Brincadeiras de rua - Origens e influências

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

As brincadeiras de rua são expressões culturais que refletem a diversidade étnica e histórica do Brasil, combinando influências indígenas, africanas e europeias. Atividades como amarelinha, pique-esconde, pipa, bola de gude, carrinho de rolimã e muitas outras não apenas promovem o desenvolvimento físico e social, mas também representam formas de resistência e identidade, especialmente nas periferias e favelas. Essas brincadeiras, transmitidas oralmente e adaptadas ao longo do tempo, transformam espaços públicos em áreas de convivência e criatividade, destacando a riqueza da cultura popular brasileira.

Autoria: Hugo Oliveira.

Sobre[editar | editar código-fonte]

As brincadeiras de rua são manifestações culturais que transcendem o simples ato de brincar. Elas carregam em suas origens histórias, tradições e influências que refletem a diversidade étnica e cultural do Brasil. Essas atividades lúdicas, muitas vezes transmitidas oralmente de geração em geração, são fruto de um processo de miscigenação e adaptação, incorporando elementos das culturas indígena, africana e europeia. Além disso, nas periferias e favelas, as brincadeiras de rua ganham novas formas e significados, tornando-se expressões de resistência, criatividade e identidade.

Essas brincadeiras, além de promoverem a socialização e o desenvolvimento físico e cognitivo. Nas favelas e periferias, onde o acesso a brinquedos industrializados é limitado, as brincadeiras de rua ganham vida, transformando espaços públicos em áreas de convivência e diversão. Elas são um reflexo da diversidade cultural brasileira, carregando em suas origens e práticas as marcas das matrizes indígena, africana e europeia.

Amarelinha

A Amarelinha[editar | editar código-fonte]

A Amarelinha, por exemplo, tem suas raízes na Europa medieval, onde era conhecida como "jogo do céu". No Brasil, a brincadeira foi reinterpretada, ganhando traços das cosmovisões indígenas e africanas. A divisão do diagrama em "céu" e "terra", por exemplo, remete à dualidade presente nas culturas tradicionais desses povos (CASCUDO[1], 2001).

Pique Esconde


Pique-Esconde[editar | editar código-fonte]

Pique-esconde, presente em diversas culturas ao redor do mundo, ganhou no contexto brasileiro uma dimensão coletiva e estratégica, características marcantes das brincadeiras africanas, que valorizam o trabalho em grupo e a interação social (KISHIMOTO[2], 1996).

Cabo de Guerra


O Cabo de Guerra[editar | editar código-fonte]

O Cabo de Guerra por sua vez, tem origens antigas, sendo praticado desde o Egito Antigo e popularizado na Europa. No Brasil, a brincadeira foi adaptada com elementos de cooperação e competição, comuns nas práticas culturais africanas (CASCUDO, 2001). A **bola**, presente em quase todas as culturas, tornou-se um símbolo de resistência e identidade nas periferias, especialmente em jogos como o futebol e a queimada, que são amplamente praticados por jovens negros e mestiços (DAOLIO[3], 2005).

Pipa


A Pipa[editar | editar código-fonte]

A pipa, originária da China e trazida ao Brasil pelos portugueses, transformou-se em uma expressão artística e cultural nas favelas. As cores vibrantes e as técnicas de empinar pipa refletem a criatividade e a habilidade das comunidades periféricas, majoritariamente negras (CASCUDO, 2001).


Elástico

O Pular Elástico[editar | editar código-fonte]

O Pular Elástico, com raízes europeias, foi enriquecido no Brasil com cantigas e ritmos africanos, demonstrando a fusão cultural que caracteriza o país (KISHIMOTO, 1996).

Pique Bandeira




Pique-bandeira[editar | editar código-fonte]

Já o pique bandeira, rouba-bandeira, e/ou caça ao tesouro são brincadeiras que envolvem estratégia, agilidade e trabalho em equipe, valores presentes nas culturas africanas e indígenas (CASCUDO, 2001).

Corrida do Saco


Corrida do saco[editar | editar código-fonte]

A corrida do saco, popularizada na Europa, ganhou novas roupagens no Brasil, sendo marcada pela improvisação e criatividade, características das culturas negra e indígena (KISHIMOTO, 1996).


Pular Corda

Pular Corda[editar | editar código-fonte]

O Pular Corda é uma brincadeira que envolve saltar sobre uma corda que é girada por duas pessoas, enquanto cantigas ritmadas são entoadas. As cantigas que acompanham a brincadeira são uma mistura de influências africanas e europeias, criando um repertório rico e diversificado (KISHIMOTO, 1996). A brincadeira exige coordenação motora, ritmo e resistência física, sendo praticada principalmente por meninas, mas também por meninos. Nas comunidades periféricas, pular corda é uma atividade que promove a socialização e a criatividade, além de ser uma forma de exercício físico.

Taco

Taco[editar | editar código-fonte]

O Taco é uma brincadeira que lembra o críquete europeu, mas foi adaptado com regras e estilos brasileiros. Dois times competem, cada um com um taco (feito de madeira ou outro material), tentando rebater uma bola e correr entre bases marcadas no chão. A brincadeira exige habilidade, estratégia e trabalho em equipe, sendo muito popular em ruas e terrenos baldios (CASCUDO, 2001). O taco reflete a capacidade de adaptação e reinvenção das crianças brasileiras, que transformam influências externas em algo único e autêntico.

Bola de Gude

Bola de Gude[editar | editar código-fonte]

A Bola de Gude é uma brincadeira antiga, presente em diversas culturas, incluindo a africana e a indígena. No Brasil, ela é praticada com pequenas esferas de vidro ou argila, que são arremessadas ou impulsionadas com os dedos para atingir um alvo ou conquistar as bolas dos adversários (CASCUDO, 2001). A brincadeira exige precisão, estratégia e concentração, sendo uma atividade que promove a interação social e a competição saudável. Nas comunidades periféricas, a bola de gude é um exemplo de como uma brincadeira simples pode transcender fronteiras e se reinventar em diferentes contextos.

Cabra Cega

Cabra Cega[editar | editar código-fonte]

A Cabra cega é uma brincadeira de origem europeia, mas que ganhou no Brasil cantigas e ritmos africanos (KISHIMOTO, 1996). Um participante é vendado e deve tentar capturar os outros, que se movem ao seu redor, fazendo barulhos e dando pistas para confundir. A brincadeira exige agilidade, percepção sensorial e trabalho em equipe, sendo uma atividade que promove a interação e a diversão. A cabra cega é um exemplo de como as brincadeiras tradicionais são enriquecidas pela fusão cultural.

Carrinho de Rolimã


Carrinho de Rolimã[editar | editar código-fonte]

O Carrinho de Rolimã é uma invenção tipicamente brasileira, que reflete a criatividade e a capacidade de improvisação das crianças das periferias. Feito com madeira, rolamentos de metal e outros materiais reciclados, o carrinho é usado para descer ladeiras em alta velocidade (CASCUDO, 2001). A brincadeira exige habilidade, coragem e trabalho em equipe, já que muitas vezes as crianças constroem os carrinhos juntas e competem entre si. O carrinho de rolimã é um símbolo da infância nas periferias, onde a falta de recursos é compensada pela inventividade e pelo espírito coletivo.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Espaços lugares e festas

Favela tem memória

Notas e referências

  1. CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. 10. ed. São Paulo: Global, 2001.
  2. KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez, 1996.
  3. DAOLIO, Jocimar. Da cultura do corpo. Campinas: Papirus, 2005.