Economia Cotidiana: mudanças entre as edições
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As favelas são espaços econômicos pujantes. São muitas e variadas as atividades econômicas exercidas nesses espaços ou a partir deles: bares, restaurantes, mercados de comida, lojas de roupa, salões de beleza, além de pequenas e médias indústrias e, claro, todos os serviços infra- estruturais que permitem que as pessoas, as mercadorias e o dinheiro circulem, como bancos e financeiras e o transporte por meio de kombis e motos, por exemplo. Além desses negócios, que podem ser considerados “locais”, há conexões importantes com a economia da cidade no que diz respeito, por exemplo, ao assalariamento fora das comunidades e ao oferecimento de serviços não-remunerados que permitem o trabalho de pessoas fora da favela, como o cuidado com as crianças e a alimentação. | |||
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Todas essas atividades se integram à paisagem material da favela sendo conformados por seus constrangimentos e possibilidades. A economia cotidiana é uma forma de abordar essa multiplicidade de práticas econômicas de maneira integrada à vida das pessoas, enxergando os nexos entre as relações de proximidade, especialmente as relações familiares, a transformação dos espaços e as práticas propriamente econômicas. | |||
Tanto as agências estatais como a imprensa e uma boa parte dos pesquisadores trataram a economia da favela como um emaranhado desorganizado de atividades chamadas “informais” (ou ilegais quando se dá destaque ao comércio de drogas proibidas). A essa ideia de desorganização e marginalidade em relação às leis e à ordem urbana “normal” soma-se àquela que pretende explicar a favela por meio da falta e da ausência. A pobreza e a carência seriam as marcas dessa economia caótica. | |||
Um olhar sobre a economia real e sobre as formas de integração desta a outras esferas sociais mostra um quadro muito diferente. A economia da e nas favelas é complexa, tem ordenamentos e regulações próprios e está completamente integrada à economia mais ampla da cidade e do país. As regulações estatais (leis, códigos escritos etc) e o mercado chamado de “formal” estão presentes e dificilmente se poderia identificar circuitos econômicos nos quais uns e outros não se relacionem de maneira interdependente. | |||
A economia cotidiana revela as estratégias sincrônicas e as aspirações de futuro das pessoas, sejam elas individuais ou coletivas. O que fica claro é que o imediatismo da necessidade está longe de ser a força motriz da economia da favela. | |||
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Edição das 19h06min de 3 de setembro de 2019
Autora: Eugênia Motta.
As favelas são espaços econômicos pujantes. São muitas e variadas as atividades econômicas exercidas nesses espaços ou a partir deles: bares, restaurantes, mercados de comida, lojas de roupa, salões de beleza, além de pequenas e médias indústrias e, claro, todos os serviços infra- estruturais que permitem que as pessoas, as mercadorias e o dinheiro circulem, como bancos e financeiras e o transporte por meio de kombis e motos, por exemplo. Além desses negócios, que podem ser considerados “locais”, há conexões importantes com a economia da cidade no que diz respeito, por exemplo, ao assalariamento fora das comunidades e ao oferecimento de serviços não-remunerados que permitem o trabalho de pessoas fora da favela, como o cuidado com as crianças e a alimentação.
Todas essas atividades se integram à paisagem material da favela sendo conformados por seus constrangimentos e possibilidades. A economia cotidiana é uma forma de abordar essa multiplicidade de práticas econômicas de maneira integrada à vida das pessoas, enxergando os nexos entre as relações de proximidade, especialmente as relações familiares, a transformação dos espaços e as práticas propriamente econômicas.
Tanto as agências estatais como a imprensa e uma boa parte dos pesquisadores trataram a economia da favela como um emaranhado desorganizado de atividades chamadas “informais” (ou ilegais quando se dá destaque ao comércio de drogas proibidas). A essa ideia de desorganização e marginalidade em relação às leis e à ordem urbana “normal” soma-se àquela que pretende explicar a favela por meio da falta e da ausência. A pobreza e a carência seriam as marcas dessa economia caótica.
Um olhar sobre a economia real e sobre as formas de integração desta a outras esferas sociais mostra um quadro muito diferente. A economia da e nas favelas é complexa, tem ordenamentos e regulações próprios e está completamente integrada à economia mais ampla da cidade e do país. As regulações estatais (leis, códigos escritos etc) e o mercado chamado de “formal” estão presentes e dificilmente se poderia identificar circuitos econômicos nos quais uns e outros não se relacionem de maneira interdependente.
A economia cotidiana revela as estratégias sincrônicas e as aspirações de futuro das pessoas, sejam elas individuais ou coletivas. O que fica claro é que o imediatismo da necessidade está longe de ser a força motriz da economia da favela.