Transformações Urbanas e Remoções de Favelas
A cidade do Rio de Janeiro passou por mudanças consideráveis nos últimos anos. Tais “transformações”, assim como classificado pelo discurso oficial, implicaram alterações significativas nos usos e fluxos dos espaços e lugares da cidade. Seria possível afirmar que, na dimensão em que ocorreram, apenas são comparáveis às reformas urbanas empreendidas pelo prefeito Pereira Passos no início do século XX. Não à toa, o ex-prefeito Eduardo Paes, responsável pelas intervenções que levaram às transformações acima mencionadas, costumava reivindicar esta herança para caracterizar seu governo. Neste compasso, a conjuntura específica recente no Rio de Janeiro permitiu a configuração das condições de possibilidade para retomada de uma ação estatal que se considerava, até então, superada politicamente: a remoção de favelas Neste contexto, a partir especificamente de 2009, o prefeito passou a questionar o que ele próprio e outros chamavam de "tabu da remoção", decretos de "reordenamento" da cidade passaram a ser publicados, novas justificativas foram produzidas. Listas de favelas a serem retiradas foram divulgadas e as ações de demolição se iniciariam na sequência. Na narrativa elaborada para justificar a intervenção sobre estes territórios, o termo “remoção” foi reincorporado e ressignificado: não seria mais possível pensá-lo como algo “autoritário”, como o debate público dos anos 1980 assim o traduziu, mas como uma forma de ação estatal que, além de equalizar e equilibrar o espaço urbano em fragmentação, permitiria oferecer melhores condições de vida aos moradores que estivessem habitando áreas classificadas no interior desta argumentação como impróprias, seja por estarem situadas em “áreas de risco”, de proteção ambientais ou “não urbanizáveis. Segundo a prefeitura, entre 2009 e o início de 2014, 20,3 mil famílias foram removidas de suas casas. Ocorreram remoções em todas as regiões da cidade do Rio de Janeiro. Contudo, o fluxo populacional provocado pelas remoções seguiu, quase sempre, a seguinte direção: os moradores de favelas das Zonas Sul, Norte/Subúrbio, Jacarepaguá/Recreio dos Bandeirantes foram direcionados para a Zona Oeste, especificamente para áreas dos bairros de Campo Grande, Cosmos, Santa Cruz. Muitos destes deslocamentos implicaram uma mudança de até 40 quilômetros de distância do local original de moradia, além de apresentarem diferentes formas de pressão e violência por parte dos aparatos estatais contra os habitantes destas localidades. Diante deste cenário, os moradores se organizaram de diferentes maneiras para resistir a este processo, acionando diversos mecanismos de denúncia pública, além dos esforços diários – e criativos – para continuar vivendo em meio à destruição produzida pelas ações de remoção.
Autor: Alexandre Magalhães