Por que a defesa da Palestina tem que ser uma bandeira de todos que lutam contra o racismo no Brasil (artigo)
A luta contra o colonialismo, imperialismo, o apartheid e o racismo hoje toma projeção com o grito dos milhões de jovens e trabalhadores que se mobilizam em defesa do povo palestino. Pela ruptura das relações do Brasil com Israel, fim da cooperação com o Haiti e basta de chacinas!
Autoria: Pedro Gronga e Ana Vitoria Cavalcante[1].
Artigo
O estado sionista de Israel começou uma verdadeira guerra de vingança contra o povo palestino, a maior dos últimos 50 anos, após as ações do Hamas, que controla a Faixa de Gaza, com o objetivo de conquistar ainda mais territórios na faixa de Gaza. Longe de ser uma resposta de auto-defesa, o governo de ultradireita de Benjamin Netanyahu, anunciou uma ofensiva militar que já assassinou mais de 11 mil palestinos, com mais de 125 crianças palestinas assassinadas por dia desde o início do conflito. Essa é a maior escalada de ofensiva na região desde a criação imperialista do estado de Israel, são milhares de civis bombardeados nas cidades, hospitais na faixa de Gaza.
Desde a fundação do estado artificial de Israel em 1948, com o apoio de imperialismo estadunidense e europeu, Israel leva a frente uma da limpeza étnica da população árabe, uma brutal opressão contra o povo palestino que deu um salto substancial nas últimas semanas [mais dados]. O cenário alarmante da Palestina reatualiza a luta contra o imperialismo, colonialismo e o apartheid que está acontecendo na Faixa de Gaza. As guerras travadas pelo imperialismo sempre tiveram muito claro seus interesses e métodos, que estão na contramão de qualquer ideal democrático e civilizatório que com o apoio da mídia burguesa tentam propagar. Na guerra do Vietnã, por exemplo, a população pobre e afroamericana dos EUA foram usadas como bucha de canhão, com uma política de recrutamento de jovens negros nas periferias que representavam, proporcionalmente, o maior número de mortos no exército americano. Em 1968, com a ofensiva de Tet, houve um forte impacto internacional que contribuiu para impulsionar a luta do movimento negro em solidariedade ao povo vietnamita, com boicotes, greves e sabotagens contra a guerra imperialista levada a frente pelo EUA.
A luta em solidariedade ao povo palestino ganha dimensões históricas, com manifestações de milhares ao redor do mundo como nos Estados Unidos, onde manifestantes ocupam o parlamento norteamericano contra o massacre em curso, gritam “Biden Genocida” denunciando o financiamento do governo Democrata a Israel, o mesmo EUA que oprimem e exploram vários povos do mundo. Vemos também protestos nos países imperialistas europeus com centenas de milhares de manifestantes como aconteceu na Inglaterra e França, países que foram pilares da opressão e saqueamento dos povos da América e da África historicamente. As manifestações em solidariedade e para impor o cessar fogo acontecem também na Itália, Egito, Espanha e no Oriente Médio. Portuários belgas e catalões ocuparam portos para impedir o envio de armas, mineiros na Colômbia se manifestarão exigindo embargo aos metais e cravão enviados para Israel; esses trabalhadores mostram o caminho dos que estão ao lado dos palestinos contra a opressão colonial, com a juventude fazendo greve nas universidades contra esse apartheid de Israel como em Napoles, e a classe trabalhadora dando exemplos contundentes com trabalhadores se negando a exportarem armamentos para esse conflito
A questão negra e o racismo estão intrinsecamente ligados à exploração e opressão na qual o capitalismo se sustenta e se desenvolve. Mais do que apenas uma luta por mudanças culturais e epistemológicas, na disputa as narrativas e saberes subalternos não conseguem dar uma resposta que vá a raiz do problema, se enfrentando com a burguesia que explora e oprime. Precisamos nos enfrentar com as estruturas que sustentam essa sociedade baseada no racismo. A subjetividade forjada por uma realidade que desde das grandes navegações se baseia na escravização do povo africano para consolidação dos estados modernos, enriquecimento das potências europeias e consolidação do sistema capitalista, será combatida senão pela própria mudança concreta dessas estruturas que conformam essa subjetividade. Para além de uma visão decolonial passiva do negro como produtor de conhecimento, buscamos a transformação radical da sociedade enxergando o potencial revolucionário que as massas negras possuem em conduzir a humanidade para a derrota do capitalismo
Nos EUA, a juventude que anos atrás protagonizou o Black Lives Matter, agora se levanta pela Palestina. Jovens de diversas universidades e sindicatos vem se mobilizando desde o final de Outubro em solidariedade ao povo palestino junto da comunidade árabe e judia antisionistas em um só coro por “Free Palestine”. Mostrando uma solidariedade internacionalista impressionante, onde a luta dos povos oprimidos e explorados pelo capitalismo se unem contra o colonialismo e o racismo mundialmente, uma luta que está intrinsecamente ligada a países como o Brasil. A escravidão e as guerras insurrecionais negras fazem parte da história constituintes desse país, a luta do povo negro e o medo da “haitianização” do continente Americano foi um grande pesadelo para burguesia imperialista. Esse exemplo do internacionalismo da luta negra é um fonte de inspiração para nós hoje frente ao massacre do povo palestino. Os povos não brancos de todo o mundo se sensibilizam ao ver o massacre do povo palestino que é parte de um apartheid social perpetrado pelo Estado israelense, nesse sentido, devemos levantar a bandeira de uma Palestina livre, operária e socialista no marco de que as armas que são usadas para reprimir o povo negro nas favelas e periferias brasileiras vem do Estado sionista de Israel.
