Capítulo 4 Versículo 3 - Racionais MC's (música): mudanças entre as edições
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"'''Capítulo 4, Versículo 3'''" é uma canção de ''rap'' do grupo Racionais MC's, lançada no álbum ''Sobrevivendo no Inferno'', de 1997. Sendo a terceira faixa do álbum. | |||
Escrita por Edi Rock, Ice Blue e Mano Brown, a canção se inicia com dados estatísticos sobre discriminação, racismo e violência cotidiana da região periférica de São Paulo, e do Brasil, nos anos 1990. Basicamente relacionando as temáticas de: periferias urbanas, relações de conflitos, teologia cristã, relações raciais e expressões políticas. | |||
Autoria: Rafael<ref>https://pt.wikipedia.org/wiki/Cap%C3%ADtulo_4,_Vers%C3%ADculo_3</ref>. | |||
== Sobre o artista == | |||
Racionais MC's é um grupo brasileiro de rap fundado em 1988. É formado por Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay. É o maior grupo de rap do Brasil, e está entre os grupos musicais mais influentes do país e da música brasileira. Suas canções demonstram a preocupação em denunciar a destruição da vida de jovens negros e pobres das periferias brasileiras e o resultado do [[Racismo, motor da violência (relatório)|racismo e do preconceito]], ao sustentarem a miséria diretamente ligada com a [[Violência, Criminalidade, Segurança Pública e Justiça Criminal no Brasil: Uma Bibliografia (resenha)|violência e o crime]]. Temas como a [[Violência de Estado operações policiais chacinas e um plano|brutalidade da polícia]], do crime organizado e do estado, bem como o preconceito, as drogas e a exclusão social são recorrentes nas letras do conjunto. Embora inicialmente conhecido apenas na capital paulista, o grupo conseguiu alcançar sucesso nacional e internacional a partir dos álbuns ''Raio X Brasil'' (1993), ''Sobrevivendo no Inferno'' (1997) e ''Nada como um Dia após o Outro Dia'' (2002). | |||
== Letra == | |||
60% dos jovens de periferia sem antecedentes criminais | 60% dos jovens de periferia sem antecedentes criminais | ||
Já sofreram violência policial | Já sofreram violência policial | ||
A cada 4 pessoas mortas pela polícia, 3 são negras | A cada 4 pessoas mortas pela polícia, 3 são negras | ||
Nas universidades brasileiras, apenas 2% dos alunos são negros | Nas universidades brasileiras, apenas 2% dos alunos são negros | ||
A cada 4 horas, um jovem negro morre violentamente em São Paulo | A cada 4 horas, um jovem negro morre violentamente em São Paulo | ||
Aqui quem fala é Primo Preto, mais um sobrevivente | Aqui quem fala é Primo Preto, mais um sobrevivente | ||
Minha intenção é ruim, esvazia o lugar | Minha intenção é ruim, esvazia o lugar | ||
Eu tô em cima, eu tô afim, um, dois pra atirar | Eu tô em cima, eu tô afim, um, dois pra atirar | ||
Eu sou bem pior do que você tá vendo | Eu sou bem pior do que você tá vendo | ||
O preto aqui não tem dó, é 100% veneno | O preto aqui não tem dó, é 100% veneno | ||
A primeira faz bum, a segunda faz tá | A primeira faz bum, a segunda faz tá | ||
Eu tenho uma missão e não vou parar | Eu tenho uma missão e não vou parar | ||
Meu estilo é pesado e faz tremer o chão | Meu estilo é pesado e faz tremer o chão | ||
Minha palavra vale um tiro, eu tenho muita munição | Minha palavra vale um tiro, eu tenho muita munição | ||
Na queda ou na ascensão, minha atitude vai além | Na queda ou na ascensão, minha atitude vai além | ||
E tem disposição pro mal e pro bem | E tem disposição pro mal e pro bem | ||
Talvez eu seja um sádico, ou um anjo | Talvez eu seja um sádico, ou um anjo | ||
