Benedita da Silva (PT-RJ)

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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Este verbete faz parte do relatório "Favelados no parlamento", produzido pela equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco.
Benedita da Silva, (PT/RJ).

Primeira senadora negra do Brasil, Benedita da Silva, mulher preta e evangélica, de pai pedreiro e mãe lavadeira. Aos 80 anos e prestes a completar 40 anos na política ela foi reeleita, em 2022, deputada federal.

Biografia

Benedita Sousa da Silva Sampaio (Rio de Janeiro, 26 de abril de 1942) é uma servidora pública, professora, auxiliar de enfermagem, assistente social e política brasileira filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT). Foi a 59ª governadora do Rio de Janeiro e atualmente é deputada federal (2023-2026).

Primeira senadora negra do Brasil, também sendo ativista política do Movimento Negro e assumidamente feminista, Benedita Sousa da Silva nasceu no dia 26 de abril de 1942, no Hospital Municipal Miguel Couto, no Rio de Janeiro. Filha da lavadeira Maria da Conceição Sousa da Silva, e do pedreiro e lavador de carro José Tobias da Silva. A família era extremamente humilde, e viviam na favela da Praia do Pinto, no Leblon. Esta comunidade não existe mais, pois foi completamente destruída nos anos 1960 por um incêndio.

Rio de Janeiro, favela da Mangueira
Rio de Janeiro, favela da Mangueira

Ainda recém-nascida, foi morar na favela do Chapéu-Mangueira, no Leme, onde foi criada. Com uma família numerosa de 14 irmãos, todos precisaram interromper os estudos para ajudar nas despesas do lar. Benedita, apelidada de Bené, passou a trabalhar ainda na infância, vendendo limões e amendoins pelas ruas da cidade. Na adolescência foi trabalhar como tecelã em uma fábrica de tecidos, e em casa ajudava sua mãe a lavar, passar e entregar as roupas dos clientes.

Por ocasião das comemorações do IV Centenário da Cidade do Rio de Janeiro, em 1965, e também por seu ativismo político desde muito cedo, foi indicada como representante do bairro de Copacabana, no concurso de mulheres sambistas promovido pela Prefeitura, tendo sido eleita a Miss IV Centenário. Em 1968 batizou-se nas águas, convertendo-se ao evangelismo, no seguimento Assembleia de Deus.

Foi nas décadas de 1960-70, tempos de agitação social devido ao regime militar, que Benedita e sua amiga Marcela reuniram diversas mulheres do Chapéu-Mangueira para enfrentar a difícil situação da comunidade, saindo as ruas em protestos e cobrando melhorias, resistindo também às investidas da polícia. Com ajuda da comunidade, fundou o Departamento Feminino da Associação de Moradores do Chapéu-Mangueira.

Logo depois do renascimento do movimento feminista carioca em 1975, essa pioneira associação de mulheres da comunidade procurou o Centro da Mulher Brasileira, para articular um trabalho em conjunto, promovendo uma troca histórica de experiências entre estratos sociais diferentes: A classe média ilustrada e as mulheres do morro.

Benedita percebeu que sua saída era estudar, para conseguir se manter atuante no movimento político em prol de sua comunidade. Com esforço, voltou aos estudos, tentando conciliar com seu trabalho de faxineira as aulas do colegial e posteriormente do pré-vestibular. Primeiramente formou-se em um curso de auxiliar de enfermagem, saindo do trabalho de faxineira, onde conseguiu trabalho em um hospital, para ganhar melhor e poder pagar um bom preparatório para o curso de serviço social, conseguindo aprovação alguns anos depois. Formou-se em serviço social no ano de 1982.

Casou-se em 1962 com seu primeiro namorado, o pedreiro Nilton Aldano da Silva. Eles começaram a namorar em 1960. Juntos, tiveram dois filhos: Pedro Paulo Sousa da Silva Aldano, nascido em 1964, e Nilcéa Sousa da Silva Aldano, nascida em 1966. Em 1981 ficou viúva. Em 1982 conheceu o líder comunitário Aguinaldo Bezerra dos Santos, e em 1983 casaram-se. Benedita ficou novamente viúva em 1988. Em 1990 conheceu e iniciou um relacionamento afetivo com o ator e político Antônio Pitanga. Benedita casou-se pela terceira vez em 1992, e até hoje está junto de seu marido. Com o matrimônio, tornou-se madrasta dos atores Rocco Pitanga e Camila Pitanga.

