Economia no cotidiano das favelas
Estudo relacionado ao trabalho: Clássicos e contemporâneos sobre favelas: Curso IESP-UERJ.
Autoria: Brauner Cruz, Maria Fernanda Maciel e Yasmin Jardim
Nesta aula, debatemos como a economia está presente no cotidiano de moradores de favelas e periferias. Através dos textos de Machado da Silva (2018) e Motta e Neiburg (2023), podemos refletir sobre as formas utilizadas por pessoas de território periférico para fazer dinheiro, seja através de comércios locais, trabalho assalariado, ou pela “informalidade” – como os famosos "bicos". Fala-se em estratégias para denominar essas práticas econômicas que reordenam os cotidianos de diversas famílias, mas também, para denominar uma perspectiva para pensar dinâmicas a partir dos indivíduos. Quando estamos com pouco dinheiro e os preços dos alimentos aumentam, o que fazemos? Quando precisamos de determinado remédio mas não temos dinheiro, qual é o “jeito” que se dá? E quando queremos sair para nos divertir, mas o orçamento é baixo, para onde vamos? Todas essas ações parecem tão pequenas e individuais, mas na verdade, revelam particularidades de processos socioeconômicos maiores. Tratando-se de favelas isso igualmente pode auxiliar à compreensão de como esses territórios se organizam e gerenciam a partir das ações de seus atores.
O texto de Luiz Antonio Machado da Silva busca trabalhar uma ideia que se tornou fundamental para pensar a economia cotidiana de territórios periféricos, como as favelas, que é o de estratégias de vida. Ao consolidar algumas das pesquisas empreendidas pelo autor em cidades como Recife, Salvador e Rio de Janeiro, Machado da Silva (2018) traça algumas das combinações lançadas pelas famílias na busca pelo ganhar a vida. São, portanto, estratégias, no sentido de caminhos pensados, calculados pelas famílias em busca de seu sustento econômico.
O autor, não somente neste texto, mas ao longo de sua pesquisa, inclusive em artigos que compõem o mesmo livro referenciado, enfatiza a simultaneidade das formas de obtenção de renda da classe trabalhadora. A simultaneidade das formas de trabalho é obtida pela ausência de uma regulamentação do mesmo e são esses cenários que combinam o trabalho assalariado com o trabalho doméstico, o trabalho a domicílio ou aquele feito por conta própria. Tendo o objetivo de multiplicar o número de membros ativos economicamente na família em prol da melhora econômica daquela unidade familiar.
Bibliografia:
- Motta, Eugênia. Neiburg, Federico. Misalignments: House money and inflationary experiences. International Sociology, 38 (6), 2023.
- Silva, Luiz Antonio Machado da. Estratégias de vida e jornada de trabalho. In:__. Araujo, Marcella. Cavalcanti Mariana. Motta Eugênia (org.). O mundo popular: trabalho e condições de vida. Rio de Janeiro: Papeis Selvagens, 2018 [1984].
Bibliografia complementar:
- Motta, Eugênia. Economia cotidiana na favela. In:_. LEAL, Claudio Figueiredo Coelho et al. (Org.). Um olhar territorial para o desenvolvimento: Sudeste. Rio de Janeiro : Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, 2015. p. [436]-461.
- Motta, Eugênia. Casas e economia cotidiana. In: _. Rodrigues, Rute Imanishi (org.). Vida social e política nas favelas: pesquisas de campo no Complexo do Alemão. Rio de Janeiro: Ipea, 2016.
- Motta, Eugênia. O que faz o dinheiro da casa. Horizontes Antropológicos [Online], 66, 2023.
Debatedoras/es: Maria Fernanda, Yasmin, Brauner