Israel tem um dos exércitos mais poderosos do mundo, financiado pelos Estados Unidos e apoiado pela União Europeia, seu arsenal bélico, com capacidade nuclear, é desenvolvido por suas universidades e instituições de pesquisa que exportam essas tecnologias para vários países do mundo, com a garantia de letalidade que é testada contra o povo palestino. No Brasil, país com a maior população negra fora do continente africano, com uma das polícias mais assassinas do mundo onde em mais de 8 estados do país 1 pessoa negra foi morta a cada 4 horas em intervenções policiais em 2022 , a repressão policial usa armas e caveirões israelenses pra reprimir o povo negro e trabalhador nas periferias e favelas brasileiras, assim como os treinamentos de guerras do exército israelense ensinam o BOPE que assassinam jovens e crianças negras de uniforme escolar nas favelas. E parte da luta antirracista é lutar pelo fim da polícia de conjunto, pois tanto a polícia militar, responsável por reprimir a classe trabalhadora e o povo pobre, mas também a civil, que no Rio de Janeiro foi responsável pela chacina de Jacarezinho e tantas outras, ou até mesmo a polícia federal que matou Genivaldo com uma câmara de gás improvisada em uma viatura da polícia federal. A polícia é braço armado do estado e cão de guarda da burguesia que massacra os negros e a classe trabalhadora no Brasil.
O Brasil sustenta há décadas a presença de empresas israelenses no controle da produção de armamentos, como a Elbit Systems Ltda., principal empresa de armamentos israelenses e dona de três empresas de armas brasileiras (AEL, Ares Aeroespacial e a Defesa SA), produzindo armamentos usados na repressão ao povo negro e aos trabalhadores. Em consonância com as Forças de Defesa de Israel (a infame Tzahal) usam para massacrar a população em Gaza e fuzilar palestinos.
O governo de frente ampla Lula-Alckimin, depois de mais de um mês de massacre israelense, se dispôs a algo tão elementar quanto criticar nominalmente Israel, dizendo que “o comportamento de Israel é igual ao terrorismo”, mas ao mesmo tempo mantém diversas relações com a burguesia sionista se recusando a romper relações diplomáticas, militares, econômicas com esse Estado assassino, seguindo todos os acordos firmados por Bolsonaro com Israel em 2019. Uma política de consonância com o imperialismo yankee que também tomou forma no voto favorável de Lula na ONU à mais uma intervenção militar no Haiti e na cooperação do treinamento de policiais haitianos. Estamos falando de uma nova intervenção no Haiti, após 6 anos do fim da MINUSTAH, operação criminosa repleta de assassinatos e estupros contra a população haitiana, chefiada por militares brasileiros que posteriormente foram parte do governo de extrema-direita de Bolsonaro.
Nesse 20 de Novembro nos inspiremos na luta histórica do povo negro contra o racismo e o colonialismo, exigindo o rompimento das relações diplomáticas e econômicas do governo brasileiro com o Estado de Israel, pelo fim de toda as polícias. Lutamos pela realização plena e efetiva do direito do povo palestino à autodeterminação nacional, a derrota de Israel é uma vitória de todos os povos oprimidos do mundo! A única solução estratégica verdadeiramente anticolonial e anti imperialista, é a luta por uma Palestina livre, operária e socialista, como primeiro passo para uma federação socialista no Oriente Médio, que tenha como objetivo pôr fim a toda opressão e exploração, e que possa garantir a coexistência democrática e pacífica entre árabes e judeus.
Ver também
Julho Negro: Contra o Racismo, a Militarização e o Apartheid (documentário)
- ↑ Publicado originalmente no Esquerda Diário, em 20 de novembro de 2023.
