Noemia Caetano (entrevista): mudanças entre as edições
(Criou página com '<p style="text-align: center;">Material de pesquisa do Projeto do Campus Fiocruz da Mata Atlântica em parceria com a Cooperação Social, gentilmente cedido ao ...') |
Sem resumo de edição |
||
Linha 6: | Linha 6: | ||
== Entrevista == | == Entrevista == | ||
& | {{#evu:https://www.youtube.com/watch?v=GuBBVFyYc5o&feature=youtu.be}} | ||
== Transcrição da entrevista == | == Transcrição da entrevista == |
Edição das 02h35min de 10 de junho de 2021
Material de pesquisa do Projeto do Campus Fiocruz da Mata Atlântica em parceria com a Cooperação Social, gentilmente cedido ao Dicionário de Favelas Marielle Franco.
Sobre o projeto
A entrevista faz parte do projeto "Histórias, Memórias e Oralidades da luta social por terra e moradia na região de Jacarepaguá de 1960 a 2016", desenvolvido pelo Campus Fiocruz da Mata Atlântica em parceria com a Cooperação Social. Neste episódio, a conversa é com João Marco, diretor do CPJABA . Ele foi entrevistado no Campus Fiocruz Mata Atlântica, em 2015.
Entrevista
Transcrição da entrevista
Eu fui convidada a participar da FAFER pelo PDT.
Na época, não tinha condições de moradia. Eu entrei para brigar pelos meus direitos e até hoje todo mundo briga por seus direitos: saúde, moradia e cultura. A luta foi muito longa.
Surgiram as comunidades. Tínhamos que brigar com o poder que não entendia que não tínhamos para onde ir. Era uma necessidade.
E eu entrei na federação e no PDT para brigar, 80, pelo Leonel Brizola. Conheci Brizola na Tijuca.
Eu já brigava antes pelos meus direitos. Mas eu era muito nova e precisava de alguém para me orientar. Então o Leonel Brizola me orientou. Mas antes eu já participava da Federação, foi um amadurecimento.
As comunidades cresceram desorganizadamente: porque nós não tínhamos apoio. Hoje se briga, se acusa muito, mas nós, o povão, ficamos jogados por muitos anos. Mas agora é hora de ajudar, apoiar, a organizar.
Porque o povo já vem de um sofrimento passado. Aí juntou ditadura.
Hoje, outros tempos, porque não nos ajudar em saúde, moradia e educação.
É melhor do que fazer sofrimento, porque sofrimento o povo sempre teve.
Porque não aqueles que têm condições se juntar com o povo. Uma alternativa menos sofrida.
É muito fácil retirar. Quem está nas suas mansões não sente dor, quem sente dor é aqueles que lutaram por aquele lugar.
As terras estão jogadas, quando os pobres se apoderam, eles nos tratam como aproveitadores. Mas nós somos sofredores.
Eu fico triste com o que está acontecendo com a habitação. Porque já vem lutando desde nova: habitação, saúde, educação, cultura.
A nossa biblioteca da Cidade ficou jogada, agora é que estão resgatando.
Fui passado, sou presente, e estou construindo o futuro. Porque eu quero as outras gerações abram a pagina da luta de Jacarepaguá e vejam que nós brigamos por eles e eles continuem brigando para um futuro próximo.
Formação - Varias pessoas sentaram comigo, para eu compreender que se eu estava neste meio, não era por acaso. Tudo Deus sabe o que faz. Eu tive conversas com o Barbosa Lima Sobrinho, do Davi Ribeiro e o Betinho. Gostei muito de trabalhar com ele, na Açao da Cidadania. E o Leonel Brizola.
Na época em que começou o projeto de tirar as comunidades, no passado. O Sr. Barbosa conversou comigo. Porque nós queríamos uma reunião na prefeitura. E eles não queriam receber a gente: Cesar Maia.
O Sr. Barbosa conversou que entrar todos em massa na prefeitura, não iria poder. Mas a gente sentar, pensar e usar a inteligência.
Alguns iam para o 5º, o 6º, o 7º e 8º andar. Na hora da reunião todo mundo se encontrava lá. Assim foi feito e nós fomos atendidos. Já que não aceita fazer uma reunião com a comunidade. Nós tivemos que nos informar.
Essa luta de derrubada e moradia era antiga.
A luta por moradia em Jacarepaguá. Uma luta longa, momentos graves: quando tiraram a harmonia, restinga, quando começou a tirar o Recreio, não tinha pra onde ir. E vários.