Um mágico, o juiz ou réu | Um mágico, o juiz ou réu | ||
O bandido do céu, malandro ou otário | O bandido do céu, malandro ou otário | ||
Padre sanguinário, franco atirador se for necessário | Padre sanguinário, franco atirador se for necessário | ||
Revolucionário, insano ou marginal | Revolucionário, insano ou marginal | ||
Antigo e moderno, imortal | Antigo e moderno, imortal | ||
Fronteira do céu com o inferno | Fronteira do céu com o inferno | ||
Astral imprevisível | Astral imprevisível | ||
Como um ataque cardíaco do verso | Como um ataque cardíaco do verso | ||
Violentamente pacífico | Violentamente pacífico | ||
Verídico, vim pra sabotar seu raciocínio | Verídico, vim pra sabotar seu raciocínio | ||
Vim pra abalar seu sistema nervoso, e sanguíneo | Vim pra abalar seu sistema nervoso, e sanguíneo | ||
Pra mim ainda é pouco, Brown cachorro louco | Pra mim ainda é pouco, Brown cachorro louco | ||
Número 1 dia, terrorista da periferia | Número 1 dia, terrorista da periferia | ||
Uni-duni-tê, eu tenho pra você | Uni-duni-tê, eu tenho pra você | ||
Um rap venenoso ou uma rajada de PT | Um rap venenoso ou uma rajada de PT | ||
E a profecia se fez como previsto | E a profecia se fez como previsto | ||
1997, depois de Cristo | 1997, depois de Cristo | ||
A fúria negra ressuscita outra vez | A fúria negra ressuscita outra vez | ||
Racionais Capítulo 4, Versículo 3 | Racionais Capítulo 4, Versículo 3 | ||
Aleluia, aleluia | Aleluia, aleluia | ||
Racionais no ar, filhas da puta, pá, pá, pá | Racionais no ar, filhas da puta, pá, pá, pá | ||
Faz frio em São Paulo | Faz frio em São Paulo | ||
Pra mim tá sempre bom | Pra mim tá sempre bom | ||
Eu tô na rua de bombeta e moletom | Eu tô na rua de bombeta e moletom | ||
Dim, dim, dom, rap é o som | Dim, dim, dom, rap é o som | ||
Que emana no Opala marrom | Que emana no Opala marrom | ||
E aí, chama o Guilherme | E aí, chama o Guilherme | ||
Chama o Vander, chama o Dinho e o Di | Chama o Vander, chama o Dinho e o Di | ||
Marquinho chama o Éder, vamo aí | Marquinho chama o Éder, vamo aí | ||
Se os outros manos vem | Se os outros manos vem | ||
Pela ordem tudo bem melhor | Pela ordem tudo bem melhor | ||
Quem é quem no bilhar no dominó | Quem é quem no bilhar no dominó | ||
Colou dois mano, um acenou pra mim | Colou dois mano, um acenou pra mim | ||
De jaco de cetim, de tênis e calça jeans | De jaco de cetim, de tênis e calça jeans | ||
Ei Brown, sai fora nem vai, nem cola | Ei Brown, sai fora nem vai, nem cola | ||
Não vale a pena dar ideia nesses tipo aí | Não vale a pena dar ideia nesses tipo aí | ||
Ontem à noite eu vi na beira do asfalto | Ontem à noite eu vi na beira do asfalto | ||
Tragando a morte, soprando a vida pro alto | Tragando a morte, soprando a vida pro alto | ||
Ó os cara só pó, pele o osso | Ó os cara só pó, pele o osso | ||
No fundo do poço, vários flagrante no bolso | No fundo do poço, vários flagrante no bolso | ||
Veja bem, ninguém é mais que ninguém | Veja bem, ninguém é mais que ninguém | ||
Veja bem, veja bem, eles são nosso irmãos também | Veja bem, veja bem, eles são nosso irmãos também | ||
Mas de cocaína e crack, Whisky e conhaque | Mas de cocaína e crack, Whisky e conhaque | ||
Os manos morrem rapidinho sem lugar de destaque | Os manos morrem rapidinho sem lugar de destaque | ||
Mas quem sou eu pra falar de quem cheira ou quem fuma | Mas quem sou eu pra falar de quem cheira ou quem fuma | ||
Nem dá, nunca te dei porra nenhuma | Nem dá, nunca te dei porra nenhuma | ||
