Campanha de Vacinação na Maré

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Revisão de 15h17min de 10 de março de 2022 por Caiqueazael (discussão | contribs)

Verbete criado pela Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco.

Sobre a campanha

Em 2021, diante do início de vacinação no Brasil contra a Covid-19, organizações como a Redes da Maré, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), desenvolveram uma importante ação de combate à pandemia no Complexo de Favelas da Maré.

Foto: CONASEMS

O Complexo de Favelas da Maré possui mais de 140 mil habitantes, mais que 95% dos municípios do Brasil. No Dicionário de Favelas Marielle Franco, há diversas manifestações que ajudam a entender as dificuldades da proteção contra a pandemia nos territórios de favelas e periferias - e na Maré não seria diferente. Você pode conferir alguns dos exemplos clicando aqui.

De acordo com matéria publicada no CONASEMS:

Com muitas informações coletadas e um amplo espectro de intervenções visando proteger a população, a Fiocruz propôs a realização de uma pesquisa a partir da experiência no território. Daí surge com os parceiros o projeto de avaliação da efetividade da vacinação em massa da população adulta da Maré, visando verificar, dentre outros aspectos, a circulação de variantes e a proteção indireta de crianças e adolescentes. O estudo irá acompanhar por seis meses o comportamento do imunizante em duas mil famílias, o que corresponde a oito mil moradores. “A gente quer que os dados produzidos e gerados possam consolidar informações que permitam um planejamento em saúde no território. Depois da pandemia, qual o impacto sobre a saúde pública? Queremos criar um modelo de vigilância em saúde na Maré que possa inspirar outras comunidades”, defende Luna Escorel.

As vacinas são disponibilizadas a partir do que os pesquisadores chamam de sobras de produção da Fiocruz, responsável por produzir a AstraZeneca no Brasil, mediante acordo com a Política Nacional de Imunização (PNI). O alvo da campanha foram jovens de 18 a 33 anos que ainda não haviam entrado na lista de vacinação do município, o que representa cerca de 31 mil pessoas. No entanto, o projeto contemplou em apenas seis dias – de 29 de julho a 3 de agosto – quase 37 mil moradores da Maré, ao incluir as pessoas que por algum motivo perderam a primeira dose.

Só foi possível atingir uma meta tão avançada porque se juntaram ao poder público muitas pessoas comprometidas em ajudar. A força tarefa de imunização contou com a presença de 1.620 voluntários, entre moradores da comunidade, educadores e profissionais de saúde. “Centenas de jovens ocuparam as ruas para pré-cadastrar quem não tinha cadastro nas Unidades de Saúde da Família. Em duas semanas realizamos uma campanha maciça de comunicação e saímos na favela inteira com tabletes na mão para incluir os moradores na campanha. Usamos megafone, lambe, carro de som, cartazes, redes sociais e nos reunimos com centenas de comunicadores populares”, descreve o coordenador da Fiocruz.

A rede de saúde municipal

No Complexo da Maré existem sete unidades básicas de saúde e 100% de cobertura da Estratégia Saúde da Família, de acordo com o coordenador da Atenção Primária da Área Programática 3.1 do Rio de Janeiro, Thiago Wendel Gonzaga. Para imunizar a população, a Secretaria Municipal de Saúde montou uma operação envolvendo 130 pontos de vacinação, com a participação de cinco associações de moradores, 15 escolas municipais da região e a Vila Olímpica. Em média nove mil pessoas foram vacinadas por dia. “Todo esse trabalho só foi possível através da parceria com a Fiocruz e a Redes da Maré. O meu desejo era conseguir mais doses e estender a vacinação a outras comunidades como o Complexo do Alemão e Manguinhos”, afirma Thiago.

A área coordenada por Thiago Wendel é responsável por assegurar a atenção à saúde de bairros da zona norte do Rio de Janeiro, reconhecidos pelo baixo índice de desenvolvimento social. A Secretaria de Saúde tem investido em três frentes para conter a pandemia na região: oportunizar a vacinação; testar para diagnosticar precocemente e bloquear a transmissão; além de cuidar das pessoas de forma mais equânime, com equipes de saúde da família monitorando os casos. Enfermeiro da Estratégia Saúde da Família desde 2012, Thiago, que já trabalhou em outras comunidades no Caju e no Catumbi, sabe bem de onde fala. “Sou morador do Complexo do Alemão. Fazer parte dessa história tem sido incrível, porque a resposta da favela veio de um favelado. Meu trabalho como enfermeiro, todos os dias, é tentar diminuir as iniquidades que eu vivi. Participar desse movimento de preservação de vidas traz a sensação de que cada um que eu cuido poderia ser meu pai, meu avô”.