Atuação dos movimentos de favela

Respeita as pretas
“A militância política do pobre começa no berço, no bairro, e não no partido. Foi na rua que aprendi que preciso lutar pela igualdade social para os homens e as mulheres!”

Sua atuação nos movimentos de favela, no movimento negro e de mulheres foi o início para sua candidatura como vereadora nas eleições municipais de 1982 pela legenda do Partido dos Trabalhadores. Eleita, sua trajetória política foi meteórica, tornando-se a primeira mulher afro-brasileira a atingir os mais altos cargos da história do Brasil: Vereadora e deputada federal constituinte, reeleita para um segundo mandato em 1990, sendo eleita senadora em 1994, com mais de 2 milhões e 400 mil votos, e vice-governadora no pleito de 1998.

Seus mandatos foram marcados pela defesa das minorias sociais. É de sua autoria o projeto que inscreveu Zumbi dos Palmares no panteão dos heróis nacionais; instituiu o dia 20 de novembro como o “Dia Nacional da Consciência Negra”, além de outros projetos que propõem a inclusão de negros nas produções das emissoras de televisão, filmes e peças publicitárias. Também criou delegacias especiais para apurar crimes raciais, cota mínima em instituições de ensino superior, obrigatoriedade do quesito etnia em documentos oficiais, assinou a lei contra o assédio e a favor dos direitos trabalhistas extensivos às empregadas domésticas.

Campanha pela esperança

Reeleita, em 2022, para seu sexto mandato como deputada federal, sempre pelo Partido dos Trabalhadores, ao qual é filiada desde 1980, a carioca Benedita da Silva completará 81 anos em abril do ano que vem, dois meses depois que reassumir a cadeira na Câmara Federal, em Brasília, para legislar pelos próximos quatro anos.

Benedita iniciará em fevereiro de 2023 seu terceiro mandato consecutivo na Câmara dos Deputados, onde também já esteve entre 1987 e 1994.

Lutas pelos direitos das minorias

Benedita da Silva foi a única parlamentar negra a integrar a Assembleia Nacional Constituinte. Neste programa, ela destaca as experiências marcantes que viveu na luta pela igualdade e ampliação dos direitos das minorias no Brasil. Publicado na internet em 23/11/2018

Entrevista - "A escravidão mudou do chicote para a caneta"

Entrevista da parlamentar para o UOL Universa, Luiza Souto, com colaboração de Nathalia Geraldo.

Preta e nascida na favela carioca, de pai pedreiro e mãe lavadeira, a deputada federal Benedita da Silva (PT), diz, aos 78 anos, que nunca sentiu medo pela sua raça como nos dias de hoje. E decreta que o 13 de maio, data em que a princesa Isabel assinou a abolição da escravatura, não se celebra: “O extermínio da população negra continua”. Evangélica e mãe de dois, Benedita diz que ora todos os dias para que esse quadro não piore já que, na avaliação dela, o Brasil vive “um retrocesso inigualável”, com “gestores machistas” e “governantes e executivos que querem que a gente morra”.

Benedita foi a primeira mulher negra em muitos locais de destaque: na Câmara dos Vereadores do Rio, aonde chegou em 1982 sob o slogan “negra, mulher e favelada”; no Senado, em 1994, e no governo do Rio (2002- 2003), quando substituiu Anthony Garotinho, que se afastou para concorrer à presidência. “Somos ainda poucas mulheres lutando como um lobo contra o canhão”, ela diz:

“No dia em que Marielle [Franco, vereadora carioca assassinada em 2018] morreu, ela falava que a primeira vereadora negra, da favela, fui eu e que levou 10 anos para outra entrar, a Jurema Batista. E dizia: ‘Agora estou aqui, precisamos mudar essa história’. Fico arrepiada porque é meu sonho ver a mulherada preta ocupando esses espaços. Está faltando oportunidade.”

Benedita afirma que não se vê representada pela Ministra Damares Alves, da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, porque com “esse governo não tem diálogo”. E diz ainda por que não pretende se candidatar à Prefeitura do Rio. “Quero votar no [Marcelo] Freixo e tentar unir a esquerda novamente.”

De luto pela morte de um sobrinho, vítima do novo coronavírus, a deputada diz que a atitude do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de ir ao STF (Supremo Tribunal Federal) no último dia 7 pedir para flexibilizar o isolamento é “para matar os pobres”, e fala que tem aproveitado o tempo em quarentena para estudo bíblico e aula de inglês online.

