Rede de Instituições do Borel

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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Inicialmente chamado de Rede Social Borel, o coletivo, fruto da união de diversas organizações sociais presentes no território do Borel, surgiu em 2010 no mesmo tempo em que era implementada a Unidade de Polícia Pacificadora(UPP) ali. A ideia principal era formar uma rede forte de relacionamento entre as instituições que já estavam ali antes mesmo da política de segurança chegar de modo que o debate sobre as intervenções naquele território tivessem um interlocutor para negociar e mediar.

Mônica Francisco procurou outras lideranças dentre elas Jovino Netto, Jonas Gonçalves (ex-presidente da Associação de Moradores do Borel), Francisco Chicão( presidente da Associação de Moradores da Favela Indiana, à época) e Ruth Barros e, juntos,  acharam de comum acordo necessário convocar uma reunião para promover uma integração entre a comunidade que pudesse dialogar com o Estado.

Para esta reunião, foi elaborada uma carta/ofício convidando presidentes de associações do território contemplado pela UPP, lideranças locais, gestores de projetos sociais com atuação no território e moradores em geral. O texto definia os propósitos do convite: “Em vista da abertura do Governo para inciativas e propostas de investimento social para esta comunidade. Gostaríamos de convidá-lo para uma reunião onde discutiremos sobre: a apresentação das necessidades reais da comunidade identificadas por nossas organizações; diagnosticar todos os projetos em andamento; gerar uma rede entre as instituições que visa a integração e apoio mútuo; e a partir desta reunião criar uma agenda de atividades do grupo.” (oficio 001/2010 – Arquivo da Rede)

O encontro é considerado a fundação da Rede e ocorreu no dia 01 de julho de 2010 na escola de música da JOCUM. Contou com a participação de 22 organizações atuantes no território e o convidado externo Itamar Silva, liderança comunitária do Santa Marta, que falou sobre a chegada da UPP em sua comunidade.

Essa ligação social ao longo do tempo foi construindo uma identidade de grupo através da troca de ideias esporádicas sobre como promover o Desenvolvimento Local. A comunicação, a cooperação mútua, a luta pela melhoria da qualidade de vida comunitária, a facilidade de diálogo entre o grupo, a forte representação institucional e a percepção coletiva de um cenário oportuno levou-se naturalmente a considerar uma formação mais organizada de atuação.

Muitas ações marcaram a atuação da Rede Social Borel, como os fóruns abertos com moradores e representantes do poder público realizados na favela, em parceria com a UPP Social, o seminário preparatório para a Conferência Estadual de Juventude – etapa Borel, a criação do “Vamos combinar”, em parceria com a Secretaria de Conservação, que criou novos mecanismos para a coleta de lixo no Borel e em outras favelas.

Em 2011, a Rede também foi protagonista na organização do Ocupa Borel, evento de protesto cultural em resposta a um toque de recolher imposto pelo comando local da Unidade de Polícia Pacificadora.

Atualmente, a Rede não atua em conjunto como o fez na última década, de 2010 até 2015, quando as intervenções do Estado também foram perdendo força. Diversos projetos que impulsionavam a mobilização coletiva entre as instituições foram descontinuados como a UPP Social, o PAC Favelas, a iniciativa “Vamos Combinar”, tocada pela Comlurb. Mesmo a UPP perdeu o protagonismo como política de segurança pública e, ainda que no Borel uma base continue a existir, o projeto vem sendo finalizado em vários outros territórios, sendo substituído pelo programa “Segurança Presente”, com policiamento nas ruas dos bairros.

Em 2013, a Rede Social Borel apresentou o projeto que criava uma Agência de Desenvolvimento Local no Borel, com o objetivo de fortalecer a economia local e dar maior visibilidade as ações de ONGs, Associações, do Comércio Local e dos coletivos culturais. O projeto integrou o “Plano de Desenvolvimento das Favelas para sua Inclusão Social e Econômica”, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Altos Estudos. (https://www.inae.org.br/livro/favela-como-oportunidade-plano-de-desenvolvimento-de-favelas-para-sua-inclusao-social-e-economica-cantagalo-pavao-pavaozinho-rocinha-borel-e-complexo-de-manguinhos/)

Sobre a Rede, vale ler o que diz Lia Rocha : "indo na contracorrente daquela visão que afirmava a centralidade da polícia, a Rede acionava mais uma vez o discurso dos direitos, ressaltando que a “construção da paz” e a “integração das favelas” não se dariam pelo caminho que vinha sendo imposto pelos policiais. Ao mesmo tempo, afirmavam que, se havia de fato uma nova forma de presença do Estado nas favelas, as formas historicamente reconhecidas de fazer política nessas localidades também deveriam se modificar. Com esse discurso, se colocavam como um novo ator que queria ser levado em consideração no diálogo com as diferentes esferas do governo – “queremos conversar como gente grande”. Neste sentido, disputavam com as tradicionais associações de moradores o papel da mediação com o poder público."(ROCHA, Lia. et al.,2018, p. 223)

Morro do Borel

Ocupa Borel

Referências

ROCHA, Lia et al. Crítica e Controle Social nas margens da cidade. in: Revista de @ntropologia da UFSCar, 10 (1), jan./jun. 2018, pp. 216-237.