Pré-vestibulares populares no Rio de Janeiro
Autoria: Angela Cristina da Silva Santos (informações retiradas de sua dissertação de mestrado, "Pensando estratégias para o enfrentamento da evasão em pré-vestibulares populares: um estudo de caso na Maré – Rio de Janeiro/RJ", defendida em 2020)
Introdução
Historicamente as políticas públicas para a Educação Superior no Brasil têm demonstrado a ineficiência do Estado na gerência, financiamento e concretização do direito social e inalienável que é a educação. Se, por um lado, o Estado não tem disponibilizado recursos e investimentos suficientes para a educação pública de nível superior; por outro, ampliou as possibilidades para que o setor privado se estabelecesse no campo educacional, contribuindo para que a educação superior seja concebida como um serviço, regido pelas leis de mercado, e não como um bem social garantido a todos pela Constituição Brasileira.
Essas escolhas políticas feitas ao longo da história do Brasil refletem em fatores como: o crescimento descontrolado e sem a fiscalização adequada do setor privado, atingindo 75% das matrículas na educação superior; o contexto de lutas constantes das Instituições de Ensino Superior públicas pelos recursos humanos, estruturais e financeiros necessários para atender adequadamente suas diversas demandas na tríade ensino, pesquisa e extensão; a exclusão de diversos jovens das classes populares, que não conseguem dar prosseguimento aos seus estudos na graduação e pós-graduação.
Nesse sentido, concordamos com Paulo Freire de que não há esperança no esperar e, sabendo que não é possível esperar que a democratização do acesso à educação se concretize, as classes populares têm de esperançar-se e organizar-se para encontrar as brechas possíveis na defesa da educação como um direito de todos. Surgem, portanto, os pré-vestibulares populares, espaços alternativos de luta pela inclusão e permanência de pessoas das camadas populares na educação superior. Assim, apesar de sabermos que a escola, a universidade e mesmo a educação não darão conta de resolver os problemas socioeconômicos que vêm se acumulando há anos no Brasil, entendemos que o acesso à educação pode impulsionar, gradativamente, a sociedade para questionar esse sistema que nos uniformiza, subjuga, aliena, explora e mata.
Além disso, consideramos que a população precisa se apropriar dos códigos linguísticos e dos conhecimentos existentes nesses espaços de educação formal para que se ampliem as possibilidades de melhorar as condições de vida, atuar politicamente na sociedade e construir uma formação crítica. Como a universidade pública constitui os saberes acumulados historicamente pelos diversos grupos sociais que constituíram e constituem nossa sociedade, é dever dessa universidade democratizar o acesso a esses conhecimentos e, ao mesmo tempo, construir processos de valorização e divulgação dos saberes não-hegemônicos (história, cultura, produções da população africana e afrodescendentes e indígenas, por exemplo), que têm sido negados à população.
Sabemos que a universidade não foi pensada e construída para a ocupação das classes populares. No entanto, o espaço universitário também é um espaço de contradições, ambiguidades e disputas de narrativas. Por isso, a atuação dos pré-vestibulares populares tem sido extremamente importante, tanto na formação política desses sujeitos, quanto na contribuição para que eles acessem à educação superior e se desenvolvam na educação, pesquisa e extensão, resgatando ou construindo novas epistemologias. Portanto, devemos continuar construindo estratégias para acessar, permanecer e transformar o espaço universitário.
Mapeamento
Esse mapeamento foi construído a partir da pesquisa de mestrado intitulada “Pensando estratégias para o enfrentamento da evasão em pré-vestibulares populares: um estudo de caso na Maré – Rio de Janeiro/RJ”, de autoria de Angela Cristina da Silva Santos, desenvolvida sob a orientação de Priscila Saemi Matsunaga, no Programa de Pós-graduação em Tecnologia para o Desenvolvimento Social - NIDES/UFRJ, no período de 2018 a 2020.
Estratégias para enfrentamento da evasão
Compreendemos a relevância de avançar um pouco mais e possibilitar a construção de um panorama mais amplo sobre o fenômeno da evasão em pré-vestibulares populares, no que diz respeito às suas características e as possibilidades de enfrentamento desse problema. Para isso, realizamos um estudo de caso no Pré-vestibular Comunitário do Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM) e um levantamento das percepções sobre evasão de integrantes de pré-vestibulares populares do Estado do Rio de Janeiro. A partir desse entrelaçamento de experiências e reflexões, pudemos construir a presente cartilha.
