Chácara do Céu: mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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Edição das 16h34min de 13 de abril de 2020

Os caminhos da Chácara do Céu estiveram, durante muitos anos, entrelaçados às histórias do Borel. Localizada no alto do morro onde está situada essa comunidade, a Chácara do Céu conta atualmente com cerca de 1.421 habitantes, e sua ocupação cresceu principalmente a partir da década de 1970. Moradoras e moradores mais antigos contam que a comunidade, que é cercada por vários morros, possuía uma das vistas mais bonitas da cidade e sempre foi alvo de especuladores imobiliários, que queriam o espaço para a construção de um hotel.

O nome Chácara do Céu vem ainda das primeiras décadas do século XX, quando imigrantes vieram em busca de trabalho e de uma vida melhor. Na parte mais alta do morro, morava um senhor português, João de Souza, mais conhecido como Zé do Bode. Contam que ele tinha uma grande horta, com muitos legumes e verduras, além de criação de porcos, bodes e até cavalos. Segundo os membros mais antigos da comunidade, quando vinham comprar os seus produtos, as pessoas diziam: “Aqui parece uma chácara do céu”. Essa comparação acabou nomeando a comunidade.

Outra história contada é a do “Profeta”, uma figura pitoresca da comunidade. Dizem que vestia roupas brancas e tinha sempre os cabelos presos e um boné na cabeça. Ele era chamado de Profeta porque vivia sozinho e sempre lia a Bíblia para moradores e moradoras e discutia o texto em seguida. Além da religião, ele também se ocupava dos temas da política, exercendo um verdadeiro fascínio sobre a população local. Segundo contam, um dia ele ganhou na loteria e foi embora para o Nordeste.

Personagens

Cícero dos Santos

Nascido em Campina Grande, cidade da Paraíba, veio para o Rio de Janeiro em busca de trabalho. Ao chegar em 1969, foi morar na Chácara do Céu. Ele nos conta que, quando chegou à Chácara do Céu, havia cerca de dez casas, e o resto do morro era só mato. Lembra-se de que só existiam alguns poços d’água, mas muitos deles com água salobra, que não servia para beber. Para conseguir água que pudesse ser usada, era preciso descer até a ladeira, já na mata do Borel. Segundo ele, as pessoas chegavam de madrugada com seus vasilhames e formavam uma fila enorme. Havia gente que chegava às seis horas da manhã e só saia de lá depois do meio-dia.

Esse problema só foi resolvido na segunda gestão da associação de moradores(as), a partir de 1975, quando as pessoas se organizaram, pressionaram a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae). E o sr. Cícero participou ativamente dessa luta e sempre encabeçava as passeatas. Nessa ocasião, seu Cícero representava a Chácara do Céu na Associação de Moradores do Borel. Ele participou ativamente do mutirão que trouxe água da mata para dentro da comunidade, que teve que percorrer cerca de três quilômetros. Seu Cícero também se lembra de que, em dias de chuva, a Chácara do Céu ficava totalmente sem comunicação, em virtude do difícil acesso, e muitas vezes teve que ajudar pessoas doentes que precisavam descer acamadas ou em cadeiras, pois nenhum veículo conseguia chegar ao local.

Morro do Borel

Professor Olinto