-goulart-em-1961-18970047 |título=Campanha da Legalidade assegurou posse do vice João Goulart, em 1961 |publicado=O Globo |autor=Marco Grillo e Matilde Silveira |data=28 de março de 2016 |acessodata=23 de dezembro de 2017}}</ref> Em resposta, os ministros militares ordenaram o bombardeio do Piratini, mas [[rebelião dos sargentos e suboficiais da Base Aérea de Canoas|sargentos e suboficiais da Base Aérea de Canoas não cumpriram]] as ordens dadas pelos seus superiores.<ref>{{Citar web |url=https://oglobo.globo.com/politica/movimento-de-sargentos-evitou-bombardeio-ao-piratini-palacio-do-governo-gaucho-em-1961-2686116 |título=Movimento de sargentos evitou bombardeio ao Piratini, palácio do governo gaúcho, em 1961 |publicado=O Globo |autor=Naira Hofmeister |data=28 de agosto de 2011 |acessodata=23 de dezembro de 2017}}</ref><ref>{{Citar web |url=https://www.sul21.com.br/jornal/como-os-sargentos-da-fab-evitaram-o-ataque-ao-piratini/ |título=Como os sargentos da FAB evitaram o ataque ao Piratini |publicado=Sul21 |autor=Lorena Paim |data=18 de junho de 2011 |acessodata=23 de dezembro de 2017}}</ref> Brizola se opôs à mudança para o regime [[Parlamentarismo|parlamentarista]], usada pelos militares como condição para que Goulart assumisse. Após doze dias de uma guerra civil iminente, Goulart aceitou a proposta dos militares e foi empossado presidente.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=74}}{{sfn|Fischer|2006|p=277}}
 
[[Imagem:Leonel Brizola durante a Campanha da Legalidade.jpg|thumb|upright|Brizola segurando uma metralhadora durante a [[Campanha da Legalidade]]]]
 
Entre as políticas governamentais empreendidas como governador, Brizola desenvolveu um plano para industrializar rapidamente o estado e um programa para a construção de serviços públicos estatais, [[Nacionalização|nacionalizando]] algumas empresas norte-americanas.{{sfn| Leacock|1990|p=89}}<ref>{{Citar web |url=http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/6526/000531324.pdf?sequence=1 |título=Projeto de Desenvolvimento e Encampações no discurso do governo Leonel Brizola: Rio Grande do Sul, 1959-1963 |publicado=Universidade Federal do Rio Grande do Sul |autor=Samir Perrone de Miranda |data=2006 |acessodata=23 de dezembro de 2017}}</ref>{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=52}} Brizola garantia que a política de investimentos de seu governo teria capital nacional e que interferências estrangeiras na economia gaúcha não seriam aceitas.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=52}} A Companhia de Energia Elétrica Riograndense, da Bond and Share e dona do monopólio da energia elétrica na [[Região Metropolitana de Porto Alegre|Região Metropolitana]], foi encampada em maio de 1959.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=53}}<ref>{{Citar web |url=http://memorialdademocracia.com.br/card/brizola-encampa-a-bond-share |título=BRIZOLA ENCAMPA A BOND & SHARE |publicado=Memorial da Democracia|acessodata=23 de dezembro de 2017}}</ref> A CEE passou a ser uma sociedade de economia mista, passando a ter um papel significativo na geração e distribuição de energia.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=54}} Em fevereiro de 1962, depois que as negociações para que a Companhia Telefônica Riograndense, de propriedade da International Telephone and Telegraph, fosse transferida para o poder público acabaram fracassando, Brizola também encampou-la e a tornou parte da [[Companhia Riograndense de Telecomunicações]].{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=54}} As nacionalizações de Brizola tornaram-se manchete na imprensa norte-americana quando o governo de [[John F. Kennedy]] estava tentando combater a "infiltração comunista" no Brasil ao chegar a um acordo com Goulart, que incluiu ajuda financeira ao governo federal brasileiro.{{sfn|Maurer|2013|p=329}}{{sfn|Taffet|2007}} Neste contexto, as ações de Brizola tornaram-se um embaraço diplomático, levando o presidente norte-americano a criticar o governador em uma coletiva de imprensa e transformando o governo Brizola em um alvo da Emenda Hickenlooper, uma mal sucedida iniciativa para interromper a ajuda a qualquer país que expropriasse propriedades norte-americanas.<ref>{{Citar web |url=http://www.faqs.org/cia/docs/88/0000585281/CIWR:-BRAZIL.html |título=CIWR: BRAZIL |publicado=CIA Released Documents|data=13 de julho de 1962 |acessodata=23 de dezembro de 2017}}</ref>{{sfn|Schlesinger|1978|p=579}}{{sfn|Maurer|2013|pp=329-330}}{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=56}}
 
A alfabetização e o aumento no número de vagas nas instituições de ensino foram outras prioridades do governo Brizola.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=57}} Em 1959, o deficit de vagas foi estimado em 273 mil.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=57}}{{sfn|Leite Filho|2008|p=151}} O governo estabeleceu mais de duzentos acordos com escolas privadas para que, em troca de receberem professores do estado e verbas públicas, disponibilizassem vagas gratuitas.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=57}}{{sfn|Leite Filho|2008|p=158}} Para a construção de instituições de ensino, o governo realizou um acordo com os municípios e a iniciativa privada.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=58}} Ao término de seu mandato, haviam sido construídos 6.302 estabelecimentos de ensino, dos quais 5.902 eram escolas primárias, 278 eram escolas técnicas e 122 eram ginásios.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=59}} As escolas, que ficaram conhecidas como "Brizoletas", possuíam uma arquitetura simples, sendo parecidas com residências.{{sfn|Leite Filho|2008|p=157}}<ref>{{Citar web |url=http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/geral/cidades/noticia/2014/06/brizoletas-tentam-sobreviver-as-acoes-do-tempo-na-serra-4536697.html |título=Brizoletas tentam sobreviver às ações do tempo na Serra |publicado=Pioneiro |autor=Jéssica Britto |data=26 de junho de 2014 |acessodata=23 de dezembro de 2017}}</ref> Estes investimentos resultaram na abertura de 689 mil matrículas e 42 mil vagas para docentes, com o Rio Grande do Sul passando a ter a mais alta taxa de escolarização do Brasil.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=59}}{{sfn|Leite Filho|2008|p=152}}
 
Para empreender uma reforma agrária, Brizola estabeleceu o [[Instituto Gaúcho de Reforma Agrária]].{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=59}} Na época, 1,83% dos proprietários eram donos de 47,97% das terras, enquanto 85% ficavam com 24% das terras.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=59}} O instituto, além de prestar assistência técnica, garantiu verbas para que os produtores comprassem máquinas, animais e sementes.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=60}} Brizola ajudou a organizar acampamentos do [[Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra|Movimento dos Agricultores Sem Terra]], conhecidos como Master.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=60}} Em [[Sarandi (Rio Grande do Sul)|Sarandi]], cerca de dez mil pessoas participaram de um acampamento para reivindicar a divisão de vinte mil hectares de terras, que não mantinham produção, pertencentes a uma multinacional.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=61}} Em junho de 1962, decretou a concessão dos títulos de propriedade de terras da região do Banhado do Colégio, beneficiando em torno de seiscentas famílias.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=61}} Brizola continuou e intensificou a reforma agrária em terras indígenas, argumentando que eles detinham muita terra para poucos índios.<ref>{{Citar web |url=http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/oficinadohistoriador/article/viewFile/19059/12118 |título=O governo Brizola e a questão indígena no norte do Rio Grande do Sul (1958-1962) |publicado=Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul |autor=Gean Zimermann da Silva|acessodata=23 de dezembro de 2017}}</ref> Brizola e sua esposa, Neusa, também doaram 1.038 hectares da Fazenda Pangaré, de propriedade do casal, para um grupo de trinta agricultores, dando início a uma cooperativa.<ref>{{Citar web |url=http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/2014/06/6096/dez-anos-sem-brizola-o-galo/ |título=Dez anos sem Brizola, o galo |publicado=Correio do Povo |autor=Juremir Machado da Silva |data=21 de junho de 2014 |acessodata=23 de dezembro de 2017}}</ref>{{sfn|Leite Filho|2008|p=195}}
 
== Deputado federal pela Guanabara ==
[[Imagem:João Goulart e Leonel Brizola.jpg|thumb|Brizola abraçando seu cunhado, o presidente da República [[João Goulart]], na década de 1960]]
 
Por meio de suas políticas internas e externas, Brizola tornou-se uma figura importante na política brasileira, eventualmente desenvolvendo ambições presidenciais que não poderia cumprir devido às leis da época; a legislação brasileira não permitia que parentes próximos do presidente em exercício concorressem na eleição seguinte.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=77}}<ref>{{Citar web |url= https://jornalggn.com.br/documento/cunhado-nao-e-parente-brizola-pra-presidente |título= Cunhado não é parente, Brizola pra Presidente |publicado= GGN | prenome = Lincoln | sobrenome = Barros |data=23 de agosto de 2015 |acessodata=27 de dezembro de 2017}}</ref> Entre 1961 e 1964, atuou na ala radical da esquerda independente, onde pressionou por uma agenda de reformas sociais e políticas radicais e por uma mudança na legislação eleitoral que permitisse sua candidatura na [[Eleição presidencial no Brasil em 1965 |eleição presidencial de 1965]]. Brizola foi visto como autoritário e briguento, capaz de lidar com seus inimigos usando a agressão física; por exemplo, agrediu o jornalista de direita [[David Nasser]] no aeroporto do Rio de Janeiro.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones |2004|p=78}}{{harvy |d|Maklouf|2001|p= 424}}{{harvy |e|Aveline|1999 |p=131}} Brizola atuou como um aventureiro no jogo político em torno do governo Goulart, sendo temido e odiado pelos políticos moderados da esquerda e da direita. Este papel foi especialmente visível quando mudou o seu domicílio eleitoral para um centro político nacional. Se optasse por se candidatar ao Legislativo pelo Rio Grande do Sul, teria que renunciar ao governo estadual seis meses antes da eleição. Optou, então, por aceitar o convite feito pelo PTB carioca de se candidatar a deputado federal, ganhando a [[Eleições estaduais na Guanabara em 1962|eleição]] com uma vitória esmagadora (269.384 votos, ou um quarto do eleitorado do estado de [[Guanabara]], a atual cidade do [[Rio de Janeiro (estado)|Rio de Janeiro]]).{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p= 77}}{{sfn |Osório|2005|p= 77, 97}}
 
Em janeiro de 1963, um [[Plebiscito sobre a forma e o sistema de governo do Brasil (1963)|plebiscito]] redefiniu o sistema de governo como presidencialista, um resultado que foi visto por Brizola como um "voto de confiança" dado pelo povo para que Goulart prosseguisse com as [[reformas de base]].{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=78}}{{harvy|a|Black|1977|p=24}} Ao mesmo tempo, em uma movimento para competir com o presidente pela liderança política, Brizola iniciou um programa semanal na rádio carioca [[Rádio Mayrink Veiga|Mayrink Veiga]], que costumava usar para transmitir para todo o país, e planejava constituir uma rede de células políticas composta por pequenos grupos de homens armados, os [[Grupos dos Onze]].{{sfn|Leite Filho|2008|p=251}}{{sfn|Skidmore|1982|pp=340-341}} Os grupos deveriam atuar como organizações de base que "defenderiam e difundiriam" os principais pontos de uma agenda reformista que teria que ser alcançada "na lei ou na marra."{{sfn|Ridenti|1993|p=26}} De acordo com jornalista da época [[Edmar Morel]], para fazer com que todo o espectro político temesse suas pretensões, "Brizola estava disposto a pagar qualquer preço para ser o dono da bola."{{sfn|Morél|1965|p=64}} O ministro dos Negócios Estrangeiros de Goulart e líder da esquerda moderada, [[San Tiago Dantas]], rotulou Brizola como um exemplo de uma "esquerda negativa" que, na sua intransigente e ideológica defesa da reforma social, abandonou qualquer compromisso com instituições democráticas.{{sfn|Onofre|2010}} Apesar de seu suposto radicalismo, Brizola não era um ideólogo ou doutrinário.{{sfn|Skidmore|1982|p=304}} Geralmente, representava um extremo [[nacionalismo]] de esquerda, apoiando a reforma agrária, a extensão do direito ao voto para analfabetos e suboficiais, e controles rigorosos sobre investimentos estrangeiros que fizeram com que o embaixador [[Lincoln Gordon]] não gostasse de Brizola e comparasse suas técnicas de propaganda com as de [[Joseph Goebbels]], um rumor também compartilhado pela maioria da mídia norte-americana.{{sfn|Stédile & Estevam|2005|p=81}}{{sfn|Skidmore|1982|p=304}}
 
[[Imagem:Convenção do PTB com Leonel Brizola.tif|thumb|esquerda|Brizola discursando em Convenção do PTB]]
 
