O Termo Favela de volta ao IBGE

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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Em um marco histórico, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou a retomada do uso do termo "favelas" no Censo, após 50 anos de substituições por expressões como "aglomerados urbanos excepcionais". A decisão atende a uma demanda histórica dos movimentos sociais e dos moradores dessas áreas, que há muito reivindicam o reconhecimento adequado de suas realidades. Ao restaurar o uso do termo "favela", o IBGE passa a incluir essas comunidades de forma mais precisa e respeitosa, reforçando a importância da autodefinição.

Autoria: Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco e Informações artigo [1]

Foto: Patrick Marinho




Sobre

O uso do termo "favela" no Censo do IBGE marca um momento histórico e significativo na luta por representatividade e reconhecimento das comunidades urbanas marginalizadas no Brasil. Durante cinco décadas, o IBGE utilizou termos como "aglomerados subnormais" e "aglomerados urbanos excepcionais", que, para muitos, reforçavam estereótipos negativos e negavam a identidade cultural e histórica dessas regiões. A decisão de retomar o termo "favela" vai além de um simples ajuste de nomenclatura: trata-se de um ato político e cultural que reconhece a riqueza, resistência e pluralidade dessas comunidades. Este verbete explora as implicações dessa mudança, destacando a importância do termo na construção de identidade, letramento e valorização das favelas como territórios de cultura e luta.

Importância do Termo 'Favela' para a Identidade e o Letramento

O uso do termo "favela" carrega consigo um significado profundamente enraizado na história das lutas sociais e culturais dessas comunidades. Durante muitos anos, expressões como "aglomerados subnormais" foram utilizadas em substituição ao termo "favela", o que contribuiu para a desumanização desses espaços e de seus moradores. A descontinuação do uso do termo original serviu para fortalecer o estigma em torno dessas áreas, retratando-as como espaços de degradação e marginalidade, sem considerar a riqueza cultural e a complexidade das relações sociais presentes.

No entanto, o retorno do termo "favela" é mais do que uma mudança de nomenclatura; ele representa uma reivindicação identitária. Ao recuperar o nome que as próprias comunidades utilizam para se referir a seus territórios, o IBGE atende a uma demanda histórica dos movimentos sociais e populares, que há décadas lutam para que essas áreas sejam reconhecidas por aquilo que realmente são: territórios de resistência, cultura e luta. Ao adotar o termo "favela", abre-se um caminho para uma narrativa mais autêntica, que valoriza as histórias e experiências de seus moradores, em vez de relegá-los ao status de "excepcionalidade" e "anormalidade".

Além disso, a ressignificação do termo está intrinsecamente ligada ao processo de letramento dessas comunidades. O letramento, nesse contexto, refere-se ao empoderamento de seus moradores, que, ao reivindicar o uso de "favela" para definir seu espaço, reescrevem as narrativas dominantes e reafirmam sua própria voz e identidade. Esse ato de autodefinição é um exemplo poderoso de como a linguagem pode ser utilizada como uma ferramenta de resistência e afirmação, desafiando estigmas históricos e propondo novas formas de pensar esses espaços.

Falas de Lideranças Faveladas

Lideranças comunitárias e intelectuais têm se pronunciado sobre a importância de se utilizar o termo "favela" de maneira respeitosa e autêntica. A Deputada Renata Souza destacou que "chamar esses lugares pelo nome que seus moradores reconhecem é um ato de respeito e reconhecimento da sua existência e cultura". A jornalista Gizele Martins também reforçou que "negar o nome é uma forma de apagar a memória", evidenciando a violência simbólica que ocorre quando a linguagem desumaniza as favelas.

Carolina Maria de Jesus, escritora que narrou as dificuldades da vida em áreas pobres, proclamou que "a valorização dos humilhados" começa pela reivindicação da própria história. Já a vereadora Marielle Franco, ícone na luta pelos direitos das favelas, afirmou: "A favela não é só ausência de direitos, é território de luta e resistência". Essa fala reforça que as favelas são centros de resistência cultural, social e política.

Por fim, Eliana Sousa e Silva, fundadora da Redes da Maré, salientou que "chamar esses lugares de favelas é um reconhecimento da riqueza de suas histórias e de seus moradores". A fala de Eliana destaca a importância de usar termos que reflitam as autodefinições e trajetórias dessas comunidades, valorizando suas narrativas e experiências.

Contexto Histórico e Social

O retorno do termo "favela" no Censo é fruto de um processo político de longa data, que envolve movimentos sociais e lideranças de base que lutam pelo reconhecimento e pela visibilidade das comunidades de favelas. Historicamente, a favela tem sido associada à precariedade e à marginalização, mas nos últimos anos, intelectuais, ativistas e moradores têm ressignificado esse espaço como um símbolo de resistência, potência e cultura.

O Censo desempenha um papel crucial ao mapear a população e as condições de vida em todo o país, e a inclusão do termo "favela" ajuda a trazer à tona a realidade dessas áreas, que muitas vezes são negligenciadas pelas políticas públicas. A mudança no Censo também está alinhada a um movimento maior de valorização da favela como território de direitos, e não apenas de carências.

Baseado no Artigo "IBGE volta a usar termo favela, entenda o olhar de Letramento Racial Favelado"

Este verbete é baseado no artigo escrito por Flavinha Cândido, idealizadora do projeto Letramento Racial Favelado, publicado no portal Maré de Notícias. No artigo, Flavinha explora a importância do retorno do termo "favela" no Censo do IBGE, destacando a relevância dessa decisão para a representação das comunidades marginalizadas e a luta pelo reconhecimento de sua identidade. A autora traz uma análise sobre como o uso da linguagem afeta a percepção dessas áreas e de seus moradores, além de compartilhar falas de importantes lideranças comunitárias que têm atuado pela valorização das favelas.