Educafro
A Educafro - Francisco de Assis Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes é uma instituição que trabalha com a inclusão social através da educação, com ênfase em políticas públicas e ações afirmativas direcionadas à população afrodescendente e carente.
Autoria: Alex Bispo
Sobre
O objetivo geral da EDUCAFRO é reunir pessoas voluntárias, solidárias e beneficiárias desta causa, que lutam pela inclusão de negros, em especial, e pobres em geral, nas universidades públicas, prioritariamente, ou em uma universidade particular com bolsa de estudos, com a finalidade de possibilitar empoderamento e mobilidade social para população pobre e afro-brasileira.
São objetivos específicos da Educafro que contribuem para o cumprimento de sua missão: organizar e provocar o surgimento de núcleos de pré-vestibular (novos núcleos) nas periferias de todo Brasil; proporcionar surgimento de novas lideranças e cidadãos conscientes nas comunidades e nas universidades; formação cidadã e acadêmica através das aulas de professores voluntários nos cursinhos comunitários, como também:
- organizar e provocar o surgimento de núcleos de pré-vestibular (novos núcleos) nas periferias de todo Brasil;
- proporcionar surgimento de novas lideranças e cidadãos conscientes nas comunidades e nas universidades;
- formação cidadã e acadêmica através das aulas de professores voluntários nos cursinhos comunitários, como também: Apresentar propostas de políticas públicas e ações afirmativas aos poderes executivos, legislativo e judiciário;
- Difundir princípios e valores que contribuam para a radical transformação social do Brasil e Américas, com fundamento no ideário cristão e franciscano;
- Despertar nas pessoas a responsabilidade e autonomia na superação de dificuldades as tornando protagonistas de suas histórias;
- Valorizar radicalmente, a organização de grupos sociais e populares como instrumento de transformação social e pressão junto ao Estado
Missão
A Educafro tem a missão de promover a inclusão da população negra (em especial) e pobre (em geral), nas universidades públicas e particulares com bolsa de estudos, através do serviço de seus voluntários/as nos núcleos de pré-vestibular comunitários e setores da sua Sede Nacional, em forma de mutirão.
No conjunto de suas atividades, a Educafro luta para que o Estado cumpra suas obrigações, através de políticas públicas e ações afirmativas na educação, voltadas para negros e pobres, promoção da diversidade étnica no mercado de trabalho, defesa dos direitos humanos, combate ao racismo e a todas as formas de discriminação.
Frei David, fundador
Autoria: Amauri Eugênio Jr. / Entrevistado: Frei David Santos.
Em 2023, a Educafro completa 30 anos de existência e de atuação sistemática no combate ao racismo. Conhecida pela atuação em diferentes áreas, em especial em projetos educacionais, a organização destaca-se por atuar em frentes diversas, como por meio de cursos pré-vestibulares presentes em diversas periferias do Brasil, e pela postura combativa na promoção da equidade racial, inclusive em âmbito jurídico.
Para falar sobre a trajetória da Educafro, a Plataforma Ancestralidades[1] entrevistou Frei David Santos, criador e diretor executivo da organização.
Entrevista
Em 30 anos, apesar de haver sub-representação da população negra no ensino superior, houve avanço substancial na presença de jovens pretos e pardos nas universidades em comparação com três décadas atrás. Para o Sr., como este cenário pode ser interpretado?
É evidente que avançamos muito com a presença de estudantes afro-brasileiros/as nas universidades, mas de forma alguma podemos encarar isso como um trabalho terminado. Os avanços também nos trouxeram novos desafios. Se antes não havia negros/as nas universidades, agora há. No entanto, para que seja possível permanecer e se formar é necessário levar a sério o problema da falta de assistência estudantil.
A população afro-brasileira é maioria entre os pobres, assim, é necessário entender as necessidades deste perfil de alunos e criar políticas públicas que assegurem a sua permanência. As universidade até oferecem bolsas, mas, em geral, são insuficientes para a quantidade de alunos e seus gastos com alimentação, moradia e transporte, que aumentaram significativamente nos últimos anos e, como tudo de ruim, atinge mais fortemente os/as negros.
Se quisermos manter as conquistas que tivemos nas últimas três décadas, precisamos pensar e promover políticas públicas de assistência estudantil para essas/es alunas/os negras/os e pobres para as próximas décadas, reservando o dinheiro público no orçamento de cada ano.
A Educafro é uma referência quando se fala em debate sobre inclusão de jovens negras/os no ensino superior, assim como no debate sobre a implementação de cotas raciais. Em sua opinião, a organização ajudou a colocar o debate em evidência, seja por meio da formação de estudantes, ou pela atuação política?