A retirada não tinha nenhum projeto de moradia. Agora é que tem. Mas por muita luta.
Agora já não pode mais tirar.
Hoje tem mais respeito, porque nós nos fizemos respeitar, porque nós somos trabalhadores. E temos que nos juntar para melhorar.
Porque o povo já sofre com salario, saúde, educação e não vai ter moradia. Se não quiserem nos respeitar, nós é que somos de comunidade temos que nos unir.
E eu vejo que agora estão fazendo mais projetos de moradias. Mas este negócio de aluguel social, eu acho isto besteira.
Tem que sair pra um teto. O povo não fica na rua. Em Harmonia. Eles sofrerem muito.
A comunidade da Harmonia sofreu muito, foi muito triste, foi uma luta muito grande. Processo muito sofrido. E acabou saindo. E lá passa estrada.
A D. Zélia sofreu muito, no Arroio Pavuna. Sofreu muito com muita luta, mas ele teve a vitória.
Por isso eu falo, eu não sou historia, não sou museu, eu estive e estou na luta. Eu trabalho falando da luta com jovens, meu marido é mestre de capoeira. A Zélia neste tempo indo para reuniões. Voltando tarde. Ela foi muito forte.
A gente quando é militante, numa época que eu fiquei muito conhecida, Jacarepaguá e outras comunidades. Mas isto desperta inveja. Mas isto não é vaidade, eu amo o Rio de Janeiro, eu amo o meu país. Tive o privilégio de nascer livre, o Brasil e o que eu poder retribuir, eu vou retribuir.
Tem pessoas que enxergam de outra forma e querem briga. Mas eu nunca tive medo.
A gente sempre tem que mostrar que é forte diante do inimigo. A gente não pode deixar o inimigo nos derrotar. A derrota é o fracasso.
Se as comunidades não forem pra rua brigar pelos seus direitos, quem é que vai brigar? Os que já estão numa boa?
Eu vim para Jacarepaguá, eu vim para o Curicica. Eu morava no Grajaú, eu queria morar na Tijuca. Meu patrão na época, Andreaza. Eu fui empregada domestica na família do ministro Andreaza e família Fernando de Noronha.
O ex-ministro Andreaza me disse que pessoas pobres tinham que morar do alto da Boa Vista até Jacarepaguá, Recreio.
Eu fui morar naquele lado chorando. Por que luz era ruim. Não tinha saneamento.
Eu fui para o Alto da Boa Vista, depois fui pro Itanhangá. Eu vi as favelas surgindo. Cambalacho, Sitio Pai João, que morreu muita gente na época da enchente. Era horrível.
Depois com o tempo foi melhorando. O povo foi se articulando mais. Colocamos luz. Na gestão do Leonel colocamos saneamento básico. E hoje nós não temos mais o direito de ficar nestes lugares que conquistamos.
Eu estive aqui ajudando a comunidade Dois irmãos na Colônia. Eu estava aqui quando o Edson Santos foi preso.
O Brizola era uma pessoa aberta sempre pra escutar. E a gente era ouvido.
Antes os prefeitos recebiam o povo, era tudo por email, mas na hora do voto não é email. O atual, ele vai, ele conversa com o povo.
O que era o trabalho na FAFERJ, antiga FAFERJ, e fizeram uma reunião, e estavam fazendo em projeto. Light para Baixa Renda.
Eu me lembro de uma luta ali onde hoje é o Conjunto Cesar Maia, tinha uma comunidade e o presidente lá era Neir, ele foi musico, falava inglês muito bem. Ele por altos e baixos precisou morar ali, lá pra trás tinha alguns barraquinhos. E o Cesar Maia avisou que ia remover o pessoal de lá porque era um lixão. Até a Laura Carneiro explicou, nós trabalhamos juntos, porque nesta época ela estava na região Administrativa na Freguesia.
Ela explicou que se colocasse fogo, ia ser perigoso por causa do gás. Umas famílias foram para casas de parentes. Outras foram para a Fazenda Modelo, foram chorando. Depois de muitos anos, lá foi construído o Cesar Maia no mesmo lugar.
Teve uma enchente muito forte, muita gente morreu no Sitio Pai João, e no Itanhangá, aí levaram algumas pessoas pra lá e para o Rio das Pedras.
E eu só fico pensando, não é mais perigoso morar neste lugar?
