Conceição Ferreira da Silva

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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 Dona Conceição, antes de vir para o Rio de Janeiro, morou em Minas Gerais, no Além Paraíba, onde trabalhou muito desde sua infância. “Quantas sacas de café já apanhei, meu Deus, lá em Minas? A gente trabalhava satisfeita. Depois, a gente fazia aqueles terrenos grandes pra despejar aqueles balaios de café. Eu ganhei muito dinheiro assim”.

Prestava serviços relacionados ao café e arroz para um fazendeiro, porém sua família possuía um terreno próprio para cultivar o que lhes fosse necessário. Quando menina, já capinava, plantava milho, arroz e feijão; “a gente só brincava dia de domingo, porque não trabalhava”.

Era filha de dona Ana, tinha 15 irmãos, mas todas as mais novas já faleceram. Sua família tinha o hábito de se reunir aos domingos em sua casa, que era pequena, porém com um quintal muito espaçoso.

 

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Chegando ao Leme, ficou admirada quando viu pela primeira vez o mar, “de ver tanta água”, e ficava observando as ondas “que, quando batiam aqui em cima do muro e atravessavam a rua. Era muito bom!” Ao chegar ao Chapéu Mangueira, deparou-se com muito mato e casas de sapê, que ainda eram feitas todas unidas, “tudo barraco junto, feito de zinco. A gente vivia todo mundo no meio do mato”, em caminhos estabelecidos por trilhas precárias.

Nessa época trabalhava em “casa de madames” como doméstica. Chegava em casa só às 10 e meia da noite em meio à escuridão e aproveitava as obras dos edifícios no bairro para pegar água e lenha para cozinhar. Buscava tudo que lhe era necessário na rua Princesa Isabel e admite que, mesmo com todas as dificuldades de antigamente, “ verdade é que, apesar de todo sacrifício, era melhor do que hoje”.

Muitas pessoas que ela viu colaborando na formação da comunidade já morreram, mas não deixou de demonstrar sua admiração pela irmã, dona Marcela, que junto a dona Renée, uma francesa que trabalhava na igreja do Leme, se destacou no processo urbanístico e principalmente social do local.

Sua irmã ajudou muito na construção da creche que hoje tem seu nome em homenagem. Foi professora da escolinha que, atualmente, se encontra fechada. Antes das grandes construções, já lecionava em pequenos barracos; “alfabetizou muita gente no morro”. Foi fundamental sua participação na criação do posto de saúde. Ela e Dona Renée “não deixavam ninguém dentro de casa, botavam todo mundo para trabalhar”. As duas cuidavam e levavam remédios às pessoas, fizeram diversos partos, além de muitas outras contribuições no convívio do morro.

Conceição gostava muito, “gostava não, eu gosto ainda, estou viva!” de dançar e ir à gafieira, onde, com seus parceiros, se divertia ao som do bolero, tango, salsa e samba. Curtia bailes em Vila Isabel, Salgueiro, Lapa e adorava a gafieira na Rua da Santana, à qual ia com suas amigas da Barata Ribeiro, onde trabalhava e voltava quatro da manhã de ônibus ou nos bondes que as deixavam no canto do Leme. Dançava de tudo e sempre tinha um par a sua espera.