Organizações comunitárias combatem a Covid-19: mudanças entre as edições
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==== Organizações de favelas são os principais responsáveis pelo enfrentamento à Covid-19 nesses territórios desde o início da pandemia e, agora, com o crescimento de casos, não está sendo diferente. ==== | |||
O número de casos de Covid-19 voltou a subir no Brasil. Grande parte das infecções está sendo causada pela Ômicron, uma variante mais transmissível, mas que causa quadros menos graves da doença. Essa é uma das razões para que o crescimento no número de óbitos esteja mais lento em relação ao aumento de casos. Outro fator fundamental é o avanço da vacinação no país, que tem, atualmente, quase 70% da população imunizada. Nas favelas do Rio de Janeiro, segundo dados do Painel Unificador Covid-19 nas Favelas*, a mortalidade diminuiu de 6,97% antes de novembro para 1,01% desde então, graças a estes avanços. | |||
Ainda assim, as últimas notícias mostram unidades de saúde lotadas de pessoas relatando sintomas, como dor no corpo e febre. O polo de testagem da Vila Olímpica, no Complexo do Alemão, Zona Norte, por exemplo, realizou 461 atendimentos em apenas um dia no início deste mês. Quase metade—203—testou positivo, de acordo com informações do Jornal ''Voz das Comunidades''. As favelas já somam mais de 125.000 casos e 7.400 óbitos desde julho de 2020. É o que mostra a mais recente atualização do Painel Unificador Covid-19 nas Favelas, em parceria com a Fiocruz e outras 23 organizações comunitárias. | |||
A nova onda de contágio no país se tornou ainda mais preocupante depois do apagão de dados, no dia 10 de dezembro, que afetou as bases públicas de informações do Ministério da Saúde (MS). Após um ataque hacker, plataformas como a Open Data SUS, Painel Coronavírus e Localiza SUS apresentaram instabilidade, o que dificultou a notificação de novos casos e óbitos. Renata Gracie, pesquisadora da Fiocruz, que participa do Painel Unificador Covid-19 nas Favelas, diz que as informações divulgadas no Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde ainda podem ter inconsistências. “As análises estão sendo feitas, mas pode existir um viés [uma imprecisão] de informação, principalmente no que se refere à vacinação”. A inserção de dados nos sistemas públicos já foi restabelecida, no entanto há certa instabilidade e retardo na atualização das informações. | |||
Renata explicou, também, que antes mesmo do apagão alguns sistemas já apresentavam informações incompletas. É o caso do SIVEP-Gripe. Em setembro do ano passado, a Fiocruz publicou uma nota onde expôs a situação. “Os dados de vacinação para Covid-19 nas Unidades da Federação disponíveis nos registros do SIVEP-Gripe apresentam um número substancial de informações incompletas, o que compromete seriamente qualquer análise sobre a efetividade das vacinas”, afirma um trecho do documento. As informações cobradas pela instituição dizem respeito aos dados de vacinação de pessoas hospitalizadas com Covid-19: se o paciente foi vacinado, a data da imunização e o lote das doses. | |||
[[Arquivo:LabJaca.jpg|centro|miniaturadaimagem|Os jovens que fazem parte do LabJaca buscam por dados que dialoguem com a realidade que vivem diariamente. Foto: Luiz Diniz/LabJaca]] | |||
Já com relação à situação real da pandemia nas favelas, o cenário é ainda pior. Os dados referentes a esses territórios não são devidamente contabilizados pelo poder público. Foi para tentar mudar este quadro que surgiram diversas iniciativas. Uma delas é o LabJaca, um laboratório de pesquisa, formação e produção de dados e narrativas sobre as favelas e periferias localizado no Jacarezinho, Zona Norte. O grupo é formado exclusivamente por jovens negros. O objetivo é facilitar o acesso à pesquisa, utilizando como principal meio o audiovisual. Mariana Galdino, co-fundadora, contou sobre o surgimento do coletivo: “A gente surge para trazer a geração cidadã de dados. Assim, nos tornamos sujeitos das nossas agendas, vivências, experiências e das nossas demandas políticas e sociais. Acredito que o nosso trabalho contribui, principalmente, para a veracidade dos fatos. O que é mais importante em uma pandemia se não a informação?”, questiona. | |||
