Marginal (coletivo)

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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Informações extraídas das redes sociais do coletivo 

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Sobre a Marginal

Em frente, “a Marginal” permanece contrariando estatísticas e reexistindo em uma sociedade de sobrevivências várias, sendo este, o legítimo e tortuoso existir, um levante histórico de luta contra os violentos contextos midiáticos e jurídico-institucionais, e, o comportamento sistêmico que ampara e legitima disparidades.

Neste sentido e direção, de obstinação, revolta e ternura, em meados de 2015, nasce um sonho que vislumbrava na tensão e potência das palavras de quem ancestralmente experimentou-experimenta na dor– da/na senzala, da favela, das vielas, das celas, dos becos, dos quilombos, das guilhotinas e das salas de aula –fazer do exercício do grito “um passo para uma revolução”.

De comentário em comentário, eu mergulhei solo naquilo que chamam de “redes e conexões” carimbando #Marginal como estratégia comunicacional em todos os muros da internet. Naquele momento, buscando agregar aos debates virtuais opinião em corpo de verso:

“Feminicídio?
O meu Word ainda corrige.
Deve ser por isso que os Mano finge que não existe”;

“Assassinato brutal
em frente de casa,
saiu no jornal.

Vejo corpos estirados,
almas lavadas,
sangue derramado,
mais 5 marginais.

- 12,15,16,19,8.

Não precisa de ordem pra contar que:
- Alguns não vão nem fazer 18”;

“Lembra-se do Sebastião?
Tá vivo mais não.
Morreu anteontem,
em um beco fechado de alemão.

Tava indo para escola,
com o caderno na mão.

Cê tá ligado como é rato!

Atira,
pergunta depois...

E ainda colocaram uma PT na mão...
- Sim, do Sebastião!”.

Espancado mil vezes, recebi em minha caixa de mensagens inúmeros desejos de violência. Queriam atentar contra a minha vida e de quem eu amo... creio que há quem tenha revisto os impulsos mas não desacredito que ainda haja quem tenha coragem.

Andava escrevendo demais, concluí.

Contra eles –

os fuzis –,

um teclado,

algumas ideias,

um punhado de orações.

Mas realizava o mínimo contra tiros em meu portão, sendo este apenas um exemplo.

Mesmo assim, em uma turva caminhada, com o apoio de muitEs, este espaço de aconchego cresceu, e cresceu tanto que observei parte da minha (coletiva) história sendo escrita em grandes portais, compartilhada por “influencers globais”, e mais importante do que os likes, tornando-se conteúdo para professores, auxílio de aula e movimento – do Pará ao Japão.

Acontece que, à margem, o inevitável aconteceu! – diversas vezes. A violência diária soterra sonhos, inibe projeções e perspectivas. “As boletas” não param nunca de chegar e a saúde “morro abaixo” fez-de-mim um fodido de bolsos vazios, ainda que de peito cheio, ideias mil.

Jamais desisti, registro.

Porém pouco consegui avançar com a revolução na métrica que, desenhada e sonhada, gritou ser possível um dia. Mesmo que este sonho complexo, sim!, tenha em diversos momentos garantido a minha vida. Como bem lembro, eu, Jota Marques, “o Marginal”, que escreve e conta esta história até aqui, numa espécie de conversa comigo e com você.

Enfim, dei nome à prosa: “Um passo seguinte”.

Porque é preciso seguir em frente, e junto, em passos únicos.

Explico, portanto, que aquela que um dia, para muitos, significou ser apenas uma #TAG consolidou-se movimento e fluxo: #SomosMarginais mais do que nunca é Coletivo, transformando este espaço, a Marginal, num fazer de muitas cores, saberes, mãos e fios.

Pensando, sonhando, produzindo, sendo.

Construindo mais do que resultados, mas processos que encontram em si a potência formativa, momento que utiliza-é-utilizado pela arte e educação crítica-criativa, por vezes responsável pela resistência dos grupos e territórios abandonados e pelo fortalecimento das transformadoras identidades à margem.

Esses processos que atravessam e transcendem o perigoso senso comum.