Entre o querer e o não querer - Dilemas existenciais de um ex-traficante na perspectiva de uma sociologia dos problemas íntimos (resenha): mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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'''Autora:''' Manuella Paiva de Holanda Cavalcanti.
Resenha sobre o artigo de Corrêa<ref>CORRÊA, Diogo Silva. Entre o querer e o não querer: Dilemas existenciais de um ex traficante na perspectiva de uma sociologia dos problemas íntimos. Tempo Social, 32(2),  175-204, 2020.</ref>, intititulado "Entre o querer e o não querer - Dilemas existenciais de um ex-traficante na perspectiva de uma sociologia dos problemas íntimos, no qual o autor apresenta as vivências de um ex-traficante a partir do que ele chama de ''paradoxo da conversão''- que  consiste na continuidade/descontinuidade em permanecer, ou não, frequentando a igreja. Isto é, a instabilidade do convertido em firma-se na fé
Autoria: Manuella Paiva de Holanda Cavalcanti.


== Referência ==
== Sobre ==
CORRÊA, Diogo Silva. Entre o querer e o não querer: Dilemas existenciais de um ex traficante na perspectiva de uma sociologia dos problemas íntimos. Tempo Social, 32(2),  175-204, 2020.
 
== Breve Contextualização ==
É professor do programa de pós-graduação em Sociologia Política da Universidade de  Vila Velha (UVV). É doutor em sociologia pela École des Hautes Études en Sciences  Sociales (EHESS) e pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ), em regime de co-tutela, tendo realizado um estágio doutoral no Groupe de Sociologie  Pragmatique et Reflexive (GSPR-EHESS) e no Laboratoire dÉtudes Interdisciplinaires  sur les Reflexivités (LIER). É pesquisador associado do Centre dÉtudes des Mouvements Sociaux (CEMS) e do Laboratório de Estudos de Teoria e Mudança Social (Labemus).  Fez pós-doutorando, com bolsa faperj nota 10, em sociologia no Instituo de Estudos  Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ) e na Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS-UFRJ). Suas atuais áreas de interesse são:  Teoria social e sociologia contemporânea, especialmente aquela pós-geração de Pierre  Bourdieu (Luc Boltanski, Laurent Thévenot, Nathalie Heinich, Louis Queré, Bernard Lahire, Daniel Cefaï, Francis Chateauraynaud, etc.). Sociologia dos problemas íntimos,  dos processos de conversão ou de mudança de vida. Sociologia das rupturas biográficas
É professor do programa de pós-graduação em Sociologia Política da Universidade de  Vila Velha (UVV). É doutor em sociologia pela École des Hautes Études en Sciences  Sociales (EHESS) e pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ), em regime de co-tutela, tendo realizado um estágio doutoral no Groupe de Sociologie  Pragmatique et Reflexive (GSPR-EHESS) e no Laboratoire dÉtudes Interdisciplinaires  sur les Reflexivités (LIER). É pesquisador associado do Centre dÉtudes des Mouvements Sociaux (CEMS) e do Laboratório de Estudos de Teoria e Mudança Social (Labemus).  Fez pós-doutorando, com bolsa faperj nota 10, em sociologia no Instituo de Estudos  Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ) e na Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS-UFRJ). Suas atuais áreas de interesse são:  Teoria social e sociologia contemporânea, especialmente aquela pós-geração de Pierre  Bourdieu (Luc Boltanski, Laurent Thévenot, Nathalie Heinich, Louis Queré, Bernard Lahire, Daniel Cefaï, Francis Chateauraynaud, etc.). Sociologia dos problemas íntimos,  dos processos de conversão ou de mudança de vida. Sociologia das rupturas biográficas


== Principais argumentos ==
== Principais argumentos ==
O autor traz para o centro do debate os dilemas existências de um ex-traficante de  drogas convertido, recentemente, à Assembleia de Deus Ministério em Península (Adep),  morador da Cidade de Deus, Rio de Janeiro, e com 24 anos de idade. Corrêa apresenta as vivências do ex-traficante a partir do que ele chama de ''paradoxo da conversão''- que  consiste na continuidade/descontinuidade em permanecer, ou não, frequentando a igreja. Isto é, a instabilidade do convertido em firma-se na fé.
O autor traz para o centro do debate os dilemas existências de um ex-traficante de  drogas convertido, recentemente, à Assembleia de Deus Ministério em Península (Adep),  morador da [[Cidade de Deus (favela)|Cidade de Deus]], Rio de Janeiro, e com 24 anos de idade. Corrêa apresenta as vivências do ex-traficante a partir do que ele chama de ''paradoxo da conversão''- que  consiste na continuidade/descontinuidade em permanecer, ou não, frequentando a igreja. Isto é, a instabilidade do convertido em firma-se na fé.


