Projeto Favela Viva
Autoria: Paulo Vinícius e equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Fontes: Canais de comunicação do projeto Favela Viva.
O projeto Favela Viva atua no Morro do Cruz, localizado no bairro do Andaraí, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro, além de também funcionar em um lugar próximo deste morro, conhecido como “Favelinha” ou conjunto habitacional Negrão de Lima. Esta iniciativa começou no dia primeiro de abril de 2021 (e não é mentira!), voltado para a educação, a partir da percepção dos moradores a respeito da importância de se construir uma frente mobilizadora de cultura na comunidade e arredores em que vivem. Sabendo disso, conseguiram montar, com doações, uma biblioteca com mais de 500 livros e também dão aulas de reforço para os estudantes do morro, juntamente com uma professora de educação infantil. O intuito é que não se forme apenas uma “fábrica de leitores”, mas também contribuir para a formação de pensadores.
Sobre[editar | editar código-fonte]
Educação, meio ambiente, ação social[editar | editar código-fonte]
O projeto Favela Viva é realizado por moradores locais e voluntários. Além de manter atividades voltadas para educação, possui outras frentes de atuação, como mutirões em prol de ações ambientais.
E por que não pensar em, futuramente, investir ainda mais no desenvolvimento de “intelectuais orgânicos” - são indivíduos capazes de representar a sua classe social original atuando como porta-vozes de suas respectivas lutas - que possam de algum modo colaborar com as questões sócio políticas em que se encontram inseridos?
Também há preocupação com a parte ambiental, de tratarem de temas relacionados a áreas degradadas que possam ser revitalizadas e possuem um cunho informacional pelas redes sociais, principalmente o Instagram: @projetofavelaviva. O trabalho inicialmente se deu a partir da montagem da biblioteca por meio de doações de livros, cadeiras e estantes dentro de um espaço cedido pela associação dos moradores do Morro do Cruz.
Durante esse pouco mais de um ano de existência, vale ressaltar outros trabalhos realizados por eles como a ação social de arrecadação de roupas para frio em conjunto com o antigo consulado de meninas SRN (Saudações Rubro-Negras) que se tornou uma embaixada, além de uma outra ação social realizada pelo projeto nos dias das crianças no ano de 2022 e também vale destacar um recém trabalho realizados por eles no dia 20 de novembro deste ano, dia da consciência negra, em que buscaram apresentar o filme “Encanto” enquanto forma de representatividade negra para as crianças no espaço da biblioteca. Atualmente possuem três líderes. Maria Larice, 23 anos, graduanda em geografia pela UFF, Ronaldo Rosendo já formado e agora mestrando também em geografia mas pela UERJ e o Leonardo Morado que atualmente cursa Biologia pela UFRJ. Sendo assim, como dito por eles mesmos em uma de suas primeiras postagens na rede social do Instagram, podemos resumir: Um graduado, dois universitários, três sonhadores.
Associação de moradores[editar | editar código-fonte]
O projeto Favela Viva se relaciona principalmente com a associação de Moradores do Morro do Cruz de tal forma que sempre precisam estar de acordo com as regras da associação, logo, tudo que desejam fazer precisa necessariamente passar por eles. Vale ressaltar também que o projeto não possui nenhum financiamento, onde agem por conta própria, por doações e voluntários, cerca de treze atualmente. Também já foram privilegiados com a ajuda de um projeto de estudantes de Moda da UVA, que com a arrecadação de dinheiro a partir de roupas vendidas, foi destinado para o Projeto, cerca de 400 reais, como dito por uma das líderes do projeto Favela Viva, Maria Larice.
Reflexões sobre o projeto[editar | editar código-fonte]
Outro ponto que me chamou muita atenção foi de algumas conversas existentes deste projeto com outros, como o “Brota na Laje”, que já é uma iniciativa bem mais consolidada, até mesmo com um pré-vestibular comunitário no Morro do Borel, próximo do Morro do Cruz. Fico a pensar na importância e na força que teria quando pensarmos na união de cem, duzentos, trezentos coletivos de forças bem organizados e instituídos na luta para a busca de melhorias nas condições de vida dos moradores, sendo necessária essa pressão popular para que as burguesias acabem liberando os direitos que estão em disputa, assunto tratado ao longo das aulas desse período. Tal iniciativa não é recente, pois o Comitê Popular Democrático, em 1946, juntou esforços com o PCB (Partido Comunista Brasileiro) e se mobilizaram para alfabetizar pessoas e conseguirem se empenhar para eleger seus candidatos. O senador mais votado do Brasil na época, o Carlos Prestes, que muito se relaciona com essa união dos esforços em prol de conseguirem alcançar objetivos maiores. Trotsky relata que durante a Revolução Russa durante o mês de agosto, a população já desejava a revolução e as pessoas o paravam para o questionar, pressionar e cobrar sobre as reformas que eram exigidas pela população, mas eles decidem esperar mais alguns meses para que o clima de insatisfação se tornasse ainda mais latente e assim, pudessem tomar o poder em outubro e ao mesmo tempo terem apoio popular que validasse as suas respectivas ações.
Ao longo deste presente verbete fico a pensar numa fala de um dos líderes quando dizem que favela é potência. E não uma área para ser removida em prol do mercado imobiliário, casas de luxo, fortalecimento das indústrias automobilísticas, de transporte e outros setores que se beneficiam com as remoções dessas populações. Muitas vezes tais espaços são vistos a partir da lógica de atender demandas do capital, a partir do turismo, por exemplo. Apesar do Morro do Cruz ser uma favela pequena e não tão falada e visitada como a Rocinha e o Vidigal, o morro onde o projeto se localiza está próximo da Floresta da Tijuca atraindo muitos turistas pelos arredores da região. O que de fato me chama a atenção se dá que pelas favelas se tornarem pontos turísticos, acaba valendo muito mais a pena ter um teleférico como o existente no Complexo do Alemão, do que se investir em saúde, educação, saneamento básico para os moradores de tais comunidades.
Ao ver um projeto como este da Favela Viva, percebo que o Estado não provendo as necessidades e serviços públicos básicos para a população, que se encontra nas periferias das cidade onde o saneamento básico não chega, e a ambulância não sobe, mas que a polícia entra, nesse contexto podemos observar qual é de fato a política pública estabelecida para as populações que moram nas favelas - a da violência e repressão. E a partir disso, percebi nesse projeto, que ainda se engatinha, pois existe a apenas um pouco mais de um ano, que a educação ali dada de certa forma se constrói de maneira contra-hegemônica por poder oferecer uma assistência estudantil contribuindo para a formação dessa criança ou adolescente, além da biblioteca que age contrariamente às necropolíticas - que são para além de políticas de deixar morrer indivíduos sem nenhum tipo de assistência governamental como saneamento básico, transporte de qualidade, assim como saúde e educação e emprego, mas também fazer morrer por meio de ações de repressão e violência. No lugar desta última, valem-se os livros, com a difusão do conhecimento, da cultura e contrária a alienação pois sabemos que o governo não investe em educação, pois a educação derruba o governo levando consigo a burguesia atrelada a eles.
Por fim, enxergo o projeto Favela Viva buscando oferecer educação enquanto parte de cidadania que é negada constantemente pelo Estado e na luta para tornar uma favela feliz e consciente, mostrando ser um lugar mais rico do que o olhar discriminatório consegue enxergar.