(Entrevista) Eron Santos - Morro da Providência: mudanças entre as edições
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Eron Santos é mestre de Capoeira, biólogo e zelador da histórica Igreja Nossa Senhora da Penha, localizada no Morro da Providência, Rio de Janeiro. Sua trajetória é marcada pela dedicação à preservação cultural e pela busca de compreensão mais profunda sobre o Morro. Nesta entrevista, Eron compartilha sua visão sobre as transformações urbanas e sociais, sua ligação com a história da igreja e a rica memória oral do morro. | Eron Santos é mestre de Capoeira, biólogo e zelador da histórica Igreja Nossa Senhora da Penha, localizada no Morro da Providência, Rio de Janeiro. Sua trajetória é marcada pela dedicação à preservação cultural e pela busca de compreensão mais profunda sobre o Morro. Nesta entrevista, Eron compartilha sua visão sobre as transformações urbanas e sociais, sua ligação com a história da igreja e a rica memória oral do morro. | ||
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Autoria: [[Lideranças comunitárias e pesquisadores de coletivos de favelas e periferias|Hugo Oliveira]] | |||
[[Arquivo:Mestre Eron Santos.png|miniaturadaimagem|Mestre Eron tocando atabaque em um dia de festividade no morro]] | |||
Sobre | == Sobre == | ||
O Morro | O Morro da Providência é um testemunho vivo das várias etapas da história urbana do Rio de Janeiro. Para Eron, sua história pode ser dividida em três fases: as chácaras, a favelização e as transformações modernas. Ele destaca: | ||
"A Providência e o Livramento passaram por períodos distintos. Primeiro vieram as chácaras, depois os combatentes de Canudos e, mais tarde, o impacto da especulação imobiliária. Sempre foi um espaço de resistência." | ''"A Providência e o Livramento passaram por períodos distintos. Primeiro vieram as chácaras, depois os combatentes de Canudos e, mais tarde, o impacto da especulação imobiliária. Sempre foi um espaço de resistência."'' | ||
O morro, construído por mãos escravizadas e migrantes nordestinos, tem raízes profundas na luta pela sobrevivência em um ambiente adverso. Eron ressalta: | O morro, construído por mãos escravizadas e migrantes nordestinos, tem raízes profundas na luta pela sobrevivência em um ambiente adverso. Eron ressalta: | ||
"As chácaras foram sendo fragmentadas e vendidas. Os pretos ocuparam áreas como as pedreiras, lugares que ninguém queria. Morar lá era uma resistência." | ''"As chácaras foram sendo fragmentadas e vendidas. Os pretos ocuparam áreas como as pedreiras, lugares que ninguém queria. Morar lá era uma resistência."'' | ||
Religião e Patrimônio Cultural | === Religião e Patrimônio Cultural === | ||
A Igreja Nossa Senhora da Penha, zelada por Eron, é mais do que um lugar de culto; é um símbolo da comunidade. Ele explica que, no passado, os registros religiosos tinham função fundamental: | A Igreja Nossa Senhora da Penha, zelada por Eron, é mais do que um lugar de culto; é um símbolo da comunidade. Ele explica que, no passado, os registros religiosos tinham função fundamental: | ||
"Naquela época, não havia cartório. O batismo era praticamente o registro de nascimento. A igreja era o centro da vida comunitária." | ''"Naquela época, não havia cartório. O batismo era praticamente o registro de nascimento. A igreja era o centro da vida comunitária."'' | ||
Eron também comenta sobre o potencial de novas descobertas históricas ligadas à igreja: | Eron também comenta sobre o potencial de novas descobertas históricas ligadas à igreja: | ||
Capoeira e Cultura Afro-Brasileira | ''"Para quem busca mais informações sobre a Providência, recomendo investigar na Igreja de Santa Rita, porque ela tinha conexões diretas com nossa capela."'' | ||
=== Capoeira e Cultura Afro-Brasileira === | |||