O foco do texto é a vida pessoal do ex-traficante- a relação dele com a igreja e com o tráfico de drogas. O autor capta os ''estados atribuídos'' do informante, ou seja, como  ele experimenta e expressa suas próprias mudanças. Assim, em dado momento, ele afirma ser visitante da igreja, em outro, membro efetivo, ou ainda afastado/fora da igreja. No  entanto, esses estados são reformulados, naquilo que Corrêa denomina de ''horizontes de  expectativas''- que são os horizontes futuros, o desejo de retorno a igreja frente uma  possível retomada a vida no tráfico. O ex-traficante oscila entre essas duas moralidades:  ora ele opera na sociabilidade da igreja, ora relembra como era boa e perigosa a moralidade do tráfico. Nos momentos de afastamento da igreja os valores peculiares do  tráfico aparecem: a questão do “dinheiro mais fácil”, o “cordão de ouro”, a facilidade para ter mulheres, a “sedução e emoção do crime”, sendo esses, totalmente antagônico aos valores da igreja. Contudo, há ainda outros valores do tráfico; o informante relembra a quase morte, a possibilidade em ser preso, e quando precisou fugir e se afastar da família em consequência da vida no tráfico. Já em relação aos valores da igreja, o ex-traficante expressa a necessidade de trabalho honesto e ganhar dinheiro de forma digna, a noção de pecado, e o quanto a bíblia revela o que é certo e o que é errado em relação aos prazeres  mundanos e a forma de viver. Essas são, portanto, algumas das razões de suas variações  e mudanças entre o dentro e fora da igreja e do tráfico. As tensões expostas ocorrem não pela polaridade entre vale, ou não, a pena os distintos valores apresentados, menos ainda de colocar as moralidades da igreja e do tráfico em oposição, mas porque foi presente na  história do ex-traficante pela própria relação dele com o tráfico de drogas. A partir do exposto, o autor apresentou o que denomina de sociologia dos  problemas íntimos, e buscou analisar as tensões, lutas íntimas, as variações dos problemas e crises do informante no tempo/espaço, acompanhando as inconstâncias e estabilidades  presente na história do ex-traficante em relação ao mundo do tráfico e o mundo da igreja.
O foco do texto é a vida pessoal do ex-traficante- a relação dele com a igreja e com o tráfico de drogas. O autor capta os ''estados atribuídos'' do informante, ou seja, como  ele experimenta e expressa suas próprias mudanças. Assim, em dado momento, ele afirma ser visitante da igreja, em outro, membro efetivo, ou ainda afastado/fora da igreja. No  entanto, esses estados são reformulados, naquilo que Corrêa denomina de ''horizontes de  expectativas''- que são os horizontes futuros, o desejo de retorno a igreja frente uma  possível retomada a vida no tráfico. O ex-traficante oscila entre essas duas moralidades:  ora ele opera na sociabilidade da igreja, ora relembra como era boa e perigosa a moralidade do tráfico. Nos momentos de afastamento da igreja os valores peculiares do  tráfico aparecem: a questão do “dinheiro mais fácil”, o “cordão de ouro”, a facilidade para ter mulheres, a “sedução e emoção do crime”, sendo esses, totalmente antagônico aos valores da igreja. Contudo, há ainda outros valores do tráfico; o informante relembra a quase morte, a possibilidade em ser preso, e quando precisou fugir e se afastar da família em consequência da vida no tráfico. Já em relação aos valores da igreja, o ex-traficante expressa a necessidade de trabalho honesto e ganhar dinheiro de forma digna, a noção de pecado, e o quanto a bíblia revela o que é certo e o que é errado em relação aos prazeres  mundanos e a forma de viver. Essas são, portanto, algumas das razões de suas variações  e mudanças entre o dentro e fora da igreja e do tráfico. As tensões expostas ocorrem não pela polaridade entre vale, ou não, a pena os distintos valores apresentados, menos ainda de colocar as moralidades da igreja e do tráfico em oposição, mas porque foi presente na  história do ex-traficante pela própria relação dele com o tráfico de drogas. A partir do exposto, o autor apresentou o que denomina de sociologia dos  problemas íntimos, e buscou analisar as tensões, lutas íntimas, as variações dos problemas e crises do informante no tempo/espaço, acompanhando as inconstâncias e estabilidades  presente na história do ex-traficante em relação ao mundo do tráfico e o mundo da igreja.
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Menezes, Palloma. (2018), “Monitorar, negociar e confrontar: as (re)definições na gestão  dos ilegalismos em favelas ‘pacificadas’”. ''Tempo Social'', 30 (3): 191-216.
Menezes, Palloma. (2018), “Monitorar, negociar e confrontar: as (re)definições na gestão  dos ilegalismos em favelas ‘pacificadas’”. ''Tempo Social'', 30 (3): 191-216.
[[Categoria:Resenhas]]
[[Categoria:Temática - Violência]]
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[[Categoria:Religiosidade]]
[[Categoria:Religiosidade]]
[[Categoria:Tráfico de Drogas]]
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[[Categoria:Cidade de Deus]]

Edição das 14h46min de 28 de agosto de 2023

Resenha sobre o artigo de Corrêa[1], intititulado "Entre o querer e o não querer - Dilemas existenciais de um ex-traficante na perspectiva de uma sociologia dos problemas íntimos, no qual o autor apresenta as vivências de um ex-traficante a partir do que ele chama de paradoxo da conversão- que  consiste na continuidade/descontinuidade em permanecer, ou não, frequentando a igreja. Isto é, a instabilidade do convertido em firma-se na fé

Autoria: Manuella Paiva de Holanda Cavalcanti.

