Na Subida do Morro (música)

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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"Na Subida do Morro" é uma canção emblemática do samba, interpretada pelos Originais do Samba. Lançada nos anos 1960, a música retrata as dificuldades da vida na favela, sendo um marco na popularização do samba de partido-alto e na representação das vozes periféricas no Brasil.

Autor: Hugo Oliveira

Sobre

É uma canção icônica, interpretada originalmente pelo grupo Originais do Samba. Os Originais do Samba, um dos grupos mais influentes do samba de partido-alto, trouxeram um estilo único de interpretação, combinando harmonias vocais com percussão forte e um ritmo envolvente. A performance do grupo nesta música ajudou a popularizar o samba e a voz das favelas no cenário musical brasileiro, tornando "Na Subida do Morro" uma canção emblemática que continua a ressoar até hoje.

Lançada na década de 1960, a música se destaca por suas letras que retratam a realidade das favelas cariocas e a vida na periferia. A canção é conhecida por sua narrativa sincera sobre as dificuldades enfrentadas pelos moradores dessas comunidades, especialmente no contexto da ascensão social e dos desafios diários. No início da música o compositor e cantor Moreira da Silva, descreve na primeira parte a forma característica da vida e movimentação dos moradores dos morros do Rio de Janeiro. Uma atmosfera animada e cheia de personalidade cujos moradores se preocupam uns com os outros, com seus becos, vielas e ladeiras repletas de gente trabalhadora e acolhedora. A relação caraterística do território se manifesta na maneira como os moradores interagem entre si. Portanto, há um perfil de movimentação intensa que se destaca no vai e vem, do fluxo de subida e descida do morro. Ela mostra como essa espacialidade pode influenciar além das dinâmicas de tensões e confrontos nas relações no território. Uma realidade urbana e social em forma de crônica musical, representando um aspecto específico da vida nos morros cariocas.

Letra

Na subida do morro me contaram

Que você bateu na minha nêga

Isso não é direito

Bater numa mulher

Que não é sua

Deixou a nêga quase nua

No meio da rua

A nêga quase que virou presunto

Eu não gostei daquele assunto

Hoje venho resolvido

Vou lhe mandar para a cidade

De pé junto

Vou lhe tornar em um defunto

Você mesmo sabe

Que eu já fui um malandro malvado

Somente estou regenerado

Cheio de malícia

Dei trabalho à polícia

Prá cachorro

Dei até no dono do morro

Mas nunca abusei

De uma mulher

Que fosse de um amigo

Agora me zanguei consigo

Hoje venho animado

A lhe deixar todo cortado

Vou dar-lhe um castigo

Meto-lhe o aço no abdômen

E tiro fora o seu umbigo

Aí meti-lhe o aço, quando ele vinha caindo disse,

- 'Morengueira, você me feriu",

Eu então disse-lhe:

- 'É claro, você me desrespeitou, mexeu com a minha nega'.

Você sabe que em casa de vagabundo, malandro não pede emprego. Como é que você vem com xavecada, está armado? Eu quero é ver gordura que a banha está cara!

Aí meti a mão lá na duana, na peixeira, é porque eu sou de Pernambuco, cidade pequena, porém decente, peguei o Vargolino pelo abdome, desci pelo duodeno, vesícula biliar e fiz-lhe uma tubagem; ele caiu, bum!, todo ensangüentado.

E as senhoras, como sempre, nervosas:

- "Meu Deus, esse homem morre, Moço! Coitado, olha aí, está se esvaindo em sangue'

- 'Ora, minha senhora, dê-lhe óleo acanforado, penicilina, estreptomicina crebiosa, engrazida e até vacina Salk'

Mas o homem já estava frio. Agora, o malandro que é malandro não denuncia o outro, espera para tirar a forra.

Então diz o malandro:

Vocês não se afobem

Que o homem dessa vez

Não vai morrer

Se ele voltar dou prá valer

Vocês botem terra nesse sangue

Não é guerra, é brincadeira

Vou desguiando na carreira

A justa já vem

E vocês digam

Que estou me aprontando

Enquanto eu vou me desguiando

Vocês vão ao distrito

Ao delerusca se desculpando

Foi um malandro apaixonado

Que acabou se suicidando.

Composição: Moreira da Silva / Ribeiro Cunha

Ver também

Música e Favela

Direito à Favela

Produção de Conhecimento em Favelas

Notas e Referências

https://www.letras.mus.br/moreira-da-silva/202343/