Racismo religioso
O racismo religioso é uma forma de discriminação que se dirige a indivíduos ou grupos baseados em suas crenças religiosas. Ao longo da história, esse tipo de racismo tem sido fonte de conflitos, perseguições e violência, afetando a convivência entre as comunidades e as relações entre as nações. A intolerância religiosa pode se manifestar de diversas formas, desde comentários respectivos e estereótipos na vida cotidiana até políticas de Estado que restringem a liberdade de culto, passando por atos de violência e terrorismo motivados pelo ódio religioso. O combate ao racismo religioso requer um esforço conjunto e multifacético que envolve indivíduos, comunidades, organizações e governos. A educação desempenha um papel fundamental, promovendo o respeito e a compreensão entre as diferentes crenças. É importante fomentar o diálogo inter-religioso, criar espaços onde pessoas de religiões distintas possam compartilhar suas experiências, discutir suas diferenças de maneira respeitável e encontrar pontos em comum. É crucial que os governos implementem leis que protejam a liberdade religiosa e perseverem no discurso de ódio e discriminação. Em última instância, o combate contra o racismo religioso é um caminho para uma sociedade mais inclusiva e harmoniosa, em que todos podem viver e expressar suas crenças sem medo de serem discriminados. A solidariedade, a empatia e o respeito mútuo são valores essenciais que devem guiar nossas ações e relações interpessoais. Somente através do reconhecimento de nossa diversidade e da celebração de nossas diferenças, poderemos construir um mundo onde o racismo religioso seja uma sombra do passado.
Autoria: Cristiane Silva e Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco.
Sobre[editar | editar código-fonte]
O conceito de racismo religioso se refere à discriminação e violência praticadas contra determinadas religiões, especialmente as de matriz africana, com base em preceitos raciais e preconceitos históricos. Surgido nas discussões sobre direitos humanos no sistema das Nações Unidas na década de 1960, o termo foi ganhando peso jurídico com o passar dos anos. No Brasil, essa forma de racismo se manifesta majoritariamente contra o candomblé, a umbanda e outras tradições afro-brasileiras, e está intimamente ligada ao racismo estrutural do país[1][2]
Historicamente, as religiões de matriz africana foram associadas ao "mal" por meio de construções eurocêntricas que visavam demonizar as práticas espirituais de povos negros escravizados no Brasil. Um exemplo desse racismo ocorre quando terreiros são invadidos e destruídos, ou quando adeptos são atacados verbalmente e fisicamente por usarem vestimentas tradicionais dessas religiões. Nos últimos anos, houve um aumento significativo desses ataques, e a legislação brasileira passou a tratar a injúria racial como crime de racismo, o que torna essas ofensas inafiançáveis e imprescritíveis[1][3].
Um caso emblemático é a violência promovida por traficantes evangélicos que expulsam praticantes de religiões afro-brasileiras das favelas, criando uma conexão perigosa entre racismo religioso e fundamentalismo religioso. A negação dessas religiões como parte legítima do patrimônio cultural brasileiro também se reflete em atitudes diárias, como o uso de termos pejorativos para substituir nomes de comidas e práticas associadas a essas tradições, reforçando o apagamento cultural[3][4].
Essa forma de violência não é apenas religiosa, mas também racial, visto que as vítimas são, em sua maioria, pessoas negras. Esse entrelaçamento entre raça e religião reflete a continuidade da marginalização histórica dessas comunidades no Brasil, demonstrando que o combate ao racismo religioso exige um enfrentamento mais amplo ao racismo estrutural no país[3]
Racismo Religioso no Brasil[editar | editar código-fonte]
O Brasil possui uma longa história de racismo religioso, principalmente contra religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda. Esses casos envolvem desde agressões físicas e verbais até ataques a terreiros e a destruição de símbolos religiosos.
Nos últimos anos, o Brasil tem registrado um aumento alarmante de ataques a terreiros de candomblé e umbanda. Um estudo realizado pela Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras revelou que cerca de 50% dos terreiros pesquisados sofreram algum tipo de ataque nos últimos dois anos[2]. Esses ataques envolvem desde vandalismo até ameaças e violência física contra praticantes. Em Salvador, Bahia, por exemplo, um dos maiores centros de tradições africanas no Brasil, diversos terreiros foram alvo de invasões e depredações por grupos que associam essas religiões ao "mal"[3].
Um fenômeno recente e preocupante envolve a expulsão de praticantes de religiões afro-brasileiras de favelas dominadas por traficantes que professam a fé evangélica. Nesses casos, mães de santo, pais de santo e seus seguidores são ameaçados e forçados a deixar seus locais de culto sob risco de violência. Em 2019, a imprensa reportou diversos casos no Rio de Janeiro, em que traficantes, alegando razões religiosas, destruíram terreiros e intimidaram seus frequentadores[3][4].
Em 2017, um caso de grande repercussão envolveu uma menina de 11 anos no Rio de Janeiro, que foi apedrejada enquanto caminhava para um terreiro usando roupas brancas, típicas de sua religião. Esse ataque gerou ampla comoção e debates sobre a necessidade de mais ações governamentais contra o racismo religioso no Brasil[3]. A violência contra crianças praticantes dessas religiões é um reflexo da intolerância e do racismo presentes na sociedade.
Além dos ataques físicos, o racismo religioso também ocorre de forma simbólica e verbal, especialmente nas redes sociais. Praticantes de religiões de matriz africana frequentemente sofrem agressões verbais e são acusados de "adorar o diabo", com suas imagens e símbolos sendo desrespeitados publicamente. A internet se tornou um campo fértil para a disseminação desse tipo de discurso de ódio, o que amplia o alcance do racismo religioso[4][2].
Esses exemplos demonstram que o racismo religioso no Brasil vai além da intolerância religiosa, envolvendo uma discriminação racial profunda e estruturada que precisa ser enfrentada com ações mais efetivas por parte das autoridades e da sociedade civil.
Vídeos sobre Racismo Religioso[editar | editar código-fonte]
Ver também[editar | editar código-fonte]
Instituto de Estudos da Religião - ISER
- ↑ 1,0 1,1 CONECTASO que é racismo religioso e como ele afeta a população negra. 2022.
- ↑ 2,0 2,1 2,2 TERRA. Racismo religioso: entenda o que é e como denunciar. 2023.
- ↑ 3,0 3,1 3,2 3,3 3,4 3,5 GELEDÉS. Racismo religioso é o retrato da intolerância no Brasil. 2016.
- ↑ 4,0 4,1 4,2 ROCHA, Carolina. Racismo religioso. Religião e Poder, 2022