A vitória do sincretismo: o desfile da Grande Rio no carnaval carioca de 2022 (artigo): mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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O '''Orixá''' vem celebrado e convidado a falar de si para a multidão na '''Marques de Sapucaí'''. Foi uma vitória dos carnavalescos '''Leonardo Bora''' e '''Gabriel Haddad''', que tiveram essa ousadia de apresentar de forma brincalhona e lúdica essa figura do panteão afro. Em passagem do samba enredo celebramos:
O '''Orixá''' vem celebrado e convidado a falar de si para a multidão na '''Marques de Sapucaí'''. Foi uma vitória dos carnavalescos '''Leonardo Bora''' e '''Gabriel Haddad''', que tiveram essa ousadia de apresentar de forma brincalhona e lúdica essa figura do panteão afro. Em passagem do samba enredo celebramos:
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“Exu Caveira, Sete Saias, Catacumba
É no toque da macumba, saravá, Alafiá
Seu Zé, malandro da encruzilhada
Padilha da saia rodada, ê Mojubá
Sou Capa Preta, Tiriri
Sou Tranca Rua, amei o Sol
Amei a Lua, Marabô, Alafiá
Eu sou do carteado e da quebrada
Sou do fogo e gargalhada, ê Mojubá”
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Edição das 14h27min de 30 de abril de 2022

Autoria: Curso NPC 2022
A foto mostra a Sapucaí lotada ao som da Grande Rio, Campeã 2022
Grande Rio é campeã, pela primeira vez, do carnaval do Rio. Foto Agência Brasil

"A vitória de Exu na avenida serviu um pouco para 'balançar' nossa casa sofrida e trazer festa para um povo entristecido e abafado. Ele vem sempre para 'bagunçar a casa', quebrar a seriedade bem comportada e apontar dimensões esquecidas que habitam em cada um, e que foram profundamente reprimidas nesse tempo da epidemia, mas tempo que é também do arbítrio político, do fechamento e da 'celebração' do fascismo. Viva Exu, viva a raiz popular que ousa mostrar o seu rosto festivo e disruptor", escreve Faustino Teixeira, teólogo, colaborador do Instituto Humanitas Unisinos – IHU e do canal Paz e Bem.

Eis o artigo.

A linda vitória da Acadêmicos do Grande Rio é, na verdade, a vitória contra a intolerância religiosa sofrida pelas religiões africanas e de matriz afro-brasileira em nosso país.

Num tempo difícil em que cresce a repressão contra tais tradições, uma vitória assim é motivo de grande alegria: é a vitória do “som Brasil” [1], para expressar uma noção bonita do antropólogo Pierre Sanchis, que sempre celebrou o “toque” do sincretismo e da diversidade brasileira, que continuam fazendo vibrar uma modulação essencial da cultura brasileira.

Vejo também como um grito que pede respeito, desmistificando uma das figuras tão mal vistas por segmentos da população brasileira e em particular de grandes camadas do mundo evangélico e pentecostal, bem como do catolicismo carismático.

O enredo e o samba da Escola empolgaram a avenida e trouxeram as chaves de Exu para abrirem os corações e mentes dos brasileiros preconceituosos, oferecendo uma possibilidade lírica e festiva para quebrar tabus que reafirmam o passo da exclusão do outro.

O Orixá vem celebrado e convidado a falar de si para a multidão na Marques de Sapucaí. Foi uma vitória dos carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad, que tiveram essa ousadia de apresentar de forma brincalhona e lúdica essa figura do panteão afro. Em passagem do samba enredo celebramos:

<poem> “Exu Caveira, Sete Saias, Catacumba É no toque da macumba, saravá, Alafiá Seu Zé, malandro da encruzilhada Padilha da saia rodada, ê Mojubá

Sou Capa Preta, Tiriri Sou Tranca Rua, amei o Sol Amei a Lua, Marabô, Alafiá Eu sou do carteado e da quebrada Sou do fogo e gargalhada, ê Mojubá” <\poem>