Capítulo 4 Versículo 3 - Racionais MC's (música): mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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Letra:
"'''Capítulo 4, Versículo 3'''" é uma canção de ''rap'' do grupo Racionais MC's, lançada no álbum ''Sobrevivendo no Inferno'', de 1997. Sendo a terceira faixa do álbum.


Escrita por Edi Rock, Ice Blue e Mano Brown, a canção se inicia com dados estatísticos sobre discriminação, racismo e violência cotidiana da região periférica de São Paulo, e do Brasil, nos anos 1990. Basicamente relacionando as temáticas de: periferias urbanas, relações de conflitos, teologia cristã, relações raciais e expressões políticas.
== Sobre o artista ==
Racionais MC's é um grupo brasileiro de rap fundado em 1988. É formado por Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay. É o maior grupo de rap do Brasil, e está entre os grupos musicais mais influentes do país e da música brasileira. Suas canções demonstram a preocupação em denunciar a destruição da vida de jovens negros e pobres das periferias brasileiras e o resultado do racismo e do preconceito, ao sustentarem a miséria diretamente ligada com a violência e o crime. Temas como a brutalidade da polícia, do crime organizado e do estado, bem como o preconceito, as drogas e a exclusão social são recorrentes nas letras do conjunto. Embora inicialmente conhecido apenas na capital paulista, o grupo conseguiu alcançar sucesso nacional e internacional a partir dos álbuns ''Raio X Brasil'' (1993), ''Sobrevivendo no Inferno'' (1997) e ''Nada como um Dia após o Outro Dia'' (2002).
== Letra ==
60% dos jovens de periferia sem antecedentes criminais
60% dos jovens de periferia sem antecedentes criminais
Já sofreram violência policial
Já sofreram violência policial
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Efeito colateral que o seu sistema fez
Efeito colateral que o seu sistema fez
Racionais Capítulo 4, Versículo 3
Racionais Capítulo 4, Versículo 3
== Créditos ==
* Vozes Extras - Primo Preto, Xis e Nill
* Rap - Mano Brown, Edi Rock e Ice Blue
* KL Jay - Samples, Teclados e Scratchs
* Coro - Mariana Ferri
* Programação de Bateria - Alexandre Nunez

Edição das 19h41min de 28 de setembro de 2023

"Capítulo 4, Versículo 3" é uma canção de rap do grupo Racionais MC's, lançada no álbum Sobrevivendo no Inferno, de 1997. Sendo a terceira faixa do álbum.

Escrita por Edi Rock, Ice Blue e Mano Brown, a canção se inicia com dados estatísticos sobre discriminação, racismo e violência cotidiana da região periférica de São Paulo, e do Brasil, nos anos 1990. Basicamente relacionando as temáticas de: periferias urbanas, relações de conflitos, teologia cristã, relações raciais e expressões políticas.

Sobre o artista

Racionais MC's é um grupo brasileiro de rap fundado em 1988. É formado por Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay. É o maior grupo de rap do Brasil, e está entre os grupos musicais mais influentes do país e da música brasileira. Suas canções demonstram a preocupação em denunciar a destruição da vida de jovens negros e pobres das periferias brasileiras e o resultado do racismo e do preconceito, ao sustentarem a miséria diretamente ligada com a violência e o crime. Temas como a brutalidade da polícia, do crime organizado e do estado, bem como o preconceito, as drogas e a exclusão social são recorrentes nas letras do conjunto. Embora inicialmente conhecido apenas na capital paulista, o grupo conseguiu alcançar sucesso nacional e internacional a partir dos álbuns Raio X Brasil (1993), Sobrevivendo no Inferno (1997) e Nada como um Dia após o Outro Dia (2002).

Letra

60% dos jovens de periferia sem antecedentes criminais Já sofreram violência policial A cada 4 pessoas mortas pela polícia, 3 são negras Nas universidades brasileiras, apenas 2% dos alunos são negros A cada 4 horas, um jovem negro morre violentamente em São Paulo Aqui quem fala é Primo Preto, mais um sobrevivente

Minha intenção é ruim, esvazia o lugar Eu tô em cima, eu tô afim, um, dois pra atirar Eu sou bem pior do que você tá vendo O preto aqui não tem dó, é 100% veneno A primeira faz bum, a segunda faz tá Eu tenho uma missão e não vou parar Meu estilo é pesado e faz tremer o chão Minha palavra vale um tiro, eu tenho muita munição Na queda ou na ascensão, minha atitude vai além E tem disposição pro mal e pro bem

Talvez eu seja um sádico, ou um anjo Um mágico, o juiz ou réu O bandido do céu, malandro ou otário Padre sanguinário, franco atirador se for necessário Revolucionário, insano ou marginal Antigo e moderno, imortal Fronteira do céu com o inferno Astral imprevisível Como um ataque cardíaco do verso Violentamente pacífico Verídico, vim pra sabotar seu raciocínio Vim pra abalar seu sistema nervoso, e sanguíneo Pra mim ainda é pouco, Brown cachorro louco Número 1 dia, terrorista da periferia Uni-duni-tê, eu tenho pra você Um rap venenoso ou uma rajada de PT E a profecia se fez como previsto 1997, depois de Cristo A fúria negra ressuscita outra vez Racionais Capítulo 4, Versículo 3

Aleluia, aleluia Racionais no ar, filhas da puta, pá, pá, pá

Faz frio em São Paulo Pra mim tá sempre bom Eu tô na rua de bombeta e moletom Dim, dim, dom, rap é o som Que emana no Opala marrom E aí, chama o Guilherme Chama o Vander, chama o Dinho e o Di Marquinho chama o Éder, vamo aí Se os outros manos vem Pela ordem tudo bem melhor Quem é quem no bilhar no dominó