Compreendemos a evasão de pré-vestibulares populares como um fenômeno complexo, dinâmico e cumulativo, que é influenciado por múltiplas variáveis de caráter objetivo e subjetivo. Assim, a proposta da cartilha é oferecer um arcabouço amplo de ações que possam ser desenvolvidas, avaliadas e aprimoradas pelos pré-vestibulares populares, no intuito de favorecer uma maior permanência do(a)s educando(a)s nos projetos e possibilitar a reconquista do(a)s educando(a)s evadido(a)s, propiciando um maior alcance desses projetos entre a juventude dos espaços favelados e periféricos.
- Sensibilização inicial dos educandos
- Apoiando e acompanhando os educandos
- Construindo conexões afetivas
- Pensando as questões de ensino e aprendizado
- Construindo uma comunicação engajada
- Trazendo o vestibular para o jogo
- Enfrentando as dificuldades financeiras
- Construindo redes de apoio e parceria
Bibliografia
MARTON FILHO, Marcos Antonio; ARRUDA, Guilherme; CARVALHO, Raíssa Pierri; SCHELLINI, Silvana Artioli. O aluno que evade: comparação entre alunos selecionados por critérios socioeconômicos e por conhecimentos gerais. Revista Ciência em Extensão, v. 8, n. 3, p. 68-74, 2012. Disponível em: https://ojs.unesp.br/index.php/revista_proex/article/viewFile/671/744. Acessado em: 09 de fevereiro de 2020.
PEREIRA, Yasmin Gonçalves; PEREIRA, Yara Gonçalves; MILLER, Poliana Romero; SOUZA, Suelen Ribeiro; JASMIM, Janie Mendes. O Pré-vestibular Social Teorema na modalidade a distância: análise do processo de reestruturação do curso. In: Congresso Internacional de Educação e Tecnologias (4ª Edição), 2018, São Carlos – SP. Disponível em: https://cietenped.ufscar.br/submissao/index.php/2018/article/view/819. Acessado em: 17/11/2019.
SILVA, Richardson B. G.; GUERRA, Saulo P. S.; ARAÚJO, Maria A. M.; ALMEIDA, Loriza L. Evasão no cursinho pré-vestibular da FCA/UNESP: a interpretação do aluno evadido. Revista Científica em Extensão, UNESP, v.6, n.1, p.68, 2010. Disponível em: https://ojs.unesp.br/index.php/revista_proex/article/view/160/338. Acessado em: 09 de fevereiro de 2020.
SOARES, Fernanda Bomfim; GONÇALVES, Pedro Willian Bretas; FERRAZ, Claudio Benito Oliveira. Geografia da Evasão: novos desafios no contexto do projeto cursinho pré-vestibular IDEAL da FCT/UNESP. In Anais do XVI Encontro Nacional dos Geógrafos, Porto Alegre - RS, 2010. Disponível em: https://docplayer.com.br/17519571-Geografia-da-evasao-novos-desafios-no-contexto-do-projeto-cursinho-pre-vestibular-ideal-da-fct-unesp.html. Acessado em: 16 de fevereiro de 2020.
SOUSA, José Nilton; RIBEIRO, Paulo Cesar; ABOUD, Sérgio; CAMACHO, Regina. A universidade e o pré-vestibular. In Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, Belo Horizonte – MG, 2004. Disponível em: https://www.ufmg.br/congrext/Educa/Educa22.pdf. Acessado em 10/10/2019.
STOFFEL, Amanda Ritter et al. Estudo do problema da evasão no cursinho pré-vestibular Esperança Popular da Restinga. Iniciação Científica - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2007. Disponível em: http://conexoesufrgs.blogspot.com/2007/09/estudo-do-problema-da-evaso-no-cursinho.html. Acessado em: 09/02/2020.
THUM, Carmo. Pré-vestibular público e gratuito: o acesso de trabalhadores à universidade. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis/SC, 2000. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/78448. Acessado em 15/11/2019.