Beiru - Tancredo Neves

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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Foto da Favela de Beiru / Tancredo Neves em Salvador
Foto da Favela de Beiru / Tancredo Neves em Salvador

Beiru (ou Tancredo Neves) é um bairro de periferia que se localiza no miolo central da cidade de Salvador, do estado da Bahia no Brasil na área que anteriormente pertencia ao antigo quilombo do Cabula. O bairro Beiru, tradicionalmente chamado de "Tancredo Neves", pertence a Prefeitura-Bairro VIII, Cabula/Tancredo Neves. O bairro é um dos maiores da Região do miolo Central da cidade de Salvador e também um dos mais populosos da cidade.

Informações retiradas da Wikipédia pela Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

História

Beiru é a antiga denominação do bairro Tancredo Neves. Área histórica da resistência negra, o bairro tem início na extensão da Estrada das Barreiras, onde hoje atualmente se encontra o local chamado "Curva da Morte" seguindo até os limites com o bairro do Arenoso. O antigo nome da localidade refere-se ao escravo africano Gbeiru de origem Iorubá , que teria habitado na localidade no século XIX. Foi sequestrado da terra natal sem direito a escolha. Depois de um tempo foi comprado por um membro da família dos Garcia D´Ávila e trazido para a fazenda Campo Seco, onde trabalhou muito e ganhou a confiança dos seus "donos" e com o passar do tempo ganhou a terras deles - há relato de moradores, que afirmam que o Personagem Gbeiru, foi o primeiro negro a receber burocraticamente terras no local - terras estas que possibilitou juntar-se com seus irmãos de África. Contudo não há comprovações históricas da existência deste personagem, que vive assim nas memórias dos moradores locais. Por outro lado, acreditando ser verdadeira a história, valorizamos o nome histórico e de fato defendemos que seja mantida a antiga denominação, pois se trata talvez do único bairro do Brasil que homenageia no seu nome, os heróis escravizados que tanto contribuíram para a construção do país.

Outra versão da história do bairro vem de documentos oficiais encontrados no Arquivo Público do estado da Bahia (APEB) que diz que à área que hoje pertence ao bairro do Beiru-Tancredo Neves pertenciam ao Senhor Tomás da Silva Paranhos, que provavelmente comprou as terras das mãos da Marquesa de Niza. Posteriormente o mesmo Tomás Paranhos irá revender essas terras a Domingos José da Silva que também repassa as mesmas terras á Dr. Antonio Garcia Brandão (APEB, Registros eclesiásticos de Terras.N.66, Ano 1857 - 1863).

Anteriormente o local hoje a qual fica localizado o bairro, fazia parte do Antigo Quilombo do Cabula e provavelmente era conhecido como "Venda do Buraco" ou mesmo pertencente a fazenda Campo Seco. Assim a denominação Buraco, ficou ficou na memória de moradores, ao referir-se que uma determinada curva, era chamada pelos povos naturais de "Venda do Buraco". Local coberto de mato, ocupado por invasões. Com a urbanização e acesso viário, a comunidade passou a nomear de "Curva da Morte" menção associada aos inúmeros acidentes que ocorreram na curva que atualmente fica na demarcação inicial da localidade (https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/25204).

De fato, pesquisa de doutorado realizada pelo DMMDC, identificou que no alto do Beiru, onde hoje está o terminal de ônibus, e o Colégio Estadual Zumbi dos Palmares, era o núcleo do Quilombo Cabula, atacado pela polícia em 1807 pelo Conde dos Arcos. O quilombo seria de fato a origem do bairro.

O bairro passou diversas e rápidas transformações nos últimos 40 anos, desta forma, ainda pode-se dialogar com os moradores mais antigos do bairro, a ialorixá do terreiro Olufanjá, que chegou na localidade no dia 1 de junho de 1970, caracterizava o O beiru-Tancredo neves, como uma área arborizada, com diversos recursos naturais e de difícil acesso.

"Isso aqui era tudo mato, só marcado com piquetes nos locais em que eles estavam abrindo. O trator tinha passado há algum tempo, para abrir o lote [...]. No local, não havia, água, luz, nada. Lavava-se as roupas em um riacho na qual existia a fonte da vovó, que o povo dizia que era encantada, porque tinha uma Gia que vinha, e por causa dela é que tinha a água, e não podia matar. Tinha um candomblé lá em baixo [...]. Esse riacho tinha uma pedra enorme, tinha uma pedra de fogo imensa. Tinha um pé de Ingá, e agente lavava ali, naquele lugar, um riacho limpo, só você vendo que maravilha, a gente não sabia de onde vinha a água, uma coisa linda, muito mato. Sabia que era a fonte da vovó, a fonte encantada [...]. [...]. Não era um riacho para pesca, havia muita gente lavando roupas. Todo mundo dessa redondeza lavava roupa ali. Quem morava por aqui, mesmo os gatos pingados, que eram as pessoas mais antigas, lavavam roupas ali em baixo. Aparecia o povo só descendo pelos caminhozinhos de matos e só via parecer, daqui a pouco estava cheio de gente, de mulheres lavando, eu pegava meus meninos e levava para fonte e lavava lá em baixo". (CONCEIÇÃO, 2015).