No final de 1963, após o fracasso de um plano de ajuste econômico, o [[Plano Trienal]], elaborado pelo ministro do Planejamento [[Celso Furtado]], Brizola se envolveu em uma busca pelo poder, derrubando o ministro das Finanças, [[Carvalho Pinto]], economicamente conservador, para tentar ele próprio se tornar ministro. Brizola queria promover sua agenda radical, dizendo: "se queremos fazer uma revolução, devemos ter a chave para o cofre."{{sfn|Laque|2010|p=82}} A candidatura de Brizola para o Ministério da Economia fracassou; o cargo foi dado para o economista [[Ney Neves Galvão]], ajudando a radicalizar a vida política contemporânea brasileira.{{sfn|Skidmore|1982|p=324}}{{sfn|Parker|2012}} Em outubro de 1963, Brizola e Goulart romperam suas relações políticas e pessoais; Brizola ficou convencido de que Goulart pretendia organizar um golpe apoiado por comandantes militares leais, parar o processo contínuo de radicalização política e que o único meio de antecipar o movimento de Goulart era um movimento popular revolucionário.{{sfn |Frühling & Heinz|1999|p=813}}<ref name= "Sul21">{{Citar web |url= https://www.sul21.com.br/jornal/%E2%80%9Cse-jango-aceitasse-a-proposta-de-brizola-seria-o-inicio-da-guerra-civil%E2%80%9D/ |título=“Se Jango aceitasse a proposta de Brizola, seria o início da guerra civil” |publicado= Sul21 | prenome =Lorena | sobrenome = Paim |data= 19 de julho de 2011 |acessodata= 23 de dezembro de 2017}}</ref> Enquanto Brizola acreditava que Goulart deveria governar apenas com partidos de esquerda, o presidente insistia em uma estratégia mais conciliadora, na qual comporia uma aliança com o [[Partido Social Democrático (1945–2003) |Partido Social Democrático]]. No início de 1964, ambos se reaproximaram quando Goulart decidiu manter um governo de esquerda apoiado pela [[Frente de Mobilização Popular]], pelo [[Partido Comunista Brasileiro]] e pelo Partido Geral dos Trabalhadores.<ref name="Sul21" /> No [[Comício da Central do Brasil]], em 13 de março de 1964, Brizola defendeu o fechamento do [[Congresso Nacional do Brasil |Congresso Nacional]] e sua substituição por uma assembleia nacional constituinte, que deveria ser integrada por "camponeses, operários, muitos sargentos e oficiais nacionalistas."<ref>{{Citar web |url= http://almanaque.folha.uol.com.br/ditadura_13mar2004.htm |título=O dia em que Jango começou a cair |publicado= Folha da manhã | obra = Folha de S. Paulo | prenome =Sérgio | sobrenome = Dávila |data=13 de março de 2004 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref>{{sfn|Leite Filho|2008|p= 260}}
 
Para muitos autores, o radicalismo intransigente de Brizola impediu que o governo de seu cunhado tivesse a capacidade de se "comprometer e conciliar", adotando uma agenda reformista viável.{{harvy |a|Black|1977|p= 26}} Segundo o estudioso norte-americano Alfred Stepan, a "retórica do rancor" de Brizola deu a Goulart alguns apoiadores, mas também muitos inimigos poderosos e estrategicamente localizados—certa vez, discursando em uma praça pública, Brizola chamou um general de "gorila."{{sfn|Stepan|2015|p= 198}}<ref>{{Citar web |url=http://www.institutojoaogoulart.org.br/noticia.php?id=1394 |título= Diferenças entre governador gaúcho e Antonio Carlos Muricy surgiram na "Legalidade" em 1961. Anos depois, a iminência de grave confronto |publicado= Instituto João Goulart | prenome = Carlos | sobrenome = Fehlberg |data= 8 de abril de 2010 |acessodata=23 de dezembro de 2017}}</ref> Alguns afirmaram que este comportamento era motivado pelo egoísmo; de acordo com R.S. Rose, "Leonel Brizola estava preocupado apenas com Leonel Brizola."{{sfn |Rose|2005|p=55}} Outros autores dizem que Brizola defendeu uma agenda reformista centrada em questões concretas (reforma agrária, extensão do direito ao voto e controles de capital estrangeiros), tendo sido considerada inaceitável e indigestível pelas classes dominantes e seus aliados internacionais, e cuja implantação era estranha ao sistema político contemporâneo.{{sfn|Melo|2006|pp= 111–30}} Em um telegrama do Departamento de Estado de março de 1964 enviado ao embaixador norte-americano no Brasil, o apoio dos Estados Unidos ao golpe militar foi equiparado a impedir que Goulart e Brizola tivessem em uma posição que lhes permitissem levar em frente seus planos "extremistas."{{sfn |Gordon|2001|p=69}} De acordo com [[José Murilo de Carvalho]], a posição agressiva de Brizola em relação ao processo de reformas era mais coerente do que a de Goulart, que apoiava uma agenda reformista, mas evitou o uso necessário da força para promovê-la.{{sfn |Carvalho|2005|p= 124}} A ambivalência de Goulart em relação a seu cunhado não lhe garantiu apoio internacional: o embaixador Lincoln Gordon considerou Goulart como um oportunista que foi "hipnotizado" por Brizola.{{harvy |a|Black|1977|p= 42}}
 
== Exílio ==
[[Imagem:Família Brizola saindo do Uruguai durante o exílio.png|thumb|Brizola e sua família deixando o [[Uruguai]], em 1977]]
 
Em abril de 1964, um [[Golpe de Estado no Brasil em 1964|golpe de Estado]] derrubou Goulart.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=85}} Brizola acolheu-o em Porto Alegre, na esperança de incentivar o exército local a reagir e assim restaurar o governo deposto. Brizola se envolveu em planos para enfrentar os militares, inclusive proferindo um ardente discurso público na Câmara Municipal de Porto Alegre, exortando os suboficiais do exército a "ocupar quartéis e prender os generais", o que lhe valeu o ódio duradouro dos comandantes militares da ditadura.{{sfn|Leite Filho|2008|p=275}}{{sfn|Kohut & Vilella|2010|p=81}}{{sfn|Frota|2006|pp=487-489}}{{sfn|Soares, Batista & Pimentel|2008}} Depois de um mês mal sucedido no estado, Brizola fugiu no início de maio de 1964 para o [[Uruguai]], onde Goulart já estava no exílio depois de demonstrar pouco interesse com as tentativas de resistência armada.{{sfn|Alexander & Parker|2003|p=141}} Politicamente solitário no início de seu exílio, eventualmente preferiu a política insurrecional ao reformismo.{{sfn|Rollemberg|2001|p=29}}{{sfn|Laqueur|2009|p=329}} No início de 1965, um grupo de simpatizantes seus tentou e não conseguiu articular uma [[guerrilha]] nas montanhas do leste brasileiro ao redor de [[Caparaó]].{{sfn|Igreja Católica|1986|p=100}} Outro grupo de guerrilheiros ''brizolistas'' se dispersaram após um confronto com o exército no sul.{{sfn|Ridenti|1993|p=214}} Este evento levantou suspeitas sobre a má administração de Brizola dos fundos que lhe foram oferecidos por [[Fidel Castro]].{{sfn|Rollemberg|2001|pp=29-31}} Com exceção desse episódio, Brizola passou os primeiros dez anos da ditadura militar brasileira isolado no Uruguai, onde geriu a propriedade de sua esposa e manteve-se a par do que acontecia no Brasil. Ele rejeitou as tentativas de ser recrutado para a [[Frente Ampla (Brasil)|Frente Ampla]], um grupo informal de líderes pré-ditadura da década de 1960 que pretendia pressionar pela redemocratização, incluindo [[Carlos Lacerda]] e [[Juscelino Kubitschek]].{{sfn|Penna|2008|p=288}} Durante a tentativa de recrutamento, rompeu os laços restantes com Goulart; eles se reconciliaram em setembro de 1976.{{sfn|Rose|2005|p=137}}{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|pp=100-101}} A [[StB]], [[Serviço de inteligência|inteligência]] da [[Tchecoslováquia]], entrou em contato com Brizola para auxiliá-lo numa reação armada contra o regime militar, mas ele considerou que, naquele momento, tal reação não seria possível.<ref name="Gazeta do Povo">{{Citar web |url=http://www.gazetadopovo.com.br/ideias/como-a-espionagem-comunista-se-infiltrou-no-governo-de-dois-ex-presidentes-brasileiros-e73p4i3scc55a8th9ycmz2a52 |título=Como a espionagem comunista se infiltrou no governo de dois ex-presidentes brasileiros |publicado=Gazeta do Povo |autor=Tiago Cordeiro |data=21 de dezembro de 2018 |acessodata=25 de outubro de 2018}}</ref>
 
Desde o início do seu exílio, Brizola foi observado de perto pela inteligência brasileira, que pressionou regularmente o governo uruguaio. No final da década de 1970, no entanto, o surgimento de uma ditadura militar no Uruguai permitiu ao governo brasileiro trabalhar em conjunto com os militares uruguaios para, como parte da [[Operação Condor]], capturá-lo.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|pp=90-94}}<ref>{{Citar web |url=http://submissoes.al.rs.gov.br/index.php/estudos_legislativos/article/viewArticle/16 |título=As ações da polícia política durante a ditadura contra os exilados brasileiros no Uruguai: o caso do Departamento de Ordem Política e Social do Rio Grande do Sul |publicado=Revista Estudos Legislativos |autor=Ananda Simões Fernandes |data=2009 |acessodata=24 de dezembro de 2017}}</ref> Até o final da década de 1970, a inteligência norte-americana ajudou nos esforços das ditaduras latino-americanas a controlar Brizola,<ref>{{Citar web |url=http://www.eeh2008.anpuh-rs.org.br/resources/content/anais/1210691256_ARQUIVO_textoanpuh2008.pdf |título=A ditadura brasileira e a vigilância sobre seu “inimigo interno” no Uruguai (1964-1967): os órgãos de repressão e de espionagem |publicado=Vestígios do Passado |autor=Ananda Simões Fernandes|acessodata=24 de dezembro de 2017}}</ref> que pode ter sobrevivido ao seu exílio graças a mudança da política dos EUA para a [[América Latina]], ocorrida com o governo de [[Jimmy Carter]], que se esforçou para conter abusos aos direitos humanos.{{sfn|McSherry|2005|p=164}} Esta mudança levou Brizola a ter uma gratidão eterna com Carter.{{sfn|López & Stolz|1987|p=248}} Entre o final de 1976 e o início de 1977, o fato de que todos os três membros mais proeminentes da Frente Ampla - Kubitscheck, Goulart e Lacerda - morreram sucessivamente e em circunstâncias um tanto misteriosas, fez Brizola se sentir cada vez mais ameaçado no Uruguai.<ref>{{Citar web |url=http://www.seer.ufrgs.br/aedos/article/view/12769 |título=Operação Condor: Terrorismo de Estado no Cone Sul das Américas |publicado=Revista do Corpo Discente do Programa de Pós-Graduação em História da UFRGS |autor=Fabiano Farias de Souza |data=2011 |acessodata=24 de dezembro de 2017}}</ref><ref>{{Citar web |url=https://www.wsws.org/en/articles/2013/12/13/braz-d13.html |título=Probe finds ex-president of Brazil was assassinated by US-backed regime |publicado=World Socialist Web Site |autor=Bill Van Auken |data=13 de dezembro de 2013 |acessodata=24 de dezembro de 2017}}</ref> Diante da iminente retirada de seu asilo, procurou a Embaixada dos EUA, onde conversou com o conselheiro John Youle. Mesmo com a oposição do subsecretário de Estado para os Assuntos do Hemisfério Ocidental Terence Todman, Youle concedeu a Brizola um visto de trânsito que permitiu-lhe, já que em meados de 1977 foi deportado do Uruguai por supostas "violações de normas de asilo político", viajar para - e, eventualmente, ser dado um asilo imediato - os EUA.{{sfn|McSherry|2005|p=164}}{{sfn|Black|1995|p=480}}{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=97}} O resgate de Brizola é reconhecido como um dos sucessos da retórica dos Direitos Humanos de Carter.{{sfn|López & Stolz|1987|p=248}} Depois deste episódio, não se oporia mais diretamente às políticas norte-americanas em relação ao Brasil, contentando-se em denunciar vagamente as "perdas internacionais" incorridas pelo Brasil devido a termos de câmbio injustos impostos pelas corporações multinacionais.{{sfn|Brigagão & Ribeiro|2015}}
 
