Liberdade Poética (Poesia)

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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 O poesia "Liberdade Poética" é um manifesto que transcende a escrita tradicional e se firma como um ato de resistência. A liberdade poética, presente no título e ao longo dos versos, simboliza não apenas a autonomia criativa, mas também a emancipação de um povo historicamente marginalizado. A linguagem coloquial e o uso de gírias são mais do que escolhas estilísticas; representam um enfrentamento ao academicismo excludente e ao preconceito linguístico. Aqui, a poesia é arma, voz e denúncia, trazendo à tona desigualdades sociais, racismo estrutural e as lutas diárias da periferia


Autoria: Lucas Marte

Resumo

 O poesia denuncia as barreiras impostas pela sociedade ao acesso da população periférica à arte, à cultura e à educação. O eu lírico reivindica sua identidade e sua forma de se expressar, criticando o preconceito contra a linguagem da periferia e contra a presença de corpos racializados na poesia. Ao longo dos versos, há um embate direto contra o racismo estrutural, a marginalização da cultura favelada e as contradições do capitalismo. Além da crítica social, o poema exalta a força e a resiliência de quem enfrenta a exclusão, reafirmando a importância da autonomia, do orgulho e da resistência por meio da arte. O tom desafiador e o ritmo fluído fazem da obra uma expressão autêntica do slam, aproximando-se das vivências e da oralidade periférica.

Letra da Poesia

Nós “versa” na revolta Na letra “cê” percebe o grito A voz que a liberdade solta Nasce das letras que eu crio

Na favela vou criando planos de assalto Me movendo diante do Estado Indo buscar no asfalto O sonho que nos foi censurado

Imagina só, que abuso Nós “criou” o bagulho Nasceu na nossa cultura E ainda sim "somos intruso?"

Querem nos enganar, Mentir e omitir Eles temem autonomia De ver um diploma nas mãos de um cria

Mas é isso, mó paz Protagonismo voltando pra casa Sucesso “pros menor” na favela Sorriso das mães se orgulhando da janela

Eu sei, isso te incomoda Não ver uma pele branca fazendo poesia Mas isso não me importa

Já sei também o que você vai falar Isso não é poesia, olha só quanta gíria Preconceito começa na gramática E termina com a polícia

Mas foda-se Essa é a minha identidade Declamo a minha verdade

Tô traduzindo a minha essência Cada letra que eu ponho no verso É um grito de independência

Vai falar o que? O cria é esperto Rima e fala gíria Gíria não é dialeto

Mas se eu quiser Mostro como se brinca Pega visão, presta atenção Pra não ficar de pista

Você se queixa da minha linguagem coloquial É assim que dissemino um ideário anticolonial Desarticulando a padronização do poeta comum Chegando pra desconstruir seu senso comum

Aumentei a métrica para a mensagem se adequar a estrofe Respeite a liberdade poética, isso não é de sua posse Trago o que você marginaliza para esculpir minha arte Ouça a sonoridade e o ritmo que te cria alarde

Ressignificando o fazer cultural Combatendo esse racismo estrutural Na luta, ações sem diligência Porta voz para denúncia de toda essa violência

Se for elaborar algo contraditório Não precisa fadigar na procura É só olhar para o nosso território Você encontra um povo clamando por ajuda

Leia os nossos livros Conte a nossa história Roubaram nossas riquezas Mas mesmo assim somos a escória

Tentam nos apagar em tentativas infelizes Pode atirar Tentem me matar Mas nunca vão sumir com as minhas raízes

Poderia dissertar a materialidade histórica e explicar a geração dos seus frutos E como ninguém mexe nos próprios privilégios para não prejudicar os lucros Pois é, o capitalismo fazendo a manutenção desse Estado burguês Com síndrome de vira-lata ansiando para falar inglês

Mas chega, cansei, isso me “desgatô” Papo de ingua Parecia até outra língua

Se isso é poesia, e retiro Nao vou falar de política porque isso me causa dor Essa porra não tem swing Não tem balanço e nem cor

Papa reto Faço daqui o final Vou seguir na mesma Não quero perder o feeling

Na sessão Fé pros meus cria Abraço pra quem fica Vou me adiantar “pra” não perder o busão


Sobre o Autor

Lucas Marte é:

  • Cientista Social
  • Escritor e Poeta
  • Educador
  • Artista Visual
  • Fundador do Coletivo Ecos - SG