A cor da morte (resenha)

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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  1. REFERÊNCIA
  2. BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO
  3. RESUMO DOS PRINCIPAIS ARGUMENTOS
  4. APRECIAÇÃO CRÍTICA
Referência

SOARES,Gláucio A. D.; BORGES,Doriam. A cor da morte. Ciência Hoje, v. 35, n. 209, p.26-31. out, 2004.

Breve contextualização

O artigo publicado em 2004 pelos pesquisadores Gláucio Soares e Doriam Borges surge da necessidade de analisar a realidade no que tange as diferenças existentes no Brasil quando tratamos de violência contra pessoas brancas e negras. Utilizaram neste estudo como parâmetro uma abordagem estatística com base nos registros de óbito realizados pelo Ministério da Saúde referente aos anos de 1999 e 2000. Depreendendo da análise uma multiplicidade de possibilidades que iremos aqui discutir.

Gláucio Ary Dillon Sores foi um pesquisador, infelizmente faleceu este ano aos 87 anos vitimado pela COVID-19, tendo desempenhado em sua premiada vida acadêmica as funções de docente e pesquisador em diversas universidades dos Estados Unidos, México e Brasil. Publicou treze obras com temas variando entre violência, homicídios, mortes violentas no Brasil e Regime Militar.(http://lattes.cnpq.br/4941584932515611)

Doriam Luis Borges de Melo foi autor do livro "O Medo do Crime na Cidade do Rio de Janeiro: Uma análise sobre a perspectiva das Crenças de Perigo". Tem experiência nas áreas de violência, criminalidade e segurança Pública. Atualmente é professor adjunto do Departamento de Ciências Sociais e professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPCIS) da UERJ. Também é pesquisador do Laboratório de Análise da Violência (LAV-UERJ) e é coordenador do projeto de extensão da UERJ QUANTIDADOS: Pesquisa e Análise de Dados. (texto extraído do CV lattes: http://lattes.cnpq.br/1578473807959858)

Resumo dos principais argumentos

O estudo de cunho estatístico e criminológico problematiza, inicialmente, a precariedade na fonte dos dados de pesquisa sobre homicídios no Brasil. A carência do aperfeiçoamento desses dados impossibilitou a sistematização de estudos sobre a vitimização de negro durante anos no Brasil. Porém, diante dos resultados obtidos através da análise deles, consideram já ser possível afirmar que a morte tem cor de pele.

A crítica perpassa toda a formação simbólica do estado brasileiro quando minimizou o racismo praticado no Brasil quando comparado ao racismo americano, considerando este o único real. Essa relação, segundo os autores, foi reforçada por parte da esquerda ao subjugar a questão racial à luta de classes, tomada por esta como a principal causa do preconceito. O racismo só viria a ser novamente pauta por força dos movimentos sociais, de identidade negra, alguns setores progressistas e, também, decorrente da necessidade de levantamento de dados para estudos.

Para eles, a morte é um fenômeno que se manifesta através da violência de forma estrutural. Demonstrou através de comparação estatística dos números de óbitos que: "ser pardo é mais seguro que ser preto, mas é muito menos seguro que ser branco". E ainda, falando-se de gênero, os homens são muito mais vitimados do que as mulheres. Tratando a relevância do gênero em relação à raça, pois o número de homens vitimados é superior ao das mulheres se comparado ao número de pessoas negras e brancas. Mais adiante há uma série de combinação de fatores, onde pode se constatar que na variável estado civil, pessoas solteiras foram mais vitimadas e dentro do grupo estudado de "solteiros", inclui-se a pessoa separada e viúva, sendo a primeira mais vitimada em relação à segunda categoria.

A explicação para essa tendência pode ser dividia em quatro fatores principais. O fácil acesso a arma de fogo, acesso ao tráfico de drogas, uso de drogas e alcoolismo, ausência de religião ou sua debilidade e a ausência de laços familiares. Contudo, confluem para modificação do resultado as variáveis estruturais das condições sociais (desemprego, nível educacional, desigualdade) e o nível social dos vitimados, pois a atenção da seletividade que os serviços públicos prestam (polícia e saúde pública) torna o resultado diferenciado, segundo os autores.

Apreciação crítica