Artes urbanas e favelas: mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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'''Autores: Tiago e David (Raízes em Movimento)'''
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A ideia de falar em “artes urbanas” para tratar deste tipo de expressão por parte das populações faveladas se dá por dois motivos: o primeiro, para garantir a diversidade de manifestações (por isso, o plural) e a fuga de um concepção de arte pensada a partir de um parâmetro estético mais estático, que considerasse apenas as formas mais hegemônicas e legitimadas, muitas vezes condensadas no que se costuma chamar de cultura erudita; o segundo, que diz mais respeito ao adjetivo “urbano”, aponta para o espaço por excelência de dessa produção cultural, que é o espaço público, da cidade. Este segundo aspecto nos permite também tencionar a relação entre favelas e cidades.
A ideia de falar em “artes urbanas” para tratar deste tipo de expressão por parte das populações faveladas se dá por dois motivos: o primeiro, para garantir a diversidade de manifestações (por isso, o plural) e a fuga de um concepção de arte pensada a partir de um parâmetro estético mais estático, que considerasse apenas as formas mais hegemônicas e legitimadas, muitas vezes condensadas no que se costuma chamar de cultura erudita; o segundo, que diz mais respeito ao adjetivo “urbano”, aponta para o espaço por excelência de dessa produção cultural, que é o espaço público, da cidade. Este segundo aspecto nos permite também tencionar a relação entre favelas e cidades.
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O grafite, em si, já é uma manifestação pública e de resistência. É importante ter em mente que não se busca aqui capturar os sentidos da produção artística favelada apenas para a resistência, uma vez que ela pode ter também os fins de entretenimento e leitura da realidade que as artes têm em qualquer sistema cultural. Porém, é inegável que, pela criminalização pelas quais as populações faveladas passam, qualquer manifestação artística, por mais despretensiosa que seja, ao chegar ao espaço público já tenciona a produção do espaço urbano, mesmo que não seja seu objetivo. É o caso por exemplo, do projeto que transformou a avenida central do Alemão em uma galeria a céu aberto, a qual foi destruída, pelas obras do PAC.
O grafite, em si, já é uma manifestação pública e de resistência. É importante ter em mente que não se busca aqui capturar os sentidos da produção artística favelada apenas para a resistência, uma vez que ela pode ter também os fins de entretenimento e leitura da realidade que as artes têm em qualquer sistema cultural. Porém, é inegável que, pela criminalização pelas quais as populações faveladas passam, qualquer manifestação artística, por mais despretensiosa que seja, ao chegar ao espaço público já tenciona a produção do espaço urbano, mesmo que não seja seu objetivo. É o caso por exemplo, do projeto que transformou a avenida central do Alemão em uma galeria a céu aberto, a qual foi destruída, pelas obras do PAC.
Segue um vídeo que mostra grafite feito na entrada do complexo alemão, em 2011:
((#evu:https://www.youtube.com/watch?v=dsVfETQNrfg))


 
 
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[[Category:Arte Urbana]][[Category:Grafite]]
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Edição das 15h20min de 12 de dezembro de 2019

Autores: Tiago e David (Raízes em Movimento)

 

A ideia de falar em “artes urbanas” para tratar deste tipo de expressão por parte das populações faveladas se dá por dois motivos: o primeiro, para garantir a diversidade de manifestações (por isso, o plural) e a fuga de um concepção de arte pensada a partir de um parâmetro estético mais estático, que considerasse apenas as formas mais hegemônicas e legitimadas, muitas vezes condensadas no que se costuma chamar de cultura erudita; o segundo, que diz mais respeito ao adjetivo “urbano”, aponta para o espaço por excelência de dessa produção cultural, que é o espaço público, da cidade. Este segundo aspecto nos permite também tencionar a relação entre favelas e cidades.

As favelas contribuem, literalmente, para a construção da cidade, com sua mão de obra e suor, todavia, pouco consegue gozar da urbanidade que ela proporciona, sobretudo em termos de direitos. Inclusive os culturais, este de, ao menos, duas maneiras, seja invisibilizando e criminalizando suas manifestações artísticas, seja negando-lhes contato com outras produções, mesmo as mais mainstream. Por exemplo, o afastamento do cinema ou de teatros.

Por outro lado, por fazerem parte da cidade, qualquer espaço público nas favelas é também, um espaço urbano, e por isso ficamos tranquilos para falar em artes urbanas. Quando pensamos o Complexo do Alemão, é importante pensar que sua produção artística não se esgota nos seus limites territoriais, se articulando com seu entorno. O funk é um exemplo disso, e o mesmo pode ser visto com mais detalhes, em outro verbete. Neste, o foco recairá sobre outras manifestações artísticas, em particular, o Grafite.

O grafite, em si, já é uma manifestação pública e de resistência. É importante ter em mente que não se busca aqui capturar os sentidos da produção artística favelada apenas para a resistência, uma vez que ela pode ter também os fins de entretenimento e leitura da realidade que as artes têm em qualquer sistema cultural. Porém, é inegável que, pela criminalização pelas quais as populações faveladas passam, qualquer manifestação artística, por mais despretensiosa que seja, ao chegar ao espaço público já tenciona a produção do espaço urbano, mesmo que não seja seu objetivo. É o caso por exemplo, do projeto que transformou a avenida central do Alemão em uma galeria a céu aberto, a qual foi destruída, pelas obras do PAC.

Segue um vídeo que mostra grafite feito na entrada do complexo alemão, em 2011:

((#evu:https://www.youtube.com/watch?v=dsVfETQNrfg))