Comunidade chamada Chapéu Mangueira

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Revisão de 17h24min de 27 de janeiro de 2020 por Gabriel (discussão | contribs)

Situado no bairro do Leme e vizinho da comunidade da Babilônia, o Chapéu Mangueira assume certas peculiaridades em sua história. Primeiramente o nome, oriundo de um fusão de características que eram bastante típicas em seu entorno. Segundo os veículos de informação locais, a escolha do nome seria decorrente de uma fábrica de chapéus que havia no momento de sua formação(território ocupado hoje pelo Leme Tênis Clube) das grandes plantações de mangas em seu espaço territorial. 

Vale ressaltar que esses veículos eram criados pelos próprios moradores, responsáveis pelo resgate de uma série de informações pertinentes para história do local. Através dos registros de jornais como "O Chapéu", criado pelo Grupo Jovem, cujo objetivo era relatar periodicamente a vida política, social e cultural do local, além de outras publicações relativas ao movimento comunitário de favela e do movimento dos trabalhadores, sabe-se não só a escolha do nome da comunidade, como também o empenho de pessoas e lideranças como Manuel Chicabom, Lúcio Lafaiete, Renèe, Marcela, Bola, Benedita da Silva, Coracy, Filhinha, que através de seu empenho, conseguiram trazer melhores condições para o entorno, como água, luz, escola e escadas.  

Outro dado, que os registros averiguam e legitimam, é a forma de como foi dado o usucapião. Segundo esse jornal, tiveram de medir por sete vezes a área de cada morador, visto que muitos não respeitavam os limites estipulados pela associação. Já o funcionamento da escola veio da construção de um simples barraco de madeira, gerido por Dona Marcela e Benedita da Silva, que aí lecionaram por 13 anos, tendo, anos mais tarde, o convênio com o Município do Rio de Janeiro, que forneceu professores e merenda.

Os registros também confirmam que o Grupo de Saúde, formado em 1983, reuniu moradores que, sem recursos financeiros, colocaram anúncios pedindo doações, fizeram festas e conseguiram recursos do exterior, de modo que dessem assistência aos moradores do Chapéu e da Babilônia. O Posto Médico é, hoje, mantido pelo INSS e continua sob a responsabilidade do Grupo de Saúde e da Associação de Moradores.

Em ralação à luz, houve um período em que a cobrança era diretamente ligada à Associação. Era uma comissão responsável pela cobrança dos gastos de luz de cada morador e sócio proprietário. A Light fazia a cobrança através de um medidor único para toda a comunidade, sendo que a Associação era responsável pelos relógios dos moradores. Só tinha relógio quem era sócio proprietário e só eram proprietários aqueles que a associação permitisse ou quem comprasse uma posse na comunidade.

Aliás, são as informações locais que não só permitiram a descoberta do nome dessa comunidade, como também a organização de seus moradores. Através da união destes, a associação pode ser construída e, assim, direitos reivindicados e obrigações cumpridas.

Hoje, de acordo com o Relatório Múltiplos de Assentamentos do Instituto Pereira Passos, a comunidade assume as seguintes características: a data de cadastramento é de 23 de julho de 1981; seu acesso principal é pela Rua Gustavo Sampaio; o nome oficial é ASSOCIAÇÃO DE AMIGOS DO CHAPÉU MANGUEIRA e seu endereço é Ladeira Ary Barroso, 66, fundos, Leme. O atual planejamento urbano foi feito pelo Programa de Urbanização e Regularização Bairrinho.

Gibeon, que já foi presidente da Associação e também realizou trabalho acadêmico, mostrando a função social dos arquivos de comunidades faveladas pela Escola de Arquivologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro UNI-RIO, descobriu, graças a uma vasta pesquisa, que as primeiras associações de moradores, bem como as associações de luz, advém do final da década de 50, de modo que essas se tornassem uma alternativa para que a população se fixasse como posseiros.