Periferia

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Revisão de 12h30min de 18 de março de 2025 por Flávia Gonçalves (discussão | contribs) (Ia adicionar foto mas desisti)
(dif) ← Edição anterior | Revisão atual (dif) | Versão posterior → (dif)

O termo "periferia" vai além de uma localização geográfica; é uma categoria política que evidencia as hierarquias raciais e sociais presentes nas cidades. O movimento negro tem destacado como a periferia é um espaço de resistência e luta, onde a população negra constrói estratégias coletivas de sobrevivência e enfrentamento às opressões. A partir das periferias, emergem práticas culturais, artísticas e políticas que contestam a ordem vigente e reivindicam o direito à cidade, à memória e à dignidade.

Manifestações como o funk, o hip-hop, os saraus de poesia e as rodas de samba são expressões culturais que nascem nas periferias e carregam em si a potência de denúncia e transformação social. Além disso, organizações comunitárias e coletivos negros atuam nessas áreas para combater a violência policial, o genocídio da juventude negra e a falta de oportunidades. A periferia, portanto, é um espaço de contradições: ao mesmo tempo em que é alvo de abandono e violência do Estado, é também um território de resistência, onde a população negra constrói alternativas de vida e luta por justiça social.

As periferias são fruto de um processo histórico de segregação espacial e racial, que reflete e reforça as desigualdades estruturais do Brasil. Nesses territórios, a ausência de políticas públicas efetivas se materializa em infraestrutura precária, acesso limitado a serviços básicos como saúde, educação e saneamento, e na perpetuação da violência institucional. As periferias concentram uma população majoritariamente negra, que carrega o peso do racismo estrutural e da necropolítica — um sistema que decide quem merece viver e quem está destinado a morrer.

Ainda assim, a periferia resiste. É nesses espaços de exclusão que a população negra constrói estratégias coletivas de sobrevivência e luta, transformando a marginalização em potência. A resistência se manifesta na organização comunitária, nos movimentos culturais, nas práticas artísticas e nas redes de solidariedade que desafiam a lógica de abandono e opressão. A periferia é, portanto, um território de contradições: enquanto é alvo da violência do Estado e do descaso das elites, também é berço de transformação, onde a criatividade, a coletividade e a luta por direitos reafirmam a dignidade e a humanidade de quem habita esses espaços.