Sr, Hélio Oliveira, também morador do local, passa as mesmas características geográficas ao localidade, ele a descreve como um local de hábitos simples e com bastante contato dos moradores com a natureza (O que contrasta com os dias atuais), as habitações eram simples, e em sua grande maioria sem energia elétrica, transportes e água encanada a qual os moradores conseguiam por meio dos riachos e fontes encontradas no bairro. O mesmo diz que também existiam na região um grande número de roças e riachos e fontes das pedreiras. Esses riachos foram de grande importância para o culto das religiões de matrizes africanas, já que a localidade do Beiru foi marcada pelo grande número de terreiros de candomblé como o terreiro Tumbeci. Esses terreiros foram de suma importância nos períodos iniciais de loteamento da área do antigo Quilombo do Cabula, já que esses mesmos terreiros eram usados como ponto de orientação, esses mesmos terreiros tem uma grande importância na história da localidade já que a maioria dos moradores mais antigos da região vem justamente de famílias que participavam das celebrações. Um dos candomblés mais antigos da região herdeiro dos batuques e rituais quilombolas, seja o do Sr. Miguel Arcanjo de Souza, de tradição amburaxó, cuja nação é congo-angola. Outro espaço de culto de matriz africana, composto por nativos, foi o terreiro de D. Maria Genoveva do Bonfim, importante matriarca da tradição banto, conhecida como Maria Neném. Ao morrer, o Sr. Miguel Arcanjo deixa herdeiros biológicos como Caetana Angélica de Souza e Guilhermina Angélica de Souza, e também herdeiro de axé,seu sucessor Sr. Manuel Jacinto. Esses habitantes, em suas vivências, expressaram a pujança das raízes quilombola desse território de resistência negra e de importante forma de conhecimento sobre povos africanos, por conta das raízes familiares destes moradores. A partir dos anos 70, começa o processo de ocupação local, que foi lento e em uma comunidade que ainda era pequena e em sua grande maioria de pessoas que vieram de outras regiões. Os primeiros moradores da região após o início do processo de urbanização nos passam características importantíssimas sobre essa localidade nos anos 70.

"Os caminhos eram trilhas, em meio da mata fechada. Não tinha nada, era mato. O caminho mesmo era mato, e a gente descia pelas trilhaszinhas que se caminhava. Eu não sei se já era uma ladeira antiga que já tinha [...], eu sei que a gente descia por ali. E as fendas, muitas fendas na terra, da água que descia, e a gente aproveitava os lugares melhores para poder andar, descer e subir, com água na cabeça, com bacia na cabeça, lavando roupas "

As casas nesse período ainda continuavam simples e feitas em grande parte por Taipa - que eram retiradas da matas locais - e o barro vermelho e grudento. O para cobrir a estrutura das casas. Estas eram baixas e cobertas com palha de bananeira, coqueiro ou licurizeiro. O chão era batido “com a folha de bananeira, e vinha com uma tabuinha para bater, para pilar o chão. Depois, andar daqui para Boca do Rio para pegar e jogar areia branca, para endurecer.

Com o passar dos anos e o crescimento populacional da cidade de Salvador, o Beiru perdeu as suas características inciais, de uma área arborizada, com matas e riachos, desta forma a localidade passa a ser ocupada por invasões e loteamentos , mas sem obedecer a nenhuma regra de organização habitacional, o que posteriormente vai gerar problemas graves de saneamento ou seja, era uma área desprovida de atenção governamental e que ainda carece de muitas melhorias nos dias atuais. As mudanças no Beirú ocorrem paulatinamente, e se intensificaram no momento em que acelerou o processo de urbanização. Foi nos governos de Antônio Carlos Magalhães e Roberto Santos, isto é, a partir da década de 1970, que a localidade iniciou desenvolvimento. Para Sr. Hélio, a construção do Hospital Roberto Santos (1978), foi um fator decisivo para atrair a construção de novos conjuntos habitacionais, mas principalmente de moradias irregulares. O resultado desse processo de urbanização foi o desmatamento do local.

Num plebiscito feito em 1985, o seu nome mudou para homenagear o ex-presidente falecido Tancredo de Almeida Neves. A mudança gerou uma controvérsia entre os moradores que preferiam o topônimo anterior para o bairro. Conforme Dionísio Juvenal, na época presidente do Conselho de Moradores do Beiru, ente os motivos que levaram a população local a rebatizar o Bairro, a analogia feita entre o nome Beiru, a violência local e as possibilidades de rimas imorais que a terminação da palavra sugeria .

Em 2005, o fórum Comunitário em Defesa do Beiru lançou uma campanha reivindicando a mudança do nome do bairro para o que outrora foi Beiru.

Demografia

População

De acordo com o Censo 2010, o bairro de Tancredo Neves, possui um total de 50.416 habitantes, sendo 46,79% homens e 53,41% mulheres segundo o Último Censo. No percentual de número de moradores por Cor/Raça 11,66% se autodenominam Brancos, 33,97% pretos, 1,54% amarelos, 52,36% pardos e 0,20% Indígena. Na questão econômica 24,44% dos chefes de família estão situados na faixa de renda mensal de 1 a 2 salários mínimos. No que se refere a escolaridade 33,07% dos chefes de família tem de 4 a 7 anos de estudos.

Segundo o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010 é o sétimo bairro com a maior população de negros em Salvador, com 86,33% (43 523 habitantes).

Ver também

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Referências