Muitos dados são levantados pelo LabJaca a partir de situações cotidianas. No início da pandemia, o grupo percebeu que as maiores beneficiárias da campanha “Jaca Contra o Corona”''—''que distribuiu cestas básicas na comunidade''—''eram mulheres negras chefes de família que estavam sofrendo com o desemprego e a violência doméstica. Essa constatação motivou a próxima pesquisa que será lançada, que vai mapear os impactos socioeconômicos da pandemia na vida dos moradores do Jacarezinho. “São situações que a gente percebe a partir da nossa realidade prática”, afirma Mariana. Para a realização do estudo, o LabJaca lançou uma campanha de financiamento coletivo, aberta para doações até o dia 31 deste mês. “As pessoas devem doar para a nossa benfeitoria pela defesa das evidências, da ciência”, argumenta Mariana, co-fundadora. | |||
Outro exemplo de organização que segue no enfrentamento à Covid-19 é a Associação de Mulheres de Itaguaí Guerreiras e Articuladoras Sociais (A.M.I.G.A.S), localizada na Baixada Fluminense, que vem notificando os casos da doença através do Painel Unificador Covid-19 nas Favelas. No início da pandemia, não era bem assim. As informações obtidas eram escritas em uma folha de caderno. Mas, agora, depois de quase dois anos de lançamento da plataforma virtual, a contabilização ficou mais fácil. Anna Paula Salles, presidente da Associação, falou sobre a mudança. “O Painel é uma ferramenta tecnológica. Ele funciona como um instrumento que dá voz aos problemas que a gente detecta dentro da comunidade. Tiramos as informações de uma folha de caderno e passamos para uma plataforma”. A líder comunitária ainda contou que após a chegada do Painel decidiu fazer uma especialização em Informação Científica e Tecnológica, na Fiocruz: “foi um divisor de águas em meio ao caos”, declara. | |||
[[Arquivo:Painel Unificador Print.png|centro|miniaturadaimagem]] | |||
O Painel Unificador Covid-19 nas Favelas cobre 71% das favelas do município do Rio de Janeiro. Em todo o Estado, são 355 comunidades até hoje contabilizadas. Até julho deste ano, quando o projeto completar dois anos, esse número deve ser ainda maior. Esse período será, também, um momento de mudanças para o painel. Com a expectativa de uma possível melhora da pandemia nos próximos meses, os coletivos e lideranças que participam já decidiram quais serão os próximos passos. O plano é continuar com o trabalho de pesquisa, mas considerando outros assuntos. Theresa Williamson, diretora executiva da ComCat, revela que a justiça e segurança energética e hídrica nas favelas serão temas centrais de trabalho neste ano. “A partir de março, nós vamos realizar um curso de seis meses treinando 45 lideranças e jovens de 15 favelas na coleta de dados, identificando a importância desses temas nas suas comunidades, quais elementos querem levantar, como analisar e reportar”, explica. | |||
No entanto, enquanto essa nova fase não começa, o Painel continua registrando os casos de Covid-19 sempre que possível, uma vez que, durante o apagão, os dados não foram notificados de maneira adequada. Theresa explica que no início as informações eram buscadas por coletivos de “porta em porta”, mas, com o tempo, os materiais disponibilizados nas plataformas públicas passaram a ser mais utilizados. “Apesar das favelas não serem bem cobertas pelo Estado, a gente conseguiu articular a estratégia de pesquisa baseada na área de influência de CEP”. Theresa se refere a uma técnica utilizada no Painel que foi desenvolvida por Renata Gracie, pesquisadora da Fiocruz. Com ela, os CEPs próximos de cada favela são identificados e, posteriormente, utilizados para a notificação dos casos nesses territórios. Porém, esse trabalho não é feito sem acesso aos dados públicos. | |||
Após o apagão, uma simples análise dos dados do Painel Unificador proporciona uma estimativa de vidas salvas nas favelas graças à vacinação e à variante ser menos intensa, até hoje: são 1.265 moradoras e moradores vivos que teríamos perdido só alguns meses atrás. | |||
