Coletivos de favelas e a produção de conhecimentos, dados e memórias: mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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Como forma de recontar o legado da população negra da Baixada Fluminense, a IDMJR lançou o memorial "Hidra do Iguassú", complexo de quilombos liderado por mulheres que fundaram a região da Baixada Fluminense. O memórial está localizado no Parque Centenario em Duque de Caxias - RJ.<blockquote>As áreas comandadas pela Hidra de Iguassu fundaram a região da baixada fluminense, que desde sua origem é um território marcado pela resistência e por lutas contra as violações do Estado, durante seus quase 100 anos de existência a Hidra foi configurada como o principal problema de segurança pública para o governo brasileiro devido a dificuldade de captura e subjugação deste aquilombamento.
Como forma de recontar o legado da população negra da Baixada Fluminense, a IDMJR lançou o memorial "Hidra do Iguassú", de forma a representar o complexo de quilombos liderado por mulheres que fundaram a região da Baixada Fluminense. O memórial está localizado no Parque Centenario em Duque de Caxias - RJ.<blockquote>As áreas comandadas pela Hidra de Iguassu fundaram a região da baixada fluminense, que desde sua origem é um território marcado pela resistência e por lutas contra as violações do Estado, durante seus quase 100 anos de existência a Hidra foi configurada como o principal problema de segurança pública para o governo brasileiro devido a dificuldade de captura e subjugação deste aquilombamento.


Por isso, torna-se muito importante recontar a história da resistência por meio dos quilombos, sobretudo a resistência das mulheres negras que defendem cotidianamente a vida dentro dos seus territórios periféricos. Ressalta-se que a fundação do território da Baixada Fluminense foi protagonizada pela intensa luta de resistência dos quilombos que cotidianamente enfrentam o braço armado do Estado e conquistaram sucessivas vitórias.  
Por isso, torna-se muito importante recontar a história da resistência por meio dos quilombos, sobretudo a resistência das mulheres negras que defendem cotidianamente a vida dentro dos seus territórios periféricos. Ressalta-se que a fundação do território da Baixada Fluminense foi protagonizada pela intensa luta de resistência dos quilombos que cotidianamente enfrentam o braço armado do Estado e conquistaram sucessivas vitórias.  

Edição das 13h16min de 6 de julho de 2024

Nos últimos anos, inúmeros coletivos e organizações de favelas e periferias têm se dedicado a produzir dados que contemplem as particularidades de suas experiências enquanto moradores desses territórios. Por meio de diferentes metodologias, tais grupos protagonizam a produção de dados e promovem a preservação de suas próprias memórias.

Autoria: Kharine Gil

Contando nossa própria história

A produção e coleta de dados demográficos acontece historicamente no Rio de Janeiro. Desde o século XX foram promovidos recenseamentos e relatórios oficiais sobre a população, documentos que foram por muitos anos a fonte principal de informação sobre a situação de brasileiros que residem em diferentes áreas do país, e informam sobre educação, saúde, trabalho, habitação etc.

No entanto, tais dados não conseguem dar conta de algumas especificidades populacionais, como as que atravessam moradores de favelas. Esses territórios possuem particularidades relevantes que deveriam ser consideradas nas estatísticas. Por esse motivo, no final dos anos 1990, foi mobilizada uma nova forma de quantificar: o autorrecenseamento.

Em 1999 foi realizada a primeira iniciativa de autorrecenseamento, no Complexo da Maré, pelo Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré - CEASM. Posteriormente, tal iniciativa foi reproduzida também por outras instituições, como a Redes da Maré e o Observatório de Favelas (Cruz, 2022)[1]. Esta produção de dados tem como objetivo analisar as particularidades que estes territórios possuem e que dados oficiais, como o censo produzido pelo IBGE, não conseguem contemplar. Vale ressaltar que o propósito não é contestar os dados oficiais, mas dialogar e complementar, considerando as especificidades das favelas.