Você fuma o que vem, entope o nariz | Você fuma o que vem, entope o nariz | ||
Bebe tudo o que vê, faça o diabo feliz | Bebe tudo o que vê, faça o diabo feliz | ||
Você vai terminar tipo o outro mano lá | Você vai terminar tipo o outro mano lá | ||
Que era um preto tipo A | Que era um preto tipo A | ||
Ninguém entrava numa, mó estilo | Ninguém entrava numa, mó estilo | ||
De calça Calvin Klein e tênis Puma | De calça Calvin Klein e tênis Puma | ||
Um jeito humilde de ser, no trampo e no rolê | Um jeito humilde de ser, no trampo e no rolê | ||
Curtia um Funk, jogava uma bola | Curtia um Funk, jogava uma bola | ||
Buscava a preta dele no portão da escola | Buscava a preta dele no portão da escola | ||
Um exemplo pra nós, mó moral, mó ibope | Um exemplo pra nós, mó moral, mó ibope | ||
Mas começou colar com os branquinhos do shopping | Mas começou colar com os branquinhos do shopping | ||
(Aí já era) | (Aí já era) | ||
Ih mano outra vida, outro pique | Ih mano outra vida, outro pique | ||
Só mina de elite, balada, vários drink | Só mina de elite, balada, vários drink | ||
Puta de butique, toda aquela porra | Puta de butique, toda aquela porra | ||
Sexo sem limite, Sodoma e Gomorra | Sexo sem limite, Sodoma e Gomorra | ||
Hã, faz uns nove anos | Hã, faz uns nove anos | ||
Tem uns quinze dias atrás eu vi o mano | Tem uns quinze dias atrás eu vi o mano | ||
Cê tem que ver, pedindo cigarro pros tiozinho no ponto | Cê tem que ver, pedindo cigarro pros tiozinho no ponto | ||
Dente tudo zoado, bolso sem nenhum conto | Dente tudo zoado, bolso sem nenhum conto | ||
O cara cheira mal, as tia sente medo | O cara cheira mal, as tia sente medo | ||
Muito louco de sei lá o que logo cedo | Muito louco de sei lá o que logo cedo | ||
Agora não oferece mais perigo | Agora não oferece mais perigo | ||
Viciado, doente, fodido, inofensivo | Viciado, doente, fodido, inofensivo | ||
Um dia um PM negro veio embaçar | Um dia um PM negro veio embaçar | ||
E disse pra eu me pôr no meu lugar | E disse pra eu me pôr no meu lugar | ||
Eu vejo um mano nessas condições, não dá | Eu vejo um mano nessas condições, não dá | ||
Será assim que eu deveria estar? | Será assim que eu deveria estar? | ||
Irmão, o demônio fode tudo ao seu redor | Irmão, o demônio fode tudo ao seu redor | ||
Pelo rádio, jornal, revista e outdoor | Pelo rádio, jornal, revista e outdoor | ||
Te oferece dinheiro, conversa com calma | Te oferece dinheiro, conversa com calma | ||
Contamina seu caráter, rouba sua alma | Contamina seu caráter, rouba sua alma | ||
Depois te joga na merda sozinho | Depois te joga na merda sozinho | ||
Transforma um preto tipo A num neguinho | Transforma um preto tipo A num neguinho | ||
Minha palavra alivia sua dor | Minha palavra alivia sua dor | ||
Ilumina minha alma, louvado seja o meu Senhor | Ilumina minha alma, louvado seja o meu Senhor | ||
Que não deixa o mano aqui desandar, ah | Que não deixa o mano aqui desandar, ah | ||
E nem sentar o dedo em nenhum pilantra | E nem sentar o dedo em nenhum pilantra | ||
Mas que nenhum filha da puta ignore a minha lei | Mas que nenhum filha da puta ignore a minha lei | ||
Racionais Capítulo 4, Versículo 3 | Racionais Capítulo 4, Versículo 3 | ||
Aleluia, aleluia | Aleluia, aleluia | ||
Racionais no ar filha da puta, pá, pá, pá | Racionais no ar filha da puta, pá, pá, pá | ||
Quatro minutos se passaram e ninguém viu | Quatro minutos se passaram e ninguém viu | ||
O monstro que nasceu em algum lugar do Brasil | O monstro que nasceu em algum lugar do Brasil | ||