De acordo com documentos diplomáticos brasileiros desclassificados, em 20 de setembro de 1977, Brizola e sua esposa foram para [[Buenos Aires]], de onde partiram para os EUA. Buenos Aires era um lugar perigoso para os exilados latino-americanos; a família foi acompanhada por agentes norte-americanos da CIA e ficaram durante a noite em um local seguro da CIA, embarcando em um voo sem escalas para [[Nova Iorque]] em 22 de setembro.<ref>{{Citar web |url=http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrissima/il2208201003.htm |título=Um gaúcho em NY |publicado=Folha de S. Paulo|data=22 de agosto de 2010 |acessodata=24 de dezembro de 2017}}</ref>{{sfn|Brigagão & Ribeiro|2015|pp=36-37}} Pouco depois de chegar em Nova Iorque, encontrou-se com o senador [[Edward Kennedy]], que o ajudou a obter a permissão para permanecer nos EUA durante seis meses.{{sfn|McSherry|2005|p=164}} De uma suíte no Hotel Roosevelt, Brizola se beneficiou da sua estadia no país organizando uma rede de contatos com exilados brasileiros e acadêmicos norte-americanos interessados em acabar com o governo militar no Brasil.{{sfn|Green|2010|p=344}}{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=97}}{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=104}} Mais tarde, mudou-se para [[Portugal]], onde, através de [[Mário Soares]], aproximou-se da liderança da [[Internacional Socialista]] e se juntou a um plano social-democrata e reformista para a pós-ditadura do Brasil.{{sfn|Munteal Filho|2008|p=200}} Durante seu período nos EUA, contatou o ativista afro-brasileiro [[Abdias do Nascimento]] e conheceu as políticas de identidade, o que influenciaria sua carreira pós-ditadura.{{sfn|Green|2010|p=345}} Em um manifesto político lançado em [[Lisboa]]—a Carta de Lisboa, que declarou sua intenção de refundar um Partido Trabalhista no Brasil—Brizola aderiu à política racial afirmando que negros e indígenas brasileiros sofreram formas de exploração mais injustas e dolorosas do que as outras pessoas e, assim, precisariam de medidas especiais que resolvessem suas dificuldades.{{sfn|Araujo|2010|p=220}}{{sfn|Brigagão & Ribeiro|2015|pp=257-263}} No final da década de 1970, a ditadura militar brasileira estava em declínio; em 1978, os passaportes foram dados silenciosamente a exilados políticos proeminentes, mas Brizola, ao lado de um grupo central de supostos radicais descritos como "inimigos públicos número um", permaneceu na lista negra e recusou o direito de retorno. Em 1979, após uma [[Lei da anistia|anistia geral]], seu exílio chegou ao fim.{{sfn|Sento-Sé|1999|p=53}}{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=107}}<ref>{{Citar web |url=http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc23089914.htm |título=Planos de Brizola ameaçaram a anistia |publicado=Folha de S. Paulo |autor=Raymundo Costa |data=23 de agosto de 1999 |acessodata=25 de dezembro de 2017}}</ref>
 
== Retorno e fundação do PDT ==
[[Imagem:Dilma Rousseff Leonel Brizola.png|thumb|Brizola e [[Dilma Rousseff]], futura presidente da República]]
 
Brizola chegou a [[São Borja]] no [[Dia da Independência (Brasil)|dia da Independência]] de 1979.{{sfn|Brigagão & Ribeiro|2015|pp=178-188}} Brizola voltou ao Brasil com a intenção de restaurar o [[Partido Trabalhista Brasileiro]] como um movimento de massas radical, nacionalista, de esquerda e como confederação de líderes históricos seguidores de Vargas. Ele encontrou dificuldades pelo surgimento de novos movimentos populares, como o novo sindicalismo centrado em torno dos trabalhadores metalúrgicos de São Paulo e seu líder [[Luis Inácio Lula da Silva]], e as organizações católicas dos pobres rurais geradas pela [[Conferência Nacional dos Bispos do Brasil|Conferência Nacional dos Bispos]]. Brizola foi impedido de usar o nome histórico do Partido Trabalhista Brasileiro, anteriormente concedido a um grupo rival centrado em torno de uma figura amigável a ditadura militar, a deputada [[Ivete Vargas]]—a sobrinha-neta de Getúlio Vargas.{{sfn|Sento-Sé|1999|pp=89-96}}{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|pp=107-108}}{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=117}} Brizola, então, fundou um partido inteiramente novo, o [[Partido Democrático Trabalhista]].{{sfn|Roett|1999|p=50}} O partido se juntou à Internacional Socialista em 1986, e desde então seu símbolo continua sendo uma mão com uma flor vermelha (o símbolo da SI).<ref>{{Citar web |url=https://www.al.sp.gov.br/spl/2008/01/Arquivos/10944589_773769_pl1510.txt |título=Dá a denominação de CIC - Centro de Integração da Cidadania - Leonel Brizola, no Município de Guarulhos - bairro dos Pimentas |publicado=Assembleia Legislativa de São Paulo |autor=José Bittencourt |data=2007 |acessodata=24 de dezembro de 2017}}</ref>
 
Brizola rapidamente restaurou sua proeminência política no Rio Grande do Sul e ganhou preeminência política no estado do Rio de Janeiro, onde buscou uma nova base de apoio político. Em vez de se associar com a classe trabalhadora organizada—quer por meio do sindicalismo corporativista ou competindo com Lula pelo apoio do novo sindicalismo—Brizola buscou uma base de apoio entre os pobres de áreas urbanas não organizados por meio de um vínculo ideológico entre o nacionalismo radical tradicional e um populismo carismático e amigável.{{sfn|Sento-Sé|1999}} Para os seus adversários, Brizola e o seu ''Brizolismo'' representavam negociações sombrias com as subclasses "perigosas" e ressentidas;{{sfn|Zaluar & Alvito|1988|p=41}} seus apoiadores defenderam o empoderamento paternalista dos desfavorecidos. De acordo com Sento Sé, "a política, do ponto de vista ''Brizolista'', é, fundamentalmente, assumir com radicalidade a opção pelos pobres e desvalidos."{{sfn|Sento-Sé|1999|p=163}} Brizola evitou o personagem corporativista baseado em classes de seu populismo primitivo, e adotou uma retórica cristã amigável com o povo em geral—mais semelhante aos ''[[narodnik]]s'' russos do que ao populismo latino-americano clássico.{{sfn|Sento-Sé|1999|pp=193-194}} Este novo populismo radical foi visto como uma ameaça a uma política mais democrática e liberal.{{sfn|Dietz & Shidlo|1998|p=284}} Esta estratégia surgiu de uma falta de domínio das técnicas de política de massa e exigiu que a liderança carismática e pessoal de Brizola funcionasse efetivamente. Na ausência de Brizola—ou de sua personalidade—o PDT não poderia se tornar um competidor pelo poder, dificultando seu desenvolvimento a nível nacional.{{sfn|Sento-Sé|1999|p=197}}{{sfn|von Mettenheim|1995|p=122}}
 
== Primeiro mandato como governador do Rio de Janeiro ==
{{AP|Governo Brizola no Rio de Janeiro}}
{{Rquote|right|<small>Vamos retomar o fio da história exatamente onde pretenderam interrompê-lo, no Rio de Janeiro.</small>|<small>Brizola justificando sua decisão de concorrer a um cargo no estado do Rio de Janeiro, ao invés de no Rio Grande do Sul.</small>{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=115}}}}
 
Em 1982, Brizola concorreu a governador do [[Rio de Janeiro (estado)|Rio de Janeiro]] na primeira [[Eleições estaduais no Rio de Janeiro em 1982|eleição]] livre e direta para o governo carioca desde 1965; [[Darcy Ribeiro]] foi seu candidato a vice-governador. Para compensar a falta de quadros no PDT, comandou o ingresso em sua coligação de pessoas sem vínculos anteriores com a política profissional, como o líder indígena [[Mário Juruna]], o cantor [[Agnaldo Timóteo]] e um número considerável de ativistas afro-brasileiros.{{sfn|Araujo|2010|p=221}} Brizola estava ciente de que essa última incursão na política racial contradizia suas políticas anteriores, mais convencionalmente radicais; ele apelidou sua ideologia de "socialismo moreno."{{sfn|Reichmann|1999|p=15}}{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=122}} Centrando sua campanha em questões como educação e segurança pública, apresentou uma candidatura que se propôs a manter o legado de Vargas. Ao desenvolver um núcleo de militantes combativos em torno de si mesmo—a chamada ''Brizolândia''—Brizola liderou uma campanha que provocou confrontações violentas e brigas de rua com um humor paradoxalmente festivo, expresso pelo lema ''Brizola na cabeça''.{{sfn|Sento-Sé|1999|pp=224-227}}{{sfn|Alves & Evanson|2011|p=221}}{{sfn|Brigagão & Ribeiro|2015|pp=230-242}}
 
Para ter sua vitória na eleição de 1982 reconhecida, Brizola teve que denunciar publicamente o que o ''[[Jornal do Brasil]]'' descreveu como uma [[Caso Proconsult|tentativa de contabilização fraudulenta das cédulas de votação]] pela empresa privada Proconsult—uma empresa de engenharia informática de propriedade de ex-funcionários do [[Serviço Nacional de Informações|serviço de inteligência militar]]—contratada pelo [[Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro|Tribunal Regional Eleitoral]] para informatizar a fase final da apuração.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=125}}<ref>{{Citar web |url=http://www.jb.com.br/pais/noticias/2012/11/27/ha-30-anos-jb-revelou-escandalo-do-proconsult-e-derrubou-fraude-na-eleicao/ |título=Há 30 anos, 'JB' revelou escândalo do Proconsult e derrubou fraude na eleição |publicado=Jornal do Brasil |autor=Maria Luisa de Melo |data=27 de novembro de 2012 |acessodata=11 de fevereiro de 2019 |wayb=20180802223525 |urlmorta=sim}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://memoria.oglobo.globo.com/erros-e-acusacoes-falsas/caso-proconsult-9328203 |título=Caso Proconsult |publicado=O Globo|acessodata=25 de dezembro de 2017}}</ref> Durante o início do processo de contagem dos votos, a Proconsult afirmou repetidamente que [[Moreira Franco]] seria eleito—Arcádio Vieira, dono da empresa, estimou que Moreira ganharia com vantagem de cerca de sessenta mil votos—, tendo como base resultados predominantemente de áreas do interior, onde Brizola possuía desvantagem.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=125}} Estes prognósticos foram imediatamente ecoados pela [[TV Globo]].{{sfn|Leite Filho|2008|pp=496-497}} Ao denunciar esta alegada fraude em coletivas de imprensa, entrevistas e declarações públicas—que incluíram uma discussão ao vivo com [[Armando Nogueira]], diretor da Globo—Brizola evitou que o esquema tivesse qualquer chance de sucesso.{{sfn|Carrion Jr.|1989|p=55}}{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|pp=126-128}}<ref>{{Citar web |url=http://memoriaglobo.globo.com/acusacoes-falsas/proconsult.htm |título=Proconsult |publicado=Memória Globo |data=1982 |acessodata=25 de dezembro de 2017}}</ref> Ele acabou sendo eleito com 1,7 milhão de votos, uma diferença de 3,6% em relação a Moreira.<ref>{{Citar web |url=https://rd.uffs.edu.br/bitstream/prefix/501/1/CORDONE.PDF |título=Leonel de Moura Brizola: o legado do último grande líder trabalhista |publicado=Universidade Federal da Fronteira Sul |autor=Salete Taléia Cordone |data=2015 |acessodata=25 de dezembro de 2017}}</ref>{{sfn|Brigagão & Ribeiro|2015|pp=245-254}}
 
[[Imagem:Leonel Brizola e Franco Montoro no Comício da Candelária.png|thumb|esquerda|Brizola e [[Franco Montoro]], governador de [[São Paulo]], no [[Comício da Candelária]], em 10 de abril de 1984]]
 
Brizola então continuou e expandiu sua visibilidade política em todo o país durante seu polêmico primeiro mandato como governador do Rio de Janeiro, de 1983 a 1987. Ele propôs a prorrogação, por dois anos, do mandato do presidente [[João Figueiredo]], com quem tentou se aproximar; os mandatos dos governadores também seriam prorrogados e o sucessor de Figueiredo deveria ser eleito pelo voto popular.<ref name="FGV" /> No início de 1984, engajou-se nas manifestações das [[Diretas Já]], organizando o [[Comício da Candelária]].{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|pp=135-136}}<ref>{{Citar web |url=https://www.terra.com.br/noticias/brasil/politica/apos-30-anos-artistas-recordam-maior-comicio-das-diretas-ja,9cf02fb968b45410VgnVCM3000009af154d0RCRD.html |título=Após 30 anos, artistas recordam maior comício das Diretas Já |publicado=Terra |autor=Marcus Vinicius Pinto e André Naddeo |data=10 de abril de 2014 |acessodata=25 de dezembro de 2017}}</ref>{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=198}}{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=133}} Entretanto, por ser governador de um estado, não participou de forma tão desenvolta como outros líderes políticos; [[Doutel de Andrade]] representou o PDT nas caravanas das Diretas Já, e Brizola participou apenas dos eventos mais importantes.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|pp=135-136}} Após a derrota da [[Proposta de Emenda Constitucional Dante de Oliveira|emenda Dante de Oliveira]], defendeu que o presidente eleito na [[Eleição presidencial no Brasil em 1985|eleição indireta de 1985]] comandasse um governo de transição, convocando eleições diretas em, no máximo, dois anos.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|pp=137-138}} Apesar de não confiar politicamente em [[Tancredo Neves]], orientou a bancada do PDT a votar em seu favor.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|pp=137-138}} Na presidência de [[José Sarney]], foi uma das primeiras vozes críticas ao [[Plano Cruzado]].{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|pp=141-143}}{{sfn|Halliday|1987|p=21}}
 
Como governador, Brizola desenvolveu suas políticas educacionais em uma escala maior com um ambicioso programa de construção de grandes escolas de ensino médio, os [[Centros Integrados de Educação Pública]] (CIEPs), arquitetados por [[Oscar Niemeyer]]. As escolas deveriam estar abertas durante todo o dia, proporcionando alimentação e atividades recreativas aos estudantes.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=133}}{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|pp=139-140}} Brizola também desenvolveu políticas para a prestação de serviços públicos e entregou propriedades habitacionais para moradores de favelas. Brizola opôs-se a políticas para favelas que tivessem como base o reassentamento forçado por meio de projetos habitacionais e, em vez disso, propôs—pois, nas palavras de seu principal conselheiro Darcy Ribeiro, "as favelas não fazem parte do problema, mas parte da solução"—uma solução "bizarra", mas, no entanto, que "permitiu que os habitantes das favelas se aproximassem de seus lugares de trabalho e vivessem como uma comunidade humana comum."{{sfn|Ribeiro|2015}} Portanto, assim que os direitos de propriedade foram reconhecidos e a infra-estrutura básica proporcionada, coube aos habitantes das favelas encontrar soluções para os problemas relacionados à construção de casas.<ref>{{Citar web |url=https://pt.scribd.com/document/289247474/O-Programa-Favela-Bairro-Uma-Avaliacao |título=O Programa Favela-Bairro—Uma Avaliação |publicado=Universidade Federal do Rio de Janeiro |autor=O Adauto Lucio Cardoso |data=10 de abril de 2014 |acessodata=25 de dezembro de 2017}}</ref>
 