[[Arquivo:Painel-Vozes-em-19-de-janeiro-2022-1055x629.png|centro|miniaturadaimagem]] | |||
O ''Voz das Comunidades'' também notifica os casos de Covid-19 através do seu painel “Covid-19 nas Favelas”. O levantamento começou a ser feito em abril de 2020, utilizando dados do Centro de Saúde e Clínicas da Família, da prefeitura e do governo do estado como fontes. Com esse instrumento, o veículo de notícias consegue alertar os moradores de favelas sobre o contexto atual. Essa é mais uma iniciativa de uma organização de favela que surgiu para mostrar a realidade da pandemia nesses territórios, que costumam ficar de fora dos boletins oficiais. Melissa Cannabrava, coordenadora de Comunicação do ''Voz das Comunidades'', explicou o porquê da criação do painel. “[O painel surgiu] por conta das divergências que estávamos encontrando no painel da prefeitura. As comunidades não estavam sendo devidamente mapeadas”. | |||
Para as iniciativas que atuam no levantamento de dados e no apoio às comunidades, os efeitos da pandemia ultrapassam os cuidados com a saúde. A crise sanitária acentuou problemas sociais pré-existentes nesses territórios, além de desencadear outros. O combate à fome se tornou uma bandeira comum às organizações de favela e uma necessidade urgente. Grandes campanhas de arrecadação e entrega de alimentos tiveram como protagonistas os próprios moradores de favelas, organizados em coletivos e frentes de trabalho, como a Frente de Mobilização da Maré, o Jaca Contra o Corona e tantas outras. No final do ano passado, o ''Voz das Comunidades'' distribuiu cestas básicas para famílias moradoras de favelas na décima sexta edição da ação “Por Um Natal Melhor”. Apenas nesta ação foram entregues cerca de 40 toneladas de alimentos. | |||
Sem apoio e o devido reconhecimento da sociedade e das esferas públicas a essas organizações, não é possível manter todas essas frentes de trabalho. O apoio às organizações comunitárias é fundamental para o enfrentamento da Covid-19 nas favelas e periferias diante da insuficiência de ações e políticas públicas concretas para esses territórios. | |||
''Sobre a autora:'' ''Victória Henrique é repórter do Voz das Comunidades e cursa Jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Colaborou com o Notícia Preta, um portal de jornalismo antirracista, e produziu e apresentou um programa de educação no YouTube da Mídia Ninja, além de ter sido colunista do veículo. Dentre os projetos que participou pela UFF, atuou como monitora de fotografia em um centro cultural no Morro da Providência.'' |
Edição das 15h19min de 9 de fevereiro de 2022
Por Victória Henrique, publicado originalmente em Rio On Watch em janeiro de 2022.
Organizações de favelas são os principais responsáveis pelo enfrentamento à Covid-19 nesses territórios desde o início da pandemia e, agora, com o crescimento de casos, não está sendo diferente.
O número de casos de Covid-19 voltou a subir no Brasil. Grande parte das infecções está sendo causada pela Ômicron, uma variante mais transmissível, mas que causa quadros menos graves da doença. Essa é uma das razões para que o crescimento no número de óbitos esteja mais lento em relação ao aumento de casos. Outro fator fundamental é o avanço da vacinação no país, que tem, atualmente, quase 70% da população imunizada. Nas favelas do Rio de Janeiro, segundo dados do Painel Unificador Covid-19 nas Favelas*, a mortalidade diminuiu de 6,97% antes de novembro para 1,01% desde então, graças a estes avanços.
Ainda assim, as últimas notícias mostram unidades de saúde lotadas de pessoas relatando sintomas, como dor no corpo e febre. O polo de testagem da Vila Olímpica, no Complexo do Alemão, Zona Norte, por exemplo, realizou 461 atendimentos em apenas um dia no início deste mês. Quase metade—203—testou positivo, de acordo com informações do Jornal Voz das Comunidades. As favelas já somam mais de 125.000 casos e 7.400 óbitos desde julho de 2020. É o que mostra a mais recente atualização do Painel Unificador Covid-19 nas Favelas, em parceria com a Fiocruz e outras 23 organizações comunitárias.
