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Do ponto de vista da sociologia urbana, pode-se enxergar a favela como lugar que, na distribuição dos bens urbanos (saneamento básico, eletricidade, acesso à internet, saúde, educação, mobilidade, entre outros), é frequentemente preterido, recebendo nada ou, o pedaço menos qualificado das intervenções públicas e privadas. Obviamente, uma definição como essa não descreve satisfatoriamente as centenas de favelas espalhadas pelo Rio de Janeiro, nem a experiência cotidiana de seus moradores e, muito menos, as perspectivas de suas respectivas vizinhanças. Contudo, a despeito das singularidades, essa literatura especializada sinaliza para um problema de conjunto: a reprodução das desigualdades históricas da cidade. Assim, em certos bairros cariocas, ao atravessar uma rua pode-se ter a sensação de cruzar dois mundos tal a disparidade entre os indicadores referentes à qualidade de vida. Certo é que, ao saírem de suas comunidades em busca de um colégio que ofereça ensino médio, encarando a insistente precariedade do sistema de transporte, muitos jovens vão dando corpo a uma fração da tragédia educacional do país. Mesmo no ensino fundamental, onde a oferta de vagas costuma ser mais próxima do local de residência, o drama educacional que acompanha os moradores de favela não dá trégua. Nesse contexto, nota-se a retomada do ideal da educação integral − em tempos recentes, transformado em quase sinônimo de escola com jornada ampliada – como a (nova) redenção da educação na favela. Sem dúvida alguma, em terras fluminenses, o Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) é um marco na materialização de uma escola que atenda por mais tempo, com preocupação interdisciplinar e intersetorial, o aluno e sua família. Entretanto, com o desmonte dessa política na década de 1990, parte significativa da educação integral que chega aos adolescentes e jovens residentes em favelas na cidade do Rio de Janeiro em data contemporânea parece seguir a linha de uma espécie de ação territorial afirmativa em que a violência e o baixo Índice de Desenvolvimento Humano tornam-se critérios à ação prioritária. Esse é o caso da Escola do Amanhã, um dos grandes programas da última administração municipal que, embora nunca definido assim pela prefeitura, tornou-se a educação integral direcionada à favela, parte do que se poderia qualificar como cartografia do cuidado especial com o grande desafio de enfrentar, por exemplo, o alto índice de evasão. | |||
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Edição das 19h09min de 3 de setembro de 2019
Autor: Jefferson Sinésio
Do ponto de vista da sociologia urbana, pode-se enxergar a favela como lugar que, na distribuição dos bens urbanos (saneamento básico, eletricidade, acesso à internet, saúde, educação, mobilidade, entre outros), é frequentemente preterido, recebendo nada ou, o pedaço menos qualificado das intervenções públicas e privadas. Obviamente, uma definição como essa não descreve satisfatoriamente as centenas de favelas espalhadas pelo Rio de Janeiro, nem a experiência cotidiana de seus moradores e, muito menos, as perspectivas de suas respectivas vizinhanças. Contudo, a despeito das singularidades, essa literatura especializada sinaliza para um problema de conjunto: a reprodução das desigualdades históricas da cidade. Assim, em certos bairros cariocas, ao atravessar uma rua pode-se ter a sensação de cruzar dois mundos tal a disparidade entre os indicadores referentes à qualidade de vida. Certo é que, ao saírem de suas comunidades em busca de um colégio que ofereça ensino médio, encarando a insistente precariedade do sistema de transporte, muitos jovens vão dando corpo a uma fração da tragédia educacional do país. Mesmo no ensino fundamental, onde a oferta de vagas costuma ser mais próxima do local de residência, o drama educacional que acompanha os moradores de favela não dá trégua. Nesse contexto, nota-se a retomada do ideal da educação integral − em tempos recentes, transformado em quase sinônimo de escola com jornada ampliada – como a (nova) redenção da educação na favela. Sem dúvida alguma, em terras fluminenses, o Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) é um marco na materialização de uma escola que atenda por mais tempo, com preocupação interdisciplinar e intersetorial, o aluno e sua família. Entretanto, com o desmonte dessa política na década de 1990, parte significativa da educação integral que chega aos adolescentes e jovens residentes em favelas na cidade do Rio de Janeiro em data contemporânea parece seguir a linha de uma espécie de ação territorial afirmativa em que a violência e o baixo Índice de Desenvolvimento Humano tornam-se critérios à ação prioritária. Esse é o caso da Escola do Amanhã, um dos grandes programas da última administração municipal que, embora nunca definido assim pela prefeitura, tornou-se a educação integral direcionada à favela, parte do que se poderia qualificar como cartografia do cuidado especial com o grande desafio de enfrentar, por exemplo, o alto índice de evasão.