Sem dúvida! Esse foi, inclusive, o objetivo desde a fundação da entidade. Percebemos que era necessário movimentar a sociedade para corrigir tamanha desigualdade. Todas as nossas ações nos últimos 45 anos, desde o início das nossas ações e dos primeiros pré-vestibulares comunitários, foram no sentido de promover o senso crítico e a consciência antirracista dos/as nossos/as estudantes e líderes em formação.
Mas não se restringe a isso. Forçamos também esse debate mesmo quando não era bem-vindo. Por essa razão, nosso nome está sempre atrelado à história das cotas: pelas nossas militâncias em Brasília com ônibus lotados de pretos/as e pardos/as que iam até as portas dos políticos cobrar um posicionamento favorável às cotas. Pelas milhares de reuniões e audiências que realizamos com autoridades, de todos os Poderes, para reivindicar nossos direitos e também por conta de inúmeros processos judiciais que abrimos, que levaram às mais altas instâncias de poder do país discussões sobre os direitos que nos são negados e as medidas necessárias para repará-los.
Para além da perspectiva acadêmica, o trabalho da Educafro dialoga com a dimensão socioeconômica, por lidar com jovens de territórios periféricos. Qual é a importância de trazer a dimensão socioeconômica para o debate sobre ingresso no ensino superior para além da parte educacional? E como a permanência entra nesse contexto?
Entre os pobres, as/os afro-brasileiras/os são maioria. Portanto, não é possível se propor a fazer um trabalho de viés racial sem considerar que o contexto impõe também um viés de classe socioeconômica. Nosso objetivo sempre foi promover a inclusão, veja bem, não somente o acesso.
Abrir somente as portas e dizer "entre" não garante nem mesmo a entrada das/os estudantes. Trabalhar com a comunidade afro-brasileira implica entender esse contexto e, inclusive, elevar a reflexão da comunidade para a consciência de que a realidade socioeconômica dela está planejada pela classe dominante, dessa forma, há mais de 500 anos.
Políticas públicas não podem ser feitas baseadas no mundo ideal, mas no real e na materialidade. Se a proposta é incluir pretas/os e pardas/os, então se deve criar condições para que de fato possam estudar, considerando que a realidade da maioria dessas/es jovens é de não ter condições de arcarem com os custos de alimentação, transporte e moradia.
Há também muitos casos e elas/es mesmas/os têm de trabalhar para contribuir com o sustento de suas famílias. Queremos lembrar que abrimos uma Ação Civil Pública contra a União para conceder bolsas de moradia e alimentação em 2019, mas até hoje o poder tem manipulado a Justiça e nada andou.
A Lei 10.639 completa 20 anos em 2023. É possível traçar paralelos entre a vigência da legislação e o aumento no ingresso de jovens negras/os no Ensino Superior? Por quê?
Na verdade, enxergo pouca relação entre esses dois fatores. A Lei 10.639/2003 com certeza trouxe avanços na discussão da temática racial e de África na Educação Básica, porém até hoje carecemos de formações para os professores tratarem do tema de maneira adequada.
Ademais, a Lei incentiva o empoderamento do povo afro-brasileiro. Porém, sem a reserva de vagas para negras/os, por exemplo, as mudanças não teriam sido tão significativas. Entretanto, temos que reconhecer que se trata de frentes que ao mesmo tempo em que são distintas, trabalham pelo mesmo fim.
A política de cotas não pode vir desacompanhada da consciência crítica antirracista de brancas/os e negras/os. O empoderamento, por meio dessa tarefa que é a educação antirracista e do povo afro-brasileiro, apesar de ainda produzir poucos resultados, estamos com a expectativa de que a militância vai fazer isso mudar.
No estatuto da Educafro, alguns dos pontos contemplam a criação de parcerias com associações de origens diversas, assim como a inclusão por meio de políticas públicas que deverão ser implementadas por governos e pela iniciativa privada. É possível dizer que, por meio de trabalho multidisciplinar, a organização tem conseguido influenciar entes diversos para alcançar o seu propósito?
Precisamos entender, cada vez mais, o caráter multifacetado do racismo. O professor Silvio Almeida conceituou o racismo no Brasil como estrutural. Ou seja, ele acontece e se perpetua nas estruturas da nossa sociedade. Dessa forma, seria muito ingênuo de nossa parte crer que o combate ao racismo poderia acontecer somente na educação. Isso não basta! Precisamos combatê-lo em, absolutamente, todas as frentes existentes, além de criar novas.
Nossa entidade surgiu para preparar jovens para entrar no Ensino Superior. Após isso, tivemos que impetrar Mandados de Segurança para garantir isenções nos vestibulares em todas as universidades públicas para estudantes pobres. Depois, tivemos de trabalhar pelas reservas de vagas.
Nesse momento, trabalhamos pelas políticas de permanência estudantil e de inclusão no mercado de trabalho. Entre diversas outras lutas que foram se sucedendo e abrindo novas áreas de atuação.
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