O primeiro autorrecenseamento teve seu início em 1999, tendo sido publicado no ano seguinte. Trata-se do "Quem somos, quantos somos, o que fazemos" elaborado pelo entro de Estudos e Ações Solidárias da Maré. De modo geral, as iniciativas de auto contagem surgem a partir de duas principais justificativas que se retroalimentam: a defasagem dos dados e a permanência de representações negativas das favelas. (Cruz, 2022, p. 16)[1].

Na linha do tempo abaixo é possível observar a produção de dados sobre as favelas cariocas historicamente:

Fonte: Thaís Gonçalves Cruz, 2022


Nos últimos anos, diversos coletivos e organizações de favelas e periferias têm dedicado suas pesquisas e estudos sobre a produção de dados dos territórios que atuam e residem. É interessante ressaltar que os produtos que resultam destes trabalhos não são necessáriamente dados quantificáveis, tendo em vista que transitam também entre outros tipos de conhecimentos, como expressões artísticas, planos de incidência política e cartografia.

A partir de informações retiradas dos relatos apresentados no Ciclo de debates sobre produção de conhecimentos e memórias em favelas e periferias,  realizado em 2023 por meio do diálogo com atores e lideranças de favelas, foi possível construir um quadro com alguns dos participantes e apresentar brevemente os produtos/resultados de suas produções de conhecimento e memórias. Saliento que as organizações e grupos representados aqui possuem diversas outras atuações e produções, mas devido aos limites de espaço do verbete, o foco será nas ações que foram relatadas no ciclo de debates.

Direito à memória e Justiça Racial - IDMJR

Análise do grupo
Território Temas Produção Metodologia Resultados
Baixada Fluminense Violência estatal Boletins sobre diversos temas, como desaparecimentos forçados e perícias policiais Canal de comunicação institucional pelo WhatsApp com os moradores para o recebimento de denúncias Memoriais em grafite

Como forma de recontar o legado da população negra da Baixada Fluminense, a IDMJR lançou o memorial "Hidra do Iguassú", de forma a representar o complexo de quilombos liderado por mulheres que fundaram a região da Baixada Fluminense. O memórial está localizado no Parque Centenario em Duque de Caxias - RJ.

As áreas comandadas pela Hidra de Iguassu fundaram a região da baixada fluminense, que desde sua origem é um território marcado pela resistência e por lutas contra as violações do Estado, durante seus quase 100 anos de existência a Hidra foi configurada como o principal problema de segurança pública para o governo brasileiro devido a dificuldade de captura e subjugação deste aquilombamento.

Por isso, torna-se muito importante recontar a história da resistência por meio dos quilombos, sobretudo a resistência das mulheres negras que defendem cotidianamente a vida dentro dos seus territórios periféricos. Ressalta-se que a fundação do território da Baixada Fluminense foi protagonizada pela intensa luta de resistência dos quilombos que cotidianamente enfrentam o braço armado do Estado e conquistaram sucessivas vitórias.

Alguns dados são importantíssimos para compreendermos a atuação da presença negro-africana, e posteriormente, afro brasileira. Por exemplo, segundo registros populacionais entre 1779 e 1789 a população da região era de 13054 habitantes, dos quais 7122 eram escravos, cerca de 55% da população da região, que posteriormente ficaria conhecida como Baixada Fluminense, era composta por escravizados.[2]

Memorial Hidra Iguassú - @IDMJR

Infelizmente, vinte dias após o laçamento do memórial, o espaço foi vandalizado.

LabJaca

Galeria Providência

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  1. 1,0 1,1 CRUZ, Thaís Gonçalves (2022). Quando os crias (se) contam: a produção de dados alternativos nas favelas cariocas. Rio de Janeiro. Dissertação de mestrado - Instituto de Estudos Sociais e Políticos, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
  2. QUILOMBO HIDRA DE IGUASSÚ: MEMÓRIAS E RESISTÊNCIAS NA LUTA CONTRA AS VIOLAÇÕES DO ESTADO