Brizola também adotou uma nova e radical política de ação policial nos subúrbios pobres e favelas da [[Região Metropolitana do Rio de Janeiro|região metropolitana do Rio de Janeiro]]. Alegando relações e ''modus operandi'' ultrapassados baseados em repressão, conflito e desrespeito, ordenou à [[Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro|polícia estadual]] que se abstivesse de fazer invasões arbitrárias em favelas e reprimisse as atividades dos esquadrões de extermínio, criando um órgão destinado para essa causa que prendeu e processou mais de duzentos policiais.{{sfn|Heinz & Frühling|1999|p=202}}{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=144}}{{sfn|Chevigny, Chevigny & Karp|1987|p=17}} A direita se opôs a essas políticas, argumentando que fariam das favelas um território aberto para o crime organizado representado por grandes gangues como o [[Comando Vermelho]], por meio de uma confluência entre a criminalidade comum e o esquerdismo. Alegou-se que as gangues se originaram através da associação de pequenos criminosos condenados e prisioneiros políticos de esquerda na década de 1970. Outros estudiosos argumentaram que esta "politização" do crime comum tinha sido um trabalho da ditadura militar, que, ao encarcerar os criminosos comuns e os prisioneiros políticos, ofereceu aos primeiros a oportunidade de imitar as estratégias de organização dos grupos clandestinos de resistência.{{sfn|Joseph, Mahler & Auyero|2007|p=114}}{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|pp=143-145}}
 
== Campanha presidencial de 1989 ==
[[Imagem:Leonel Brizola durante sua campanha presidencial de 1989 (3).jpg|thumb|Brizola, ao lado de sua esposa e da cantora [[Beth Carvalho]], durante sua campanha para a [[Eleição presidencial no Brasil em 1989|eleição presidencial de 1989]]]]
 
Brizola optou por permanecer no governo fluminense até o fim de seu mandato em vez de renunciar para concorrer a algum cargo na [[Eleições estaduais no Rio de Janeiro em 1986|eleição de 1986]]. Desta forma, seu vice, [[Darcy Ribeiro]], não se tornou inelegível e pôde concorrer para sucedê-lo; impulsionado pela popularidade momentânea do [[Plano Cruzado]], Moreira derrotou Darcy por 49-35%.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|pp=148-149}}<ref>{{Citar web |url=https://noticias.r7.com/brasil/pmdb-o-partido-que-jamais-elegeu-um-presidente-pode-voltar-a-comandar-pais-29032016 |título=PMDB: O partido que jamais elegeu um presidente pode voltar a comandar País |publicado=R7 |obra=BBC Brasil |autor=Mariana Schreiber |data=29 de março de 2016 |acessodata=25 de dezembro de 2017}}</ref>{{sfn|Gomes|2007|p=181}} Em meio a em seguida crise econômica e a inflação galopante do Brasil nos anos 1980, muitos observadores conservadores viam Brizola como o principal chefe do radicalismo—um retorno ao populismo dos anos 1960.{{sfn|Coes|1995|p=56}} Brizola, assim como a esquerda em geral na época, procurou certa conciliação com as elites governantes, evitando assumir uma posição muito firme em questões como a reforma agrária e a nacionalização dos bancos privados.{{sfn|Petras & Morley|1990|p=10}} Do ponto de vista da política eleitoral de massas, foi durante a [[Eleição presidencial no Brasil em 1989|eleição presidencial de 1989]] que a liderança carismática de Brizola expôs suas limitações ao terminar o primeiro turno na terceira colocação, perdendo a segunda posição, que o qualificaria para disputar o segundo turno, por uma pequena margem para [[Luis Inácio Lula da Silva]], cujo [[Partido dos Trabalhadores]] tinha quadros, o ativismo profissional e a penetração nos movimentos sociais organizados que faltava a Brizola.{{sfn|Picard|2003|p=81}} Os resultados mostraram que sua candidatura era baseada principalmente em apoios regionais: Brizola conquistou maiorias maciças no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, mas recebeu apenas 1,4% dos votos em São Paulo.{{sfn|von Mettenheim|1995|p=122}}{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=153}} Lula usou seu reduto nas áreas mais industrializadas do Sudeste como um trampolim e reuniu novos eleitores no Nordeste. No final, Lula obteve 11,6 milhões de votos, contra 11,1 de Brizola, uma diferença de 0,6%; [[Fernando Collor de Melo|Fernando Collor]] ficou em primeiro, com 20,6 milhões de votos.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=152}}{{sfn|Singer|2002|p=61}}
 
Brizola foi um fervoroso apoiador da candidatura de Lula para o segundo turno da eleição presidencial de 1989, algo que justificou com uma declaração marcante diante de seus colegas do PDT: "Cá para nós: um político de antigamente, o senador [[José Gomes Pinheiro Machado|Pinheiro Machado]], disse que a política é a arte de engolir sapos. Não seria fascinante fazer esta elite engolir o Lula, esse sapo barbudo? Vamos no menos pior, pelo menos…."<ref name="Bordões">{{Citar web |url=https://oglobo.globo.com/brasil/livro-reune-bordoes-polemicas-de-leonel-brizola-18443827 |título=Livro reúne bordões e polêmicas de Leonel Brizola |publicado=O Globo |autor=Marcelo Remigio |data=10 de janeiro de 2016 |acessodata=25 de dezembro de 2017}}</ref>{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=154}}<ref>{{Citar web |url=http://www.camara.leg.br/internet/plenario/notas/solene/2005/6/HM210605.pdf |título=Plenário: sessão solene |publicado=Câmara dos Deputados |data=21 de junho de 2005 |acessodata=25 de dezembro de 2017}}</ref> Anteriormente, ambos mantiveram discussões objetivando formar uma aliança de esquerda para o primeiro turno, mas não chegaram a um acordo. Em uma reunião do PDT ocorrida após a primeira votação, embora sabendo ser inviável, Brizola sugeriu que ele e Lula desistissem para darem lugar a [[Mário Covas]], pois acreditava que Covas enfrentaria menos resistências e assim teria mais chances de derrotar Collor.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=149}}{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|p=153}} O apoio de Brizola foi crucial para que Lula aumentasse sua votação no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, onde o petista passou de 12,2% dos votos no primeiro turno no Rio de Janeiro para 72,9% no segundo turno, enquanto que no Rio Grande do Sul aumentou sua votação de 6,7% para 68,7%. De qualquer forma, Collor venceu a eleição.{{sfn|Hunter|2010|p=111}}<ref>{{Citar web |url=https://istoe.com.br/385070_BRIZOLA+VAI+PELA+SOMBRA/ |título=Brizola vai pela sombra |publicado=IstoÉ |autor=Jose Carlos Bardawil |data=3 de outubro de 2014 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref><ref>{{Citar web |url=https://istoe.com.br/384843_LULA+O+FLEXIVEL/ |título=Lula, o flexível |publicado=IstoÉ |data=3 de outubro de 2014 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref>
 
== Segundo mandato como governador do Rio de Janeiro e declínio ==
[[Imagem:Niemeyer e Brizola.jpg|thumb|Brizola e o arquiteto [[Oscar Niemeyer]], em 2002]]
 
Após a eleição de 1989, Brizola ainda possuía chances de realizar seu sonho de ganhar a Presidência da República se conseguisse superar a falta de penetração nacional de seu partido. Alguns de seus assessores propuseram-lhe uma candidatura ao Senado na [[Eleições estaduais no Rio de Janeiro em 1990|eleição de 1990]], o que poderia lhe render destaque nacional. Brizola recusou a ideia e candidatou-se a governador, propondo uma coligação com o PT que tivesse Lula como candidato ao Senado. Os partidos travaram discussões sobre o assunto, animando Brizola a acreditar na possibilidade de fusão. O PT acabou apresentando um candidato próprio, e Brizola ganhou um segundo mandato como governador do Rio de Janeiro com 60,88% dos votos, no primeiro turno.{{sfn|Sento-Sé|1999|p=232}}{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|pp=154-155}} Em seu segundo mandato, inaugurou a [[Universidade Estadual do Norte Fluminense]] e construiu a Via Expressa Presidente João Goulart, mais conhecida como [[Linha Vermelha (Rio de Janeiro)|Linha Vermelha]].<ref>{{Citar web |url=http://www.uenf.br/portal/index.php/br/historia-da-uenf.html |título=História da UENF |publicado=Universidade Estadual do Norte Fluminense |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref><ref>{{Citar web |url=https://vejario.abril.com.br/cidades/linha-vermelha-2/ |título=Linha Vermelha |publicado=Veja Rio |autor=Lula Branco Martins |data=5 de junho de 2017 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref> No entanto, este período redundou em seu fracasso político, marcado por momentos de gestão desorganizada causados por seu ultra-centralismo e desprezo pelos procedimentos burocráticos adequados; Brizola deixou o cargo com apenas 14% de aprovação, segundo o [[Datafolha]].{{sfn|Sento-Sé|1999|pp=263-264}}<ref name="FGV" /> Além disso, embora tenha sido um opositor a ações do governo Collor, estabeleceu relações cordiais com o presidente e foi um crítico severo da CPI que investigava o esquema de [[Paulo César Farias]], classificando o [[Impeachment de Fernando Collor|processo de impeachment]] como um "golpe"; Brizola só pediu a saída de Collor do governo na campanha eleitoral de 1992. Esse fato lhe causou um imenso desgaste junto ao seu eleitorado e aos seus aliados políticos.<ref>{{Citar web |url=http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,o-ocaso-politico-de-leonel-brizola,20040622p36739 |título=O ocaso político de Leonel Brizola |publicado=O Estado de S. Paulo |data=22 de junho de 2004 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref>{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|pp=156-157}}{{sfn|Sento-Sé|1999|pp=263-264}}<ref name="FGV" />
 
Em 2 de abril de 1994, Brizola desincompatibilizou-se do cargo de governador do estado para concorrer à Presidência da República.<ref name="BrizolaFSP">{{Citar web |url=https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/2/22/brasil/4.html |título=Brizola se prepara para deixar o governo do Rio no dia 2 de abril |publicado=Folha de S. Paulo |autor=Plínio Fraga |data=22 de fevereiro de 1994 |acessodata=20 de outubro de 2018}}</ref> Desprovido de apoio nacional e abandonado por aliados próximos como [[Cesar Maia]] e [[Anthony Garotinho]], que afastaram-se em benefício de suas carreiras pessoais, Brizola voltou representar o PDT na [[Eleição presidencial no Brasil em 1994|disputa presidencial de 1994]], realizada em meio ao sucesso do [[Plano Real]] e o consequente favoritismo do candidato governista [[Fernando Henrique Cardoso]]. A eleição de 1994 foi outro fracasso para Brizola, que ficou em quinto lugar, com 3,18% dos votos; FHC foi eleito no primeiro turno.{{sfn|Sento-Sé|1999|p=294}}<ref>{{Citar web |url=https://sites.google.com/site/atlaseleicoespresidenciais/1994 |título=Eleição de 1994 |publicado=Atlas das Eleições Presidenciais no Brasil |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref> Era o fim do ''Brizolismo'' como uma força política nacional.{{sfn|Sento-Sé|1999|p=346}} Durante o primeiro mandato de Cardoso, continuou sendo um crítico de suas políticas [[Neoliberalismo|neoliberais]] de privatização de empresas públicas, afirmando em 1995: "se não houver uma reação civil à privatização, haverá uma militar."{{sfn|Diamond, Plattner & Costopoulos|2010|p=49}} Quando o presidente concorreu à reeleição em [[Eleição presidencial no Brasil em 1998|1998]], foi o candidato a vice de Lula, e ambos perderam para FHC no primeiro turno.<ref>{{Citar web |url=https://mobile.seuhistory.com/hoje-na-historia/morre-o-politico-leonel-brizola |título=Morre o político Leonel Brizola |publicado=History |data=21 de junho de 2004 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref> Na [[Eleição municipal do Rio de Janeiro em 2000|eleição de 2000]], foi derrotado em sua tentativa de se eleger prefeito do Rio de Janeiro, recebendo 9,10% dos votos.<ref>{{Citar web |url=http://www.tse.jus.br/eleitor-e-eleicoes/eleicoes/eleicoes-anteriores/eleicoes-2000/resultado-da-eleicao-2000 |título=Resultado da eleição 2000: Rio de Janeiro |publicado=Tribunal Superior Eleitoral |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref>
 
