Capítulo 4 Versículo 3 - Racionais MC's (música): mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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(Sem diferença)

Edição das 10h33min de 1 de março de 2024

"Capítulo 4, Versículo 3" é uma canção de rap do grupo Racionais MC's, lançada no álbum Sobrevivendo no Inferno, de 1997. Sendo a terceira faixa do álbum.

Escrita por Edi Rock, Ice Blue e Mano Brown, a canção se inicia com dados estatísticos sobre discriminação, racismo e violência cotidiana da região periférica de São Paulo, e do Brasil, nos anos 1990. Basicamente relacionando as temáticas de: periferias urbanas, relações de conflitos, teologia cristã, relações raciais e expressões políticas.

Sobre o artista

Racionais MC's é um grupo brasileiro de rap fundado em 1988. É formado por Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay. É o maior grupo de rap do Brasil, e está entre os grupos musicais mais influentes do país e da música brasileira. Suas canções demonstram a preocupação em denunciar a destruição da vida de jovens negros e pobres das periferias brasileiras e o resultado do racismo e do preconceito, ao sustentarem a miséria diretamente ligada com a violência e o crime. Temas como a brutalidade da polícia, do crime organizado e do estado, bem como o preconceito, as drogas e a exclusão social são recorrentes nas letras do conjunto. Embora inicialmente conhecido apenas na capital paulista, o grupo conseguiu alcançar sucesso nacional e internacional a partir dos álbuns Raio X Brasil (1993), Sobrevivendo no Inferno (1997) e Nada como um Dia após o Outro Dia (2002).

Letra

60% dos jovens de periferia sem antecedentes criminais Já sofreram violência policial

A cada 4 pessoas mortas pela polícia, 3 são negras

Nas universidades brasileiras, apenas 2% dos alunos são negros

A cada 4 horas, um jovem negro morre violentamente em São Paulo Aqui quem fala é Primo Preto, mais um sobrevivente


Minha intenção é ruim, esvazia o lugar

Eu tô em cima, eu tô afim, um, dois pra atirar

Eu sou bem pior do que você tá vendo

O preto aqui não tem dó, é 100% veneno

A primeira faz bum, a segunda faz tá

Eu tenho uma missão e não vou parar

Meu estilo é pesado e faz tremer o chão

Minha palavra vale um tiro, eu tenho muita munição

Na queda ou na ascensão, minha atitude vai além

E tem disposição pro mal e pro bem


Talvez eu seja um sádico, ou um anjo

Um mágico, o juiz ou réu

O bandido do céu, malandro ou otário

Padre sanguinário, franco atirador se for necessário

Revolucionário, insano ou marginal

Antigo e moderno, imortal

Fronteira do céu com o inferno

Astral imprevisível

Como um ataque cardíaco do verso

Violentamente pacífico

Verídico, vim pra sabotar seu raciocínio

Vim pra abalar seu sistema nervoso, e sanguíneo

Pra mim ainda é pouco, Brown cachorro louco

Número 1 dia, terrorista da periferia

Uni-duni-tê, eu tenho pra você

Um rap venenoso ou uma rajada de PT

E a profecia se fez como previsto

1997, depois de Cristo

A fúria negra ressuscita outra vez

Racionais Capítulo 4, Versículo 3

Aleluia, aleluia

Racionais no ar, filhas da puta, pá, pá, pá


Faz frio em São Paulo

Pra mim tá sempre bom

Eu tô na rua de bombeta e moletom

Dim, dim, dom, rap é o som

Que emana no Opala marrom

E aí, chama o Guilherme

Chama o Vander, chama o Dinho e o Di

Marquinho chama o Éder, vamo aí

Se os outros manos vem

Pela ordem tudo bem melhor

Quem é quem no bilhar no dominó

Colou dois mano, um acenou pra mim

De jaco de cetim, de tênis e calça jeans


Ei Brown, sai fora nem vai, nem cola

Não vale a pena dar ideia nesses tipo aí

Ontem à noite eu vi na beira do asfalto

Tragando a morte, soprando a vida pro alto

Ó os cara só pó, pele o osso

No fundo do poço, vários flagrante no bolso

Veja bem, ninguém é mais que ninguém

Veja bem, veja bem, eles são nosso irmãos também

Mas de cocaína e crack, Whisky e conhaque

Os manos morrem rapidinho sem lugar de destaque


Mas quem sou eu pra falar de quem cheira ou quem fuma

Nem dá, nunca te dei porra nenhuma

Você fuma o que vem, entope o nariz

Bebe tudo o que vê, faça o diabo feliz

Você vai terminar tipo o outro mano lá

Que era um preto tipo A

Ninguém entrava numa, mó estilo

De calça Calvin Klein e tênis Puma

Um jeito humilde de ser, no trampo e no rolê

Curtia um Funk, jogava uma bola

Buscava a preta dele no portão da escola

Um exemplo pra nós, mó moral, mó ibope

Mas começou colar com os branquinhos do shopping

(Aí já era)