Veja abaixo os principais trechos:

A data de 13 de Maio, nesta semana, embora lembre a Lei Áurea, que aboliu a escravidão no Brasil, não é comemorada pelo movimento negro. Qual a forma mais correta de falarmos sobre ela?

Essa data faz parte da história do Brasil, para marcar o sofrimento que houve durante o processo abolicionista. Mas ela marca uma condenação, porque a abolição foi uma condenação. Não tivemos verdadeiramente a liberdade. Foram muitas as vítimas de atrocidades, e o Brasil foi um dos últimos a dar essa chamada “libertação”. Ficou, para nós, para os historiadores, militantes, como uma data de denúncia e de reflexão de que o extermínio da população negra continua até hoje. A escravidão apenas mudou do chicote para a caneta. Da caneta para a exclusão. É nesse sentido que o 13 de maio não se festeja.

Como a senhora enxerga hoje as políticas públicas de combate ao racismo?

Como um retrocesso inigualável. Temos todos os instrumentos colocados pelos governos Lula e Dilma (ambos do PT), como a regulamentação das terras de quilombolas, e as cotas raciais, que levam igualdade e oportunidade. Mas não tivemos grande evolução. Desde a entrada de [Michel] Temer (MDB), houve o esvaziamento dos espaços responsáveis pelos equipamentos de promoção de igualdade social. E hoje é uma loucura. Os gestores são, na sua maioria, machistas, que acompanham a cabeça do presidente da República. Ele coloca um negro na Fundação Cultural Palmares [Sergio Camargo] que disse que a escravidão foi ótima para os negros.

Como entender que a Casa Grande ainda usa negros para bater em negros, como capitão do mato? Chegamos a um 13 de Maio nunca visto antes

Há algum avanço, um ponto positivo, na atuação da ministra Damares Alves em relação à igualdade racial?

Não tem, querida. A gente tem projetos, mas com esse governo não tem diálogo. Temos um Congresso que trabalha com “tudo que seu mestre mandar, faremos todos”, no “toma lá, dá cá”. Eles falam que não pode ter ideologia, mas eles têm — e é perversa. E ser religioso não significa muita coisa [a ministra Damares é evangélica, assim como a deputada]. Todo mundo tem fé. Mas não deve haver contradição entre fé e política. Eu professo minha fé, de Gênesis a Apocalipse [livros da Bíblia], mas não posso ser contraditória nos direitos humanos. Não posso ir contra o que tenho como princípio, que é o amor ao próximo. Quem ama não mata, nem discrimina, abandona ou julga. E há muita contradição em religiosos que estou vendo ali.

Se eu faço diferente, sou “a comunista”, não tenho tanta fé em Deus, ou ainda meu partido tem que ser eliminado, Lula é a besta do Apocalipse. Acha que isso é de Deus?

Qual seria a política eficiente que de fato acabaria com o racismo?

Primeiro, temos que resgatar as políticas públicas compensatórias, de participação dessa população, e que é por meritocracia, já que nela está prevista teste e tudo o que os outros fazem. Estão acabando com as cotas, criando problema com o Fies (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior), impedindo a ação de médicos cubanos. Todos os países com pandemia estão chamando os médicos cubanos para ajudar, mas o Brasil não pode — e esse racismo é uma coisa ideológica. Lembrando que essas políticas de ações compensatórias não foram feitas para toda vida. Era para, de dez em dez anos, fazermos uma avaliação dos avanços, e vermos onde precisamos avançar mais ainda. É inconcebível o negro não ter oportunidade de ir para a escola.

Por que o país ainda tem pensamento escravocrata depois de tantos anos de abolição?

Porque tem uma coisa ideológica colocada aí. A política de cotas não é nenhum favor, mas uma medida compensatória. E eles não entram lá sem fazer prova. Enquanto os brancos eram majoritários nesses espaços, estava tudo bem. Quando chegou a oportunidade da negrada entrar e mostrar seu talento, querem mais uma vez menosprezar, depreciar, desqualificar. Foi só dar oportunidade como o Fies e olha quantas pessoas se formaram. Temos médicos e advogados negros e negras. E eles se formaram por competência.

Mas há essa coisa escravocrata na cabeça de governantes e executivos que querem que a gente morra.

