(Entrevista) Eron Santos - Morro da Providência: mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
(Inclusão de arquivos)
Sem resumo de edição
 
(4 revisões intermediárias pelo mesmo usuário não estão sendo mostradas)
Linha 2: Linha 2:
   
   
Eron Santos é mestre de Capoeira, biólogo e zelador da histórica Igreja Nossa Senhora da Penha, localizada no Morro da Providência, Rio de Janeiro. Sua trajetória é marcada pela dedicação à preservação cultural e pela busca de compreensão mais profunda sobre o Morro. Nesta entrevista, Eron compartilha sua visão sobre as transformações urbanas e sociais, sua ligação com a história da igreja e a rica memória oral do morro.
Eron Santos é mestre de Capoeira, biólogo e zelador da histórica Igreja Nossa Senhora da Penha, localizada no Morro da Providência, Rio de Janeiro. Sua trajetória é marcada pela dedicação à preservação cultural e pela busca de compreensão mais profunda sobre o Morro. Nesta entrevista, Eron compartilha sua visão sobre as transformações urbanas e sociais, sua ligação com a história da igreja e a rica memória oral do morro.
Esse verbete faz parte do [[Painel Morro da Providência - Da Providência a Favela#Ver%20tamb%C3%A9m|Painel Morro da Providência - Da Providência a Favela.]]
  Autoria:  [[Lideranças comunitárias e pesquisadores de coletivos de favelas e periferias|Hugo Oliveira]]
  Autoria:  [[Lideranças comunitárias e pesquisadores de coletivos de favelas e periferias|Hugo Oliveira]]
[[Arquivo:Mestre Eron Santos.png|miniaturadaimagem|Mestre Eron tocando atabaque em um dia de festividade no morro]]
[[Arquivo:Mestre Eron Santos.png|miniaturadaimagem|Mestre Eron tocando atabaque em um dia de festividade no morro]]
Linha 8: Linha 10:
O Morro da Providência é um testemunho vivo das várias etapas da história urbana do Rio de Janeiro. Para Eron, sua história pode ser dividida em três fases: as chácaras, a favelização e as transformações modernas. Ele destaca:   
O Morro da Providência é um testemunho vivo das várias etapas da história urbana do Rio de Janeiro. Para Eron, sua história pode ser dividida em três fases: as chácaras, a favelização e as transformações modernas. Ele destaca:   


"A Providência e o Livramento passaram por períodos distintos. Primeiro vieram as chácaras, depois os combatentes de Canudos e, mais tarde, o impacto da especulação imobiliária. Sempre foi um espaço de resistência."   
''"A Providência e o Livramento passaram por períodos distintos. Primeiro vieram as chácaras, depois os combatentes de Canudos e, mais tarde, o impacto da especulação imobiliária. Sempre foi um espaço de resistência."''  


O morro, construído por mãos escravizadas e migrantes nordestinos, tem raízes profundas na luta pela sobrevivência em um ambiente adverso. Eron ressalta:   
O morro, construído por mãos escravizadas e migrantes nordestinos, tem raízes profundas na luta pela sobrevivência em um ambiente adverso. Eron ressalta:   


"As chácaras foram sendo fragmentadas e vendidas. Os pretos ocuparam áreas como as pedreiras, lugares que ninguém queria. Morar lá era uma resistência."
''"As chácaras foram sendo fragmentadas e vendidas. Os pretos ocuparam áreas como as pedreiras, lugares que ninguém queria. Morar lá era uma resistência."''


Religião e Patrimônio Cultural   
=== Religião e Patrimônio Cultural  ===
A Igreja Nossa Senhora da Penha, zelada por Eron, é mais do que um lugar de culto; é um símbolo da comunidade. Ele explica que, no passado, os registros religiosos tinham função fundamental:   
A Igreja Nossa Senhora da Penha, zelada por Eron, é mais do que um lugar de culto; é um símbolo da comunidade. Ele explica que, no passado, os registros religiosos tinham função fundamental:   


"Naquela época, não havia cartório. O batismo era praticamente o registro de nascimento. A igreja era o centro da vida comunitária."
''"Naquela época, não havia cartório. O batismo era praticamente o registro de nascimento. A igreja era o centro da vida comunitária."''


Eron também comenta sobre o potencial de novas descobertas históricas ligadas à igreja:   
Eron também comenta sobre o potencial de novas descobertas históricas ligadas à igreja:   
"Para quem busca mais informações sobre o Livramento, recomendo investigar na Igreja de Santa Rita, porque ela tinha conexões diretas com nossa capela."


Capoeira e Cultura Afro-Brasileira   
''"Para quem busca mais informações sobre a Providência, recomendo investigar na Igreja de Santa Rita, porque ela tinha conexões diretas com nossa capela."''
 