Colou dois mano, um acenou pra mim De jaco de cetim, de tênis e calça jeans

Ei Brown, sai fora nem vai, nem cola Não vale a pena dar ideia nesses tipo aí Ontem à noite eu vi na beira do asfalto Tragando a morte, soprando a vida pro alto Ó os cara só pó, pele o osso No fundo do poço, vários flagrante no bolso

Veja bem, ninguém é mais que ninguém Veja bem, veja bem, eles são nosso irmãos também Mas de cocaína e crack, Whisky e conhaque Os manos morrem rapidinho sem lugar de destaque

Mas quem sou eu pra falar de quem cheira ou quem fuma Nem dá, nunca te dei porra nenhuma Você fuma o que vem, entope o nariz Bebe tudo o que vê, faça o diabo feliz Você vai terminar tipo o outro mano lá Que era um preto tipo A Ninguém entrava numa, mó estilo De calça Calvin Klein e tênis Puma Um jeito humilde de ser, no trampo e no rolê Curtia um Funk, jogava uma bola Buscava a preta dele no portão da escola Um exemplo pra nós, mó moral, mó ibope Mas começou colar com os branquinhos do shopping (Aí já era) Ih mano outra vida, outro pique Só mina de elite, balada, vários drink Puta de butique, toda aquela porra Sexo sem limite, Sodoma e Gomorra

Hã, faz uns nove anos Tem uns quinze dias atrás eu vi o mano Cê tem que ver, pedindo cigarro pros tiozinho no ponto Dente tudo zoado, bolso sem nenhum conto O cara cheira mal, as tia sente medo Muito louco de sei lá o que logo cedo Agora não oferece mais perigo Viciado, doente, fodido, inofensivo

Um dia um PM negro veio embaçar E disse pra eu me pôr no meu lugar Eu vejo um mano nessas condições, não dá Será assim que eu deveria estar? Irmão, o demônio fode tudo ao seu redor Pelo rádio, jornal, revista e outdoor Te oferece dinheiro, conversa com calma Contamina seu caráter, rouba sua alma Depois te joga na merda sozinho Transforma um preto tipo A num neguinho Minha palavra alivia sua dor Ilumina minha alma, louvado seja o meu Senhor Que não deixa o mano aqui desandar, ah E nem sentar o dedo em nenhum pilantra Mas que nenhum filha da puta ignore a minha lei Racionais Capítulo 4, Versículo 3

Aleluia, aleluia Racionais no ar filha da puta, pá, pá, pá

Quatro minutos se passaram e ninguém viu O monstro que nasceu em algum lugar do Brasil Talvez o mano que trampa debaixo do carro sujo de óleo Que enquadra o carro forte na febre com sangue nos olhos O mano que entrega envelope o dia inteiro no sol Ou o que vende chocolate de farol em farol Talvez o cara que defende o pobre no tribunal Ou que procura vida nova na condicional Alguém num quarto de madeira lendo à luz de vela Ouvindo um rádio velho no fundo de uma cela Ou da família real de negro como eu sou Um príncipe guerreiro que defende o gol

E eu não mudo, mas eu não me iludo Os mano cu de burro têm, eu sei de tudo Em troca de dinheiro e um cargo bom Tem mano que rebola e usa até batom Vários patrícios falam merda pra todo mundo rir Ha ha, pra ver branquinho aplaudir É, na sua área tem fulano até pior Cada um, cada um, você se sente só Tem mano que te aponta uma pistola e fala sério Explode sua cara por um toca-fita velho Click pláu, pláu, pláu e acabou Sem dó e sem dor, foda-se sua cor Limpa o sangue com a camisa e manda se foder Você sabe por quê, pra onde vai, pra quê? Vai de bar em bar, esquina em esquina Pegar 50 conto, trocar por cocaína

Enfim, o filme acabou pra você A bala não é de festim, aqui não tem dublê Para os manos da Baixada Fluminense à Ceilândia Eu sei, as ruas não são como a Disneylândia De Guaianases ao extremo sul de Santo Amaro Ser um preto tipo A custa caro É foda, foda é assistir à propaganda e ver Não dá pra ter aquilo pra você Playboy forgado de brinco: Cu, trouxa Roubado dentro do carro na avenida Rebouças Correntinha das moça As madame de bolsa Dinheiro, não tive pai não sou herdeiro Se eu fosse aquele cara que se humilha no sinal Por menos de um real Minha chance era pouca Mas se eu fosse aquele moleque de touca Que engatilha e enfia o cano dentro da sua boca De quebrada sem roupa, você e sua mina Um, dois, nem me viu, já sumi na neblina Mas não, permaneço vivo, prossigo a mística Vinte e sete anos contrariando a estatística Seu comercial de TV não me engana Eu não preciso de status nem fama Seu carro e sua grana já não me seduz E nem a sua puta de olhos azuis Eu sou apenas um rapaz latino-americano Apoiado por mais de 50 mil manos Efeito colateral que o seu sistema fez Racionais Capítulo 4, Versículo 3

Créditos

  • Vozes Extras - Primo Preto, Xis e Nill
  • Rap - Mano Brown, Edi Rock e Ice Blue
  • KL Jay - Samples, Teclados e Scratchs
  • Coro - Mariana Ferri
  • Programação de Bateria - Alexandre Nunez