Com a pandemia provocada pelo coronavírus, e esse Fla x Flu entre quem aprova ou não o isolamento, as trabalhadoras do lar, na sua maioria negras, são das mais afetadas. Tem a ver com esse pensamento escravocrata?

É uma coisa escravocrata mesmo. A primeira vítima [fatal no Rio de Janeiro] foi uma empregada doméstica, contaminada pelo patrão. Porque a empregada doméstica não viaja. A viagem mais longa que ela faz é pela Baixada Fluminense. E ainda não estão pagando essas trabalhadoras. A diarista não tem um centavo. Sabemos que a coisa está feia. Elas precisam se cuidar. Mas como as pessoas vão se cuidar se o presidente da República foi ao Supremo pedir para flexibilizar o isolamento, por causa da economia? Quem eles querem matar? Os pobres, os camelôs da vida, as meninas do supermercado. Claro que há pessoas que dependem do trabalhador doméstico, por condições de idade e doença, mas tudo tem que ser feito dentro das regras. As pessoas vão ficando desesperadas porque não têm dinheiro e vão para a rua, se contaminando e contaminando outros. Acabei de perder o meu sobrinho por coronavírus. Nossa raça está morrendo.

Deputada, o mundo está em alerta com relação à violência contra a mulher em tempos de coronavírus, já que as vítimas passam mais tempo em casa com o agressor. E os números têm mesmo aumentado. Combater a violência de gênero tem a ver com o combate ao racismo?

Sim, porque a maioria da população é de mulheres negras. E aí você vê essas mulheres negras maltratadas, as trabalhadoras domésticas que mal conseguiram seus direitos e eles estão indo para o ralo com a política de trabalho.

Quando você cuida da mulher negra, está cuidando da maioria da população brasileira.

Como a mulher branca e o homem branco podem ajudar na luta antirracista?

A primeira coisa é ter consciência de que o racismo existe, e o seu papel é entrar na luta com a gente, defender a causa como se fosse sua. Porque é isso que eu faço. Quando luto pelas mulheres, não é só pelas mulheres negras. Quando luto pelo pobre, também sei da vida da classe média metida a besta achando que é rica. É preciso haver equilíbrio. Acho que o homem e a mulher branca merecem escutar nossa experiência e segurar a bandeira.

A senhora já sentiu vergonha ou medo pela sua cor?

Vergonha, não. Era criança e as pessoas não se sentavam perto de mim. Na escola, puxavam meu cabelo e me chamavam de “nega do cabelo duro”. Eles que deveriam sentir vergonha. Mas estou com um medo de que nunca pensei sentir. Medo pela cor da pele dos meus netos, de como minha bisneta será tratada na escola. Posso dizer que enfrentamos a ditadura, mas você não tem dimensão do que estamos enfrentando agora, com pessoas pedindo pelo AI-5, pelo fechamento do Supremo, criando uma milícia de 300 [diz referindo-se ao grupo bolsonarista “Os 300 do Brasil”]. Isso dá medo, mas não me dá o direito de recuar. Aliás, nem tenho mais tempo e idade para recuar de nada.

Não é exagero falar que está pior que a ditadura? Esse discurso não cria medo também?

Não, querida. Está uma loucura. E parece que estamos numa inércia. Essa falta de reação me impressiona, porque fomos levados, por fake news, a acreditar nisso que está aí, e essa ideologia está se consolidando na medida em que estão formando exércitos, de crianças a idosos. Isso é muito sério. Como pode ir pra rua dizer que o objetivo é fechar o Supremo? Estão amedrontando e ameaçando as pessoas baseados em quê? Mas ele [Bolsonaro] sabe o que está fazendo. Ele não é maluco. Cria situações para se manter na mídia, e ainda fala que o caos é culpa do PT. Gente, estamos em 2020. O PT está fora desde 2016.

Fonte: https://pt.org.br/deputada-benedita-da-silva-a-escravidao-mudou-do-chicote-para-a-caneta/

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Fontes

https://tribunapr.uol.com.br/eleicoes/2022/candidatos/rj/deputado-federal/benedita-da-silva-pt-1377/

https://www.camara.leg.br/deputados/73701/biografia

https://www.geledes.org.br/aos-80-anos-e-prestes-a-completar-40-anos-na-politica-benedita-e-reeleita-deputada-federal/

https://pt.org.br/deputada-benedita-da-silva-a-escravidao-mudou-do-chicote-para-a-caneta/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Benedita_da_Silva