Aquilombamento
A palavra aquilombamento significa ‘’pau de feira’’ um tipo de material utilizado para levantar telhados, ressignificada hoje quer dizer potência e luta pela liberdade. Os quilombos foram o espaço de resistência e luta contra a escravidão os escravos que fugiam e encontravam outros escravos construíam quilombos, comunidades que se recusavam a aceitar a escravidão. Para além do sentido inicial da palavra aquilombamento e do sentido dos quilombos como comunidade física propriamente dita, temos o aquilombamento como luta material e imaterial como símbolo de resistência e ancestralidade.
Autoria: Suzane e Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco.
Sobre[editar | editar código-fonte]
A palavra aquilombamento significa ‘’pau de feira’’ um tipo de material utilizado para levantar telhados, ressignificada hoje quer dizer potência e luta pela liberdade. Os quilombos foram o espaço de resistência e luta contra a escravidão os escravos que fugiam e encontravam outros escravos construíam quilombos, comunidades que se recusavam a aceitar a escravidão. Para além do sentido inicial da palavra aquilombamento e do sentido dos quilombos como comunidade física propriamente dita, temos o aquilombamento como luta material e imaterial como símbolo de resistência e ancestralidade.
Por meio da coletividade, conexão e afeto para sustentar e solidificar essas relações como resgate de coletividade e identidade o aquilombamento potencializa nossas relações individuais através da potencialização do coletivo, essa monografia nasceu a partir das minhas experiencias individuais que tornaram-se coletivas quando entendi que milhares de meninas e mulheres negras passavam o mesmo que eu. O resgate da minha autoestima e identidade, âmbito social, emocional e cultural só foi possível por construir com meus pares o afeto, exercer meu pertencimento por mais que não soubesse que o tinha, era nada em lugar nenhum, por mais dura que essa frase possa ser transformei a solidão da mulher preta em encontros que teceram relações em um sentimento único, não estamos sozinhas.
Se você é negro provavelmente já ouviu a frase ‘’ o racismo nosso de cada dia’’ é a expressão usada para cada santo dia desde a hora que acordamos a hora que vamos dormir e enfrentamos o racismo em seus diversos aspectos, velados ou não, sutis ou abertos eles estão lá como um lobo a espreita ou uma cobra que anseia em dar o bote, nossos que Segundo Bell Hooks, “estar na margem é ser parte do todo, mas fora do corpo principal” (2019, p. 67) dessa forma a margem como foram criados os quilombos transformaram-se em um movimento de possibilidades através do aquilombamento, um espaço de reescrever, foi o que mudou o curso da minha história e de tantas outras o que mais me motiva a continuar escrevendo, a certeza do encontro, que esse pequeno pedaço do meu caminho encontre tantos outros até tronar-se grande o nosso aquilombamento.
Não vejo e não quero outra forma de resistir que não seja pela luta coletiva é a forma de se religar com sua comunidade de origem resgatando e regando nossa cultura, quantas vezes sentimos as dores causadas pela falta de pertencimento, como aponta Frantz Fanon ‘’um-não-lugar-eterno’’ (FANON, 2008, p. 35) uma vez que a diáspora negra, leia-se escravidão, não só não ficou como arrancou todas as raízes negras que eram possíveis sendo esse um marcador fundamental para entender essa construção e reconstrução de identidade. Quilombos modernos são nossa forma de não sucumbir e nos fortalecer cotidianamente.
Foi junto dos meus que descobri abri espaço e passagem para um lugar fundando meus próprios referenciais para manter a ancestralidade, memórias e existências, mais que a organização social é a rendição e salvamento individual que acaba por tornar-se coletivo quando me descobri e descobri tantas, outras senti que o fardo que carregava de estranheza e inadequação tinha um nome, racismo. Não era nada sobre mim, não era nada comigo, não era nada que eu tivesse feito ou nada que pudesse fazer para evitar, era a cor da minha pele que gritava sem eu falar que vinha antes de qualquer atitude ou apresentação minha, era meu carro chefe, meu outdoor em letras garrafais, meu carro de tele mensagem daqueles cafonas do anos 90 que são impossíveis de não ouvir no quarteirão, eu sou preta! É e vai ser pra sempre assim, mas dessa vez aquilombada e nutrida dos meus, abram caminho.
Surgimento[editar | editar código-fonte]
O conceito de "aquilombamento" extrapola a ideia do quilombo como um espaço físico e ganha um sentido mais amplo de organização coletiva e resistência. Ele não se refere apenas ao ato de fuga, mas também à formação de redes de solidariedade e à criação de espaços onde valores culturais africanos pudessem ser mantidos e transformados. No período colonial, o aquilombamento foi uma resposta direta à violência da escravidão, onde os negros escravizados formavam grupos de resistência para lutar contra as condições desumanas impostas pelos senhores de engenho e pela sociedade colonial. O quilombo mais famoso e símbolo dessa resistência é o Quilombo dos Palmares, localizado na região nordeste do Brasil, que chegou a abrigar milhares de pessoas e resistiu por quase um século, sendo liderado por figuras emblemáticas como Zumbi dos Palmares[1].