Por enquanto está tranquilo, mas há sempre a ameaça e as pessoas precisam buscar seus direitos.
Vila Autódromo foi mais respeitado do que em Vila Harmonia. Vila Autódromo é mais respeitada. Eles estão na luta. Eles se articulam mais. Eles vão pra audiência pública; para todas as reuniões. Em Vila Harmonia eles chegaram e acabaram com tudo.
Na Taboinha- ali tinha casas onde tem os prédios hoje, ali era barracos, dentro do parque tinha moradias ali dentro.
O Parque Chico Mendes, a presidente na época, a pessoa que trabalha na associação por anos, não enriquece. Atualmente é operada e vive uma vida humilde. Ela dizia pra mim: só quero um teto para morar. Ela ver pessoas sem casa. Ela deixava a pessoa ajeitar seu canto.
Tereza vive uma vida humilde.
E as novas lideranças sem saber que ela existe. Não sabem do trabalho dela ali dentro. Ela sofreu muito, foi muito injustiçada. Chegou a ser espancada ali.
Hoje está Chico Mendes bonito, mas alguém sabe que ela existe?
Perto do Chico Mendes, tinha comunidade ali, hoje é o Parque.
Tem também o Terreirão, que na época não era daquele jeito, mas ainda tem alguns fundadores ali.
Hoje tem a Vila Amizade, ali no Canal das Vargens. Hoje está bonito. Isso foi 1985.
Fora uma pessoa que mora no Recreio, desde o tempo da guerra e diz que é dono do Recreio todo. Aí é que o pobre sofre mais.
Eu morava ali. Ali é que começaram as “derrubadas”.
“Moradia e Saúde” - A moradia e saúde são fundamentais para o ser humano. Mas que poderia ajudar os menos favorecidos neste sentido – não quer que tenha – para ficar sempre na mão deles.
Hoje em dia não tem senzala, mas os escravos livres.
Eles não têm a senzala, mas tem o poder da caneta. Então não faz nada para melhorar – nem moradia nem saúde.
E nem a cultura. Para que eles querem que o povo tenha cultura? Vão ficar esperto.
Eles querem que o povo fique que nem escravos. Eles têm a caneta.
Tem saúde, educação, habitação é fundamental para o ser humano.
Não ter onde morar. Vou dar como exemplo:
Você é criado num orfanato. Completou 18 anos, te jogam numa casa de família para trabalhar. Lá acontecem algumas coisas que não encaixam na sua vida. Pra onde você vai?
É como se fosse um cativeiro.
Ou você enfrenta a coragem de ter um lugar para invadir e morar, ou você tem que se sujeitar as pessoas onde você não está se sentindo bem.
Porque cada caso é um caso. Muita gente que está nas comunidades, ou invadiu uma área, não é porque quer: muita gente é necessidade mesmo.
Fiocruz – como eu vejo o papel da Fiocruz.
Eu vejo assim: vai ser muito bom no futuro, para essas novas gerações tendo uma aula de como foi nossa luta no passado.
É como se fosse uma faculdade – para saber o que é certo e o que é errado.
Porque o mundo esta mudando muito – muitas coisas que a gente não teve chance no passado, a geração nova está tendo agora. E que eles possam ajudar uns aos outros cada vez mais. Então eu vejo isto como um livro para futuras gerações estudarem.
Eu estou muito feliz. Pelo menos um lugar assim se interessou de fazer esse documento com a luta de Jacarepaguá, porque em lugar nenhum nunca se interessaram.
Vocês estão sentando com uma gente que um dia lutou por um dia melhor. Leve isso para os cursos para que possa melhorar. Porque nas faculdades não tem essa orientação. Eu acho que a Fiocruz está de parabéns, de coração.
“O que te move na luta” - É que nós ainda não conquistamos os nossos objetivos direito. Ainda não concluímos. E o que eu puder lutar, eu vou lutar. Até ficar concluído: melhorias para os menos favorecidos.
Apresentação de material:
Jornal de 1994 – jornal da FAFERJ
Certificado de participação na saúde. Secretaria Municipal de Saúde
Certificado de participação da segunda conferencia de Saúde – Gestão Cesar Mais
Certificado de participação do curso sobre reciclagem – Betinho
Foto de entrega de abaixo assinado por saúde e educação em Brasília
Certificado sobre os direitos das enfermeiras
Certificado do Sr. Adib Jateme pela luta da saúde
Certificado primeira conferência distrital de saúde.