Em seus últimos anos, o relacionamento fragmentado de Brizola com Lula e o PT mudou; ele se recusou a apoiá-los no primeiro turno da [[Eleição presidencial no Brasil em 2002|eleição presidencial de 2002]], apoiando em vez disso [[Ciro Gomes]], enquanto [[Eleições estaduais no Rio de Janeiro em 2002|disputou]] uma vaga para o Senado. Depois que Gomes ficou em terceiro lugar, apoiou Lula, que foi eleito presidente. Brizola foi derrotado em sua tentativa de se eleger senador, sendo o sexto colocado, com 8,2% dos votos, e acabando com sua força regional. Em seus últimos dois anos de vida, foi considerado um veterano populista de esquerda, e um personagem secundário.{{sfn|Schell|2010|p=20}}<ref>{{Citar web |url=https://eleicoes.uol.com.br/2002/resultados/1turno/RJestadual.jhtm |título=Placar Uol eleições 2002: Rio de Janeiro |publicado=Uol |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref> Apesar de apoiar Lula em alguns períodos durante seu primeiro mandato, em suas últimas aparições públicas, criticou-o por acreditar que o presidente estava empreendendo políticas neoliberais e negligenciando as tradicionais lutas da esquerda e dos trabalhadores.<ref name="The New York Times (1)" /><ref name="The New York Times (2)" /> Ainda exercendo o cargo de presidente Nacional do PDT, Brizola afirmou, em junho de 2003, que o partido estava saindo do governo Lula; com sua pressão, o rompimento foi oficializado em dezembro de 2003.<ref>{{Citar web |url=http://www.tribunapr.com.br/noticias/brasil/brizola-afirma-que-pdt-esta-fora-do-governo-lula/ |título=Brizola afirma que PDT está fora do governo Lula |publicado=Tribuna do Paraná |data=6 de junho de 2013 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1312200322.htm |título=PDT decide romper com governo; filiados devem deixar seus cargos |publicado=Folha de S. Paulo |autor=Talita Figueiredo |data=13 de dezembro de 2003 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u61886.shtml |título=Sem Brizola, PDT pode voltar a apoiar Lula |publicado=Folha de S. Paulo |data=23 de junho de 2004 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref> Os últimos comentários de Brizola sobre Lula ganharam um caráter pessoal. Em maio de 2004, foi uma das fontes de uma reportagem do jornalista [[Larry Rohter]] sobre o suposto alcoolismo de Lula. Brizola disse a um correspondente do ''[[New York Times]]'' sobre ter aconselhado Lula: "você precisa controlar isso."<ref name="The New York Times (1)">{{Citar web |url=http://www.nytimes.com/2004/05/09/world/brazilian-leader-s-tippling-becomes-national-concern.html |título=Brazilian Leader's Tippling Becomes National Concern |publicado=The New York Times |autor=Larry Rohter |data=9 de maio de 2004 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref><ref name="The New York Times (2)">{{Citar web |url=http://www.nytimes.com/2004/06/23/us/leonel-brizola-82-dies-opposed-military-rule-in-brazil.html |título=Leonel Brizola, 82, Dies; Opposed Military Rule in Brazil |publicado=The New York Times |autor=Todd Benson |data=23 de junho de 2004 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref>
 
== Morte ==
[[Imagem:Velório de Leonel Brizola no Palácio Guanabara.jpg|thumb|Velório de Brizola no [[Palácio Guanabara]], em 22 de junho de 2004]]
 
Depois de uma estadia em sua fazenda no Uruguai, Brizola chegou no Rio de Janeiro com infecção intestinal e forte gripe, contraída no rigoroso inverno uruguaio. Apesar de acamado, continuou a receber visitas de políticos, entre os quais [[Anthony Garotinho]], [[Carlos Lupi]] e [[Moreira Franco]]. Sua situação deteriorou-se ainda mais e Brizola foi a um hospital nas proximidades. Uma tomografia dos pulmões mostrou infecção respiratória ([[pneumonia]]). Feita ultrassonografia do coração, nada de anormal foi encontrado. Brizola estava entrando no elevador para deixar o hospital quando, segundo seu médico particular, apresentou um [[edema]] no pulmão, significando grave insuficiência cardíaca. Novos exames confirmaram [[infarto agudo do miocárdio]]. Brizola morreu às 21h20min do dia 21 de junho de 2004.{{sfn|Braga, Souza, Dioni e Bones|2004|pp=167}}<ref>{{Citar web |url=http://www.educacional.com.br/noticiacomentada/040622_not01_imprimir.asp?strTitulo=Morre%20Leonel%20Brizola |título=Morre Leonel Brizola |publicado=Educacional |data=21 de junho de 2004 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref><ref>{{Citar web |url=https://noticias.uol.com.br/ultnot/reuters/2004/06/22/ult27u42782.jhtm |título=Ex-governador Brizola morre após sofrer enfarto no Rio |publicado=Uol |obra=Reuters |data=22 de junho de 2004 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://www.correiodopovo.com.br/Noticias/Pol%C3%ADtica/2014/6/528611/Morte-de-Leonel-Brizola-completa-dez-anos-neste-sabado |título=Morte de Leonel Brizola completa dez anos neste sábado |publicado=Correio do Povo |data=21 de junho de 2004 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref>
 
O [[Congresso Nacional do Brasil|Congresso Nacional]] adiou suas sessões para homenageá-lo, e o presidente [[Luís Inácio Lula da Silva|Lula]] decretou [[luto oficial]] de três dias, comparecendo ao seu velório no [[Palácio Guanabara]].<ref>{{Citar web |url=https://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2004/06/22/ult1808u16058.jhtm |título=Morre Leonel Brizola aos 82 anos |publicado=Uol |obra=EFE |autor=Eduardo Davis |data=22 de junho de 2004 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI329525-EI306,00-Lula+decreta+luto+por+morte+de+Brizola.html |título=Lula decreta luto por morte de Brizola |publicado=Terra |data=21 de junho de 2004 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref> No Rio de Janeiro, de acordo com a Polícia Militar, duzentas mil pessoas foram até o palácio do governo para prestar-lhe homenagens.<ref>{{Citar web |url=http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI329631-EI306,00-Lula+e+hostilizado+em+velorio+de+Leonel+Brizola.html |título=Lula é hostilizado em velório de Leonel Brizola |publicado=Terra |data=27 de junho de 2004 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref> Em 24 de junho, depois de ainda ter sido velado no [[Palácio Piratini]], em Porto Alegre, Brizola foi sepultado em [[São Borja]], na fronteira do Rio Grande do Sul com a [[Argentina]]. Cerca de vinte mil pessoas acompanharam o cortejo até seu sepultamento no Cemitério Jardim da Paz, onde também se encontram os túmulos de sua esposa, Neusa, Getúlio Vargas e João Goulart.<ref>{{Citar web |url=http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR65028-6014,00.html |título=Brizola é enterrado em São Borja |publicado=Época |obra=Época online, Globonews e ClicRBS |data=25 de junho de 2004 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://www.tribunapr.com.br/noticias/brasil/brizola-e-sepultado-ao-lado-de-getulio-e-jango/ |título=Brizola é sepultado ao lado de Getúlio e Jango |publicado=Tribuna do Paraná |data=25 de junho de 2004 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u61923.shtml |título=Corpo de Brizola segue para enterro em São Borja (RS) |publicado=Folha de S. Paulo |obra=Folha de S. Paulo e Agência Brasil |data=24 de junho de 2004 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u61930.shtml |título=Leonel Brizola é enterrado no "berço do trabalhismo" |publicado=Folha de S. Paulo |autor=Léo Gerchmann e Plínio Fraga |data=24 de junho de 2004 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref>
 
A morte de Brizola também repercutiu na mídia. A matéria veiculada na versão impressa do jornal ''[[Folha de S. Paulo]]'' classificou-o como "um dos principais líderes nacionalistas do país."<ref>{{Citar jornal |url=https://acervo.folha.com.br/leitor.do?numero=16115&anchor=5189060&origem=busca&pd=13457f02bb8aa4d075aeeade7b37c109 |título=Leonel Brizola morre de infarto aos 82 |obra=Folha de S. Paulo |data=22 de junho de 2004 |acessodata=11 de fevereiro de 2019 |página=A6}}</ref> O obituário do ''[[The Guardian]]'' resumiu Brizola como um "líder de esquerda carismático mas divisivo que dominou a política brasileira por meio século."<ref>{{Citar web |url=https://www.theguardian.com/news/2004/jun/23/guardianobituaries.brazil |título=Leonel Brizola |publicado=The Guardian |autor=Alex Bellos |data=23 de junho de 2004 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref>
 
== Personalidade, imagem pública e legado ==
[[Imagem:Estátua de Leonel Brizola - Otto Dumovich, 2014 - Porto Alegre - Palácio Piratini - 04.JPG|thumb|180px|Estátua de Leonel Brizola, de autoria do escultor [[Otto Dumovich]], nas cercanias do [[Palácio Piratini]], em [[Porto Alegre]]]]
 
O legado de Brizola foi assunto para debates entre jornalistas, escritores e o público em geral. Um de seus biógrafos, João Trajano Sento-Sé, escreveu: "Se não chegou à Presidência da República, Brizola reeditou, ao menos, o martírio trabalhista, pelas perseguições que sofreu e pelos temores que despertou em parcelas das elites política e econômica."<ref name="Teoria e debate">{{Citar web |url=http://www.teoriaedebate.org.br/materias/politica/o-brizolismo-e-seu-legado |título=O brizolismo e seu legado |publicado=Teoria e debate |autor=Hélgio Trindade |data=4 de agosto de 2004 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref> O cientista político [[Helgio Trindade]] ressaltou que, como governante, teve uma "obsessiva valorização da educação, que se traduziu em ambiciosos investimentos na área da expansão de prédios escolares."<ref name="Teoria e debate" /> O jornalista Colin Harding, do ''[[The Independent]]'', afirmou que ele foi a "consciência da esquerda" do governo de Goulart.<ref>{{Citar web |url=http://www.independent.co.uk/news/obituaries/leonel-brizola-730621.html |título=Leonel Brizola |publicado=The Independent |autor=Colin Harding |data=22 de junho de 2004 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref> O escritor [[Ferreira Gullar]] opinou que Goulart estava "refém das forças que o apoiavam, particularmente o sindicalismo reformista, que promovia greves sucessivas em todo o país", e que Brizola, devido a sua pretensão de se tornar presidente e a campanha para suceder o ministro [[Carvalho Pinto]], tornou-o um "aliado involuntário dos golpistas."<ref>{{Citar web |url=http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0208200919.htm |título=E por falar em golpe militar... |publicado=Folha de S. Paulo |autor=Ferreira Gullar |data=2 de agosto de 2009 |acessodata=27 de dezembro de 2017}}</ref> Posteriormente, referindo-se às ações de Brizola no governo de seu marido, a primeira-dama [[Maria Thereza Goulart]] disse: "naquela época tocou um pouco de fogo no circo." Outro político de expressão daquele período, [[Abelardo de Araújo Jurema|Abelardo de Araújo]], ministro da Justiça, argumentou que "não era fácil ao presidente governar com um Brizola a tiracolo, mas lhe era muito difícil libertar-se dele."<ref>{{Citar web |url=https://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/especial-veja-leonel-brizola-cunhado-e-serpente/ |título=Especial VEJA: Leonel Brizola ─ cunhado é serpente |publicado=Veja |autor=Augusto Nunes |data=15 de fevereiro de 2017 |acessodata=27 de dezembro de 2017}}</ref>
 
Brizola era reconhecido por sua fala, carregada do [[Dialeto gaúcho|sotaque e de expressões gaúchas]].{{sfn|Bueno|2016|loc=cap. Leonel Brizola}}{{sfn|Leite Filho|2008|p=211}} Sua retórica era inflamada, não perdendo a oportunidade para criar caricaturas verbais de seus oponentes, como ao chamar Lula de "sapo barbudo", [[Paulo Maluf]] de "filhote da ditadura" e Moreira Franco de "gato angorá" por "ir de colo em colo."{{sfn|Brigagão & Ribeiro|2015|p=11-12}}<ref>{{Citar web |url=https://super.abril.com.br/blog/superlistas/6-debates-que-entraram-para-a-historia-das-eleicoes/ |título=6 debates que entraram para a história das eleições |publicado=Abril |data=21 de dezembro de 2016 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref><ref>{{Citar web |url=https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/09/19/Quem-%C3%A9-Moreira-Franco-personagem-central-do-governo-Temer-que-agora-%C3%A9-acusado-por-Cunha |título=Quem é Moreira Franco, personagem central do governo Temer que agora é acusado por Cunha |publicado=Nexo |autor=José Roberto Castro |data=19 de setembro de 2016 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref> Era um orador carismático, capaz de provocar fortes reações entre partidários e adversários.<ref>{{Citar web |url=http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u61885.shtml |título=Brizola assustava a elite, diz Skidmore |publicado=Folha de S. Paulo |autor=Rafael Cariello e Murilo Fiuza de Melo |data=23 de junho de 2014 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref> Seu discurso era baseado em pontos como a valorização da educação pública e a questão das "perdas internacionais", termo usado para se referir ao pagamento de encargos da dívida externa e envio de lucros ao exterior.<ref name="GGN">{{Citar web |url=https://jornalggn.com.br/blog/roberto-bitencourt-da-silva/dez-anos-sem-leonel-brizola-balanco-e-legado-politico |título=Dez anos sem Leonel Brizola: balanço e legado político |publicado=GGN |autor=Roberto Bitencourt da Silva |data=27 de junho de 2014 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://www.cadernosdodesenvolvimento.org.br/ojs-2.4.8/index.php/cdes/article/view/59 |título=Perdas internacionais: uma aproximação conceitual |publicado=Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento |autor=Victor Leonardo de Araújo |data=2017 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref>
 