Ih mano outra vida, outro pique Só mina de elite, balada, vários drink

Puta de butique, toda aquela porra Sexo sem limite, Sodoma e Gomorra


Hã, faz uns nove anos

Tem uns quinze dias atrás eu vi o mano

Cê tem que ver, pedindo cigarro pros tiozinho no ponto

Dente tudo zoado, bolso sem nenhum conto

O cara cheira mal, as tia sente medo

Muito louco de sei lá o que logo cedo

Agora não oferece mais perigo

Viciado, doente, fodido, inofensivo


Um dia um PM negro veio embaçar

E disse pra eu me pôr no meu lugar

Eu vejo um mano nessas condições, não dá

Será assim que eu deveria estar?

Irmão, o demônio fode tudo ao seu redor

Pelo rádio, jornal, revista e outdoor

Te oferece dinheiro, conversa com calma

Contamina seu caráter, rouba sua alma

Depois te joga na merda sozinho

Transforma um preto tipo A num neguinho

Minha palavra alivia sua dor

Ilumina minha alma, louvado seja o meu Senhor

Que não deixa o mano aqui desandar, ah

E nem sentar o dedo em nenhum pilantra

Mas que nenhum filha da puta ignore a minha lei

Racionais Capítulo 4, Versículo 3

Aleluia, aleluia

Racionais no ar filha da puta, pá, pá, pá


Quatro minutos se passaram e ninguém viu

O monstro que nasceu em algum lugar do Brasil

Talvez o mano que trampa debaixo do carro sujo de óleo

Que enquadra o carro forte na febre com sangue nos olhos

O mano que entrega envelope o dia inteiro no sol Ou o que vende chocolate de farol em farol

Talvez o cara que defende o pobre no tribunal Ou que procura vida nova na condicional Alguém num quarto de madeira lendo à luz de vela

Ouvindo um rádio velho no fundo de uma cela Ou da família real de negro como eu sou Um príncipe guerreiro que defende o gol


E eu não mudo, mas eu não me iludo

Os mano cu de burro têm, eu sei de tudo

Em troca de dinheiro e um cargo bom

Tem mano que rebola e usa até batom

Vários patrícios falam merda pra todo mundo rir

Ha ha, pra ver branquinho aplaudir

É, na sua área tem fulano até pior

Cada um, cada um, você se sente só

Tem mano que te aponta uma pistola e fala sério

Explode sua cara por um toca-fita velho

Click pláu, pláu, pláu e acabou

Sem dó e sem dor, foda-se sua cor

Limpa o sangue com a camisa e manda se foder

Você sabe por quê, pra onde vai, pra quê?

Vai de bar em bar, esquina em esquina

Pegar 50 conto, trocar por cocaína


Enfim, o filme acabou pra você

A bala não é de festim, aqui não tem dublê

Para os manos da Baixada Fluminense à Ceilândia

Eu sei, as ruas não são como a Disneylândia

De Guaianases ao extremo sul de Santo Amaro

Ser um preto tipo A custa caro

É foda, foda é assistir à propaganda e ver

Não dá pra ter aquilo pra você

Playboy forgado de brinco: Cu, trouxa

Roubado dentro do carro na avenida Rebouças

Correntinha das moça

As madame de bolsa

Dinheiro, não tive pai não sou herdeiro

Se eu fosse aquele cara que se humilha no sinal

Por menos de um real

Minha chance era pouca

Mas se eu fosse aquele moleque de touca

Que engatilha e enfia o cano dentro da sua boca De quebrada sem roupa, você e sua mina Um, dois, nem me viu, já sumi na neblina

Mas não, permaneço vivo, prossigo a mística Vinte e sete anos contrariando a estatística Seu comercial de TV não me engana

Eu não preciso de status nem fama

Seu carro e sua grana já não me seduz

E nem a sua puta de olhos azuis Eu sou apenas um rapaz latino-americano Apoiado por mais de 50 mil manos Efeito colateral que o seu sistema fez

Racionais Capítulo 4, Versículo 3

Créditos

  • Vozes Extras - Primo Preto, Xis e Nill
  • Rap - Mano Brown, Edi Rock e Ice Blue
  • KL Jay - Samples, Teclados e Scratchs
  • Coro - Mariana Ferri
  • Programação de Bateria - Alexandre Nunez

Fontes das informações

https://pt.wikipedia.org/wiki/Cap%C3%ADtulo_4,_Vers%C3%ADculo_3