Talvez o mano que trampa debaixo do carro sujo de óleo | Talvez o mano que trampa debaixo do carro sujo de óleo | ||
Que enquadra o carro forte na febre com sangue nos olhos | Que enquadra o carro forte na febre com sangue nos olhos | ||
O mano que entrega envelope o dia inteiro no sol | O mano que entrega envelope o dia inteiro no sol | ||
Ou o que vende chocolate de farol em farol | Ou o que vende chocolate de farol em farol | ||
Talvez o cara que defende o pobre no tribunal | Talvez o cara que defende o pobre no tribunal | ||
Ou que procura vida nova na condicional | Ou que procura vida nova na condicional | ||
Alguém num quarto de madeira lendo à luz de vela | Alguém num quarto de madeira lendo à luz de vela | ||
Ouvindo um rádio velho no fundo de uma cela | Ouvindo um rádio velho no fundo de uma cela | ||
Ou da família real de negro como eu sou | Ou da família real de negro como eu sou | ||
Um príncipe guerreiro que defende o gol | Um príncipe guerreiro que defende o gol | ||
E eu não mudo, mas eu não me iludo | E eu não mudo, mas eu não me iludo | ||
Os mano cu de burro têm, eu sei de tudo | Os mano cu de burro têm, eu sei de tudo | ||
Em troca de dinheiro e um cargo bom | Em troca de dinheiro e um cargo bom | ||
Tem mano que rebola e usa até batom | Tem mano que rebola e usa até batom | ||
Vários patrícios falam merda pra todo mundo rir | Vários patrícios falam merda pra todo mundo rir | ||
Ha ha, pra ver branquinho aplaudir | Ha ha, pra ver branquinho aplaudir | ||
É, na sua área tem fulano até pior | É, na sua área tem fulano até pior | ||
Cada um, cada um, você se sente só | Cada um, cada um, você se sente só | ||
Tem mano que te aponta uma pistola e fala sério | Tem mano que te aponta uma pistola e fala sério | ||
Explode sua cara por um toca-fita velho | Explode sua cara por um toca-fita velho | ||
Click pláu, pláu, pláu e acabou | Click pláu, pláu, pláu e acabou | ||
Sem dó e sem dor, foda-se sua cor | Sem dó e sem dor, foda-se sua cor | ||
Limpa o sangue com a camisa e manda se foder | Limpa o sangue com a camisa e manda se foder | ||
Você sabe por quê, pra onde vai, pra quê? | Você sabe por quê, pra onde vai, pra quê? | ||
Vai de bar em bar, esquina em esquina | Vai de bar em bar, esquina em esquina | ||
Pegar 50 conto, trocar por cocaína | Pegar 50 conto, trocar por cocaína | ||
Enfim, o filme acabou pra você | Enfim, o filme acabou pra você | ||
A bala não é de festim, aqui não tem dublê | A bala não é de festim, aqui não tem dublê | ||
Para os manos da Baixada Fluminense à Ceilândia | Para os manos da Baixada Fluminense à Ceilândia | ||
Eu sei, as ruas não são como a Disneylândia | Eu sei, as ruas não são como a Disneylândia | ||
De Guaianases ao extremo sul de Santo Amaro | De Guaianases ao extremo sul de Santo Amaro | ||
Ser um preto tipo A custa caro | Ser um preto tipo A custa caro | ||
É foda, foda é assistir à propaganda e ver | É foda, foda é assistir à propaganda e ver | ||
Não dá pra ter aquilo pra você | Não dá pra ter aquilo pra você | ||
Playboy forgado de brinco: Cu, trouxa | Playboy forgado de brinco: Cu, trouxa | ||
Roubado dentro do carro na avenida Rebouças | Roubado dentro do carro na avenida Rebouças | ||
Correntinha das moça | Correntinha das moça | ||
As madame de bolsa | As madame de bolsa | ||
Dinheiro, não tive pai não sou herdeiro | Dinheiro, não tive pai não sou herdeiro | ||
Se eu fosse aquele cara que se humilha no sinal | Se eu fosse aquele cara que se humilha no sinal | ||
