Favela Santa Marta – 70 anos
Depoimento de Itamar Silva sobre a história, memórias e vivências relacionadas à favela Santa Marta, localizada no bairro de Botafogo, na Zona Sul do município do Rio de Janeiro. Antigo morador do Santa Marta, Itamar é reconhecido por muitos como personalidade que é referência local. Esta fala foi feita por ocasião dos 70 anos da favela.
Autoria: Itamar Silva
70 anos? Vale a pena comemorar[editar | editar código-fonte]
Esta é a frase repetida pelos moradores mais antigos da favela.
“No começo tudo era mato”.
1ª Missa e seu nome de batismo
“Eu subi lá no Pico. Aqui embaixo naquele tempo não tinha muito barraco. Celebramos a missa no local onde hoje é a capelinha. Aqui vai ser o refúgio para nosso Senhor descansar. Como Santa Marta, que era dona de uma casa lá na Palestina, recebia Jesus quando ele estava cansado. Então vamos fazer aqui a mesma coisa! Aqui vai ser uma residência de Santa Marta, ela vai ser a padroeira disso aqui”. ( Padre Velloso).
Um pouco de história[editar | editar código-fonte]
Alguns acham que setenta anos é muito tempo. Outros dizem que não! Mas vejamos alguns fatos que mudaram a história, no mundo e no Brasil, nos últimos 70 anos: Tivemos o que ficou conhecido como a era Vargas – 1930/1945 -1951/1954 – Getúlio Vargas foi presidente do Brasil por três vezes até se suicidar em 1954.
A Segunda Guerra Mundial ( 1940 a 1945) dividiu o mundo em dois: o bloco socialista puxado pela União Soviética e o Bloco capitalista puxado pelos Estados Unidos, até a queda do muro de Berlim em 1999, quando os Estados Unidos virou “o grande império”
Juscelino Kubichek modernizou o Brasil entre 19... e d19... E criou Brasília, a nova capital do pais. João Goulart ameaçou fazer um governo socialista e foi obrigado a renunciar. Veio a ditadura, governos militares, muita opressão, a democracia foi varrida do solo brasileiro. Até a redemocratização com as eleições de 1982.
O Brasil, até 1950, tinha 80% de sua população vivendo no campo, na roça, hoje, mais de 80% vive em cidades como o Rio de Janeiro. Nesse processo de mudança, aumentou o número de favelas: muita gente veio para as cidade a procura de emprego e um jeito de sustentar a família.
No mundo, houve uma revolução cultural: rock roll, lambreta, mulheres fumando em público, movimento Hippye, guerra no Vietnan e... nas favelas, mulheres lavavam roupa prá fora, carregavam lata dagua na cabeça e sonhavam com uma vida melhor para seus filhos. As lutas pela sobrevivência na cidade crescia. Muitas favelas foram removidas para dar lugar a grande prédios, mas as favelas resistiram e continuaram a crescer, em silêncio. O Rio de Janeiro deixou de ser a capital do pais, mas não perdeu a sua importância e continuo atraindo muito gente.
E como o Santa Marta viveu este período?[editar | editar código-fonte]
Por aqui muita coisa aconteceu: aumentou muito o número de moradores: aqueles que haviam chegado de São Fidélis, campos, minas gerais, nos anos 30 e 40, agora se juntavam a um grupo muito maior que chegava do Ceará, da Paraíba, de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Maranhão, Bahia e outros estados do norte e do nordeste. A água que antigamente era apanhada na mina, no pocinho, no terreno da embaixada da Inglaterra ( onde hoje é a prefeitura), em Icatu ou nos prédios lá em baixo, agora chega direto na torneira da cozinha, no chuveiro do banheiro e na máquina de lavar roupa. A vela, a luz de lamparina, o lampião de querosene, ou a luz elétrica, fraquinha, que não dava para ligar uma geladeira, agora ilumina todo o morro, é forte, direto da light e pode-se ligar inclusive aparelhos de ar condicionado. O barraco de tábua e zinco deu lugar aos duplex e triplex com lajes que permitem contemplar a cidade, de cima. Os caminhos de pedra, escorregadios, deu lugar a uma escadaria que parece infinita, com degraus do mesmo tamanho em todo o percurso. O visual da favela mudou.
No início, a igreja católica era a única responsável pelos trabalhos sociais mas chegaram outras instituições e, hoje, o Santa Marta abriga um conjunta de iniciativas sociais que tem ajudado a dinamizar a vida neste lugar.
Num depoimento, no vídeo Duas Semanas no Morro, uma moradora diz: “a meu filho, eu cheguei aqui em 1935 e não tinha barraco nenhum por aqui. Só um ou dois...”
Entrevistando D. Madalena, que foi a primeira catequista do Santa Marta, ela afirma que chegou na favela em 1941.
E certamente teremos outras referências de data de moradores mais antigos.
No entanto, Com as informações que temos , podemos dizer que Santa Marta tem no mínimo 70 anos, comprovados a partir do depoimento de antigos moradores e colaboradores. É uma idade redonda, e bonita. Certamente, todos nós, queremos chegar aos setenta anos de idade com o dinamismo e vitalidade do Morro de Santa Marta. É bom ter uma idade referência, porque afirma que este local tem uma longa história, construída com alegria, lágrima e muita disposição. A favela não começou ontem, o seu batismo foi feito no alto do Morro num momento de muita esperança e, a confirmação de sua existência, é feita cotidianamente por cada um de nós.
Então, pode ser que o Santa Marta tenha um pouco mais de setenta anos , mas não deve ser muito mais que isso. Agora temos um desafio: descobrir dados, e informações históricas que nos permitam definir a idade, mais próxima possível, do momento em que aqui chegou o primeiro morador ou moradora de nossa favela. No entanto, a iniciativa de definirmos um dia ( 30 de julho) para comemorar o aniversário da favela, é muito legal. Pois, agora, teremos uma motivação a mais para falar aos mais jovens e aqueles que chegaram depois, sobre a história desse lugar.