Marcaram a carreira de Brizola os desentendimentos que teve com grandes monopólios da comunicação, em especial com a [[Rede Globo]].<ref>{{Citar web |url=http://www.otvfoco.com.br/cenas-inesqueciveis-da-tv-direito-de-resposta-de-leonel-brizola-no-jornal-nacional/ |título=“Cenas Inesquecíveis da TV”: Direito de Resposta de Leonel Brizola no “Jornal Nacional” |publicado=TV Foco |autor=Fernando Nascimento |data=2 de dezembro de 2013 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref> Brizola acusou o grupo de participar do [[caso Proconsult]], que visava impedir sua vitória na eleição para governador do Rio de Janeiro em 1982.<ref>{{Citar web |url=https://www.cartacapital.com.br/sociedade/dez-razoes-para-nao-comemorar-os-50-anos-da-Globo-1267.html |título=Dez razões para não comemorar os 50 anos da Globo |publicado=Carta Capital |autor=Ângela Carrato |data=26 de abril de 2015 |acessodata=11 de fevereiro de 2019 |urlmorta=yes |wayb=20181121184548 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20171227235653/https://www.cartacapital.com.br/sociedade/dez-razoes-para-nao-comemorar-os-50-anos-da-Globo-1267.html |arquivodata=2017-12-27 }}</ref><ref>{{Citar web |url=http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0808200330.htm |título=Brizola ressalta diferenças, mas elogia Marinho |publicado=Folha de S. Paulo |data=8 de agosto de 2003 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref> Em 1984, quebrou o monopólio da Globo nas transmissões de carnaval e, durante a eleição presidencial de 1989, se sentiu sabotado pela organização após esta ter veiculado acusações pessoais contra ele em rede nacional.<ref>{{Citar web |url=https://voyager1.net/historia/posicionamento-politico-da-globo/ |título=A Globo é conservadora ou progressista? Seu histórico de 50 anos responde |publicado=Voyager |autor=Luan Toja |data=19 de junho de 2017 |acessodata=26 de dezembro de 2017 |wayb=20180612223055 |urlmorta=sim}}</ref> Em 1992, [[Roberto Marinho]], em um editorial, chamou-o de "senil", resultando em direito de resposta a Brizola no ''[[Jornal Nacional]]'', que foi lido por [[Cid Moreira]], dois anos depois.<ref>{{Citar web |url=http://memorialdademocracia.com.br/card/quando-a-justica-vergou-a-tv-globo |título=Quando a Justiça Vergou a TV Globo |publicado=Memorial da Democracia |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref>
 
Em 2012, Brizola ficou na 47º colocação no concurso ''[[O Maior Brasileiro de Todos os Tempos]]''.<ref>{{Citar web |url=http://odia.ig.com.br/portal/diversaoetv/sbt-divulga-lista-com-60-classificados-de-o-maior-brasileiro-de-todos-os-tempos-1.462057 |título=SBT divulga lista com 60 classificados de 'O Maior Brasileiro de Todos os Tempos' |publicado=O Dia |data=12 de julho de 2012 |acessodata=26 de dezembro de 2017 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20171228010919/http://odia.ig.com.br/portal/diversaoetv/sbt-divulga-lista-com-60-classificados-de-o-maior-brasileiro-de-todos-os-tempos-1.462057# |arquivodata=28 de dezembro de 2017 |urlmorta=yes }}</ref> Em dezembro de 2015, a presidente [[Dilma Rousseff]] sancionou a lei que inseriu Brizola no [[Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves|Livro de Heróis da Pátria]]. Para que a inclusão de seu nome pudesse ser feita, o Congresso aprovou, e Dilma sancionou, uma mudança na legislação que reduziu o tempo mínimo de espera após a morte de uma personalidade para que uma homenagem deste tipo fosse autorizada, de cinquenta para dez anos.<ref>{{Citar web |url=https://www12.senado.leg.br/radio/1/noticia/senado-aprova-inclusao-do-nome-de-leonel-brizola-no-livro-dos-herois-da-patria |título=Senado aprova inclusão do nome de Leonel Brizola no livro dos Heróis da Pátria |publicado=Rádio Senado |autor=Roberto Fragoso |data=9 de dezembro de 2015 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2015-12/dilma-inclui-leonel-brizola-no-livro-dos-herois-da-patria |título=Dilma inclui Leonel Brizola no Livro dos Heróis da Pátria |publicado=Agência Brasil |autor=Luana Lourenço |data=29 de dezembro de 2015 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,dilma-altera-lei-e-declara-brizola-como-heroi-da-patria,10000005886 |título=Dilma altera lei e declara Brizola como 'herói da pátria' |publicado=O Estado de S. Paulo |autor=Isadora Peron |data=29 de dezembro de 2015 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref>
 
Três netos de Brizola entraram para a política defendendo suas ideias: [[Brizola Neto]] (PDT) foi deputado federal pelo Rio de Janeiro e ministro do Trabalho no governo Dilma;<ref>{{Citar web |url=https://www.brasil247.com/pt/247/rio247/57276/Netos-atestam-for |título=Netos atestam força do sobrenome na política |publicado=Brasil 247 |data=1 de maio de 2012 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref> Leonel Brizola Neto (PSOL) foi vereador do Rio de Janeiro;<ref>{{Citar web |url=http://www.camara.rj.gov.br/vereador_informacoes.php?m1=inform&cvd=255&np=LeonelBrizolaNeto&nome_politico=Leonel%20Brizola%20Neto |título=Leonel Brizola Neto |publicado=Câmara Municipal do Rio de Janeiro |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref> e [[Juliana Brizola]] (PDT) foi vereadora de Porto Alegre e deputada estadual do Rio Grande do Sul.<ref>{{Citar web |url=https://www.sul21.com.br/jornal/vice-de-ultima-hora-juliana-brizola-leva-o-nome-da-familia-e-a-luta-pela-educacao-a-chapa-de-melo/ |título=Vice de última hora, Juliana Brizola leva o nome da família e a luta pela educação à chapa de Melo |publicado=Sul 21 |autor=Luís Eduardo Gomes |data=19 de agosto de 2016 |acessodata=26 de dezembro de 2017}}</ref>
 
{{Notas}}
 
{{Referências|col=3}}
 
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== Ligações externas ==
{{correlatos
|wikiquote  = Leonel Brizola
|commons    = Leonel Brizola}}
 
*[http://memoriasdaditadura.org.br/biografias-da-resistencia/leonel-brizola/index.html Leonel Brizola], Memórias da Ditadura
*[http://www2.camara.leg.br/deputados/pesquisa/layouts_deputados_biografia?pk=122253&tipo=0 Leonel Brizola], Câmara dos Deputados
 
 
{{Começa caixa}}
{{Caixa de sucessão
|título    = [[Lista de governadores do Rio de Janeiro|Governador do Rio de Janeiro]]
|anos      = 1991 — 1994
|antes      = [[Moreira Franco]]
|depois    = [[Nilo Batista]]
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Edição atual tal como às 16h33min de 28 de agosto de 2023

Leonel de Moura Brizola (nascido Leonel Itagiba de Moura Brizola; Carazinho, 22 de janeiro de 1922 — Rio de Janeiro, 21 de junho de 2004) foi um engenheiro civil e político brasileiro. Considerado um líder da esquerda e um político nacionalista, foi governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, sendo o único político eleito pelo povo para governar dois estados diferentes em toda a história do Brasil.

Autoria: Informações do verbete reproduzidas pela Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco a partir de dados da internet.

Família[editar | editar código-fonte]

Leonel de Moura Brizola

Em 1º de março de 1950, Brizola casou-se com Neusa Goulart, irmã do deputado estadual e futuro presidente da República João Goulart (Brizola e Goulart eram ambos deputados estaduais). O casamento foi realizado na Fazenda de Iguariaçá, em São Borja, tendo o ex-presidente da República Getúlio Vargas como um dos padrinhos. O casal havia se conhecido nas reuniões da Ala Moça do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Tiveram três filhos juntos: Neusinha, José Vicente e João Otávio. Após a morte de Neusa em 1993, manteve uma relação com Marília Guilhermina Martins Pinheiro.

História[editar | editar código-fonte]

Brizola ocupou diferentes cargos políticos no Brasil, tendo sido uma das personalidades centrais na historia recente do país. Foi deputado, governador e tentou eleições para o senado e presidência. Faleceu, em 2004, vítima de um infarto agudo do miocárdio.

Início da carreira política[editar | editar código-fonte]

Enquanto ainda estava na universidade, Brizola começou a militar no movimento político, filiando-se ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) em 1945. No PTB, foi-lhe incumbido a tarefa de organizar a ala jovem do partido, conhecida como Ala Moça. Na eleição estadual de janeiro de 1947, com a ajuda de seu partido, de colegas da universidade e de integrantes da ala jovem trabalhista, foi eleito deputado estadual com 3.839 votos, a 28ª maior votação daquela eleição. Na época, Brizola morava em uma pensão localizada no centro de Porto Alegre, na qual dividia o quarto com Sereno Chaise, futuro deputado estadual e prefeito de Porto Alegre. Na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, defendeu pautas do movimento estudantil, como o aumento de vagas nas instituições de ensino, e participou da Assembleia Constituinte, iniciada em março de 1947, na qual apoiou uma emenda de Alberto Pasqualini que classificou o direito de propriedade como "inerente à natureza do homem, dependendo seus limites e seu uso de conveniência social."

Na eleição estadual de outubro de 1950, Brizola foi reeleito deputado estadual com 16.691 votos, tornando-se na nova legislatura o líder dos trabalhistas na Assembleia Legislativa. No ano seguinte, foi facilmente indicado para ser o candidato do PTB à Prefeitura de Porto Alegre, com Manoel Vargas sendo o candidato a vice-prefeito pelo partido. Seu principal concorrente foi Ildo Meneghetti, vereador e ex-prefeito nomeado da capital, popular, em parte, por ter presidido o Sport Club Internacional. Embora favorito, Brizola foi derrotado por Meneghetti, em uma votação de 41.939 a 40.877 votos; como na época as eleições eram separadas, Vargas conseguiu ser eleito vice-prefeito. Sua derrota foi creditada pela dissidência organizada por José Vecchio, um dos dirigentes do PTB gaúcho.

Em 1952, Brizola aceitou o convite do governador Ernesto Dornelles e assumiu a Secretaria de Obras Públicas. Nesta função, desenvolveu o Primeiro Plano de Obras do estado, realizando obras de infra-estrutura, majoritariamente nas áreas de saneamento básico e rodovias. Em 1954, deixou a secretaria para postular uma vaga na Câmara dos Deputados na eleição de outubro daquele ano. Brizola acabou sendo eleito deputado federal com um recorde nacional de 103.003 votos, mais do que o dobro da votação obtida pelo segundo colocado. Como deputado federal, foi um ferrenho opositor de Carlos Lacerda, da União Democrática Nacional. Quando Lacerda fez seu juramento de posse como deputado, Brizola pegou o microfone e retrucou-lhe: "Pela ordem, senhor presidente. Este é um juramento falso! Ele está jurando aqui dentro a democracia e está pregando o golpe lá fora." A declaração provocou uma confusão, com reações contrárias e favoráveis; Lacerda apenas respondeu "O que é isso? O que é isso?." Este episódio rendeu a Brizola, pela primeira vez, espaço nos grandes jornais do país.

Brizola fundou e dirigiu, no decorrer do ano de 1955, o jornal em formato de tabloide Clarim, que chegou a atingir uma tiragem de 35 mil exemplares. Brizola usou a publicação para promover sua segunda candidatura à prefeitura de Porto Alegre, indicando e criticando os problemas da cidade. Com o slogan "Nenhuma Criança Sem Escola" e um caráter desenvolvimentista, Brizola acabou sendo eleito, com 65.077 votos (55,14%), contra 37.158 votos (31,49%) recebidos por Euclides Triches. Embora seu partido tenha conquistado a maior bancada na Câmara de Vereadores, não conseguiu uma maioria na casa, ficando com 8 das 21 vagas. Em janeiro de 1956, foi empossado prefeito de Porto Alegre. Entre suas realizações no cargo, destacam-se o aumento do número de vagas disponíveis na rede municipal de ensino, incluindo o ensino em dois turnos, as obras de saneamento básico e a urbanização de grande parte dos trechos próximos ao Rio Guaíba.

Governador do Rio Grande do Sul[editar | editar código-fonte]

Na convenção do PTB realizada em outubro de 1957, Brizola foi indicado, por larga margem, para ser o candidato do partido ao governo do Rio Grande do Sul na eleição de 1958. A campanha trabalhista apresentou um programa de governo em que defendia priorizar as escolas, habitação, energia elétrica e preços justos aos produtores. Em outubro, derrotou Walter Peracchi Barcelos, coronel da Brigada Militar, com 670.003 votos contra 500.944. Sua vitória foi possível graças ao bom desempenho nas grandes cidades; na capital, conseguiu 65% dos votos, 63% em Pelotas e 75% em Canoas. Na Assembleia Legislativa, o PTB elegeu 24 dos 55 integrantes. A disputa pelo Senado Federal foi vencida por Guido Mondin, do PRP, apoiado por Brizola.