Sobre

É professor do programa de pós-graduação em Sociologia Política da Universidade de  Vila Velha (UVV). É doutor em sociologia pela École des Hautes Études en Sciences  Sociales (EHESS) e pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ), em regime de co-tutela, tendo realizado um estágio doutoral no Groupe de Sociologie  Pragmatique et Reflexive (GSPR-EHESS) e no Laboratoire dÉtudes Interdisciplinaires  sur les Reflexivités (LIER). É pesquisador associado do Centre dÉtudes des Mouvements Sociaux (CEMS) e do Laboratório de Estudos de Teoria e Mudança Social (Labemus).  Fez pós-doutorando, com bolsa faperj nota 10, em sociologia no Instituo de Estudos  Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ) e na Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS-UFRJ). Suas atuais áreas de interesse são:  Teoria social e sociologia contemporânea, especialmente aquela pós-geração de Pierre  Bourdieu (Luc Boltanski, Laurent Thévenot, Nathalie Heinich, Louis Queré, Bernard Lahire, Daniel Cefaï, Francis Chateauraynaud, etc.). Sociologia dos problemas íntimos,  dos processos de conversão ou de mudança de vida. Sociologia das rupturas biográficas

Principais argumentos

O autor traz para o centro do debate os dilemas existências de um ex-traficante de  drogas convertido, recentemente, à Assembleia de Deus Ministério em Península (Adep),  morador da Cidade de Deus, Rio de Janeiro, e com 24 anos de idade. Corrêa apresenta as vivências do ex-traficante a partir do que ele chama de paradoxo da conversão- que  consiste na continuidade/descontinuidade em permanecer, ou não, frequentando a igreja. Isto é, a instabilidade do convertido em firma-se na fé.

O foco do texto é a vida pessoal do ex-traficante- a relação dele com a igreja e com o tráfico de drogas. O autor capta os estados atribuídos do informante, ou seja, como  ele experimenta e expressa suas próprias mudanças. Assim, em dado momento, ele afirma ser visitante da igreja, em outro, membro efetivo, ou ainda afastado/fora da igreja. No  entanto, esses estados são reformulados, naquilo que Corrêa denomina de horizontes de  expectativas- que são os horizontes futuros, o desejo de retorno a igreja frente uma  possível retomada a vida no tráfico. O ex-traficante oscila entre essas duas moralidades:  ora ele opera na sociabilidade da igreja, ora relembra como era boa e perigosa a moralidade do tráfico. Nos momentos de afastamento da igreja os valores peculiares do  tráfico aparecem: a questão do “dinheiro mais fácil”, o “cordão de ouro”, a facilidade para ter mulheres, a “sedução e emoção do crime”, sendo esses, totalmente antagônico aos valores da igreja. Contudo, há ainda outros valores do tráfico; o informante relembra a quase morte, a possibilidade em ser preso, e quando precisou fugir e se afastar da família em consequência da vida no tráfico. Já em relação aos valores da igreja, o ex-traficante expressa a necessidade de trabalho honesto e ganhar dinheiro de forma digna, a noção de pecado, e o quanto a bíblia revela o que é certo e o que é errado em relação aos prazeres  mundanos e a forma de viver. Essas são, portanto, algumas das razões de suas variações  e mudanças entre o dentro e fora da igreja e do tráfico. As tensões expostas ocorrem não pela polaridade entre vale, ou não, a pena os distintos valores apresentados, menos ainda de colocar as moralidades da igreja e do tráfico em oposição, mas porque foi presente na  história do ex-traficante pela própria relação dele com o tráfico de drogas. A partir do exposto, o autor apresentou o que denomina de sociologia dos  problemas íntimos, e buscou analisar as tensões, lutas íntimas, as variações dos problemas e crises do informante no tempo/espaço, acompanhando as inconstâncias e estabilidades  presente na história do ex-traficante em relação ao mundo do tráfico e o mundo da igreja.

Outras referências

Grillo, Carolina Christoph. (2013), Coisas da vida no crime: tráfico e roubo em favelas  cariocas. Rio de Janeiro, ufrj/ifcs.

Menezes, Palloma. (2018), “Monitorar, negociar e confrontar: as (re)definições na gestão  dos ilegalismos em favelas ‘pacificadas’”. Tempo Social, 30 (3): 191-216.

  1. CORRÊA, Diogo Silva. Entre o querer e o não querer: Dilemas existenciais de um ex traficante na perspectiva de uma sociologia dos problemas íntimos. Tempo Social, 32(2),  175-204, 2020.