O termo "aquilombamento" passou a ser utilizado em um sentido mais contemporâneo, referindo-se também a uma forma de resistência política e cultural. Ele é uma prática que ressurge em movimentos sociais, especialmente no contexto das lutas afro-brasileiras, como uma maneira de construir redes de apoio mútuo e promover a conscientização racial, a autonomia e a preservação das tradições culturais africanas no Brasil. Assim, o aquilombamento simboliza tanto a resistência física e política à opressão quanto a construção de uma identidade coletiva afrodescendente no país[2].
História e Cultura do Aquilombamento[editar | editar código-fonte]
Historicamente, os quilombos foram formados em várias regiões do Brasil, e cada um desenvolveu características culturais específicas, dependendo de sua localização geográfica e das etnias africanas predominantes entre seus habitantes. Esses espaços se tornaram centros de resistência à escravidão e à dominação colonial, além de serem locais onde os valores culturais africanos, como a oralidade, as práticas religiosas e a organização social, eram mantidos. No Quilombo de Palmares, por exemplo, havia uma organização social estruturada, com práticas econômicas, agrícolas e religiosas próprias, refletindo a pluralidade cultural dos povos africanos que ali se reuniam[3].
Além dos quilombos históricos, o aquilombamento está presente na forma como as comunidades negras urbanas e rurais, no Brasil contemporâneo, mantêm viva a tradição de resistência e solidariedade. As comunidades quilombolas contemporâneas, reconhecidas pela Constituição de 1988, são descendentes diretas desses quilombos históricos e lutam pelo direito à terra e à preservação de suas culturas e tradições. Essas comunidades representam um legado vivo do aquilombamento, continuando a lutar por autonomia, identidade e direitos[4].
Culturalmente, o aquilombamento é visto como uma força de resistência contra a assimilação e a opressão. Ele está presente nas manifestações culturais negras, como o candomblé, a capoeira e o samba, que nasceram de contextos de resistência à escravidão e às políticas de invisibilização cultural impostas pelo colonialismo e, mais tarde, pelo racismo estrutural. Essas práticas culturais, desenvolvidas nos quilombos e nas periferias urbanas, são expressões de um aquilombamento que persiste ao longo da história[5].
Relevância Política[editar | editar código-fonte]
O aquilombamento possui um significado político profundo na luta por justiça social e igualdade racial no Brasil. Nos dias atuais, o termo é frequentemente utilizado por movimentos negros para se referir à organização comunitária e à resistência coletiva contra o racismo, a violência estatal e a marginalização social. O aquilombamento moderno envolve a criação de espaços de autonomia e de apoio mútuo, onde pessoas negras possam se reunir, compartilhar experiências e fortalecer suas identidades, sem a interferência das estruturas opressoras.
Movimentos como o Movimento Negro Unificado (MNU), que surgiu na década de 1970, e as ações de ativistas contemporâneos adotam o aquilombamento como uma estratégia de enfrentamento das desigualdades raciais. Nesses espaços, discute-se a importância da representatividade negra, do acesso a direitos como educação, saúde e terra, e da promoção da consciência racial e histórica entre as novas gerações. O aquilombamento, portanto, não é apenas uma memória histórica, mas uma prática política ativa que influencia diretamente as lutas por direitos no Brasil contemporâneo[6].
Além disso, o reconhecimento das terras quilombolas pelo Estado brasileiro é uma das principais conquistas da luta política inspirada pelo aquilombamento. O direito à terra é essencial para a manutenção da cultura e da autonomia dessas comunidades, que continuam a enfrentar desafios relacionados à invasão de suas terras por grandes corporações, à violência agrária e à falta de políticas públicas adequadas[7].
Ver também[editar | editar código-fonte]
- ↑ Moura, C. Palmares: A Guerra dos Escravos. São Paulo: Brasiliense, 2018.
- ↑ Nascimento, A. O Quilombismo: Documentos de uma Militância Pan-Africanista. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1980.
- ↑ Silva, E. P. Cultura e Resistência nos Quilombos do Brasil Colonial. In: Estudos Afro-Brasileiros, vol. 4, 2019, pp. 67-85.
- ↑ Almeida, D. S. Quilombos Contemporâneos e a Luta por Terra no Brasil. Revista de Direitos Humanos, 2020, vol. 13, pp. 34-50.
- ↑ Gomes, F. S. A Resistência Cultural Negra no Brasil: Candomblé, Capoeira e Samba. Revista História e Cultura, 2016, vol. 22, pp. 23-38.
- ↑ Carneiro, S. Aquilombamento Político e a Luta do Movimento Negro. In: Conferência Nacional sobre Igualdade Racial, 2021.
- ↑ Oliveira, M. L. Territórios Quilombolas: Desafios e Perspectivas na Atualidade. Revista de Geografia e Desenvolvimento Rural, 2019, vol. 8, pp. 45-63.