Em 31 de janeiro de 1959, Brizola foi empossado governador. Em 1961, Brizola ganhou atenção nacional ao criar a Campanha da Legalidade, em defesa da democracia e do direito, do vice-presidente João Goulart, ser empossado presidente da República. Quando Jânio Quadros renunciou à presidência em agosto de 1961, os militares tentaram impedir que Goulart o sucedesse em virtude de seus supostos laços com os comunistas. Depois de ganhar o apoio do general Machado Lopes, do exército local, Brizola criou a cadeia da legalidade de um grupo de estações de rádio no Rio Grande do Sul, a qual usou para emitir, a partir do Palácio Piratini, uma chamada nacional denunciando as intenções por trás das ações dos militares e incentivando a população a protestar nas ruas. Brizola entregou a Brigada Militar ao comando do exército regional, organizou comitês paramilitares de resistência democrática, chegando a distribuir armas de fogo a civis, e transformou a sede do governo em uma trincheira. Em resposta, os ministros militares ordenaram o bombardeio do Piratini, mas sargentos e suboficiais da Base Aérea de Canoas não cumpriram as ordens dadas pelos seus superiores. Brizola se opôs à mudança para o regime parlamentarista, usada pelos militares como condição para que Goulart assumisse. Após doze dias de uma guerra civil iminente, Goulart aceitou a proposta dos militares e foi empossado presidente.

Entre as políticas governamentais empreendidas como governador, Brizola desenvolveu um plano para industrializar rapidamente o estado e um programa para a construção de serviços públicos estatais, nacionalizando algumas empresas norte-americanas. Brizola garantia que a política de investimentos de seu governo teria capital nacional e que interferências estrangeiras na economia gaúcha não seriam aceitas. A Companhia de Energia Elétrica Riograndense, da Bond and Share e dona do monopólio da energia elétrica na Região Metropolitana, foi encampada em maio de 1959. A CEE passou a ser uma sociedade de economia mista, passando a ter um papel significativo na geração e distribuição de energia. Em fevereiro de 1962, depois que as negociações para que a Companhia Telefônica Riograndense, de propriedade da International Telephone and Telegraph, fosse transferida para o poder público acabaram fracassando, Brizola também encampou-la e a tornou parte da Companhia Riograndense de Telecomunicações. As nacionalizações de Brizola tornaram-se manchete na imprensa norte-americana quando o governo de John F. Kennedy estava tentando combater a "infiltração comunista" no Brasil ao chegar a um acordo com Goulart, que incluiu ajuda financeira ao governo federal brasileiro. Neste contexto, as ações de Brizola tornaram-se um embaraço diplomático, levando o presidente norte-americano a criticar o governador em uma coletiva de imprensa e transformando o governo Brizola em um alvo da Emenda Hickenlooper, uma mal sucedida iniciativa para interromper a ajuda a qualquer país que expropriasse propriedades norte-americanas.

A alfabetização e o aumento no número de vagas nas instituições de ensino foram outras prioridades do governo Brizola. O governo estabeleceu mais de duzentos acordos com escolas privadas para que, em troca de receberem professores do estado e verbas públicas, disponibilizassem vagas gratuitas. Para a construção de instituições de ensino, o governo realizou um acordo com os municípios e a iniciativa privada. Ao término de seu mandato, haviam sido construídos 6.302 estabelecimentos de ensino, dos quais 5.902 eram escolas primárias, 278 eram escolas técnicas e 122 eram ginásios. As escolas, que ficaram conhecidas como "Brizoletas". Estes investimentos resultaram na abertura de 689 mil matrículas e 42 mil vagas para docentes, com o Rio Grande do Sul passando a ter a mais alta taxa de escolarização do Brasil.

Para empreender uma reforma agrária, Brizola estabeleceu o Instituto Gaúcho de Reforma Agrária. Na época, 1,83% dos proprietários eram donos de 47,97% das terras, enquanto 85% ficavam com 24% das terras. O instituto, além de prestar assistência técnica, garantiu verbas para que os produtores comprassem máquinas, animais e sementes. Brizola ajudou a organizar acampamentos do Movimento dos Agricultores Sem Terra, conhecidos como Master. Em Sarandi, cerca de dez mil pessoas participaram de um acampamento para reivindicar a divisão de vinte mil hectares de terras, que não mantinham produção, pertencentes a uma multinacional. Em junho de 1962, decretou a concessão dos títulos de propriedade de terras da região do Banhado do Colégio, beneficiando em torno de seiscentas famílias. Brizola continuou e intensificou a reforma agrária em terras indígenas, argumentando que eles detinham muita terra para poucos índios. Brizola e sua esposa, Neusa, também doaram 1.038 hectares da Fazenda Pangaré, de propriedade do casal, para um grupo de trinta agricultores, dando início a uma cooperativa.

Deputado federal pela Guanabara[editar | editar código-fonte]

Por meio de suas políticas internas e externas, Brizola tornou-se uma figura importante na política brasileira, eventualmente desenvolvendo ambições presidenciais que não poderia cumprir devido às leis da época; a legislação brasileira não permitia que parentes próximos do presidente em exercício concorressem na eleição seguinte. Entre 1961 e 1964, atuou na ala radical da esquerda independente, onde pressionou por uma agenda de reformas sociais e políticas radicais e por uma mudança na legislação eleitoral que permitisse sua candidatura na eleição presidencial de 1965. Brizola foi visto como autoritário e briguento, capaz de lidar com seus inimigos usando a agressão física; por exemplo, agrediu o jornalista de direita David Nasser no aeroporto do Rio de Janeiro. Brizola atuou como um aventureiro no jogo político em torno do governo Goulart, sendo temido e odiado pelos políticos moderados da esquerda e da direita. Este papel foi especialmente visível quando mudou o seu domicílio eleitoral para um centro político nacional. Se optasse por se candidatar ao Legislativo pelo Rio Grande do Sul, teria que renunciar ao governo estadual seis meses antes da eleição. Optou, então, por aceitar o convite feito pelo PTB carioca de se candidatar a deputado federal, ganhando a eleição com uma vitória esmagadora (269.384 votos, ou um quarto do eleitorado do estado de Guanabara, a atual cidade do Rio de Janeiro).

Em janeiro de 1963, um plebiscito redefiniu o sistema de governo como presidencialista, um resultado que foi visto por Brizola como um "voto de confiança" dado pelo povo para que Goulart prosseguisse com as reformas de base. Ao mesmo tempo, em um movimento para competir com o presidente pela liderança política, Brizola iniciou um programa semanal na rádio carioca Mayrink Veiga, que costumava usar para transmitir para todo o país, e planejava constituir uma rede de células políticas composta por pequenos grupos de homens armados, os Grupos dos Onze. Os grupos deveriam atuar como organizações de base que "defenderiam e difundiriam" os principais pontos de uma agenda reformista que teria que ser alcançada "na lei ou na marra." Apesar de seu suposto radicalismo, Brizola não era um ideólogo ou doutrinário. Geralmente, representava um extremo nacionalismo de esquerda, apoiando a reforma agrária, a extensão do direito ao voto para analfabetos e suboficiais, e controles rigorosos sobre investimentos estrangeiros que fizeram com que o embaixador Lincoln Gordon não gostasse de Brizola e comparasse suas técnicas de propaganda com as de Joseph Goebbels, um rumor também compartilhado pela maioria da mídia norte-americana.

No final de 1963, após o fracasso de um plano de ajuste econômico, o Plano Trienal, elaborado pelo ministro do Planejamento Celso Furtado, Brizola se envolveu em uma busca pelo poder, derrubando o ministro das Finanças, Carvalho Pinto, economicamente conservador, para tentar ele próprio se tornar ministro. Brizola queria promover sua agenda radical, dizendo: "se queremos fazer uma revolução, devemos ter a chave para o cofre." A candidatura de Brizola para o Ministério da Economia fracassou; o cargo foi dado para o economista Ney Neves Galvão, ajudando a radicalizar a vida política contemporânea brasileira. Em outubro de 1963, Brizola e Goulart romperam suas relações políticas e pessoais; Brizola ficou convencido de que Goulart pretendia organizar um golpe apoiado por comandantes militares leais, parar o processo contínuo de radicalização política e que o único meio de antecipar o movimento de Goulart era um movimento popular revolucionário. Enquanto Brizola acreditava que Goulart deveria governar apenas com partidos de esquerda, o presidente insistia em uma estratégia mais conciliadora, na qual comporia uma aliança com o Partido Social Democrático. No início de 1964, ambos se reaproximaram quando Goulart decidiu manter um governo de esquerda apoiado pela Frente de Mobilização Popular, pelo Partido Comunista Brasileiro e pelo Partido Geral dos Trabalhadores. No Comício da Central do Brasil, em 13 de março de 1964, Brizola defendeu o fechamento do Congresso Nacional e sua substituição por uma assembleia nacional constituinte, que deveria ser integrada por "camponeses, operários, muitos sargentos e oficiais nacionalistas."

Exílio[editar | editar código-fonte]

Em abril de 1964, um golpe de Estado derrubou Goulart. Brizola acolheu-o em Porto Alegre, na esperança de incentivar o exército local a reagir e assim restaurar o governo deposto. Brizola se envolveu em planos para enfrentar os militares, inclusive proferindo um ardente discurso público na Câmara Municipal de Porto Alegre, exortando os suboficiais do exército a "ocupar quartéis e prender os generais", o que lhe valeu o ódio duradouro dos comandantes militares da ditadura. Depois de um mês mal sucedido no estado, Brizola fugiu no início de maio de 1964 para o Uruguai, onde Goulart já estava no exílio depois de demonstrar pouco interesse com as tentativas de resistência armada. Politicamente solitário no início de seu exílio, eventualmente preferiu a política insurrecional ao reformismo. No início de 1965, um grupo de simpatizantes seus tentou e não conseguiu articular uma guerrilha nas montanhas do leste brasileiro ao redor de Caparaó. Outro grupo de guerrilheiros brizolistas se dispersaram após um confronto com o exército no sul. Este evento levantou suspeitas sobre a má administração de Brizola dos fundos que lhe foram oferecidos por Fidel Castro. Com exceção desse episódio, Brizola passou os primeiros dez anos da ditadura militar brasileira isolado no Uruguai, onde geriu a propriedade de sua esposa e manteve-se a par do que acontecia no Brasil. Ele rejeitou as tentativas de ser recrutado para a Frente Ampla, um grupo informal de líderes pré-ditadura da década de 1960 que pretendia pressionar pela redemocratização, incluindo Carlos Lacerda e Juscelino Kubitschek. Durante a tentativa de recrutamento, rompeu os laços restantes com Goulart; eles se reconciliaram em setembro de 1976. A StB, inteligência da Tchecoslováquia, entrou em contato com Brizola para auxiliá-lo numa reação armada contra o regime militar, mas ele considerou que, naquele momento, tal reação não seria possível.

Desde o início do seu exílio, Brizola foi observado de perto pela inteligência brasileira, que pressionou regularmente o governo uruguaio. No final da década de 1970, no entanto, o surgimento de uma ditadura militar no Uruguai permitiu ao governo brasileiro trabalhar em conjunto com os militares uruguaios para, como parte da Operação Condor, capturá-lo. Até o final da década de 1970, a inteligência norte-americana ajudou nos esforços das ditaduras latino-americanas a controlar Brizola, que pode ter sobrevivido ao seu exílio graças a mudança da política dos EUA para a América Latina, ocorrida com o governo de Jimmy Carter, que se esforçou para conter abusos aos direitos humanos. Esta mudança levou Brizola a ter uma gratidão eterna com Carter. Entre o final de 1976 e o início de 1977, o fato de que todos os três membros mais proeminentes da Frente Ampla - Kubitscheck, Goulart e Lacerda - morreram sucessivamente e em circunstâncias um tanto misteriosas, fez Brizola se sentir cada vez mais ameaçado no Uruguai. Diante da iminente retirada de seu asilo, procurou a Embaixada dos EUA, onde conversou com o conselheiro John Youle. Mesmo com a oposição do subsecretário de Estado para os Assuntos do Hemisfério Ocidental Terence Todman, Youle concedeu a Brizola um visto de trânsito que permitiu-lhe, já que em meados de 1977 foi deportado do Uruguai por supostas "violações de normas de asilo político", viajar para - e, eventualmente, ser dado um asilo imediato - os EUA. O resgate de Brizola é reconhecido como um dos sucessos da retórica dos Direitos Humanos de Carter. Depois deste episódio, não se oporia mais diretamente às políticas norte-americanas em relação ao Brasil, contentando-se em denunciar vagamente as "perdas internacionais" incorridas pelo Brasil devido a termos de câmbio injustos impostos pelas corporações multinacionais.

De acordo com documentos diplomáticos brasileiros desclassificados, em 20 de setembro de 1977, Brizola e sua esposa foram para Buenos Aires, de onde partiram para os EUA. Buenos Aires era um lugar perigoso para os exilados latino-americanos; a família foi acompanhada por agentes norte-americanos da CIA e ficaram durante a noite em um local seguro da CIA, embarcando em um voo sem escalas para Nova Iorque em 22 de setembro. Pouco depois de chegar em Nova Iorque, encontrou-se com o senador Edward Kennedy, que o ajudou a obter a permissão para permanecer nos EUA durante seis meses. De uma suíte no Hotel Roosevelt, Brizola se beneficiou da sua estadia no país organizando uma rede de contatos com exilados brasileiros e acadêmicos norte-americanos interessados em acabar com o governo militar no Brasil. Mais tarde, mudou-se para Portugal, onde, através de Mário Soares, aproximou-se da liderança da Internacional Socialista e se juntou a um plano social-democrata e reformista para a pós-ditadura do Brasil. Durante seu período nos EUA, contatou o ativista afro-brasileiro Abdias do Nascimento e conheceu as políticas de identidade, o que influenciaria sua carreira pós-ditadura. Em um manifesto político lançado em Lisboa—a Carta de Lisboa, que declarou sua intenção de refundar um Partido Trabalhista no Brasil—Brizola aderiu à política racial afirmando que negros e indígenas brasileiros sofreram formas de exploração mais injustas e dolorosas do que as outras pessoas e, assim, precisariam de medidas especiais que resolvessem suas dificuldades. No final da década de 1970, a ditadura militar brasileira estava em declínio; em 1978, os passaportes foram dados silenciosamente a exilados políticos proeminentes, mas Brizola, ao lado de um grupo central de supostos radicais descritos como "inimigos públicos número um", permaneceu na lista negra e recusou o direito de retorno. Em 1979, após uma anistia geral, seu exílio chegou ao fim.