=== Capoeira e Cultura Afro-Brasileira  ===
A capoeira, um elemento central da cultura afro-brasileira, também faz parte do legado do Livramento. Eron enfatiza o papel dos capoeiristas como agentes de resistência:   
A capoeira, um elemento central da cultura afro-brasileira, também faz parte do legado do Livramento. Eron enfatiza o papel dos capoeiristas como agentes de resistência:   
"Os capoeiristas eram os 'malandros' das ruas, ligados às maltas e, muitas vezes, independentes. A capoeira carioca nasceu nesse contexto de luta e sobrevivência."
 
''"Os capoeiristas eram os 'malandros' das ruas, ligados às maltas e, muitas vezes, independentes. A capoeira carioca nasceu nesse contexto de luta e sobrevivência."''


Ele também menciona figuras históricas importantes, como Manduca da Praia:   
Ele também menciona figuras históricas importantes, como Manduca da Praia:   
"Manduca era comerciante e valentão, nascido na Pequena África. Ele carregava a capoeira carioca no sangue."


Narrativas de Resistência e Identidade 
''"Manduca era comerciante e valentão, nascido na Pequena África. Ele carregava a capoeira carioca no sangue."''
O Morro do Livramento é repleto de histórias e lendas que reforçam sua identidade única. Eron conta sobre mitos locais, como o "Pé de Ferro"


"Dizem que era o espírito de um escravo arrastando correntes pelos becos. A Pisada dele ecoava no morro, marcando sua presença na história."   
=== Narrativas de Resistência e Identidade  ===
O Morro da Providência é repleto de histórias e lendas que reforçam sua identidade única. Eron conta sobre mitos locais, como o "Pé de Ferro": 
 
''"Dizem que era o espírito de um escravo arrastando correntes pelos becos. A Pisada dele ecoava no morro, marcando sua presença na história."''  


Essas narrativas, segundo Eron, conectam o passado ao presente:   
Essas narrativas, segundo Eron, conectam o passado ao presente:   
> "Na ausência de luz elétrica, as pessoas se reuniam ao redor de fogueiras para contar histórias. Era assim que a memória era preservada."


Desafios e Propostas para o Futuro   
''"Na ausência de luz elétrica, as pessoas se reuniam ao redor de fogueiras para contar histórias. Era assim que a memória era preservada."''
 
=== Desafios e Propostas para o Futuro  ===
Apesar de sua importância histórica, o Livramento e a Providência ainda enfrentam desafios relacionados à invisibilidade e à falta de apoio. Eron acredita no poder das iniciativas comunitárias para mudar esse cenário:   
Apesar de sua importância histórica, o Livramento e a Providência ainda enfrentam desafios relacionados à invisibilidade e à falta de apoio. Eron acredita no poder das iniciativas comunitárias para mudar esse cenário:   
"Tudo de bom foi desvinculado do morro. Precisamos resgatar essa autoestima e mostrar que a Providência tem identidade e valor."


Ele também defende a criação de espaços culturais para preservar e promover a memória local:
''"Tudo de bom foi desvinculado do morro. Precisamos resgatar essa autoestima e mostrar que a Providência tem identidade e valor."''
"Sonho com um museu que conte a verdadeira história da Providência. Um espaço feito pela e para a comunidade."   
 
Ele também defende a criação de espaços culturais para preservar e promover a memória local:  
 
''"Sonho com um museu que conte a verdadeira história da Providência. Um espaço feito pela e para a comunidade."''  
 
A história do Morro da Providência, de suas igrejas e de sua gente é, como Eron coloca, uma história de resistência. Ao resgatar essas memórias, ele reforça a conexão entre passado e presente, lembrando que o futuro do morro depende de reconhecer e valorizar suas raízes. Como ele destaca: 
 
''"Providência e Livramento já tiveram sua glória. Agora é hora de nós, moradores, mostrarmos que somos mais do que sobreviventes. Somos construtores de uma história que merece ser contada."''
 
