Observatório da Intervenção: mudanças entre as edições
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Edição das 13h58min de 9 de novembro de 2019
Autora: Anabela Paiva.
Em 16 de fevereiro de 2018, após uma sucessão de notícias sobre roubos de carga, arrastões e conflitos no Rio de Janeiro, o presidente Michel Temer decretou uma intervenção na área de segurança pública no estado. A medida de exceção, inédita no país desde a Constituição de 1988, tirou o controle do governador Luís Fernando Pezão sobre o setor. Como interventor, foi designado Comandante Militar do Leste, general Walter Souza Braga Netto, que passou a comandar a Secretaria de Segurança, as polícias Civil e Miltar e a Secretaria de Administração Penitenciária.
O Observatório da Intervenção foi criado pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes (CESeC/Ucam) para acompanhar e divulgar os impactos e as violações de direitos decorrentes da intervenção federal no estado do Rio de Janeiro. Durante os dez meses de intervenção, de 16 de fevereiro a 31 de dezembro de 2018, o Observatório registrou e analisou operações, homicídios, roubos, mortes por intervenção de agentes do Estado, mortes de policiais, tiroteios e chacinas.
Em relatórios e infográficos, o Observatório provou que a intervenção federal não representou ganho para a proteção de vidas: a letalidade violenta diminuiu apenas 1,7% no estado; policiais e outros agentes de segurança foram responsáveis por 1.532 mortes, um recorde; e os tiroteios aumentaram 56% em relação a 2017 (veja os dados completos aqui).
O trabalho de monitoramento do Observatório combinou três fontes de dados. Através da leitura diária de jornais, perfis em redes sociais, portais de informação e informativos oficiais, a equipe do Observatório levantou dados sobre operações, mortes de agentes de segurança e gastos e aquisições realizados pelo Gabinete da Intervenção. Os indicadores regularmente divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) permitiram acompanhar homicídios, roubos e mortes por intervenção policial. Através de uma parceria com o Fogo Cruzado, o Observatório teve acesso ao número de tiroteios na Região Metropolitana, mortes em conflitos com arma de fogo e chacinas. Também parceiro, o Defezap informou casos de violações.
Além da conciliação entre uma perspectiva crítica e o compromisso com a precisão nas informações, o projeto do Observatório teve como um marco fundamental a criação de um conselho de ativistas dos territórios mais afetados por confrontos armados – as favelas e bairros periféricos da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Formado por 15 lideranças locais, jovens na maioria, o conselho estabeleceu um fórum mensal de debate, no qual a segurança pública foi debatida pelos que mais sofrem com os efeitos da violência – especialmente jovens e negros. Os relatos e comentários dos conselheiros sobre o cotidiano de operações, conflitos e violações que vivem as populações de periferia foram essenciais para a formulação das análises do Observatório. “Ao criar o conselho, o Observatório ressaltou a importância das vivências para compreensão do contexto de violência”, escreveu Wesley Teixeira, articulador do Conselho, no relatório final do Observatório.