Primeiro mandato como governador do Rio de Janeiro[editar | editar código-fonte]

Ver também: Brizola e as favelas do Rio de Janeiro

Em 1982, Brizola concorreu a governador do Rio de Janeiro na primeira eleição livre e direta para o governo carioca desde 1965; Darcy Ribeiro foi seu candidato a vice-governador. Para compensar a falta de quadros no PDT, comandou o ingresso em sua coligação de pessoas sem vínculos anteriores com a política profissional, como o líder indígena Mário Juruna, o cantor Agnaldo Timóteo e um número considerável de ativistas afro-brasileiros. Brizola estava ciente de que essa última incursão na política racial contradizia suas políticas anteriores, mais convencionalmente radicais; ele apelidou sua ideologia de "socialismo moreno." Centrando sua campanha em questões como educação e segurança pública, apresentou uma candidatura que se propôs a manter o legado de Vargas. Ao desenvolver um núcleo de militantes combativos em torno de si mesmo—a chamada Brizolândia—Brizola liderou uma campanha que provocou confrontações violentas e brigas de rua com um humor paradoxalmente festivo, expresso pelo lema Brizola na cabeça.

Para ter sua vitória na eleição de 1982 reconhecida, Brizola teve que denunciar publicamente o que o Jornal do Brasil descreveu como uma tentativa de contabilização fraudulenta das cédulas de votação pela empresa privada Proconsult—uma empresa de engenharia informática de propriedade de ex-funcionários do serviço de inteligência militar—contratada pelo Tribunal Regional Eleitoral para informatizar a fase final da apuração. Durante o início do processo de contagem dos votos, a Proconsult afirmou repetidamente que Moreira Franco seria eleito—Arcádio Vieira, dono da empresa, estimou que Moreira ganharia com vantagem de cerca de sessenta mil votos—, tendo como base resultados predominantemente de áreas do interior, onde Brizola possuía desvantagem. Estes prognósticos foram imediatamente ecoados pela TV Globo. Ao denunciar esta alegada fraude em coletivas de imprensa, entrevistas e declarações públicas—que incluíram uma discussão ao vivo com Armando Nogueira, diretor da Globo—Brizola evitou que o esquema tivesse qualquer chance de sucesso. Ele acabou sendo eleito com 1,7 milhão de votos, uma diferença de 3,6% em relação a Moreira.

Brizola então continuou e expandiu sua visibilidade política em todo o país durante seu polêmico primeiro mandato como governador do Rio de Janeiro, de 1983 a 1987. Ele propôs a prorrogação, por dois anos, do mandato do presidente João Figueiredo, com quem tentou se aproximar; os mandatos dos governadores também seriam prorrogados e o sucessor de Figueiredo deveria ser eleito pelo voto popular. No início de 1984, engajou-se nas manifestações das Diretas Já, organizando o Comício da Candelária. Entretanto, por ser governador de um estado, não participou de forma tão desenvolta como outros líderes políticos; Doutel de Andrade representou o PDT nas caravanas das Diretas Já, e Brizola participou apenas dos eventos mais importantes. Após a derrota da emenda Dante de Oliveira, defendeu que o presidente eleito na eleição indireta de 1985 comandasse um governo de transição, convocando eleições diretas em, no máximo, dois anos. Apesar de não confiar politicamente em Tancredo Neves, orientou a bancada do PDT a votar em seu favor. Na presidência de José Sarney, foi uma das primeiras vozes críticas ao Plano Cruzado.

Como governador, Brizola desenvolveu suas políticas educacionais em uma escala maior com um ambicioso programa de construção de grandes escolas de ensino médio, os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs), arquitetados por Oscar Niemeyer. As escolas deveriam estar abertas durante todo o dia, proporcionando alimentação e atividades recreativas aos estudantes. Brizola também desenvolveu políticas para a prestação de serviços públicos e entregou propriedades habitacionais para moradores de favelas. Brizola opôs-se a políticas para favelas que tivessem como base o reassentamento forçado por meio de projetos habitacionais e, em vez disso, propôs—pois, nas palavras de seu principal conselheiro Darcy Ribeiro, "as favelas não fazem parte do problema, mas parte da solução"—uma solução "bizarra", mas, no entanto, que "permitiu que os habitantes das favelas se aproximassem de seus lugares de trabalho e vivessem como uma comunidade humana comum." Portanto, assim que os direitos de propriedade foram reconhecidos e a infra-estrutura básica proporcionada, coube aos habitantes das favelas encontrar soluções para os problemas relacionados à construção de casas.

Brizola também adotou uma nova e radical política de ação policial nos subúrbios pobres e favelas da região metropolitana do Rio de Janeiro. Alegando relações e modus operandi ultrapassados baseados em repressão, conflito e desrespeito, ordenou à polícia estadual que se abstivesse de fazer invasões arbitrárias em favelas e reprimisse as atividades dos esquadrões de extermínio, criando um órgão destinado para essa causa que prendeu e processou mais de duzentos policiais. A direita se opôs a essas políticas, argumentando que fariam das favelas um território aberto para o crime organizado representado por grandes gangues como o Comando Vermelho, por meio de uma confluência entre a criminalidade comum e o esquerdismo. Alegou-se que as gangues se originaram através da associação de pequenos criminosos condenados e prisioneiros políticos de esquerda na década de 1970. Outros estudiosos argumentaram que esta "politização" do crime comum tinha sido um trabalho da ditadura militar, que, ao encarcerar os criminosos comuns e os prisioneiros políticos, ofereceu aos primeiros a oportunidade de imitar as estratégias de organização dos grupos clandestinos de resistência.

Campanha presidencial de 1989[editar | editar código-fonte]

Brizola optou por permanecer no governo fluminense até o fim de seu mandato em vez de renunciar para concorrer a algum cargo na eleição de 1986. Desta forma, seu vice, Darcy Ribeiro, não se tornou inelegível e pôde concorrer para sucedê-lo; impulsionado pela popularidade momentânea do Plano Cruzado, Moreira derrotou Darcy por 49-35%. Em meio a em seguida crise econômica e a inflação galopante do Brasil nos anos 1980, muitos observadores conservadores viam Brizola como o principal chefe do radicalismo—um retorno ao populismo dos anos 1960. Brizola, assim como a esquerda em geral na época, procurou certa conciliação com as elites governantes, evitando assumir uma posição muito firme em questões como a reforma agrária e a nacionalização dos bancos privados. Do ponto de vista da política eleitoral de massas, foi durante a eleição presidencial de 1989 que a liderança carismática de Brizola expôs suas limitações ao terminar o primeiro turno na terceira colocação, perdendo a segunda posição, que o qualificaria para disputar o segundo turno, por uma pequena margem para Luis Inácio Lula da Silva, cujo Partido dos Trabalhadores tinha quadros, o ativismo profissional e a penetração nos movimentos sociais organizados que faltava a Brizola. Os resultados mostraram que sua candidatura era baseada principalmente em apoios regionais: Brizola conquistou maiorias maciças no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, mas recebeu apenas 1,4% dos votos em São Paulo. Lula usou seu reduto nas áreas mais industrializadas do Sudeste como um trampolim e reuniu novos eleitores no Nordeste. No final, Lula obteve 11,6 milhões de votos, contra 11,1 de Brizola, uma diferença de 0,6%; Fernando Collor ficou em primeiro, com 20,6 milhões de votos.

Brizola foi um fervoroso apoiador da candidatura de Lula para o segundo turno da eleição presidencial de 1989, algo que justificou com uma declaração marcante diante de seus colegas do PDT: "Cá para nós: um político de antigamente, o senador Pinheiro Machado, disse que a política é a arte de engolir sapos. Não seria fascinante fazer esta elite engolir o Lula, esse sapo barbudo? Vamos no menos pior, pelo menos…." Anteriormente, ambos mantiveram discussões objetivando formar uma aliança de esquerda para o primeiro turno, mas não chegaram a um acordo. Em uma reunião do PDT ocorrida após a primeira votação, embora sabendo ser inviável, Brizola sugeriu que ele e Lula desistissem para darem lugar a Mário Covas, pois acreditava que Covas enfrentaria menos resistências e assim teria mais chances de derrotar Collor. O apoio de Brizola foi crucial para que Lula aumentasse sua votação no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, onde o petista passou de 12,2% dos votos no primeiro turno no Rio de Janeiro para 72,9% no segundo turno, enquanto que no Rio Grande do Sul aumentou sua votação de 6,7% para 68,7%. De qualquer forma, Collor venceu a eleição.

Segundo mandato como governador do Rio de Janeiro e declínio[editar | editar código-fonte]

Após a eleição de 1989, Brizola ainda possuía chances de realizar seu sonho de ganhar a Presidência da República se conseguisse superar a falta de penetração nacional de seu partido. Alguns de seus assessores propuseram-lhe uma candidatura ao Senado na eleição de 1990, o que poderia lhe render destaque nacional. Brizola recusou a ideia e candidatou-se a governador, propondo uma coligação com o PT que tivesse Lula como candidato ao Senado. Os partidos travaram discussões sobre o assunto, animando Brizola a acreditar na possibilidade de fusão. O PT acabou apresentando um candidato próprio, e Brizola ganhou um segundo mandato como governador do Rio de Janeiro com 60,88% dos votos, no primeiro turno. Em seu segundo mandato, inaugurou a Universidade Estadual do Norte Fluminense e construiu a Via Expressa Presidente João Goulart, mais conhecida como Linha Vermelha. No entanto, este período redundou em seu fracasso político, marcado por momentos de gestão desorganizada causados por seu ultra-centralismo e desprezo pelos procedimentos burocráticos adequados; Brizola deixou o cargo com apenas 14% de aprovação, segundo o Datafolha. Além disso, embora tenha sido um opositor a ações do governo Collor, estabeleceu relações cordiais com o presidente e foi um crítico severo da CPI que investigava o esquema de Paulo César Farias, classificando o processo de impeachment como um "golpe"; Brizola só pediu a saída de Collor do governo na campanha eleitoral de 1992. Esse fato lhe causou um imenso desgaste junto ao seu eleitorado e aos seus aliados políticos.

Em 2 de abril de 1994, Brizola desincompatibilizou-se do cargo de governador do estado para concorrer à Presidência da República. Desprovido de apoio nacional e abandonado por aliados próximos como Cesar Maia e Anthony Garotinho, que afastaram-se em benefício de suas carreiras pessoais, Brizola voltou representar o PDT na disputa presidencial de 1994, realizada em meio ao sucesso do Plano Real e o consequente favoritismo do candidato governista Fernando Henrique Cardoso. A eleição de 1994 foi outro fracasso para Brizola, que ficou em quinto lugar, com 3,18% dos votos; FHC foi eleito no primeiro turno. Era o fim do Brizolismo como uma força política nacional. Durante o primeiro mandato de Cardoso, continuou sendo um crítico de suas políticas neoliberais de privatização de empresas públicas, afirmando em 1995: "se não houver uma reação civil à privatização, haverá uma militar." Quando o presidente concorreu à reeleição em 1998, foi o candidato a vice de Lula, e ambos perderam para FHC no primeiro turno. Na eleição de 2000, foi derrotado em sua tentativa de se eleger prefeito do Rio de Janeiro, recebendo 9,10% dos votos.

Em seus últimos anos, o relacionamento fragmentado de Brizola com Lula e o PT mudou; ele se recusou a apoiá-los no primeiro turno da eleição presidencial de 2002, apoiando em vez disso Ciro Gomes, enquanto disputou uma vaga para o Senado. Depois que Gomes ficou em terceiro lugar, apoiou Lula, que foi eleito presidente. Brizola foi derrotado em sua tentativa de se eleger senador, sendo o sexto colocado, com 8,2% dos votos, e acabando com sua força regional. Em seus últimos dois anos de vida, foi considerado um veterano populista de esquerda, e um personagem secundário. Apesar de apoiar Lula em alguns períodos durante seu primeiro mandato, em suas últimas aparições públicas, criticou-o por acreditar que o presidente estava empreendendo políticas neoliberais e negligenciando as tradicionais lutas da esquerda e dos trabalhadores. Ainda exercendo o cargo de presidente Nacional do PDT, Brizola afirmou, em junho de 2003, que o partido estava saindo do governo Lula; com sua pressão, o rompimento foi oficializado em dezembro de 2003. Os últimos comentários de Brizola sobre Lula ganharam um caráter pessoal. Em maio de 2004, foi uma das fontes de uma reportagem do jornalista Larry Rohter sobre o suposto alcoolismo de Lula. Brizola disse a um correspondente do New York Times sobre ter aconselhado Lula: "você precisa controlar isso."