A nova onda de contágio no país se tornou ainda mais preocupante depois do apagão de dados, no dia 10 de dezembro, que afetou as bases públicas de informações do Ministério da Saúde (MS). Após um ataque hacker, plataformas como a Open Data SUS, Painel Coronavírus e Localiza SUS apresentaram instabilidade, o que dificultou a notificação de novos casos e óbitos. Renata Gracie, pesquisadora da Fiocruz, que participa do Painel Unificador Covid-19 nas Favelas, diz que as informações divulgadas no Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde ainda podem ter inconsistências. “As análises estão sendo feitas, mas pode existir um viés [uma imprecisão] de informação, principalmente no que se refere à vacinação”. A inserção de dados nos sistemas públicos já foi restabelecida, no entanto há certa instabilidade e retardo na atualização das informações.
Renata explicou, também, que antes mesmo do apagão alguns sistemas já apresentavam informações incompletas. É o caso do SIVEP-Gripe. Em setembro do ano passado, a Fiocruz publicou uma nota onde expôs a situação. “Os dados de vacinação para Covid-19 nas Unidades da Federação disponíveis nos registros do SIVEP-Gripe apresentam um número substancial de informações incompletas, o que compromete seriamente qualquer análise sobre a efetividade das vacinas”, afirma um trecho do documento. As informações cobradas pela instituição dizem respeito aos dados de vacinação de pessoas hospitalizadas com Covid-19: se o paciente foi vacinado, a data da imunização e o lote das doses.
Já com relação à situação real da pandemia nas favelas, o cenário é ainda pior. Os dados referentes a esses territórios não são devidamente contabilizados pelo poder público. Foi para tentar mudar este quadro que surgiram diversas iniciativas. Uma delas é o LabJaca, um laboratório de pesquisa, formação e produção de dados e narrativas sobre as favelas e periferias localizado no Jacarezinho, Zona Norte. O grupo é formado exclusivamente por jovens negros. O objetivo é facilitar o acesso à pesquisa, utilizando como principal meio o audiovisual. Mariana Galdino, co-fundadora, contou sobre o surgimento do coletivo: “A gente surge para trazer a geração cidadã de dados. Assim, nos tornamos sujeitos das nossas agendas, vivências, experiências e das nossas demandas políticas e sociais. Acredito que o nosso trabalho contribui, principalmente, para a veracidade dos fatos. O que é mais importante em uma pandemia se não a informação?”, questiona.
Muitos dados são levantados pelo LabJaca a partir de situações cotidianas. No início da pandemia, o grupo percebeu que as maiores beneficiárias da campanha “Jaca Contra o Corona”—que distribuiu cestas básicas na comunidade—eram mulheres negras chefes de família que estavam sofrendo com o desemprego e a violência doméstica. Essa constatação motivou a próxima pesquisa que será lançada, que vai mapear os impactos socioeconômicos da pandemia na vida dos moradores do Jacarezinho. “São situações que a gente percebe a partir da nossa realidade prática”, afirma Mariana. Para a realização do estudo, o LabJaca lançou uma campanha de financiamento coletivo, aberta para doações até o dia 31 deste mês. “As pessoas devem doar para a nossa benfeitoria pela defesa das evidências, da ciência”, argumenta Mariana, co-fundadora.
Outro exemplo de organização que segue no enfrentamento à Covid-19 é a Associação de Mulheres de Itaguaí Guerreiras e Articuladoras Sociais (A.M.I.G.A.S), localizada na Baixada Fluminense, que vem notificando os casos da doença através do Painel Unificador Covid-19 nas Favelas. No início da pandemia, não era bem assim. As informações obtidas eram escritas em uma folha de caderno. Mas, agora, depois de quase dois anos de lançamento da plataforma virtual, a contabilização ficou mais fácil. Anna Paula Salles, presidente da Associação, falou sobre a mudança. “O Painel é uma ferramenta tecnológica. Ele funciona como um instrumento que dá voz aos problemas que a gente detecta dentro da comunidade. Tiramos as informações de uma folha de caderno e passamos para uma plataforma”. A líder comunitária ainda contou que após a chegada do Painel decidiu fazer uma especialização em Informação Científica e Tecnológica, na Fiocruz: “foi um divisor de águas em meio ao caos”, declara.