A capoeira, um elemento central da cultura afro-brasileira, também faz parte do legado do Livramento. Eron enfatiza o papel dos capoeiristas como agentes de resistência: | A capoeira, um elemento central da cultura afro-brasileira, também faz parte do legado do Livramento. Eron enfatiza o papel dos capoeiristas como agentes de resistência: | ||
"Os capoeiristas eram os 'malandros' das ruas, ligados às maltas e, muitas vezes, independentes. A capoeira carioca nasceu nesse contexto de luta e sobrevivência." | |||
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Ele também menciona figuras históricas importantes, como Manduca da Praia: | Ele também menciona figuras históricas importantes, como Manduca da Praia: | ||
''"Manduca era comerciante e valentão, nascido na Pequena África. Ele carregava a capoeira carioca no sangue."'' | |||
"Dizem que era o espírito de um escravo arrastando correntes pelos becos. A Pisada dele ecoava no morro, marcando sua presença na história." | === Narrativas de Resistência e Identidade === | ||
O Morro da Providência é repleto de histórias e lendas que reforçam sua identidade única. Eron conta sobre mitos locais, como o "Pé de Ferro": | |||
''"Dizem que era o espírito de um escravo arrastando correntes pelos becos. A Pisada dele ecoava no morro, marcando sua presença na história."'' | |||
Essas narrativas, segundo Eron, conectam o passado ao presente: | Essas narrativas, segundo Eron, conectam o passado ao presente: | ||
Desafios e Propostas para o Futuro | ''"Na ausência de luz elétrica, as pessoas se reuniam ao redor de fogueiras para contar histórias. Era assim que a memória era preservada."'' | ||
=== Desafios e Propostas para o Futuro === | |||
Apesar de sua importância histórica, o Livramento e a Providência ainda enfrentam desafios relacionados à invisibilidade e à falta de apoio. Eron acredita no poder das iniciativas comunitárias para mudar esse cenário: | Apesar de sua importância histórica, o Livramento e a Providência ainda enfrentam desafios relacionados à invisibilidade e à falta de apoio. Eron acredita no poder das iniciativas comunitárias para mudar esse cenário: | ||
Ele também defende a criação de espaços culturais para preservar e promover a memória local: | ''"Tudo de bom foi desvinculado do morro. Precisamos resgatar essa autoestima e mostrar que a Providência tem identidade e valor."'' | ||
"Sonho com um museu que conte a verdadeira história da Providência. Um espaço feito pela e para a comunidade." | |||
Ele também defende a criação de espaços culturais para preservar e promover a memória local: | |||
''"Sonho com um museu que conte a verdadeira história da Providência. Um espaço feito pela e para a comunidade."'' | |||
A história do Morro da Providência, de suas igrejas e de sua gente é, como Eron coloca, uma história de resistência. Ao resgatar essas memórias, ele reforça a conexão entre passado e presente, lembrando que o futuro do morro depende de reconhecer e valorizar suas raízes. Como ele destaca: | |||
''"Providência e Livramento já tiveram sua glória. Agora é hora de nós, moradores, mostrarmos que somos mais do que sobreviventes. Somos construtores de uma história que merece ser contada."'' | |||
== Veja também == | |||
* [[Museu a céu aberto do Morro da Providência]] | |||
* [[Linha do tempo do Morro da Providência]] | |||
* [[Relíquias da Provi]] | |||
* [[Morro da Providência - Práticas Artísticas e Culturais]] | |||
[[Categoria:Depoimentos]] | |||
[[Categoria:Morro da Providência]] | |||
[[Categoria:Memórias]] | |||
[[Categoria:Rio de janeiro]] | |||
[[Categoria:Capoiera]] |
Edição atual tal como às 08h14min de 5 de dezembro de 2024
Eron Santos é mestre de Capoeira, biólogo e zelador da histórica Igreja Nossa Senhora da Penha, localizada no Morro da Providência, Rio de Janeiro. Sua trajetória é marcada pela dedicação à preservação cultural e pela busca de compreensão mais profunda sobre o Morro. Nesta entrevista, Eron compartilha sua visão sobre as transformações urbanas e sociais, sua ligação com a história da igreja e a rica memória oral do morro.