== Veja também ==


A história do Morro do Livramento, de suas igrejas e de sua gente é, como Eron Santos coloca, uma história de resistência e reexistência. Ao trazer luz a essa memória, ele reforça a conexão entre passado e presente, lembrando que o futuro do morro depende de reconhecer e valorizar suas raízes. Como ele destaca: 
* [[Museu a céu aberto do Morro da Providência]]
* [[Linha do tempo do Morro da Providência]]
* [[Relíquias da Provi]]
* [[Morro da Providência - Práticas Artísticas e Culturais]]


"Providência e Livramento já tiveram sua glória. Agora é hora de nós, moradores, mostrarmos que somos mais do que sobreviventes. Somos construtores de uma história que merece ser contada."
[[Categoria:Depoimentos]]
[[Categoria:Morro da Providência]]
[[Categoria:Memórias]]
[[Categoria:Rio de janeiro]]
[[Categoria:Capoiera]]

Edição atual tal como às 08h14min de 5 de dezembro de 2024


Eron Santos é mestre de Capoeira, biólogo e zelador da histórica Igreja Nossa Senhora da Penha, localizada no Morro da Providência, Rio de Janeiro. Sua trajetória é marcada pela dedicação à preservação cultural e pela busca de compreensão mais profunda sobre o Morro. Nesta entrevista, Eron compartilha sua visão sobre as transformações urbanas e sociais, sua ligação com a história da igreja e a rica memória oral do morro.

Esse verbete faz parte do Painel Morro da Providência - Da Providência a Favela.

Autoria:  Hugo Oliveira
Mestre Eron tocando atabaque em um dia de festividade no morro

Sobre[editar | editar código-fonte]

O Morro da Providência é um testemunho vivo das várias etapas da história urbana do Rio de Janeiro. Para Eron, sua história pode ser dividida em três fases: as chácaras, a favelização e as transformações modernas. Ele destaca:

"A Providência e o Livramento passaram por períodos distintos. Primeiro vieram as chácaras, depois os combatentes de Canudos e, mais tarde, o impacto da especulação imobiliária. Sempre foi um espaço de resistência."

O morro, construído por mãos escravizadas e migrantes nordestinos, tem raízes profundas na luta pela sobrevivência em um ambiente adverso. Eron ressalta:

"As chácaras foram sendo fragmentadas e vendidas. Os pretos ocuparam áreas como as pedreiras, lugares que ninguém queria. Morar lá era uma resistência."

Religião e Patrimônio Cultural[editar | editar código-fonte]

A Igreja Nossa Senhora da Penha, zelada por Eron, é mais do que um lugar de culto; é um símbolo da comunidade. Ele explica que, no passado, os registros religiosos tinham função fundamental:

"Naquela época, não havia cartório. O batismo era praticamente o registro de nascimento. A igreja era o centro da vida comunitária."

Eron também comenta sobre o potencial de novas descobertas históricas ligadas à igreja:

"Para quem busca mais informações sobre a Providência, recomendo investigar na Igreja de Santa Rita, porque ela tinha conexões diretas com nossa capela."

Capoeira e Cultura Afro-Brasileira[editar | editar código-fonte]

A capoeira, um elemento central da cultura afro-brasileira, também faz parte do legado do Livramento. Eron enfatiza o papel dos capoeiristas como agentes de resistência:

"Os capoeiristas eram os 'malandros' das ruas, ligados às maltas e, muitas vezes, independentes. A capoeira carioca nasceu nesse contexto de luta e sobrevivência."

Ele também menciona figuras históricas importantes, como Manduca da Praia:

"Manduca era comerciante e valentão, nascido na Pequena África. Ele carregava a capoeira carioca no sangue."

Narrativas de Resistência e Identidade[editar | editar código-fonte]

O Morro da Providência é repleto de histórias e lendas que reforçam sua identidade única. Eron conta sobre mitos locais, como o "Pé de Ferro":

"Dizem que era o espírito de um escravo arrastando correntes pelos becos. A Pisada dele ecoava no morro, marcando sua presença na história."

Essas narrativas, segundo Eron, conectam o passado ao presente:

"Na ausência de luz elétrica, as pessoas se reuniam ao redor de fogueiras para contar histórias. Era assim que a memória era preservada."

Desafios e Propostas para o Futuro[editar | editar código-fonte]

Apesar de sua importância histórica, o Livramento e a Providência ainda enfrentam desafios relacionados à invisibilidade e à falta de apoio. Eron acredita no poder das iniciativas comunitárias para mudar esse cenário:

"Tudo de bom foi desvinculado do morro. Precisamos resgatar essa autoestima e mostrar que a Providência tem identidade e valor."

Ele também defende a criação de espaços culturais para preservar e promover a memória local:

"Sonho com um museu que conte a verdadeira história da Providência. Um espaço feito pela e para a comunidade."

A história do Morro da Providência, de suas igrejas e de sua gente é, como Eron coloca, uma história de resistência. Ao resgatar essas memórias, ele reforça a conexão entre passado e presente, lembrando que o futuro do morro depende de reconhecer e valorizar suas raízes. Como ele destaca:

"Providência e Livramento já tiveram sua glória. Agora é hora de nós, moradores, mostrarmos que somos mais do que sobreviventes. Somos construtores de uma história que merece ser contada."

Veja também[editar | editar código-fonte]