O Painel Unificador Covid-19 nas Favelas cobre 71% das favelas do município do Rio de Janeiro. Em todo o Estado, são 355 comunidades até hoje contabilizadas. Até julho deste ano, quando o projeto completar dois anos, esse número deve ser ainda maior. Esse período será, também, um momento de mudanças para o painel. Com a expectativa de uma possível melhora da pandemia nos próximos meses, os coletivos e lideranças que participam já decidiram quais serão os próximos passos. O plano é continuar com o trabalho de pesquisa, mas considerando outros assuntos. Theresa Williamson, diretora executiva da ComCat, revela que a justiça e segurança energética e hídrica nas favelas serão temas centrais de trabalho neste ano. “A partir de março, nós vamos realizar um curso de seis meses treinando 45 lideranças e jovens de 15 favelas na coleta de dados, identificando a importância desses temas nas suas comunidades, quais elementos querem levantar, como analisar e reportar”, explica.
No entanto, enquanto essa nova fase não começa, o Painel continua registrando os casos de Covid-19 sempre que possível, uma vez que, durante o apagão, os dados não foram notificados de maneira adequada. Theresa explica que no início as informações eram buscadas por coletivos de “porta em porta”, mas, com o tempo, os materiais disponibilizados nas plataformas públicas passaram a ser mais utilizados. “Apesar das favelas não serem bem cobertas pelo Estado, a gente conseguiu articular a estratégia de pesquisa baseada na área de influência de CEP”. Theresa se refere a uma técnica utilizada no Painel que foi desenvolvida por Renata Gracie, pesquisadora da Fiocruz. Com ela, os CEPs próximos de cada favela são identificados e, posteriormente, utilizados para a notificação dos casos nesses territórios. Porém, esse trabalho não é feito sem acesso aos dados públicos.
Após o apagão, uma simples análise dos dados do Painel Unificador proporciona uma estimativa de vidas salvas nas favelas graças à vacinação e à variante ser menos intensa, até hoje: são 1.265 moradoras e moradores vivos que teríamos perdido só alguns meses atrás.
O Voz das Comunidades também notifica os casos de Covid-19 através do seu painel “Covid-19 nas Favelas”. O levantamento começou a ser feito em abril de 2020, utilizando dados do Centro de Saúde e Clínicas da Família, da prefeitura e do governo do estado como fontes. Com esse instrumento, o veículo de notícias consegue alertar os moradores de favelas sobre o contexto atual. Essa é mais uma iniciativa de uma organização de favela que surgiu para mostrar a realidade da pandemia nesses territórios, que costumam ficar de fora dos boletins oficiais. Melissa Cannabrava, coordenadora de Comunicação do Voz das Comunidades, explicou o porquê da criação do painel. “[O painel surgiu] por conta das divergências que estávamos encontrando no painel da prefeitura. As comunidades não estavam sendo devidamente mapeadas”.
Para as iniciativas que atuam no levantamento de dados e no apoio às comunidades, os efeitos da pandemia ultrapassam os cuidados com a saúde. A crise sanitária acentuou problemas sociais pré-existentes nesses territórios, além de desencadear outros. O combate à fome se tornou uma bandeira comum às organizações de favela e uma necessidade urgente. Grandes campanhas de arrecadação e entrega de alimentos tiveram como protagonistas os próprios moradores de favelas, organizados em coletivos e frentes de trabalho, como a Frente de Mobilização da Maré, o Jaca Contra o Corona e tantas outras. No final do ano passado, o Voz das Comunidades distribuiu cestas básicas para famílias moradoras de favelas na décima sexta edição da ação “Por Um Natal Melhor”. Apenas nesta ação foram entregues cerca de 40 toneladas de alimentos.
Sem apoio e o devido reconhecimento da sociedade e das esferas públicas a essas organizações, não é possível manter todas essas frentes de trabalho. O apoio às organizações comunitárias é fundamental para o enfrentamento da Covid-19 nas favelas e periferias diante da insuficiência de ações e políticas públicas concretas para esses territórios.
Sobre a autora: Victória Henrique é repórter do Voz das Comunidades e cursa Jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Colaborou com o Notícia Preta, um portal de jornalismo antirracista, e produziu e apresentou um programa de educação no YouTube da Mídia Ninja, além de ter sido colunista do veículo. Dentre os projetos que participou pela UFF, atuou como monitora de fotografia em um centro cultural no Morro da Providência.