Esse verbete faz parte do Painel Morro da Providência - Da Providência a Favela.
Autoria: Hugo Oliveira
Sobre[editar | editar código-fonte]
O Morro da Providência é um testemunho vivo das várias etapas da história urbana do Rio de Janeiro. Para Eron, sua história pode ser dividida em três fases: as chácaras, a favelização e as transformações modernas. Ele destaca:
"A Providência e o Livramento passaram por períodos distintos. Primeiro vieram as chácaras, depois os combatentes de Canudos e, mais tarde, o impacto da especulação imobiliária. Sempre foi um espaço de resistência."
O morro, construído por mãos escravizadas e migrantes nordestinos, tem raízes profundas na luta pela sobrevivência em um ambiente adverso. Eron ressalta:
"As chácaras foram sendo fragmentadas e vendidas. Os pretos ocuparam áreas como as pedreiras, lugares que ninguém queria. Morar lá era uma resistência."
Religião e Patrimônio Cultural[editar | editar código-fonte]
A Igreja Nossa Senhora da Penha, zelada por Eron, é mais do que um lugar de culto; é um símbolo da comunidade. Ele explica que, no passado, os registros religiosos tinham função fundamental:
"Naquela época, não havia cartório. O batismo era praticamente o registro de nascimento. A igreja era o centro da vida comunitária."
Eron também comenta sobre o potencial de novas descobertas históricas ligadas à igreja:
"Para quem busca mais informações sobre a Providência, recomendo investigar na Igreja de Santa Rita, porque ela tinha conexões diretas com nossa capela."
Capoeira e Cultura Afro-Brasileira[editar | editar código-fonte]
A capoeira, um elemento central da cultura afro-brasileira, também faz parte do legado do Livramento. Eron enfatiza o papel dos capoeiristas como agentes de resistência:
"Os capoeiristas eram os 'malandros' das ruas, ligados às maltas e, muitas vezes, independentes. A capoeira carioca nasceu nesse contexto de luta e sobrevivência."
Ele também menciona figuras históricas importantes, como Manduca da Praia:
"Manduca era comerciante e valentão, nascido na Pequena África. Ele carregava a capoeira carioca no sangue."
Narrativas de Resistência e Identidade[editar | editar código-fonte]
O Morro da Providência é repleto de histórias e lendas que reforçam sua identidade única. Eron conta sobre mitos locais, como o "Pé de Ferro":
"Dizem que era o espírito de um escravo arrastando correntes pelos becos. A Pisada dele ecoava no morro, marcando sua presença na história."
Essas narrativas, segundo Eron, conectam o passado ao presente:
"Na ausência de luz elétrica, as pessoas se reuniam ao redor de fogueiras para contar histórias. Era assim que a memória era preservada."
Desafios e Propostas para o Futuro[editar | editar código-fonte]
Apesar de sua importância histórica, o Livramento e a Providência ainda enfrentam desafios relacionados à invisibilidade e à falta de apoio. Eron acredita no poder das iniciativas comunitárias para mudar esse cenário:
"Tudo de bom foi desvinculado do morro. Precisamos resgatar essa autoestima e mostrar que a Providência tem identidade e valor."
Ele também defende a criação de espaços culturais para preservar e promover a memória local:
"Sonho com um museu que conte a verdadeira história da Providência. Um espaço feito pela e para a comunidade."
A história do Morro da Providência, de suas igrejas e de sua gente é, como Eron coloca, uma história de resistência. Ao resgatar essas memórias, ele reforça a conexão entre passado e presente, lembrando que o futuro do morro depende de reconhecer e valorizar suas raízes. Como ele destaca:
"Providência e Livramento já tiveram sua glória. Agora é hora de nós, moradores, mostrarmos que somos mais do que sobreviventes. Somos construtores de uma história que merece ser contada."