Por menos de um real | Por menos de um real | ||
Minha chance era pouca | Minha chance era pouca | ||
Mas se eu fosse aquele moleque de touca | Mas se eu fosse aquele moleque de touca | ||
Que engatilha e enfia o cano dentro da sua boca | Que engatilha e enfia o cano dentro da sua boca | ||
De quebrada sem roupa, você e sua mina | De quebrada sem roupa, você e sua mina | ||
Um, dois, nem me viu, já sumi na neblina | Um, dois, nem me viu, já sumi na neblina | ||
Mas não, permaneço vivo, prossigo a mística | Mas não, permaneço vivo, prossigo a mística | ||
Vinte e sete anos contrariando a estatística | Vinte e sete anos contrariando a estatística | ||
Seu comercial de TV não me engana | Seu comercial de TV não me engana | ||
Eu não preciso de status nem fama | Eu não preciso de status nem fama | ||
Seu carro e sua grana já não me seduz | Seu carro e sua grana já não me seduz | ||
E nem a sua puta de olhos azuis | E nem a sua puta de olhos azuis | ||
Eu sou apenas um rapaz latino-americano | Eu sou apenas um rapaz latino-americano | ||
Apoiado por mais de 50 mil manos | Apoiado por mais de 50 mil manos | ||
Efeito colateral que o seu sistema fez | Efeito colateral que o seu sistema fez | ||
Racionais Capítulo 4, Versículo 3 | Racionais Capítulo 4, Versículo 3 | ||
== Ouça a música aqui == | |||
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== Créditos == | |||
* Vozes Extras - Primo Preto, Xis e Nill | |||
* Rap - Mano Brown, Edi Rock e Ice Blue | |||
* KL Jay - Samples, Teclados e Scratchs | |||
* Coro - Mariana Ferri | |||
* Programação de Bateria - Alexandre Nunez | |||
== Ver também == | |||
[[Racionais MC's]] | |||
[[Vozes periféricas - expansão, imersão e diálogo na obra dos Racionais MC's (artigo)]] | |||
[[Especial Hip Hop e Educação]] | |||
[[Categoria:Temática - Cultura]] | |||
[[Categoria:Músicas]] | |||
[[Categoria:Arte]] | |||
[[Categoria:Rap]] | |||
[[Categoria:Hip Hop]] | |||
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<references /> | |||
[[Categoria:Racionais MC's]] |
Edição atual tal como às 17h15min de 6 de junho de 2024
"Capítulo 4, Versículo 3" é uma canção de rap do grupo Racionais MC's, lançada no álbum Sobrevivendo no Inferno, de 1997. Sendo a terceira faixa do álbum.
Escrita por Edi Rock, Ice Blue e Mano Brown, a canção se inicia com dados estatísticos sobre discriminação, racismo e violência cotidiana da região periférica de São Paulo, e do Brasil, nos anos 1990. Basicamente relacionando as temáticas de: periferias urbanas, relações de conflitos, teologia cristã, relações raciais e expressões políticas.
Autoria: Rafael[1].
Sobre o artista[editar | editar código-fonte]
Racionais MC's é um grupo brasileiro de rap fundado em 1988. É formado por Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay. É o maior grupo de rap do Brasil, e está entre os grupos musicais mais influentes do país e da música brasileira. Suas canções demonstram a preocupação em denunciar a destruição da vida de jovens negros e pobres das periferias brasileiras e o resultado do racismo e do preconceito, ao sustentarem a miséria diretamente ligada com a violência e o crime. Temas como a brutalidade da polícia, do crime organizado e do estado, bem como o preconceito, as drogas e a exclusão social são recorrentes nas letras do conjunto. Embora inicialmente conhecido apenas na capital paulista, o grupo conseguiu alcançar sucesso nacional e internacional a partir dos álbuns Raio X Brasil (1993), Sobrevivendo no Inferno (1997) e Nada como um Dia após o Outro Dia (2002).
