Síndrome de Princesa - Mulheres brancas infantilizadas
Vamos à síndrome de princesa: aquela mulher de mais de 30 anos que se veste toda de rosa, com um cachorro a tiracolo, no estilo "Legalmente Loira". Este filme, que fez muito sucesso no início dos anos 2000, mostra a atriz principal querendo virar advogada para provar para o ex-namorado que não era só mais uma loira, era também inteligente; até aí tudo bem, como dizemos informalmente em uma conversa, e o pior você não sabe: tirando a luta feminista e seu desejo de tornar-se profissional, assim como em outros milhares de filmes, a personagem loira é fofa, magra, quase uma prima humana da Barbie, com voz doce, amante da cor rosa e extremamente inocente. Pronto, constrói-se assim a imagem da mulher branca infantilizada e ingênua que pouco sabe se virar sozinha, e digo mais, geralmente acompanhada de suas fiéis escudeiras negras ou não brancas que estão ali como apoio para servi-las incondicionalmente.
Autoria: Suzane30
Se, por um lado, temos uma sociedade que molda e classifica mulheres a partir da sua cor, mulheres brancas como sensíveis, ingênuas, puras e castas, em contrapartida, mulheres negras são vistas como agressivas, arredias, lascivas e raivosas, ‘’aquele que coloca a mulher negra como perigosa, instável, dominada pelas emoções, incapaz de agir racionalmente, como alguém que merece a solidão e que não ligará pra isso pois é muito forte e não precisa do mínimo carinho, cuidado ou atenção.’’(JARDIM, 2016)
Mulheres brancas são racializadas para serem protagonistas belas, recatadas e do lar, enquanto mulheres negras têm o papel secundário de servilismo atrelado à fúria e à falta de feminilidade, não reconhecendo o ódio da mulher negra em situações legítimas pelas violências sofridas, nos cobram aguentar e caladas porque qualquer reação que fuja do trabalho, apoio ou subserviência não é o esperada. Mobilizam afetos para mulheres brancas em detrimento de mulheres pretas ou não, o jogo é um só e só um é autorizado a vencer. Já jogou uma partida de dominó com uma criança e ao final você o deixa vencer primeiro para que ele se sinta importante, segundo para que ela aprenda a jogar, funciona mais o menos assim porque mulheres brancas lidas como frágeis nunca sabem o que estão fazendo, não importa a idade, são sempre lidas como iniciantes, aprendizes que nunca tiveram a intenção, não importa a atrocidade.
Se é a partir de como somos tratados a forma que moldamos nosso comportamento temos duas narrativas, mulheres brancas que desde pequenas são tratadas como princesas e aprendem que, para garantir, se promover ou tecer relações precisam se infantilizar; mulheres negras que não recebem afeto, igualdade de oportunidades e tratamentos acabam por viver à margem estabelecendo relações dúbias, de forma nenhuma culpa uma mulher negra mas sim o sistema de hierarquia e racialização. A medida que uma mulher branca se socializa sendo infantilizada e demonstrando comportamento pueril, mulheres negras são cobradas socialmente para serem o inverso, mulheres negras são socializadas para tudo suportarem, aquele símbolo de cuidadora estigmatizada como ama e mãe de leite é no sentido mais literal daquela que tudo crê, sofre e suporta.
A tática tácita do racismo é incentivar mulheres negras como inabaláveis ao passo de a denúncia, o desconforto e a humanização de corpos que são vistos como animalescos não seja creditada ou na hipótese de ouvida suas emoções transformam-se contra ela, suas emoções são validadas mas as intenções deslegitimadas, somos expostas e humilhadas diariamente taxadas como raivosas e agressivas no intuito de desumanizar nosso comportamento e fala.
O racismo é tão pensado e articulado minuciosamente para o aniquilamento preto que atravessa corpo e mente sem precisar de palavra ou bala, o corpo que cala adoece, a emoção oprimida adoece, a falta de humanização adoece, a falta de cuidado adoece. O capital racial é a maneira de controle de corpos, a forma como o capitalismo manipula o cidadão um poder simbólico por trás de uma estrutura de dominação, a raça convertida para que a distribuição de papéis nos níveis e lugares tenha o seu poder distribuído de acordo com o valor e estrutura social. Um capital humano que destina lugares específicos de acordo com a cor da pele.
Referências bibliográficas[editar | editar código-fonte]
JARDIM, Suzane. Sapphire Negra Raivosa – estereótipos racistas internacionais Parte IX. 2016. Disponível em: https://www.geledes.org.br/sapphire mulher-negra-raivosaestereotipos-racistasparte-ix/. Acesso em: 5 ago. 2024.