União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro)
História
Foi na Salvador de 1988, dentro da Biblioteca Pública dos Barris, que surgiu a União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro). Faziam apenas três anos que o Brasil havia saído da repressão e autoritarismo da Ditadura Militar (1964-1985) e o fervor por liberdade e democracia tomavam conta das ruas. Diante desse cenário de entusiasmo revolucionário, a entidade, criada por negras e negros marxistas, tornou as ruas como o seu principal campo de atuação, realizando ações contra o extermínio da população negra e na luta antirracista, de gênero e classe. Trinta e três anos depois, a entidade ainda precisa lutar por problemas que já poderiam ter sido superados se as raízes do racismo não fossem tão profundas no país. A UNEGRO está organizada em 25 estados da Federação mais o Distrito Federal, entre os quais (AC, AL, AM, AP, BA, CE, DF ES, GO, MA, MG, MS, MT, PA, PE, PR, RJ, RN, RO, RR, RS, SC SE, SP, TO).[1]
Em 14 de Julho de 2020, celebramos 32 anos de luta incansável contra o racismo! A Unegro é uma organização pioneira na denúncia do genocídio da juventude negra, na interface de raça, classe e gênero, de protagonismo de pessoas LGBT como dirigentes, temos uma mulher como Presidenta. Nesse vídeo de celebração, lideranças nacionais, fundadores/as, parlamentares, dão esse recado:
Trajetória
A Unegro foi fundada em 14 de julho de 1988, na cidade de Salvador, na Bahia, em reunião que aconteceu no interior da Biblioteca Pública do Estado, no bairro de Barris, num rompimento da noção de que o racismo era um fenômeno isolado de separação entre brancos e negros na sociedade brasileira. Nesses 30 anos de ativismo, a entidade vem consolidando um projeto de crítica social não só contra o racismo e o sexismo, mas, também, contra o capitalismo. Com quase 12 mil filiados em 25 estados da Federação, a atual direção nacional da Unegro foi eleita durante seu 5º Congresso Nacional, realizado em São Luís, no Maranhão, em junho de 2016. Como organização do Movimento Negro, a entidade enfatiza a articulação entre as lutas de raça, de gênero e de classe, uma vez que acreditávamos que isso tinha que estar articulado com a visão de classe e com uma visão das relações de gênero, porque qualquer projeto de superação do racismo no Brasil teria que estar conjugado também com superação de outras formas de opressão que justificam essas hierarquias racial, social e de gênero, que fundamentam a estrutura social brasileira. Essa foi a razão da criação da Unegro. (ALBERTI,PEREIRA, 2005, p. 5).
Para cumprir esses objetivos, a Unegro utiliza os fundamentos teóricos de escritores e escritoras de origem afro-brasileira, como o sociólogo Clóvis Moura. Clóvis Moura que foi um sociólogo da práxis negra cujas indagações eram os dilemas da constituição da nação com destaque para a marginalização da população negra num processo que chamou de um racismo “tipicamente à brasileira”. No entanto, e diferentemente de Gilberto Freyre (1900-1987), Moura buscou valorizar a resistência dos negros e seu importante papel na transformação ou destruição de sua condição de escravo, portanto, seu caráter dinâmico na história do País em que deu à análise dos quilombos e das numerosas insurreições escravas uma nova interpretação da formação da sociedade brasileira. Conforme Mesquita (2003, p. 557), “Clóvis Moura observou que a sociedade brasileira se formou através de uma contradição fundamental, senhores versus escravos, e em sendo as demais contradições decorrentes dessa, pautadas por extrema violência, aspecto central do sistema escravista”.