Letra[editar | editar código-fonte]
60% dos jovens de periferia sem antecedentes criminais
Já sofreram violência policial
A cada 4 pessoas mortas pela polícia, 3 são negras
Nas universidades brasileiras, apenas 2% dos alunos são negros
A cada 4 horas, um jovem negro morre violentamente em São Paulo Aqui quem fala é Primo Preto, mais um sobrevivente
Minha intenção é ruim, esvazia o lugar
Eu tô em cima, eu tô afim, um, dois pra atirar
Eu sou bem pior do que você tá vendo
O preto aqui não tem dó, é 100% veneno
A primeira faz bum, a segunda faz tá
Eu tenho uma missão e não vou parar
Meu estilo é pesado e faz tremer o chão
Minha palavra vale um tiro, eu tenho muita munição
Na queda ou na ascensão, minha atitude vai além
E tem disposição pro mal e pro bem
Talvez eu seja um sádico, ou um anjo
Um mágico, o juiz ou réu
O bandido do céu, malandro ou otário
Padre sanguinário, franco atirador se for necessário
Revolucionário, insano ou marginal
Antigo e moderno, imortal
Fronteira do céu com o inferno
Astral imprevisível
Como um ataque cardíaco do verso
Violentamente pacífico
Verídico, vim pra sabotar seu raciocínio
Vim pra abalar seu sistema nervoso, e sanguíneo
Pra mim ainda é pouco, Brown cachorro louco
Número 1 dia, terrorista da periferia
Uni-duni-tê, eu tenho pra você
Um rap venenoso ou uma rajada de PT
E a profecia se fez como previsto
1997, depois de Cristo
A fúria negra ressuscita outra vez
Racionais Capítulo 4, Versículo 3
Aleluia, aleluia
Racionais no ar, filhas da puta, pá, pá, pá
Faz frio em São Paulo
Pra mim tá sempre bom
Eu tô na rua de bombeta e moletom
Dim, dim, dom, rap é o som
Que emana no Opala marrom
E aí, chama o Guilherme
Chama o Vander, chama o Dinho e o Di
Marquinho chama o Éder, vamo aí
Se os outros manos vem
Pela ordem tudo bem melhor
Quem é quem no bilhar no dominó
Colou dois mano, um acenou pra mim
De jaco de cetim, de tênis e calça jeans
Ei Brown, sai fora nem vai, nem cola
Não vale a pena dar ideia nesses tipo aí
Ontem à noite eu vi na beira do asfalto
Tragando a morte, soprando a vida pro alto
Ó os cara só pó, pele o osso
No fundo do poço, vários flagrante no bolso
Veja bem, ninguém é mais que ninguém
Veja bem, veja bem, eles são nosso irmãos também
Mas de cocaína e crack, Whisky e conhaque
Os manos morrem rapidinho sem lugar de destaque
Mas quem sou eu pra falar de quem cheira ou quem fuma
Nem dá, nunca te dei porra nenhuma
Você fuma o que vem, entope o nariz
Bebe tudo o que vê, faça o diabo feliz
Você vai terminar tipo o outro mano lá
Que era um preto tipo A
Ninguém entrava numa, mó estilo
De calça Calvin Klein e tênis Puma
Um jeito humilde de ser, no trampo e no rolê
Curtia um Funk, jogava uma bola
Buscava a preta dele no portão da escola
Um exemplo pra nós, mó moral, mó ibope
Mas começou colar com os branquinhos do shopping
(Aí já era)
Ih mano outra vida, outro pique Só mina de elite, balada, vários drink
Puta de butique, toda aquela porra Sexo sem limite, Sodoma e Gomorra
Hã, faz uns nove anos
Tem uns quinze dias atrás eu vi o mano
Cê tem que ver, pedindo cigarro pros tiozinho no ponto
Dente tudo zoado, bolso sem nenhum conto
O cara cheira mal, as tia sente medo
Muito louco de sei lá o que logo cedo
Agora não oferece mais perigo
Viciado, doente, fodido, inofensivo
Um dia um PM negro veio embaçar
E disse pra eu me pôr no meu lugar
Eu vejo um mano nessas condições, não dá
Será assim que eu deveria estar?
Irmão, o demônio fode tudo ao seu redor
Pelo rádio, jornal, revista e outdoor
Te oferece dinheiro, conversa com calma
Contamina seu caráter, rouba sua alma
Depois te joga na merda sozinho
Transforma um preto tipo A num neguinho
Minha palavra alivia sua dor
Ilumina minha alma, louvado seja o meu Senhor
Que não deixa o mano aqui desandar, ah
E nem sentar o dedo em nenhum pilantra
Mas que nenhum filha da puta ignore a minha lei
Racionais Capítulo 4, Versículo 3
Aleluia, aleluia
Racionais no ar filha da puta, pá, pá, pá
Quatro minutos se passaram e ninguém viu
O monstro que nasceu em algum lugar do Brasil
Talvez o mano que trampa debaixo do carro sujo de óleo
Que enquadra o carro forte na febre com sangue nos olhos
O mano que entrega envelope o dia inteiro no sol Ou o que vende chocolate de farol em farol
Talvez o cara que defende o pobre no tribunal Ou que procura vida nova na condicional Alguém num quarto de madeira lendo à luz de vela
Ouvindo um rádio velho no fundo de uma cela Ou da família real de negro como eu sou Um príncipe guerreiro que defende o gol
E eu não mudo, mas eu não me iludo
Os mano cu de burro têm, eu sei de tudo
Em troca de dinheiro e um cargo bom
Tem mano que rebola e usa até batom
Vários patrícios falam merda pra todo mundo rir
Ha ha, pra ver branquinho aplaudir
É, na sua área tem fulano até pior
Cada um, cada um, você se sente só
Tem mano que te aponta uma pistola e fala sério
Explode sua cara por um toca-fita velho
Click pláu, pláu, pláu e acabou
Sem dó e sem dor, foda-se sua cor
Limpa o sangue com a camisa e manda se foder
Você sabe por quê, pra onde vai, pra quê?
Vai de bar em bar, esquina em esquina
Pegar 50 conto, trocar por cocaína
Enfim, o filme acabou pra você
A bala não é de festim, aqui não tem dublê
Para os manos da Baixada Fluminense à Ceilândia
Eu sei, as ruas não são como a Disneylândia
De Guaianases ao extremo sul de Santo Amaro
Ser um preto tipo A custa caro
É foda, foda é assistir à propaganda e ver
Não dá pra ter aquilo pra você
Playboy forgado de brinco: Cu, trouxa
Roubado dentro do carro na avenida Rebouças
Correntinha das moça
As madame de bolsa
Dinheiro, não tive pai não sou herdeiro
Se eu fosse aquele cara que se humilha no sinal
Por menos de um real
Minha chance era pouca
Mas se eu fosse aquele moleque de touca
Que engatilha e enfia o cano dentro da sua boca De quebrada sem roupa, você e sua mina Um, dois, nem me viu, já sumi na neblina
Mas não, permaneço vivo, prossigo a mística Vinte e sete anos contrariando a estatística Seu comercial de TV não me engana
Eu não preciso de status nem fama
Seu carro e sua grana já não me seduz
E nem a sua puta de olhos azuis Eu sou apenas um rapaz latino-americano Apoiado por mais de 50 mil manos Efeito colateral que o seu sistema fez
Racionais Capítulo 4, Versículo 3
Ouça a música aqui[editar | editar código-fonte]
Créditos[editar | editar código-fonte]
- Vozes Extras - Primo Preto, Xis e Nill
- Rap - Mano Brown, Edi Rock e Ice Blue
- KL Jay - Samples, Teclados e Scratchs
- Coro - Mariana Ferri
- Programação de Bateria - Alexandre Nunez
Ver também[editar | editar código-fonte]
Vozes periféricas - expansão, imersão e diálogo na obra dos Racionais MC's (artigo)